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Manejar uma espada não era nem de perto fácil como Harry fazia parecer. Gina descobriu isso ao tentar imi­tar, com o galho, os movimentos graciosos dele. Para seu cré­dito, conseguiu acertar dois golpes e achou que aprendera alguns golpes ao terminarem o treino.


 


— Agora — ele disse, retirando o galho da mão dela — , tente com a espada de verdade.


 


Gina ficou surpresa. Harry a deixaria usar sua es­pada, aquela com a qual ele eliminava os inimigos do rei da França. Sentiu que estava vermelha com o esforço despendi­do, enquanto ele parecia tranqüilo e relaxado. Sem dúvida, estava em muito boa forma física. Já ela, infelizmente, preci­sava praticar alguns exercícios aeróbicos.


 


— Está pronta? — ele perguntou.


 


Quando ela assentiu, Harry se afastou alguns passos.


 


— Como vou lutar sem um inimigo?


 


Ele sorriu, e isso fez com que o coração de Harry parecesse falhar.


 


— Por ora, seu inimigo vai ser produto da sua imaginação, ma belle. Imagine monsieur Rocei parado diante de você.


 


— Isso ajudaria imensamente. Posso castrá-lo?


 


— Você é mais sanguinária do que eu imaginava.


 


— Apenas em relação a Rocei. — Ela tentou levantar a espada. — E mais pesada que o galho. — Depois, abaixou-a em um movimento em forma de arco.


 


Bon. Agora arremesse! Apare! Esquive-se do golpe! Blo­queie!


 


Conforme Harry dava as ordens, ela obedecia, e não podia negar que se sentia poderosa usando aquela arma, não exatamente de forma graciosa e quase tropeçando. Mesmo assim, no fim do exercício, Harry parecia satisfeito.


 


— Aprende muito depressa, Ginevra.


 


Ela sorriu, quase sem fôlego.


 


— Só gostaria que você ficasse aqui por mais tempo. — Mordeu o lábio. A idéia da partida de Harry parecia incrivelmente triste. E não apenas porque ele não estaria por ali para dar-lhe aulas de esgrima.


 


— Eu gostaria de poder ficar — ele disse


 


— Como era a sua vida de onde o tirei, Harry? — Á voz de Gina soava muito doce.


 


— Ah, minha vida de antes... Era uma grande aventura, ser um mosqueteiro é o sonho de todo francês... pelo menos no meu tempo. Sou respeitado, admirado e até invejado por todos que conheço.


 


Um homem de valor, ela pensou. Bem-sucedido, que gos­tava do que fazia.


 


— Tem família?                                             


 


Ele abaixou os olhos.


 


— Sou filho único. Meus pais morreram de uma febre quando eu era ainda muito novo. Fui criado por meu tio, que servia com os mosqueteiros antes de se casar e se assentar. Ele já morreu também. Não tenho família. Mas é melhor as­sim para um mosqueteiro. Minha vida é o meu trabalho.


 


— E o amor?


 


Harry deu de ombros e sorriu.


 


— Quando o amor chegar, ele se tornará a minha vida. Pelo amor verdadeiro, eu deixarei de lado a minha espada. Mas até que esse dia chegue, estou feliz em lutar pelo rei. Cada dia traz um novo desafio, uma nova aventura.


 


— Uma nova mulher?


 


O sorriso mudou e se tornou meio maroto.


 


— Algumas vezes. Um guerreiro nunca sabe que dia será o seu último, e assim tende a aproveitar ao máximo suas noites. Mas sexo não é amor, milady. Aquelas aventuras ao luar não significam nada nem para mim nem para as damas envolvidas. E acho que elas são inteligentes o suficiente para saber disso.


 


Gina ficou imaginando se ele a considerava uma daquelas damas. Então, afirmou a si mesma que isso não importava.


 


Harry deu um passo à frente e deslizou os dedos pelo rosto dela.


 


— Está cansada, e já é tarde. É melhor descansarmos.


 


Ele jogou mais lenha no fogo e ajeitou as selas no chão para serem usadas como travesseiros, colocando-as bem per­to uma da outra. Acomodou-se, pôs o casaco sobre o corpo e voltou-se para ela.


 


— Venha, Ginevra. Não tem nada a temer.


 


— Sei disso. Não estou com medo. — E, se estivesse, não seria pelo motivo que ele imaginava. Deitar-se perto dele a noite inteira sem tocá-lo se tornaria um desafio. Não era com Harry que se preocupava, e sim consigo mesma. As mu­lheres abordavam os homens na época dos mosqueteiros? O que ele acharia se ela ousasse...


 


O que estava pensando? Harry era quem vivia obce­cado por sexo. E, uma vez que havia decidido não tocá-la en­quanto a missão de protegê-la não terminasse, ela não tinha de se preocupar com qualquer investida dele.


 


Ou tinha?


 


— Ginevra?


 


Ele a esperava. Gina suspirou e deitou-se no lugar indi­cado, deslizando para debaixo do enorme casaco que tia Kate dera a Harry e colocando a cabeça na sela.


 


— Boa noite, milady. Durma bem.


 


— Boa noite, Harry — ela disse, mas não acreditava que conseguiria dormir.


 


Porém dormiu. Quando acordou, sua cabeça não estava mais sobre a sela, e sim sobre algo muito mais macio e firme ao mesmo tempo, e com um cheiro bem melhor.


 


Abriu os olhos para a claridade do amanhecer e viu onde se encontrava. Sobre o peito de Harry, cujos braços a en­laçavam, uma das mãos em seus cabelos. Notou que suas pernas estavam sobre o corpo do mosqueteiro, e seus braços, em torno da cintura dele.


 


Harry cheirava bem. E parecia quente e excitado. Ela ergueu a cabeça, imaginando se conseguiria se levantar sem que ele acordasse. Mas quando o olhou, percebeu que ele já despertara e que havia desejo na expressão de seu rosto.


 


Mon Dieu! — ele murmurou. — Você é... tão bonita!


 


Os lábios dele estavam muito próximos dos seus, e ela sen­tiu-se atraída como por um ímã. Deixou que ele a enlaçasse e a beijasse. Quando ele a abraçou com mais intensidade retribuiu o beijo, entreabrindo os lábios e permitindo que a língua de Harry acariciasse o interior de sua boca.


 


Jamais imaginara que a boca pudesse ser uma zona tão erógena. Nunca fora beijada daquela forma. Com ternura e paixão ao mesmo tempo. Ela o desejava, e essa conclusão a atingiu com força. Queria fazer amor com ele. Naquele exato momento.


 


Estava praticamente sobre o corpo dele. Enquanto ele con­tinuava beijando-a, ela se movia, enlaçando suas pernas às dele, sentindo-lhe a manifestação do desejo. Porém, ele colo­cou as mãos em seus ombros e, gentilmente, afastou-a.


 


— Nunca — ele murmurou. — É muito difícil resistir à tentação.


 


— Para mim também. — Inclinou-se para beijá-lo outra vez, mas ele manteve a distância.


 


— Preciso resistir. — Fechou os olhos, como se estivesse sofrendo. — Mas se o desejo pudesse matar um homem, eu não viveria muito tempo.


 


— Harry, você não precisa...


 


— Preciso, sim. É um voto que fiz há muito tempo, o códi­go segundo o qual eu vivo. Sou seu protetor até que não corra mais perigo algum. E somente isso.


 


Gina olhou-o sem acreditar no que ouvia.


 


— Está brincando, não é?


 


— Se eu fizer amor com você agora, Ginevra, nos próximos dias meus pensamentos estarão concentrados apenas em você. Estarei distraído, até mesmo enfraquecido pelo desejo, pela lembrança do prazer mais doce que desfrutei até agora. Não... eu não posso.


 


Revirando os olhos, ela se levantou.


 


— Certo. Para mim, tudo bem, Harry. No fundo, não queria mesmo fazer nada mais íntimo.


 


— Eu a magoei com a minha recusa. — Ele também se levantou e se posicionou as costas dela, massageando-lhe os ombros. — Mas não se engane, ma chérie, se não fosse pelo meu voto de honra, eu...


 


— Oh, você e a sua honra que vão para o inferno! — ela exclamou, afastando-se para se ocupar com a fogueira.


 


— Você não sente nada disso.


 


— Vamos esquecer o assunto, está bem? Precisamos achar um telefone, ligar para o promotor e marcarmos um encontro.


 


Harry ficou parado onde estava.


 


— Isso é tão difícil para mim quanto para você, Ginevra.


 


Ela o ignorou, embaraçada por ter sido rejeitada.


 


— Precisamos arranjar um carro. Não podemos usar o de tia Kate mesmo que ninguém o tenha localizado até agora. Os policiais provavelmente já ligaram para ela, já que devem ter encontrado o proprietário do Buick e... — interrompeu-se e mordeu o lábio. — Oh, meu Deus!


 


Harry voltou-se para ela imediatamente.


 


— O que foi?


 


— A placa do carro! Oh, Deus, por que não pensei nisso a noite passada? Guido viu a placa do Buick. Ele pode ter loca­lizado o proprietário com tanta facilidade quanto à polícia!      


 


— Sua tia está correndo perigo?                                                     .


 


— Certamente. Temos de avisá-la o mais rápido possível, e dizer a ela que deixe a casa e fique em outro lugar por uns tempos. E precisamos fazer isso bem depressa.


 


A mulher era cheia de contradições. Primeiro negara que, o desejava, um hábito que tinha começado a fazê-lo duvidar de si mesmo pela primeira vez nos últimos tempos. Depois, havia deixado bem claro que o desejava. E então se irritara sem querer entender suas razões. Mas tudo isso tinha ficado para trás quando, de repente, chegara à conclusão de que havia inadvertidamente colocado a tia em perigo.


 


Enquanto cavalgavam lado a lado, ele a observava. O modo como seus olhos ganhavam intensidade quando estava preocupada. A maneira como o vento agitava seus cabelos ruivos, que os raios de sol tornavam mais brilhantes.


 


Ele tinha desejado muitas mulheres e possuíra a maioria delas. Mas nunca tinha sentido nada parecido antes. Não era apenas um desejo mais forte, era algo diferente, completamente novo. E isso o deixava com uma estranha sensação de que tudo que havia experimentado antes fora bobagem diante desse desconhecido e poderoso sentimento.


 


Esse desejo desapareceria quando fizesse amor com ela? Era isso o que normalmente acontecia. Porém, algo lhe dizia que dessa vez seria diferente. Nada parecia o mesmo.




(...)



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