Capítulo I
Era algo próximo da vigésima terceira vez que eu tentava, sem êxito, dar um nó decente na gravata que parecia querer desobedecer a todos os meus comandos.
_Droga... – murmurei sem a menor paciência arrancando a fita negra do pescoço e jogando-a no chão, próximo à minha cama.
Soltando um pouco de ar pela boca e massageando as têmporas abaixei-me para pegar de volta a gravata.
_Problemas, Draco? – escutei a voz conhecidamente debochada dizer à porta de meu quarto.
_Que eu saiba, Blaise, bater à porta ainda não saiu de moda... – respondi, voltando à frente do espelho para a retomada da luta contra a gravata.
_Problemas com isso? – respondeu meu “queridíssimo amigo” ignorando meu comentário completamente.
_Não, gosto apenas de brigar com a gravata antes de sair de casa, não sabia? Superstição. – disse mais para mim mesmo do que para o outro que continuava parado à soleira.
_Francamente... – Blaise disse com sua voz tipicamente irritante e arrastada – Isso tudo é revolta, Draco? Só por não querer ir a tal festa? – disse, aproximando-se um pouco com feições que estampavam tédio.
Com um movimente da varinha, Blaise fez um nó perfeito em minha gravata, um pouco mais apertado que o necessário, na realidade.
_Agora, - disse ele – não seja infantil e termine de se arrumar. Estarei esperando na sala. E não se atrase, são oito e cinqüenta.
Dizendo isso, Blaise saiu em direção ao andar de baixo, deixando-me sozinho novamente. Dirigi-me para frente do espelho e observei a imagem ali refletida. Mais especificamente, a área levemente arroxeada embaixo de meus olhos. Não dormia bem havia alguns dias. Pesadelos sobre a guerra. Sempre. Cocei os olhos tentando apagar as imagens que voltaram a se formar em minha mente. Tão reais que chegavam a assustar, mesmo após quatro anos.
Desci as escadas com uma lentidão exagerada. Blaise estava sentado no sofá e virou-se com a minha chegada.
_Finalmente! – ao ver minha expressão não muito contente, completou – Vamos, Draco, você realmente precisa se divertir.
Eu estava prestes a perguntar como aquilo poderia me divertir, mas ele já havia aparatado. Fiz o mesmo enquanto girava os olhos, o que não foi uma boa experiência, vale a ressalva. Quando a leve sensação de tontura esvaiu-se por completo, reparei no local onde me encontrava. Já tinha estado ali há alguns anos. Vários anos. Era a mansão dos Greengrass. Lembrava-me vagamente de como era a casa de estilo antigo e sóbrio. Lucio e minha mãe eram conhecidos daquela família, como eram de todas as outras da elite bruxa inglesa. Era este o principal motivo pelo qual eu relutei tanto a comparecer àquela comemoração.
Se a memória não me estava falhando, tinha estudado com uma das duas garotas Greengrass, Dafne. A outra, se não estava enganado, chamava-se Astoria, e era alguns poucos anos mais nova que eu – dois ou três, creio –, e era ela o motivo da comemoração, estava fazendo aniversário.
_Draco! – Blaise me chamou de um ponto um pouco mais próximo da entrada onde dois seguranças estavam postados.
_Convites. – pediu um deles.
Estendemos os pequenos pedaços de papel onde estava escrito, em letras prateadas, o nome de Astoria.
_Sorria, Draco, não é tão ruim... – disse Blaise reparando em todas as garotas do local.
_Não, imagine... – retruquei com ironia.
_Lá está Dafne, vamos cumprimentá-la? – disse meu amigo novamente ignorando meu comentário sarcástico.
_Próxima alternativa...? – murmurei para mim mesmo enquanto andava até minha antiga colega da época de escola.
_Dafne? – disse Blaise com um de seus maiores sorrisos.
Reprimi uma risada apenas porque não ficaria bem rir enquanto o olhar de Dafne recaía sobre mim. Sorri de canto.
_Draco! – exclamou de forma tão alegre que nem me pareceu a sóbria garota que eu conhecia – É bom vê-lo! Está tão diferente! – continuou, desta vez me abraçando fortemente, algo que eu, sinceramente, não esperava.
_Você também, Dafne. – sorri mais abertamente.
_Eu não esperava que você viesse! Nem você, Blaise! – disse dirigindo-se a meu amigo, que ainda encontrava-se parado ao nosso lado.
_Venham, deixem que eu lhes apresente meu noivo, François Lafebvre. Ele não fala muito inglês, mas entenderá tudo o que disserem. – ela se virou um pouco como se procurasse por alguém, o noivo, provavelmente - Mon amour!
Dafne assinalou para que o noivo se aproximasse, e ele o fez. Explicou a ele quem éramos, e François mostrou-se bastante simpático. Conversamos por alguns minutos e então percebi qual o motivo de toda a mudança, da alegria de Dafne. Os dois estavam tão felizes juntos, e demonstravam isto a todo momento. Era algo um tanto abstrato para mim, mas não nego minha curiosidade naquele momento.
_E sua irmã, Dafne? – perguntou Blaise – Onde está Astoria?
_Ela deve descer agora mesmo. – sorriu amigável – Mas tome cuidado, Blaise. Conheço-o muito bem... veja lá o que fará com Astoria...
Blaise riu escandalosamente. Sua fama havia se alastrado facilmente na época de Hogwarts, e parecia que ainda não havia de dissipado.
_Não sou mais assim, Dafne... – afirmou rindo.
_Ah, certamente que não... – disse ironicamente, como boa sonseriana que era – Garotos, preciso ver como está minha irmã, com licença... – completou de forma educada após checar as horas em um grande relógio localizado na entrada da casa.
_Vá em frente, Dafne... – Blaise respondeu.
_Até mais, rapazes, foi realmente muito bom revê-los.
François apenas sorriu cordialmente enquanto acompanhava a noiva para dentro da mansão novamente. Andamos um pouco procurando por algo para bebermos.
_Ela está tão diferente! – disse à Blaise enquanto pegávamos uma taça de champagne.
_Muito. Nem parece a mesma da época da escola... Ela está mais bonita, também.
_Não acho que seja só isso... – respondi depois de um tempo – ela está mais alegre... Sempre foi muito bonita... Só não me lembro muito bem de Astoria.
_Eu me lembro. – disse Blaise sorrindo de canto – É ainda mais bonita que Dafne.
Não precisei responder, apenas sorri. Alguns segundos depois, várias pessoas começaram a se virar para as portas da mansão dos Greengrass, de onde saíam um casal de aparência refinada e duas garotas de extrema beleza. Uma delas, a de cabelos loiro – escuros, era Dafne, que andava acompanhada pelo noivo. A outra, que andava com um sorriso escondido no canto dos lábios, era Astoria.
Por um tempo, ninguém se manifestou. Todos olhavam para Astoria como se ela fosse um anjo, e era mesmo o que parecia. O vestido que ela usava era inteiramente branco e apenas alguns detalhes tinham a cor prata. Os cabelos loiros caíam lisos como uma cascata dourada até o meio das costas, onde começavam a se cachear um pouco.
Os olhos azuis pareciam pertencer a uma criança, e giravam, espertos, por todos os convidados, que ela encarava com um franco interesse. Não de forma arrogante... apenas curiosa.
_Boa noite! – ela sorriu ainda mais simpaticamente.
Todos sorriram de volta. Ela era... cativante. E linda.
_Ah, por favor... Não fiquem apenas olhando para cá... Dancem! – indicou um local em meio ao jardim coberto por uma tenda branca que, ao seu gesto iluminou-se fracamente. Aos poucos, algumas pessoas dirigiram-se para a pista de dança, e Astoria permanecia recebendo os cumprimentos dos amigos.
_Devemos ir até lá, não? – perguntou-me Blaise.
_Você acha? – perguntei fazendo uma leve careta – Precisamos?
_Oh, por favor, Draco. Vamos! – ele saiu na frente.
_Olá... – disse Blaise aproximando-se.
_Oh, meninos! – exclamou o Sr. Greengrass – Vocês vieram!
_Claro, senhor. – respondi.
_Ficamos muito felizes com a presença de vocês, rapazes... – disse a Sra. Greengrass – Tão bonitos, os dois! Cumprimente-os, Astoria.
_Oh, perdão, mamãe, falou comigo? – perguntou a menina que esta distraída conversando com alguém – Ah! – seus olhos pararam sobre nós – Draco! Blaise! É bom vê-los novamente!
Astoria aproximou-se um pouco e senti seu perfume suave quando nos abraçamos.
_Você está alto, Draco! – riu.
_Você se lembra de mim quando eu tinha dezessete, Astoria! – sorri – Você também está muito diferente...
_E você se lembra de mim com quatorze! Que vergonha... – ela riu fingindo tampar o rosto.
_Eu não imaginei que você se lembrasse de mim. – disse com sinceridade.
_Como não, Draco? Diga-me o nome de um sonserino que estudou em Hogwarts na época em que você esteve lá e que não se lembre do orgulho da Casa, “Draco Malfoy”.
Não tive tempo de responder. Uma voz ecoou por todo o jardim e os convidados se calaram.
_Astoria, está na hora de você abrir de verdade essa pista de dança!
Ela sorriu para os pais começando a andar até a pista de dança onde começava uma música lenta. Muitos garotos sorriram para ela durante o caminho, e a menina fez o mesmo, deixando-os abobados com sua beleza.
_Vá até lá, menino Malfoy, - ouvi a voz do pai de Astoria dizer-me – não espere que minha menina dance sozinha.
Sorri de canto para o senhor, que fez o mesmo. Andei até a pista de dança, de onde percebi o olhar de Astoria recair sobre mim. Ela sorriu de modo diferente. Cortei o caminha por entre as pessoas e me aproximei dela. Estendi uma mão que ela aceitou e a trouxe para perto para que começássemos a dançar.
Aquela foi a noite em que nos encontramos. Não aquela em que nos conhecemos, mas a que realmente valeu a pena. Dançamos por um bom tempo, algo que eu não me imaginaria fazendo. Astoria era encantadora, em todos os sentidos. E, naquela época, eu pensava em quanto o nosso casamento poderia ser promissor. Eu, Draco Malfoy, um dos maiores herdeiros do mundo bruxo, trabalhando no Ministério da Magia como agente de relações exteriores. Ela, Astoria Greengrass, uma das mais bonitas garotas da Inglaterra bruxa, e descendentes de uma das mais influentes famílias da Europa. Era algo realmente interessante a meus olhos.
Começamos a namorar pouco tempo após a festa do aniversário de dezenove anos de Astoria. No início do relacionamento, era tudo por causa das oportunidades futuras. O pai de Astoria apoiava o namoro pois acreditava, assim como eu, que aquilo poderia render bons frutos. Nosso casamento aconteceu pouco mais de um ano depois, e a esse ponto as coisas eram deveras diferentes.
Eu já não podia mais dizer que havia me casado com Astoria apenas pela imagem social que isto faria. Aos poucos, percebi que meus sentimentos haviam mudado. Ela era tão cativante, tão encantadora, que fora impossível não sentir nada, manter-me inabalável. Eu ainda não a amava; esta palavra é forte demais para ser usada de qualquer forma, mas Astoria tornou-se para mim, insubstituível, e a este ponto da minha vida, descobri que nutria um carinho inexplicável por aquela mulher com olhos de menina. A única capaz de me fazer sorrir.
N/A: Olá amores da minha vida!
Então, esse foi o primeiro capítulo de "Flashes Before My Eyes", e espero muito que tenham curtido ver como o nosso Drakie conheceu a Astoria... Enfim, comentem, please! Elogios e críticas são muito bem vindos! Próximo capítulo em breve! =D
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