Capítulo 5







Capítulo 5




 


Lily


 


Eu contei para Marlene o meu “plano”. Ela gostou.


Lá estava eu novamente pensando com meus botões. Como seria minha última noite neste castelo maravilhoso? Foi aqui que passei os melhores e mais maravilhosos momentos da minha vida. Aqui conheci amigos fantásticos, melhores que eu sequer podia imaginar. Marlene, Sirius, Thiago... Thiago. De meu amigo, ele se ornou o amor da minha vida. Sim. Eu tinha certeza que para sempre, aquele cabelo seria o meu favorito. Tinha certeza que ele seria meu único amor verdadeiro, aquele com “Q” de confusão e discussão que só nós tínhamos, mas não deu certo. Eu sentia que cada passo nosso em direção ao outro vinha sendo um passo em distância do outro, um passo para trás. Meus sentimentos provavelmente jamais mudariam, continuariam amando “aquele” gesto de passar as mãos no cabelo, de se exibir, aquele sorriso lindo.


- Alô! Lily?  - Marlene me chamou.


- Oi! – Respondi, interrompendo meus devaneios.


- Me deixa adivinhar?! Estava pensando em Thiago?


- Uau! Titia Marlene, vê passado, presente e futuro! – Eu ri. – Acertou, mas no sentido de que eu estava pensando na parte boa dessa mudança de sentimentos.


- Nem quero saber o que você estava pensando! Deixando este assunto de lado, tenho uma proposta para fazer: o que acha de uma ultima noite das garotas? – Sua voz falhou um pouco quando disse “ultima”.


- Não creio que você ainda lembra-se disso! – Quando estávamos no quarto ano, todo sábado, ficávamos até de madrugada, fazendo e falando coisas de meninas, como pintar as unhas e fofocar.


- Claro que lembro! Como poderia esquecer? – Ela respondeu sorrindo. – E aí? Vamos ter nossa noite das garotas?!


- Vamos! – Eu quase gritei, mas seria divertido!


Marlene já se encaminhava a sua gaveta de pijamas. A nossa tradição era vestir um pijama lindo, depois pintar as unhas, arrumar os cabelos e... Desfilar! Eu sei que é besta, mas é coisa minha e dela.


Vesti uma blusinha de alcinha e um shortinho vermelhos e Marlene estava com de azul (cor favorita do Sirius, segundo ela), era uma camisola de babados na barra, situada no meio das coxas.


Ela pegou nossa caixa de esmaltes, onde tinham quase todas as cores de esmaltes existentes, possíveis e imagináveis. Sentamos na cama e ficamos papeando e pintando unhas e arrumando os cabelos. Ao final da história, ela estava com um coque de fios negros soltos emoldurando o rosto de pele clara, e eu estava com duas tranças e um laço como tiara. A unha dela estava roxa e a minha cor de vinho. Desfilamos, rimos muito e foi muito bom ter esse momento antes da despedida. Mas como tudo ultimamente, isso acabou deixando lágrimas caírem dos meus olhos. Causa? Memórias. Aquelas que eu guardaria para sempre. Como a pluma.


 


Flash Back


 


- Ei Lily, você sabia que os travesseiros de Hogwarts são de fabricação trouxa? – Marlene me perguntou. Estávamos no terceiro ano.


- Não, que legal! – Eu fingi analisar um deles. Ela pareceu feliz por me impressionar. Cheguei mais perto, como se fosse mostrar algo, e dei-lhe uma travesseirada. Ela me olhou chocada, e eu ria. Não! Gargalhava!


É claro, óbvio e evidente que ela revidou. Foi assim que começou uma guerra de travesseiros. Ao final, já havíamos tanto uma na outra que estávamos caídas na cama, exaustas e rindo. Com plumas a nossa volta.


- É, parece que são mesmo de fabricação trouxa. Olhe isto! - Havia uma pluma na mão dela. Meio vermelha e meio azul.


Marlene fez questão de guardar aquela que logo virou símbolo da nossa amizade.


 


Fim do Flash Back


 


- O que foi, Lily? – Perguntou Marlene, ao ver minhas lágrimas.


- Só lembrando... Lembra da pluma?


- Sim! Claro! – Ela disse rindo da lembrança.


- Enfim... Vou descer e tomar água. Quer? – Perguntei. Estava morrendo de sede.


- Não, obrigada. Vou dar boa-noite a Sirius. – Ela me disse piscando um olho. Meu Mérlin!


- Toma cuidado, hein? – Eu disse e saí correndo, quando vi uma almofada de coração voando na minha direção.


Desci e logo vi a jarra em cima da mesa. Enchi o copo com água e bebi um pouco. Fiquei rondando a sala com os olhos. As poltronas e a lareira. Elas me lembravam das conversas. Eu, Marlene, Sirius e Thiago. Como era bom. Senti lágrimas de felicidade e saudade antecipada em meus olhos, meu rosto. É! Era o fim. A última vez que eu veria aquela sala á luz da lua. Bons tempos, sem brigas, sem desavenças.


Tomei o resto da água e voltei ao dormitório e Marlene não estava lá. Resolvi dormir. Sonhei com Hogwarts. Com Thiago, com meus amigos. Era uma época perfeita, de sorrisos. Porque tudo mudava?


Ao amanhecer o céu estava ensolarado. Não consegui, por um bom tempo, unir forças para levantar. Levantar pela última vez. Ao meu lado, Marlene dormia tranquilamente, com o rosto sereno. Minha melhor amiga, minha cúmplice, minha confidente.


Finalmente me ergui e me troquei para aquela manhã de mudanças na minha vida. Ao me vestir, coloquei uma camiseta de botões, branca, uma calça jeans clara e um sapato preto com a ponta quadrada, uma tira transpassada, de salto agulha. Era bom sentir-se bonita de vez em quando. Fui saindo de fininho.


- Lily? – Eu escutei. Era Marlene, que tinha a cabeça baixa e a voz embargada. – Me dá um abraço? – Ela pediu, começando a chorar um choro sentido e profundo.


- Oh, amiga! Claro, flor! – Eu disse indo abraçá-la. Tentei conter as lágrimas, em vão. Queria ser forte para ela, mas era impossível. Mérlin, como eu ia sentir falta daquele abraço. Eu havia me tornado amiga daquela criaturinha frágil, mas poderosa e perfeita. Eu merecia tanto? Durante cinco anos e três meses dividimos tantas coisas, tantas experiências... Agora eu tinha pouco mais de seis meses para me acostumar com minha nova escola, antes de entrar no meu último ano escolar. Pela primeira vez passaria o Natal longe dos meus amigos.


Esperei ela se trocar e descemos juntas para o café junto com Sirius, num silêncio constrangido, mas palpável. Foi triste pensar que naquele dia tudo seria o último. O último café da manhã. A última ida ao dormito. A última olhada nas poltronas e na lareira.


Depois do café, subimos para o quarto para pegarmos as malas. Eu ia sair pelos fundos, para não chamar muita atenção. Chegando lá teria uma carruagem, e esperando para levar para a nova escola. A nova escola onde eu não tinha amigos ou conhecidos.


Pegamos, eu e Marlene, minhas poucas malas. Claro que tivemos nossa despedida. Ela me abraçou forte e choramos juntas.


- Obrigada amiga, por tudo, tudo mesmo. Nem sei o que te dizer. Só o que posso falar é que sentirei imensamente sua falta. Sabe, você é a coisa mais importante de toda a minha vida. Obrigada por ser um maravilhoso exemplo a ser seguido. – Eu disse, soluçando, debulhada em lágrimas.


- A única coisa que você deve-me dizer agora é: “Marlene, minha amiga mais que linda, te escreverei toda semana.” - Ela disse numa brincadeira, com um sorriso fraco em meio às lágrimas torrenciais.


- Marlene, minha amiga mais que linda, te escreverei toda semana. – Eu disse, achando graça da brincadeira. Apertei-a junto a mim.


- Obrigada. – Com um silêncio respeitoso, ela se retirou, entendo minha vontade de ficar só, pela última vez no dormitório.


Olhei em volta, procurando gravar cada cantinho daquele lugar, onde passei os momentos memoráveis da minha vida. Lembranças embalaram esse momento.


A parte do plano que eu não tinha contado para Marlene era que eu havia comprado um porta-retrato e colocado uma foto nossa nele, comprei um esmalte dourado que ela queria e não encontrava e escrevi aquilo que não fui capaz de dizer em voz alta. Deixei os três itens recostados em seu travesseiro e me dirigi ao dormitório masculino (pessoas de mente poluída logo pensam besteira, né?).


Lá estava ele, dormindo, com o rosto tranqüilo, mas sem sorriso, a respiração ritmada e a boca ligeiramente aberta. Primeiro me fui em direção à cama de Sirius e depositei um porta-retrato com uma foto tirada pela Marlene, dizendo que queria uma foto de seus dois amores.


Depois me dirigi à cama de Thiago. Depositei na cabeceira um porta-retrato com uma foto de nós dois (já disse que ele é lindo sorrindo?) e a carta que eu havia escrito. Pronto. A segunda parte do plano foi executada com sucesso. Mas um impulso me tomou a seguir, me assustando.


Não me contive! Beijei levemente sua boca entreaberta. Que abusada! Aquele hálito quente me entorpeceu, me causando sensações que eu desconhecia, de modo que o “selinho” durou um pouco mais. Permiti que uma lágrima caísse de meus olhos. Sem querer ela pingou no rosto de Thiago. Interrompi nosso beijo, e saí de lá antes que ele acordasse.


Enquanto andava vagarosamente pelos corredores, com meus passos ecoando no piso, lembrava do beijo. Foi tão bom. Será que ele irá lembrar? As chances são quase nulas, mas eu queria justamente ao contrário.


Chegando aos fundos do castelo, lágrimas já caíam descontroladamente pela minha face. Como eu podia deixar minha melhor amiga? A resposta era simples: eu ia sofrer com a despedida, mas ficando, ia piorar cada vez mais essa dor


Marlene estava chorando no peito de Sirius, que tinha uma expressão de profunda tristeza. Como eu, sendo o que sou, tinha amigos tão perfeitos? Minhas malas estavam lá. A carruagem também. O casal se separou, revelando uma Marlene de rosto extremamente inchado e soluçando.


Criei coragem e fui me despedir de Sirius primeiro. Abracei-o forte, muito forte. Continuei chorando ao ouvi-lo falar.


- Oh, Lily, obrigado por tudo, minha flor! Mesmo, por tudo. Sentirei imensamente sua falta. Falta do seu jeitinho delicado, decidido e sabichão. – Sua voz tremeu um pouco e percebi que ele chorava.


- Obrigada, coração, mas tenho que mencionar que jamais imaginei ver Sirius Black chorando, ainda mais por uma menina que nem é sua namorada. – Eu ri fraquinho e ele me mostrou a língua, sorrindo.


Fui então á pior parte. Comecei a chorar copiosamente, tristemente, quando ela me estendeu a nossa pluma e me abraçou. Ficamos abraçadas um bom tempo, chorando, com soluços intercalados.


- Florzinha, obrigada. Por tudo, por ser meu consolo de vida por tanto tempo. Queria que você soubesse o quanto eu te amo, quanto te adoro, quanto te admiro. – Eu disse, interrompida por soluços.


- Vou... Sentir... Muitas... Saudades! – Ela disse pausadamente.  – Também te amo. Não se esqueça da sua promessa. – Ela olhou para a pluma na minha mão e, num gesto fraco, colocou sua mão sobre a minha. – Fique com você, para lembrar sempre de mim e da nossa amizade.


- Essas são as coisas que eu só esqueceria quando morresse. – Eu disse ironicamente. Chegou a parte mais dolorosa, aquela que eu queria que fosse adiada para sempre. – Adeus amiga e obrigada.


- A-adeus L-lily! – Ela disse chorando muito.


Entrei na carruagem e fechei a porta. Senti-me numa solidão imensa. Senti-me sozinha Por dentro e por fora. Isolada. Respirei fundo. Pensei ter ouvido gritarem o meu nome longe. Deve ser saudade.


A carruagem partiu.


 


Thiago


 


Depois da brincadeira com Sirius, fui dormir exausto. Tomei uma ducha rápida e fui me deitar. Uma sensação de “frio na boca do estômago” veio junto com o sono.


Tive novamente aquele sonho da voz feminina gritando. Foi pior, fio seguido de lágrimas no rosto borrado. Senti-me vazio, frio, desamparado como uma criança. Fio horrível, eu queria acordar, mas não conseguia, eu me via preso, entalado naquele pesadelo, que começava a me sufocar, me fazendo engasgar, com falta de ar.


Eu acordei com uma única lágrima em meu rosto, escorrendo porque me levantei com rapidez. Mas aquela lágrima não era minha, pois estava no canto de minha boca (que formigava estranhamente), sem estar em minha bochecha, nenhum rastro de seu curso perigoso. Vi por reflexo (e por estar sem óculos. Miopia) um borrão avermelhado no que eu deduzi ser a porta do dormitório, que foi fechada com um estalo.


Levantei-me e coloquei meus óculos, e vi um porta-retrato na cama do Sirius. Olhei para a cabeceira da minha cama e vi um também. Tinha uma foto minha e da Lily gargalhando de... Não importa. Notei sue sorriso mais esplêndido que nunca. Como ela estava linda! Vi ao lado da foto, um papel. Uma carta. Era endereçada a mim. Reconheci a caligrafia. Lily.


 Música: Only Time - Enya


http://www.youtube.com/watch?v=JbCEQHfDvWk


“Querido Thiago,


 


Antes de qualquer coisa, gostaria de dizer: obrigada. Por ser meu amigo. Um irmão, um colo, um abraço. Esteja dito.


 


Não é segredo que eu te odiava até o nosso sexto ano, quando nos tornamos amigos. Bons amigos. Sabe, até fiquei feliz quando você parou de azarar o Snape, percebi algumas mudanças. Senti uma falta imensa de quando você me chamava para sair, e de repente, parou. Mais uma mudança. Naquele dia percebi o quanto você era especial para mim. O quanto eu necessitava de sua presença, que eu não sabia nem seria capaz de viver sem você. O quanto seu sorriso me encantava. O quanto eu fui boba em ter recusado, diversas vezes, sair com o maroto mais arteiro, o mais doido. O do cabelo mais bagunçado, o dos óculos mais redondo. O maroto mais engraçado, mais charmoso, mais bonito. O “mais”. O “melhor”.  O engraçado é que por mais que você seja o “mais” eu queria ainda mais. Não fiquei contente com o que tinha. Eu precisava de mais. Não queria só sua amizade, queria sua presença a todo instante, sua companhia, sua admiração. Mas quem era eu, senão uma amiga? Ah, como eu queria que essa realidade mudasse. Por pequenos e raros instantes achei que você retribuísse uma pequena porção desse sentimento, achei que os “eu te amo” que você me dizia eram de verdade e não promessas vazias, mas vi que estava imaginando coisas quando presenciei seu namoro com a Marina. Só Marlene sabe o quanto eu (ou pelo menos um pouco) eu sofri, o quanto isso me machucou. E eu percebi o quanto estava afogada em ilusões. O quanto eu gostava de você e o quanto era verdadeiro o sentimento. Eu me prometi que ia te esquecer.


 


“Mandaram te esquecer. Jurei que te esqueceria, mas como sou muito esquecida, esqueci de te esquecer.”


 


Como fui tola ao pensar que um Maroto, ainda mais você, poderia gostar de mim. Ou mais, me amar como eu descobri que amo você. Apesar da minha promessa, você não sai da minha cabeça, povoa cada pensamento e sonho que eu tenho. Deste modo, não tenho outra escolha.


 


“Ah, o amor... Que nasce não sei de onde, vem não sei como e dói não sei por quê.”


 


Venho, por esta carta, me declarar para que não haja dúvida, mas também venho dizer que vou embora. É isso. Estou deixando seu caminho livre, e o de outra, para de dar trabalho para Marlene e tento acabar com meu sofrimento e me obrigar a deixar esses sentimentos no passado. Dizem que me dou bem com as palavras, mas neste caso, é justamente o contrário. Tenho sorte que outras pessoas já fizeram isso por mim.


 


“Meu coração


Hoje acordou


Buscando por você


Sem medo de querer


[...]


Eu não sei explicar


Esse amor que nasceu


Está em mim


E é seu


Te amo”


 


“Meu primeiro amor


Você é todo suspiro que dou


Você é todo passo que dou


[...]


Pois você


Significa o mundo para mim


[...]


Eu sei que encontrei em você


Meu amor sem fim”


 


“Como é difícil


Ter que ir e te deixar


Te abraçar e resistir


Dar adeus, me despedir


È impossível


Te deixar e não sofrer


Sorrir para não chorar


Pois em todo o meu caminho


O teu amor vai me guiar


[...]


E se a saudade apertar


Procure no céu


A estrela que mais brilhar


Ela será o meu olhar


 


Um amor assim


Não importa o lugar


A mesma lua que olhar


Se estiver pensando em mim


Vou sentir tocar


Em tudo o que existe em nós”


 


“Adeus


Alguém precisava dizer


Esse alguém era eu


Mas com que palavras?


Com que coração?


De que jeito?


Se tudo parecia tão direito


Mas não foi bem assim o que eu sonhei para mim”


 


“Desde quando te encontrei


Já não pude te esquecer


Foi bom sonhar


Com você


 


Eu queria te falar


Que é tão lindo acordar


Se eu sonhar com você”


 


 


Acho que você captou a mensagem. Torço para que sim. Mas antes de ir gostaria de fazer-te um pedido: Thi, por favor, não se esquece de mim. Esqueça somente o que houve de ruim entre nó. Nossas brigas, os tapas, os gritos (esses dois últimos não foram poucos, não é mesmo?). fique só com boas lembranças, enquanto esqueço minhas ilusões.


 


“Agora eu tenho


Que esquecer de nós


[...]


E para finalizar


Todas as fotos foram queimadas


Todo o passado


Isso é apenas uma lição que nós aprendemos


Eu não esquecer, por favor,


Não esqueça”


 


Quero que não haja dúvidas sobre o que sinto, mas me comprometi a superar, e ser forte, mesmo com a nossa amizade à distância. Você deve pensar que sou idiota; eu, uma qualquer, apaixonada por você. Ilusão. Só gostaria que soubesse que foi o meu primeiro e único amor da minha vida. Vou te amar para o resto de minha vida.


 


“Estava satisfeito só em ser teu amigo


Mas o que será que aconteceu comigo


Aonde foi que eu errei


Às vezes me pergunto


Se eu não entendi errado,


Grande amizade


Com estar apaixonado


[...]


Porque eu só vivo pensando em você


É sem querer


Você não sai da minha cabeça mais


Eu só vivo acordado


A sonhar


Imaginar nós dois


Às vezes penso ser um sonho impossível


Uma ilusão terrível


[...]


Coração apaixonado é bobo


Um sorriso seu e eu me derreto todo


O seu charme, seu olhar


Sua fala mansa me faz delirar


 


Mas quanta coisa aconteceu e foi dita


[...]


Coisas que ficaram para trás


Coisas que você nem lembra mais


Mas eu guardo tudo aqui


No meu peito”


 


Não podemos negar que tivemos nossos bons momentos. Momentos ruins, alegres e tristes, mas estávamos sempre um ao lado do outro, para tudo. Aí veio esse sentimento idiota, que estragou tudo. Desculpe-me por isso. Errei contigo, não é? Então, como um pedido de perdão, eu vou embora, mas deixo a você, lembranças. Uma delas, das mais especiais e memoráveis, está no porta-retrato, naquela guerra de bolas de neve, em que nós estávamos rindo descontroladamente. Essa lembrança eu gostaria que você guardasse com carinho na sua memória. E no seu coração.


 


No fim, seu objetivo foi alcançado, não é mesmo? Apesar de não termos tido a oportunidade de sairmos juntos, você superou o desafio que eu lhe representava. Agora você deve estar escrevendo meu nome na sua lista gigantesca, afinal estou completa e perdidamente apaixonada por você.


 


Por fim, eu me despeço, com dor num coração em pedaços por ter que deixar meus grandes amigos, por ter que te deixar, e por ter causado qualquer dano á qualquer um. Se vai doer? Vai. Mas eu supero. Pois quem ama sabe que prefere ver a pessoa amada feliz, mesmo que nos braços de outro. Só quero que me prometa que ainda vai querer ser meu amigo, apesar da distância que significativamente foi imposta a nós, por mim. Você ainda pode me mandar cartas. E me prometa outra coisa, por favor. Ajude Sirius a cuidar da minha amada melhor amiga. Acho que ela pode ser um pouco difícil com você no início, mas logo passa. Pedi a ela que não brigasse com você. A culpa não é sua. Eu não percebi esse sentimento a tempo de reverter essa situação. Eu não te mereço, mas te amo.


 


Vou sentir sua falta. A ausência de seu sorriso, de sua alegria, de sua lealdade, companheirismo, de sua amizade e persistência vai doer em mim. Dói dizer, mas adeus.


 


“Às vezes me pergunto se


Eu viverei sem ter você


Se saberei te esquecer


[...]


Ouço sua voz e a alegria


Dentro de mim faz moradia


Vira tatuagem sobre a pele


Te levo sempre em meu olhar


Não canso de te procurar


Entre meus lábios sinto a falta de você


[...]


Se eu não tiver você


Agora e sempre vai estar


Preso em meus olhos


Inesquecível em mim”


 


Com amor


 


Lily Evans.”


 


Terminei de ler, chocado. Pude ver a tinta borrada onde suas lágrimas caíram. Só neste instante percebi que também borrava sua carta com minhas lágrimas. Eu estava entorpecido por sensações e sentimentos. Lily me amava! E eu a esnobei!


- Burro! - Eu dizia a mim mesmo. Olhei para a cabeceira da minha cama, e lá estávamos nós, sorrindo. Imortalizados, nossos sorrisos era tão contagiantes que não pude nem queria evitar sorrir em meio às lágrimas. De canto de olho, vi na janela algo que não era verde como o vasto campo. Uma carruagem. Aproximei-me.


Então eu a vi, mais bonita do que nunca, com seus cabelos vermelhos ao vento, seu corpo moldado por suas roupas. Vi Sirius se separar de Marlene e Lily enterrar seu rosto, que percebi estava vermelho, no peito do meu melhor amigo, ela dizer algo que o Fe baixar levemente a cabeça, e minha ruivinha ter seu corpo sacudido, pelo que eu imaginei serem seus soluços. Depois não pude ver mais nada, só calcei meus chinelos e saí em disparada aos jardins, enquanto algumas lágrimas escapavam de meus olhos, embaçando meus óculos. Mil pensamentos vinham a minha cabeça, principalmente lembranças. Ela não saia da minha mente. Mas o sentimento que me dominava era raiva de mim mesmo e tristeza por ela estar indo. Esperança. De que tudo desse certo.


Cheguei a tempo de ver a carruagem tomar o céu azul como seu novo lar, e ir desaparecendo.


- LILY! – Berrei a plenos pulmões, com todo o meu fôlego. Gritei com tanta vontade que doeu. Meu coração.


Este se apertou, já sentindo os efeitos colaterais da partida e da saudade. Lembrei de uma frase, que fez meus olhos marejarem novamente:


 


“Quem inventou a partida, não sabia o que era amor


Por que quem parte, parte sem vida


Quem fica, morre de dor


Quem parte, parte chorando


Quem fica, chora também


Que parte, saudade leva


Quem fica, saudade tem.”


 


Saudades...


Em meu desespero olhei ao redor, procurando uma saída, e encontrei meu olhar refletido no sofrimento de Marlene e Sirius. Este, até mesmo chorava.


Ele afagava o cabelo dela, que enterrava o resto vermelho em seu ombro. Vi o corpo de minha amiga sacudir conforme seus soluços. Pudia ouvir seus suspiros entrecortados. Ele disse algumas palavras de consolo, com a voz estranha. Ela assentiu com a cabeça, entrelaçou sua mão na dele e foram subindo de volta ao Salão Comunal. Eu ainda estava chocado, esperava que um milagre se sucedesse. Percebi que havia perdido a batalha, pelo olhar de Sirius. Suspirei derrotado, enxuguei minhas lágrimas e fiquei surpreso de constatar que ela estava presentes. Eu não choro com facilidade. Agora sim a frase “Só quando se perde algo é que se dá valor” faz sentido. Não que eu contasse Lily como um objeto, mas algo que não dei valor, e agora, perdi.


Fui subindo atrás deles, com uma razoável distância. A carta da ruivinha ainda estava em minhas mãos. Lembranças passaram diante de meus olhos. Estes marejaram, mas não permiti que lágrimas caíssem.


Porque eu tinha que cometer a burrada de colocar meu orgulho na frente de tudo? Agora parecia óbvio que nos amávamos. Agora ela se foi. Agora eu entendo.


Esquece. Ela se foi, não, é? Eu só preciso saber se ela está bem. Se ela me perdoaria. Se ela ainda pode me amar. Não vou atrás dela. Se ela se foi, é porque não me quer por perto, e meu orgulho também impede um pouco. Resolvi que poderia questionar Marlene sobre tudo isso. Somente quando a procurei com meus olhos é que notei que já estávamos na entrada do Salão Comunal. O quadro olhou espantado, afinal, eu era um cara animado. Não do jeito que estava. Ignorei isso.


- Ai, Sirius! – Eu ouvi Marlene choramingar. Ela pareceu arrasada. – Isso dói. Eu... Eu já estou com saudades! – Ela começou a chorar desesperadamente. Meu amigo a consolava, batendo de leve em suas costas. Secava suas lágrimas. Eu realmente fiquei com dó. Mas eu necessitava da resposta. Não poderia viver sem ela.


- Er... Marlene? – Perguntei timidamente, tocando seu ombro. Ela sacudiu minha mão de lá. Olhou para mim amargamente. – A Li...


- Não ouse terminar essa frase, Potter. Lave sua boca antes de falar da minha amiga. Ela não está mais aqui para me proibir de brigar com você. – Ela disse ameaçadoramente.


- Eu te entendo. – Eu disse num tom desesperado. – Mas eu realmente precisava saber se ela...


 


 


Marlene


 


- JÁ DISSE PARA NÃO FALAR DELA! – Eu gritei extravasando toda a minha raiva. Eu estava mais que chateada, eu estava inválida sem minha única amiga, e a culpa era dele. – VOCÊ PERDEU O DIREITO, POTTER, QUANDO ENFIOU NESSA SUA CABEÇA INÚTIL QUE PODIA FAZER O QUE QUISESSE COM ELA, MAS VOCÊ NÃO PODE. VOCÊ É UM EGOÍSTA. PRECISA SABER O QUE? NÃO PRECISA, AFINAL NÃO PRECISOU PENSAR NELA QUANDO A MAGOOU! - Conforme fui agressivamente proferindo as palavras, fui me aproximando do idiota que teve a ousadia de fazer minha amiga chorar. Ele nos fez sofrer, nos trouxe a separação e principalmente dor. A dor dela de amá-lo e a minha de vê-la sofrer por isso. A cada passo encurtava mais a distância entre eu e o futuro defunto. Quando estava a poucos centímetros, sua face assustada se contorceu. Ergui minha mão e dei-lhe um tapa. Meus dedos ficaram marcados em seu rosto. – ISSO É PARA VOCÊ APRENDER QUE FAZER OS OUTROS SOFREREM TEM SUA CONSEQUÊNCIAS! VOCÊ A FEZ SOFRER, A FEZ CHORAR, A MAGOOU, ENQUANTO ELA SÓ TE PROTEGIA, SÓ SOFREU EM SILÊNCIO! – Então eu baixei a voz num sussurro. – Só te amou. Só isso que ela fez, Thiago. Você nos provou o quanto é baixo, mas eu jamais pensaria que chegaria a esse ponto com seu orgulho. Não esperava isso de você. Nem Lily. – Eu disse num tom sentido. Pronunciar seu nome fez tudo ser verdade. Ela se fora, de vez. E eu teria que suportar minha dor, em silêncio. Por ela.


- Vou subir, amor, depois no falamos. – Eu disse a Sirius. Ele foi compreensível, como sempre. Beijou-me na testa e sorriu, mas o sorriso não atingia seus lindos olhos azuis. Sem nem olhar para Thiago Potter eu fui para meu quarto, pensando... Estar sem a pessoa que você gosta é como se te arrancassem um membro, mas ficar sem sua melhor amiga, é como se lhe arrancassem o coração, sem ele você não vive.


Lily sempre foi a melhor pessoa que eu tive a chance de conhecer, pois seu caráter, sua doçura, sua doçura, sua teimosia, sua lealdade são a perfeita combinação para alguém como ela. Forte e sensível. Geniosa e tenra. Sua ausência chega a ser fisicamente dolorosa. Seu riso faz falta.


Lágrimas inundaram meus olhos, e escorreram por meu rosto. Joguei-me na cama, sem nem olhar e minha cabeça foi de encontro com algo sólidamente doloroso. Essa doeu! Quando tirei de trás da minha cabeça, eram três objetos. Quando vi o que eram, meu choro me consumiu, mas de uma forma consoladora. O primeiro objeto era um esmalte dourado. Não acredito que ela conseguiu! Ela havia me prometido. O segundo era um porta-retrato com uma bela foto de nós duas. Neste dia tínhamos ido aos jardins estudar e Sirius apareceu com uma máquina e nos obrigou a tirar aquela foto. Para nos fazer rir ele contou uma piada muito engraçada e não conseguimos não rir. Então ele bateu a foto. Sorri abertamente com a recordação.


O último objeto era uma folha de papel dobrada, e a caligrafia de Lily estava ali, endereçando o papel a mim. Se ela havia escrito uma carta, já me preparei para fortes emoções.


Abri o papel respingado e borrado de lágrimas de uma ruiva:


 


“Lene, minha amiga


Como me dói dizer adeus a pessoas como você, que fizeram tanto e tudo por mim. Nestes anos em que convivemos, aprendi que sou o que sou por sua causa. Aprendi que a amizade é inestimável e que preservá-la deve ser sempre o nosso objetivo. Tê-la é uma dádiva. Retribuí-la, um tesouro. É incrível e inacreditável que uma única pessoa, se for especialmente certa, pode mudar e transformar tanto a vida das pessoas ao seu redor. E é fato que você me mudou.


 


Você me fez rever meus conceitos de amigos, no entanto percebi que você não se encaixa nesses padrões, eles são pouco para mostrar minha estima por você. É triste termos que nos separar. Não é morte, não é doença, mas ainda sim, um problema, que nos impõem a distância. No entanto esta ultima não irá interromper nossa história.


 


Serei eternamente grata pela honra da oportunidade de ter feito parte da sua vida. Você sabe o quanto é especial. Inesquecível, inigualável, insubstituível. Por isso, minha melhor e maior amiga. Não sou capaz de dizer o quanto tenho admiração e amor por essa pessoa morena e linda.


 


Espero ser para você metade do que você é para mim, pelo menos. Ia me deixar satisfeita. Tornou-se um exemplo para mim, e espero que seja sempre, sempre, essa pessoa mais que maravilhosa que você é.


Mesmo com o detalhe da distância, seremos sempre amigas. Isso quer dizer que é seu dever contar sempre comigo, independente de razão, data, ou hora.


Uma vez li um texto que comparava a vida com uma viagem de trem. Embarcamos, conhecemos pessoas, sofremos acidentes de percurso. Aquelas pessoas podem passar pelo nosso vagão sem notarmos sua existência. Mas existem pessoas que ocupam o assento ao seu lado e quando saem, o assento vazio nos dói o coração até chegarmos na última estação, quando desembarcaremos.


O assento ao meu lado será sempre seu, ninguém vai ocupá-lo. Certa amiga minha, que leu este mesmo texto, criou a seguinte frase, quando tivemos que nos despedir, definitivamente:


 


“Com certeza o mesmo trem


Talvez o mesmo vagão


Mas sempre as mesmas amigas”


 


Quero que leve esta frase sempre com você. Nunca, jamais irei te abandonar, ok? Nem esquecer.


 


“Alguém que sabe quando você está perdido e assustado


Lá, nos altos e baixos


Alguém que você pode contar, alguém que se preocupa


Do seu lado, aonde quer que você vá”


 


 Com carinhos


(e saudades)


Lily Evans”

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