Único.



                                                            IN MY LIFE;


 


 


A morena desceu do avião, olhou para os lados e pôs os óculos escuros. Delicadamente, o mais rápido que os saltos lhe permitiam, desceu as escadas e seguiu até a esteira onde punham as malas. Queria pegar a sua e dar o fora dali quanto antes. Nunca foi muito fã de aeroportos, afinal.


Não demorou muito avistou sua mala preta com laço vermelho, e demorou menos ainda pra que ela estivesse dentro do táxi, saindo de lá. Passou o endereço para o taxista e decidiu olhar a cidade durante o caminho. Sua linda cidade continuava a mesma coisa. Era incrível como Londres tinha a capacidade de permanecer intacta mesmo após tantos anos. Pelo menos não fazia tanto frio, o que Marlene lembrou de agradecer mentalmente, pois não havia se vestido pra isso. Estava apenas com o casaco preto que batia nos joelhos, um chapéu com renda também preto, os óculos e uma sandália abotinada alta.


Sabia que não era necessário usar preto o tempo todo, mas não conseguia se vestir de outro jeito. E mesmo que isso demonstrasse o quão sentida ela estava, não havia conseguido chorar ainda. Não do jeito que se espera que pessoas chorem em uma situação dessas.


- Chegamos srta. – o taxista falou, olhando pelo espelho para Marlene. Esta lhe entregou o dinheiro, o mandou ficar com o troco e saiu, esperando que ele lhe entregasse a mala que estava no porta-malas.


Pegou a mala nas mãos, agradeceu o taxista e olhou para a casa que havia vindo tantas vezes. De repente, várias lembranças inundaram sua mente.


 


 


 


- Marlene! – a ruiva gritou para a amiga que ria – Você não pode ficar aí parada! Me ajuda a levantar! – exigiu.


A morena tentou o máximo que pôde, enquanto ria, ajudar a amiga a sair dali. Mas era quase impossível se segurar, e acabou caindo ao lado dela.


- Me desculpa, Lils. É realmente difícil não rir, sabe – disse limpando os olhos.


- Sei... Ridícula – riu um pouco também.


Era tão bom estar ali com ela, sua melhor amiga desde sempre, como se nunca houvessem se separado.


- Vocês tão aí até agora? – James perguntou também rindo.


- Por culpa sua, Potter! – a ruiva fez voz de zangada – Anda, me tira daqui.


Ele estendeu a mão para a mulher e a tirou dali, dando-lhe logo um beijo em seguida. O que fez com que Marlene pigarreasse e, embora ainda achasse tudo engraçado, tentou parecer o mais séria possível.


- Vão ficar aí se agarrando enquanto eu apodreço aqui?


- É uma boa idéia – James brincou.


- Faz isso que eu nunca mais volto!


- Tudo bem, estressadinha – estendeu a mão para a morena e logo ela também estava fora do buraco.


Lily olhou para os lados e de repente seu olhar parou no de James, preocupado.


- Onde está o Harry? – perguntou.


- Foi receber a visita que acabou de chegar, oras.


- Visita? Que visita? – arrumando o vestido ao mesmo tempo em que falava, foi em direção à sala de estar, onde um casal se encontrava.


Olhou para o amigo que logo sorriu pra ela. Sua mulher estava dando oi para o Harry, embora ele não gostasse muito dela e deixasse isso claro. Os olhos esmeralda encontraram com os olhos azuis de maneira que pudessem conversar através daquela conexão estabelecida.


- Sirius? – Marlene perguntou, com os olhos bastante abertos, despertando atenção da ruiva que antes tentava perguntar a Sirius quem era a mulher na sua sala de estar.


Lógico. Ele não poderia estar sozinho, pra variar.


 


 


 


Sorriu, ainda que a lembrança não fosse das melhores, pois havia sido parte de seu passado, e era sempre bom sorrir pelo passado. Era o que pensava, pelo menos. Não valia a pena sequer se arrepender pelos erros, não valia mais nada a pena. Entrou na casa e olhou a sala de estar vazia. Sentiu falta dos sorrisos e piadas de James, das risadas histéricas e dos abraços de Lily e do carinho de Harry. Mas falando no menino, onde estaria? Tinha que estar ali em algum lugar.


- Tia Lene? – ele perguntou, parecendo receoso.


Ela tirou os óculos escuros e agachou, abrindo os braços para que Harry pudesse lhe abraçar.


- Meu amor! – uma lágrima caiu de seus olhos assim que sentiu o menino em seus braços; pôde sentir todo o seu medo – Eu senti tanto sua falta – disse beijando-lhe a testa.


- Eu também senti – ele não largou seu braço. Tinha medo que ela o largasse ali.


Marlene sorriu, tentando não chorar na frente de seu afilhado e praticamente sobrinho, pois ele já devia ter visto muitas pessoas chorando, mais do que o suficiente. Pegou o menino no colo e deu para a empregada, que havia aparecido, a sua mala, para que pusesse a mesma em seu quarto.


Enquanto conversava com Harry no escritório e biblioteca, aquele mesmo cheiro invadiu o ambiente e ela pôde ter certeza que ele havia acabado de chegar antes mesmo que o próprio Harry gritasse.


- Tio Sirius! – saiu correndo até os braços do moreno que os estendia. Ele girou o menino no ar, o fazendo sorrir.


- E como anda o meu garotão? – perguntou, mas Harry não respondeu, apontando para Marlene que apenas encarava a cena de maneira indiferente – Lene – sorriu para ela.


- Sirius – esta, por sua vez, não demonstrou felicidade alguma em vê-lo – Vou tomar um banho, estou morta – disse mais para Harry do que para Sirius – Não faça nenhuma besteira, meu anjo – beijou a bochecha do afilhado e foi em direção ao seu quarto.


- Acho que ela ainda tá com raiva de você, tio – Harry disse.


- É... Acho que vou ter que resolver isso depois – voltou a olhar para o menino – E aí, quer me contar o que você anda fazendo?


O menino gritou de excitação e começou a mostrar a Sirius os seus desenhos. Eram todos dele e dos pais; dizia que estava fazendo muitos desenhos pra que eles voltassem mais cedo, pois já estavam demorando demais. Sirius apenas concordava, pensando em como contariam a ele mais tarde.


 


Já era noite e tarde quando acabaram de jantar e Marlene foi pôr Harry na cama. O menino só conseguiu dormir depois de ouvir uma história e pediu à tia que não saísse de perto dele, pois tinha medo de acabar sozinho, já que seus pais não o queriam mais. Marlene o fez retirar aquilo, dizendo que seus pais jamais deixariam de amá-lo e assim que ele adormeceu, ela desceu até o escritório, para que pudesse falar com o Sirius.


Aquilo não a deixava feliz, muito pelo contrário. Detestava ter que ir atrás do Black, mas era absurdamente necessário.


- Pensei que fosse me evitar até o fim dos dias - disse sorrindo, sentado na poltrona preta do escritório.


- Quem me dera eu pudesse – soltou o ar de maneira pesada e se sentou na cadeira de frente para a dele – Vamos acabar com isso logo.


- Você precisa relaxar um pouco – pegou a garrafa de rum que o amigo provavelmente guardava ali e serviu dois copos.


- Como você consegue beber em uma situação dessas, Sirius?


- O que você quer que eu faça, Marlene? Me mate também? – disse nervoso – É triste, e eu tô pior do que qualquer pessoa no mundo por isso, mas não vou deixar de viver. Não posso.


Ela respirou fundo e engoliu o choro; ele falando com ela daquele jeito só a fazia lembrar mais das coisas que passaram, mas ela não queria se lembrar de nada. Passado é passado, ela era agora uma nova mulher.


- Tá legal, tanto faz. Eu quero que você saiba que quem vai ficar com o Harry sou eu – virou a bebida de uma vez, não se importando com nada.


- Nem pensar. Não vou abrir mão do Harry sem uma conversa – deu um gole na bebida e serviu mais para a morena – Você devia começar relaxando e pensando em como negociar isso.


- Não existe negociação, Sirius. Ele é meu afilhado, ele fica comigo.


- Ele é meu afilhado também, se você não se lembra.


- Eu sou mais responsável. Jamais deixaria o Harry nas mãos de alguém que não consegue cuidar de si mesmo ou pensar com a cabeça certa.


Sirius tentou não rir, mas era complicado. Tudo aquilo era então ciúmes?


- Marlene, eu estou divorciado.


- Pior ainda. Não conseguiu nem manter um casamento. Sirius, você não vai ficar com o meu afilhado. Eu não permito isso por nada neste mundo, aceite.


- Você não tem escolha. Eu posso ficar com ele se eu quiser, assim como você. Claro, você pode evitar qualquer tipo de briga entre nós pelo Harry e evitar qualquer trauma dele, aceitando morar comigo – sorriu.


Marlene riu sarcástica. Ele estava falando sério? Esperava mesmo que ela aceitasse morar com ele?


- Não entendo a graça – falou após um tempo de risadas intermináveis da morena.


- Sirius, eu jamais moraria com você, nem que você fosse o último homem da terra. Não vou abandonar minha vida em Paris pra te suportar todos os dias jamais.


- Não estou dizendo que nós dois precisamos ter alguma coisa um com o outro, só que podemos morar juntos. Assim o Harry ficaria com os dois ao mesmo tempo e não existiria briga.


- Jamais, Black. Jamais.


Marlene se levantou, virando o segundo copo que estava cheio, e foi saindo, mas Sirius a impediu de ir embora, puxando-a pelo braço e fazendo ela se virar de frente para ele. Ela tentou se desvencilhar, mas acabou desistindo, pois sabia que ele era muito mais forte do que ela.


- Jamais, Lene? – perguntou num sussurro, a boca perto da orelha da morena que já tinha os olhos fechados.


Ela não respondeu; não conseguia pensar em nada sensato pra responder, pois havia perdido toda a sanidade com Sirius ali, tão perto dela. Estava prestes a se entregar, quando se lembrou de quem era e o que estava prestes a fazer. Graças a Deus, a sanidade nunca de fato a abandona. E com isso, se afastou do moreno, dando-lhe um tapa na cara. 


- Você devia criar vergonha na cara, seu cachorro – disse enquanto dava passos firmes pra fora daquele escritório.


Sirius sorriu e sentou-se mais uma vez na poltrona, lembrando quantas vezes aquilo já não havia acontecido antes.


 


 


 


- Você sabe que a fez chorar, não sabe? – James perguntou pro amigo, levantando rapidamente os olhos da lição.


- Fiz? – ele riu.


Remie revirou os olhos perante a canalhice e indelicadeza do amigo. Ele demoraria a tomar jeito.


- Na boa, Sirius? Deixa a menina em paz, velho. Você não merece ela – jogou a caneta na escrivaninha e saiu do quarto nervoso.


Sirius, confuso, olhou para Remie, esperando alguma explicação.


- O que você quer que eu diga, cachorro? Você é um canalha e a Marlene não merece mesmo sofrer por você. Olha como você fica, porra. Você nem liga pro que você faz com ela, e a menina te ama, Sirius.


- Não é assim também.


- Não, não é – disse sarcástico – Como é então? Como funcionam as coisas no seu país das Maravilhas aí, hein? – revirou os olhos mais uma vez e também foi saindo do quarto – Você devia ir atrás dela agora, ou eu acho que o James vai te dar um soco na cara.


Sirius pensou e pensou e pensou outra vez. O que era esquisito, pois ele raramente gastava tempo pensando sobre coisas assim. Por fim, decidiu que deveria mesmo pedir desculpas à Marlene, pois havia magoado a menina e ele gostava dela. Do jeito dele, mas gostava.


- Lily? – perguntou pra ruiva que o olhou feio – A Marlene tá aí?


- Ela tá nos jardins, Black. E cuidado – ameaçou – Se você fizer ela chorar daquele jeito de novo, eu juro que te mato!


- Obrigado, ruivinha – sorriu envergonhado e saiu dali, correndo para os jardins.


Qual era a de todo mundo? Parecia um complô! E ele nem havia feito nada tão ruim assim. Tá, pegar a menina que Marlene mais odeia depois dizer que ama a menina e não gosta da Marlene e ainda brigar com a Marlene a chamando de idiota não foi uma boa idéia. Mas era só isso que ele tinha feito, não?


- Lene? – chamou a menina que estava olhando para as árvores ao longe.


- Sim? – não se virou pra olhar ele.


Ele se sentou ao lado dela, se sentindo desconfortável com aquela situação.


- Acho que te devo um pedido de desculpas. Eu fui um idiota ontem.


E então ela olhou em seus olhos.


- Sabe de uma coisa, Sirius? Você é um idiota. E por favor, só venha me pedir desculpas quando você estiver arrependido de verdade. Até lá, vai ser um monte de merda saindo da sua boca pra mim.


- Eu estou arrependido, Lene. De verdade.


Era até verdade, mesmo que ele mesmo não tivesse noção disso.


- Não está. O problema é que você nunca está, mas eu sempre acredito em você e sempre faço a mesma burrada de cair nas suas brincadeirinhas. Nunca mais vou deixar você me fazer de idiota, Sirius! Nunca mais você vai encostar um dedo em mim! – gritou, já chorando de novo.


Sirius segurou ela pra que ela não corresse, o que era provavelmente sua intenção e chegou bem perto dela.


- Não fala assim, Lene. Você sabe que eu gosto de você, mesmo eu sendo um idiota – falou, aproximando seus lábios dos dela, fazendo com que ela fechasse os olhos automaticamente e fizesse mais uma vez o que havia jurado outras milhões que não iria fazer.


 


 


 


Era de manhã, o dia nublado como sempre. Mas dessa vez o cinza do céu parecia mais melancólico do que o normal; era como se o próprio céu estivesse de luto. Marlene vestiu em Harry seu casaco preto que era bem grande, a calça também preta que havia comprado pra ele e o tênis all star preto. Ele estava uma gracinha, mesmo que sem cor. Ele perguntou porque tudo tinha que ser preto, já que ele não gostava muito daquela cor, e ela disse que lhe explicaria logo depois.


Vestiu em si mesma o a saia lápis cintura alta, a blusa de cetim abotoada na frente, o casaco grande por cima e grandes saltos altos, tudo também preto. Sirius estava lindo, por mais que ela negasse, e tanto preto nele faziam seus olhos ficarem mais vivos, ainda que os mesmos estivessem mais escuros que o normal hoje. Ele sorriu ao vê-la, pois ela também estava linda. Ele sempre havia gostado daqueles lábios envolvidos por um batom vinho escuro.


Rapidamente, saíram da casa, indo em direção ao cemitério, enquanto Marlene e Sirius tentavam explicar ao menino o que havia acontecido.


- Não tô entendendo, tia Lene - ele falou, com lágrimas nos olhos.


- Meu anjo - ela tentou ser o mais forte possível - Eu sei que é difícil acreditar, mas você precisa entender que seus pais ainda te amam e ainda estão aqui com você, te protegendo de tudo.


- Mas eles não vão voltar? Nunca mais? - perguntou chorando.


- Infelizmente não, meu amor - abraçou o afilhado, esperando que logo ele parasse de chorar.


Era de partir o coração ver o menino daquele jeito; ela não esperava que ele chorasse tanto assim, imaginou que ele não fosse sequer entender, mas ele a surpreendeu chorando mais do que qualquer outra pessoa daquele lugar, gritando o tempo todo sobre como queria seus pais. Não queria nem mesmo chegar perto das outras pessoas, até Sirius ele gritou quando chegou perto.


- Precisa fazer com que ele cale a boca - a irmã de Lily falou, com cara de quem já estava irritada pelo choro do menino.


- Eu não vou fazer nada - Marlene disse grossa - Deixa o menino sofrer em paz, Petúnia. Não é só porque você não se importa com a morte da sua irmã que as outras pessoas não podem se importar.


A loira ia retrucar, mas alguma coisa a impediu, e Marlene ficou surpresa ao ver a mão de Sirius Black no ombro da irmã de Lily. Ele parecia tenso.


- Petúnia, vou lhe pedir educadamente apenas uma vez que não incomode mais e que volte pra perto do seu marido.


Ela bufou e saiu batendo o pé.


- Obrigada - Marlene disse, ainda com Harry no colo.


- Como ele tá?


Ela apenas fez aquela cara de "daquele jeito, né". Mas alguns minutos depois e Harry já tinha adormecido, e sua avó paterna o carregava, enternecida pelo pequeno neto. O padre começou o seu discurso, provavelmente ensaiado, e Marlene ficou encarando os dois amigos ali. Era tão difícil acreditar que aquilo era verdade. Não era como se fosse real pra ela que os dois nunca mais a ligariam alegres, implorando que ela fosse passar o natal com eles, ou que eles fossem encher o saco dela com o Black. Sentiu-se adulta demais por não aceitar a realidade e sofrer como Harry sofria; era tudo muito distante.


Sirius pediu para o padre para que pudesse fazer um discurso, e suas palavras tocaram Marlene de uma forma inacreditável. Ele também não deixou de tirar os olhos dos dela durante um segundo sequer enquanto falava, o que tornou todo aquele sentimento mais intenso. Memórias e memórias sobre o que Sirius dizia invadiram a mente de Marlene.


 


 


 


- Tudo bem, Pontas. Não é tão difícil quando parece, acredite.


- Pois é, os dos dela, fazendo com que ela fechasse os olhos automaticamente e can assim. jfazer.Sirius ali, t de James. Ela já gosta de você. Meio caminho andado - Marlene sorriu tentando animar o amigo da melhor forma que pôde.


- Ela gosta de mim?


- Claro que gosta! Ela é obcecada com você, mesmo não admitindo. Eu que vivo com ela sei.


- Não duvide, Pontas. A Marlene nunca mentiria pra você quando o assunto é a Lily - Sirius disse e Marlene concordou.


- Tudo bem... Acho que vou falar com ela então - levantou, mas logo voltou pra onde os amigos estavam, fazendo com que eles interrompessem os risinhos que davam - Mas o que eu falo?


- Não sei, fala que ama ela - Sirius sugeriu.


- Não, Sirius! - Marlene revirou os olhos - Você precisa explicar, sabe?


- Explicar o que? Que ele ama ela? - o moreno sentado ao seu lado perguntou atônito.


- É, oras. Explicar que ele ama ela e porque ele ama ela. Ah, e o quanto você ama ela. Isso vai ser romântico e vai fazer ela se derreter, acredite em mim.


Sirius balançou a cabeça negativamente: - Que coisa idiota.


- Idiota é você, Black - ela deu um tapa em seu braço e se virou pra James - Vai logo, caramba.


Ele riu, riu muito. Riu dos amigos e da lerdeza deles.


- Espero um dia retribuir o que vocês fazem por mim e pela Lily, fazendo vocês dois ficarem juntos - apontou pra eles e logo saiu, indo atrás da mulher.


Eles juntos? Os dois se entreolharam e riram. James podia ser tão estúpido às vezes... tão bobo.


 


 


 


- Marlene? - Sirius a chamou, fazendo com que ela abrisse os olhos e acordasse - Como você tá?


Ela não respondeu, apenas o abraçou, derramando algumas lágrimas ali. Agora ela via, ela via que jamais teria Lily Evans ligando no meio da madrugada, pedindo por algum conselho sobre como cuidar de criança doente e pedindo pra que Marlene largasse tudo e fosse pra Londres na mesma hora cuidar de seu filho, pois ele precisava da melhor médica do mundo. Nunca mais teria James Potter fazendo graça com sua cara, insistindo pra que ela ligasse pra Sirius quando estava bêbada. Nunca mais teria nada disso.


Sentiu-se agora como uma criança e apoiou-se em Sirius. Este, por sua vez, a abraçava fortemente, fazendo carinho em seus cabelos; ele havia percebido há poucas semanas que Marlene era o amor de sua vida, e procurava um jeito de lhe contar. Até porque, ele mesmo não entendia aquele sentimento muito bem, como contaria pra ela? James havia lhe dado conselhos dois dias antes do acidente e Sirius se sentia mal agora por não tê-los seguido ainda. Precisava se resolver com Marlene, mesmo que o amigo não estivesse mais ali pra ver que retribuiu muito bem o favor.


- Marlene... – tentou começar da maneira mais calma que pôde – Eu quero conversar com... – ia terminar, mas foi sutilmente interrompido por ela, que de maneira delicada pousou o dedo indicador em seus lábios.


- Não fala agora, por favor – implorou. Não com a voz, mas com os olhos.


Aqueles olhos já vermelhos e que brilhavam devido às lágrimas. Sirius não pensou duas vezes: apertou ainda mais o abraço e ficou ali, aproveitando a sensação de saber que ela estava descarregando tudo nele.


 




- Sirius? – ouviu a voz chorosa da Marlene o chamar.


Já ia responder de maneira grossa, pois não estava com muita paciência, muito menos se fosse pra alguma discussão de relacionamento da garota. Mas assim que olhou pra ela e a viu chorando, frágil como uma criança, a chamou com os braços abertos e fez com que ela sentasse em seu colo e chorasse.


- O que aconteceu, meu amor? – perguntou.


- Meus pais... eles... – não conseguiu e voltou a chorar desesperadamente sobre o ombro do menino.


Sirius se sentiu bem, por ela ter ido até ele descarregar o sofrimento que sentia, mas sentiu-se terrivelmente mal e fraco por vê-la daquele jeito e não conseguir fazer qualquer coisa que fosse. Era mais do que uma menina desfalecendo em seus braços; era o amor de sua vida. E naquele momento, bem... Ele teve certa consciência disso. E por esse motivo, os próximos meses foram completos de burradas.


 


 


- Tá tudo bem, sra. Potter. Mesmo – Marlene confirmou pela milésima vez para a mãe de James – Estamos bem e o Harry vai ficar bem. Quer que eu leve ele na sua casa pela manhã?


- Se vocês resolverem que vão logo, gostaria muito. E qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, minha filha, me ligue.


- Com certeza – sorriu simpática e esperou a mulher descer a última escada para fechar a porta e soltar o ar lentamente.


Agora o que precisava fazer era conversar com Sirius. E dessa vez ela queria fazer isso, mesmo que por seu orgulho ela jamais admitisse isso pra ninguém, nem pra si mesma, mas ela queria. Estava ainda enternecida por todo o momento. Era difícil demais não se deixar levar... Lily e James haviam ido e jamais voltariam. A única lembrança que hoje lhe restava deles era Sirius. Harry era, logicamente, uma lembrança deles também, mas Sirius era toda a adolescência de Marlene agora.


Isso a deprimia drasticamente.


- Sirius? – perguntou, olhando por um pedaço da porta do escritório.


Lá estava ele, como sempre. Ela ainda se perguntava como ele conseguia ficar naquele lugar o tempo todo e porque ele fazia isso.


Não perguntou nada, apenas se sentou, esperando que ele acordasse do sonho que fosse que parecia estar tendo.


- Pode ficar com o Harry – ele disse após alguns minutos de silêncio, fazendo com que Marlene se assustasse.


- Como?


- Não ligo. Mas saiba que eu vou visitá-lo de vez em quando. Se você tentar me impedir alguma vez, eu então vou me sentir obrigado a entrar na justiça pela guarda dele.


- Não me importo. Mas... por quê? Você queria tanto ficar com ele.


O que era aquilo? Ele estava abrindo mão de alguma coisa por ela? Não, não podia ser.


- Eu quero, mas talvez você queira mais. E eu estou te devendo algumas. Não posso estragar sua vida assim, mais uma vez.


- Você nunca estragou minha vida, Sirius.


Agora ele estava assustado.


- Nunca – ela repetiu, suspirando como se aquilo a deixasse cansada – E eu não vou conseguir criar o Harry sozinha. Eu sou médica, e como médica trabalho muito. Acho que sua idéia de morarmos “juntos” é válida.


- Como é? – ele abriu um sorriso automaticamente.


- Não faça eu me arrepender disso, por favor. Você vai morar no segundo andar. O único com permissão pra rondar livremente pela casa é Harry. Quanto a eu e você, bom, nós obedeceremos algumas regras de limite de território. Temos um acordo?


- Com certeza – falou se levantando e dando um beijo na bochecha de Marlene, que estranhou sua atitude – Vou pegar uma coisa, um minuto – saiu correndo, deixando a mulher ainda sem entender coisa alguma.


“O que anda acontecendo com ele afinal?” se perguntou. Mas não teve tempo de chegar a uma resposta, pois logo Sirius estava de volta com uma caixa nas mãos.


- O que é isso, Sirius?


- Você vai ver – arrastou a cadeira pra perto de Marlene, sentou-se e pôs a caixa no colo, abrindo-a devagar.


Lá dentro estava o anuário deles. Oh! Marlene tinha se esquecido completamente que seu anuário havia ficado com Sirius. Tantas vezes o procurou quando soube da morte dos amigos... Estava com ele o tempo todo. Irônico, não?


- Acho que você esqueceu comigo – ele lhe entregou o álbum cheio de fotos e depoimentos.


Ela apenas sorriu enquanto olhava para o que tinha em mãos. Não agüentou e logo o abriu, dando de cara com o sorriso de Alice. Havia uma foto de quando ela era pequena, vestida de fadinha e uma dela no terceiro ano, sorrindo de um jeito que deixava claro que Frank estava tirando a foto. Seu depoimento era fofinho, e Marlene riu ao ler as palavras “agradeço até mesmo à Marlene e Sirius, um casal muito chato que me encheu bastante a paciência durante todos os dias da minha vida”. Era tão bom irritar a Alice falando horas e horas sobre como ela era lerda quando o assunto era Frank!


Pulou algumas pessoas que não importavam e chegou à letra D, vendo a foto de um bebê gordinho e loiro e logo uma menina morena de cabelos com cachinhos castanhos e olhos clarinhos, parecendo amê gordinho e loiro e logo uma menina morena de cabelos com cachinhos castanhos e olhos clarinhos, parecendo amen deixava claro qndoas. Dorcas Meadowes sempre teve uma carinha de criança. Cara e bochechas grandes que faziam dela a pessoa mais fofa do mundo. Leu com carinho o que a amiga havia escrito, chorando um pouco na parte em que ela dizia "Eu vou sentir sim falta de vocês, aliás, todos os dias; mas eu preciso ir, vocês sabem". Há tanto tempo não falava com a amiga, não conseguiram inclusive contatá-la para o enterro de Lily e James, infelizmente. Sentia falta dela.


Na letra E encontrou a foto de uma criança magrinha e com cabelos lisos e franja, ao lado uma foto de uma adolescente inacreditavelmente linda; Emmeline parecia um anjo, ainda mais com aqueles cabelos lisos e loiros voando um pouco e o sorriso de "não tira, Remus". Ela era perfeita, e Marlene entendia o porquê de Remus ser tão apaixonado e obcecado por ela. Em seu depoimento, ela fez questão de ressaltar o quanto sentiria falta de todos eles, mas que mudar para a Austrália sempre tinha sido o seu sonho. "Espero que me perdoem por levar o lobinho comigo, mas eu não conseguiria sobreviver sem ele", Marlene riu. Com certeza ela não sobreviveria mesmo um minuto. Emmeline também não havia sido encontrada. Quando ligaram, ela estava fora, parecia que fazendo alguma viagem por motivos pessoais.


James Potter apareceu com um sorriso banguelo e logo um sorriso digno de comercial de pasta dente, e isso fez Marlene chorar. Não se lembrava mais do amigo ter sido tão bonito no colegial. Não era à toa que Lily se preocupava, tinha mesmo motivos bastantes pra isso. Ler aquelas palavras escritas por James... era mais incrível do que as fotografias. "Agradecer ao cachorro do Sirius, que mesmo fazendo uma porrada de burrices, ainda esteve comigo. Agradecer a morena mais linda do mundo, que nunca, nunca mesmo, deixou de sorrir pra mim e me apoiar, né Lene? Eles são os melhores amigos que alguém podia ter (que gay). E bom, espero que eles fiquem juntos um dia e espero que nenhum deles leia isso até que fiquem juntos, ou pelo menos enquanto eu estiver vivo e perto deles, porque aí eles vão me encher as orelhas". Marlene riu, se lembrando que assim que Sirius e ela leram aquilo foram correndo gritar e implicar e reclamar com James.


L, a letra que ela menos queria ver, pois sabia que lágrimas viriam sem cessar ao ver a foto da melhor amiga. E foi o que aconteceu. A ruiva pequena, que Marlene conhecia muito bem, com o pirulito gigante e as marias chiquinhas enterneceu o coração da morena, e a foto da ruiva com cara de "ahm?" logo ao lado, cabelos caindo de maneira quase cacheada sobre a pele muito branca, os olhos esmeralda encarando a foto de maneira perdida, os livros nos braços... Tudo era perfeito demais. "Bom, acho que a pessoa que eu mais preciso agradecer (talvez por isso eu tenha deixado pro final) é a (ridícula) da Marlene. Agradecer porque ela foi minha melhor amiga o tempo todo, desde os meus três dias de idade, e isso já foi mais do que o suficiente, já foi mais do que alguém fez ou vai fazer por mim; e por isso eu vou amar minha amiguinha todos os dias de minha life, mesmo que ela esteja em Paris esbanjando glamour e me matando de inveja". Marlene não se agüentou e chorou bastante, sentindo falta de todas as formas possíveis da amiga.


Decidiu pular sua página, até porque, sabia exatamente o que havia escrito e se lembrava perfeitamente da foto. Sirius havia tirado ela e Marlene estava tão linda quanto se pode imaginar.


Chegou na letra R, após ler rapidamente o depoimento de Peter, e pôs-se a encarar o Remus fofo quando criança e o Remus fofo quando maroto. Ele já tinha aquele brilho no olhar de "Vivo por ela". Provavelmente, Emmeline estava tirando a foto. Seu depoimento estava lindo e de uma escrita maravilhosa (principalmente nas partes em que ele agradecia Emmeline). "Espero que me perdoem um dia por abandonar vocês pra ir pra Austrália, mas eu não conseguiria sobreviver sem ela", ah, com certeza não conseguiria; Emmeline tinha mais chances do que ele de sobreviver, inclusive.


Passou rapidamente para a letra que estava doida pra ver desde o primeiro momento que abriu o anuário: S. Samantha, Suely... Sirius Black. Uma criança com um beiço enorme e olhos azuis bem claros e um adolescente além da beleza que se imagina ser possível para um ser humano normal, de olhos azuis já bem mais escuros. Sirius agora sorria, mas não era um sorriso fofo ou enternecedor, era um sorriso galanteador, malicioso, que descrevia perfeitamente sua personalidade. Seu depoimento Marlene precisou ler umas duas vezes para acreditar no que estava escrito, principalmente no papel que havia sido colado em baixo, como uma continuação. Bom, esse ela leu mais de quatro vezes, pra falar a verdade.


"Eu sei que eu fui um idiota nossa adolescência inteira, mas eu não me arrependo tanto disso. Com todas as memórias que eu tenho das coisas e pessoas que vieram antes, e mesmo sabendo que eu sempre vou parar alguma vez pra me lembrar deles, eu posso dizer, hoje, que na minha vida, Marlene, eu te amei mais. De todas as minhas mulheres e amigos, não há ninguém que se compare a você; todas as memórias perdem o sentido quando eu penso no amor como uma coisa nova... como uma coisa nossa. Na minha vida, Marlene, eu te amo mais. Pra sempre, Sirius Black".


- Sirius... - tentou falar alguma coisa, mas não pensava em nada. Seus olhos já inchados e vermelhos encararam os dele.


- Ssh - colocou o dedo delicadamente sobre os lábios dela - Não fala nada, não precisa - sorriu e a beijou levemente.


Marlene queria dizer, não queria ficar calada. Perguntar o que era aquilo, porque ele havia escrito aquelas coisas. Mas não conseguiu, não conseguiu sequer se mexer. A única coisa que foi capaz de fazer, foi enfiar os dedos entre os fios daquele cabelo preto.

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Eu sei que demorei a postar, mas é porque eu estive esperando pela beta esse tempo todo. Como ela não surgiu, aqui está. Desculpa pelo atraso. E bom, não é uma das que eu mais gosto, mas não odiei ela também. E como é com uma música dos Beatles, né, é especial <3 HIHI

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