C. F;
CHAPTER FOUR;
Abriu os olhos lentamente, descobrindo que a luz do sol praticamente lhe cegava e lhe causava muita dor. No mesmo momento se perguntou quem teria aberto a cortina, se ainda eram apenas nove horas da manhã de um sábado. Mas não era preciso sequer pensar pra responder: James Potter. Mais óbvio do que finais de reality shows.
- Dá pra fechar a porra da cortina? Eu tô tentando dormir – resmungou colocando o travesseiro sobre a cara.
- Não. Eu preciso estudar. Diferente de você, eu quero ser alguém na vida.
James estava sentado na escrivaninha do quarto e fazia seus exercícios. Remus dormia angelicalmente, não se importando com a luz e Peter dormia como um porco, não se importando com nada.
Sirius resmungou algumas outras coisas pra si mesmo e levantou da cama. Ao passar por James, fez um gesto não muito educado e depois se dirigiu ao banheiro: hora de um banho pra relaxar o máximo possível – se é que era possível.
Tentou não demorar e, quinze minutos depois, estava saindo com a toalha na cintura e os cabelos parcialmente molhados. Os chacoalhou de qualquer maneira e, antes que pudesse voltar ao quarto, viu que Marlene estava na varanda tocando. Uma ótima hora pra falar qualquer coisa, pensou. E então ficou parado ali, ouvindo-a tocar por alguns minutos, até que ela notou sua presença e parou.
- Sirius? – olhou para o menino – Oh, meu Deus! Vá vestir alguma coisa!
Ele riu um pouco: - Você toca bem.
Ela revirou os olhos: ele era impossível. Passava todos os dias fazendo elogios e lhe enchendo o saco. Qual era seu problema afinal?
- Já te contei que – ia dizer que fazia faculdade de música, começar algum assunto, qualquer coisa, mas foi interrompido por ela.
- Sério, Sirius: qual seu problema? São nove horas da manhã, por que você não vai dormir um pouco e me deixa tocar em paz? Você não se importa, então não finja que se importa só pra conseguir alguma coisa – pegou o violino e saiu dali, não sem antes virar pra trás e gritar: - E vê se veste alguma coisa!
Sirius ficou parado um tempo na mesma posição tentando entender qual o problema dela. Quando chegou a uma conclusão, – que envolvia basicamente progesterona, TPM e períodos de cio – percebeu que estava com fome, e que obviamente era melhor comer do que ficar parado pensando sobre qualquer mulher que fosse. Além do mais, Marlene era louca. É.
Foi colocar uma roupa e comer. Passou por ele, no meio do caminho, uma ruiva com cara acabada; era fato: a noite podia ter sido boa pra quem quer que fosse, mas não poderia ter sido melhor do que foi para Lily. Ela fez amizade com todas as pessoas importantes e não-calouras daquele lugar, além de ter consciência de ter feito o cara mais gato da faculdade babar em sua mão. Sentia-se foda. Aliás, muito foda. Transcendendo o nível normal. É. Estava bem orgulhosa de si mesma por ter começado a vida universitária do jeito que sempre sonhou. Era perfeito.
Mas nada é tão perfeito, e sempre tem alguém pra esbarrar em você quando você tá numa ressacada do caralho.
- Qual é, porra! Presta atenção pra onde anda! – a ruiva berrou mesmo sem saber quem era.
Ah, era Marlene. Ela merecia, pelo menos.
- Você que devia parar de andar esfregando os olhos, Evans. A gente não costuma enxergar quando faz isso – a morena revirou os olhos.
- Caralho! Se você viu que eu tava esfregando a porra dos olhos, por que você simplesmente não tomou cuidado pra não esbarrar em mim? Que menina irritante!
- Nem tudo gira ao seu redor; e eu não tenho obrigação de prestar atenção por mim e por você. Além do mais, eu estava lendo um negócio e...
- Vai ser hipócrita assim lá na casa do caralho! Haja paciência pra você, McKinnon – bufou e bateu a porta do banheiro atrás de si.
O legal é que ela não tinha notado que estava no banheiro masculino e que havia uma pessoa lá dentro; a pessoa que ela menos queria falar/ver agora: James Potter.
- Tá louca? – ele perguntou praticamente berrando e pegando uma toalha pra se tampar.
- Ai, mas que povo estressado, que caralho de casa! Como se eu quisesse muito ver seu peruzinho! – saiu rapidamente do banheiro batendo a porta outra vez.
Procurou pelo banheiro certo dessa vez e entrou nele pra que pudesse tomar um banho e fazer aquela ressaca ir embora. Era a pior coisa do mundo, de fato, estar de ressaca e ter pessoas chatas te enchendo; era quase como estar em casa: existia a senhorita perfeita que todos amavam, existiam as pessoas que lhe irritavam e gostavam mais da senhorita perfeita. A única diferença é que ela não tinha nenhum parente gato o suficiente pra se comparar ao seu querido amigo com benefícios, Sirius Black.
Uma meia hora depois todos estavam de pé. James e Marlene estudavam, e o pior: juntos! Sirius e Lily estavam estressados e haviam saído pra fumar e falar sobre coisas. Dorcas estava com Remus, Emmeline estava em algum lugar do mundo, e Peter não estava ali também.
- Sabe o que eu acho? – Dorcas soltou de repente.
- O quê? – ele perguntou, se virando pra ela.
- Que as pessoas dessa casa ainda vão se matar – sorriu.
- Com certeza – sorriu também – Pelo menos que a Marlene vai matar o Sirius e a Lily vai matar ela, isso não me resta dúvidas.
- Por que, né? Eles podiam se dar bem. Eu sei que eles são pessoas muito diferentes, com vidas diferentes, gostos, jeitos, pensamentos, tudo diferente, mas mesmo assim. Os opostos não se atraem? Então!
- Não sei... Acho que essa frase não é muito verdadeira.
- Também acho que não... – concordou após um tempo – Quero dizer, eu nunca me apaixonei por alguém que fosse o contrário completo de mim. E não consigo ver, por exemplo, a Marlene se apaixonando pelo Sirius um dia, não mesmo.
- Também não. Acho inclusive que ele devia parar de insistir nessa idéia estúpida. Tá na cara que ela tá afim do James.
- Tá mesmo. Aliás – Dorcas virou o corpo para o lado de Remus e passou a encará-lo nos olhos – O senhor quer me contar sobre alguém de ontem?
- Acho que você que me deve alguma história, sabe? – revidou.
- Verdade – mostrou língua pra ele – Então vamos fazer um combinado: eu conto, depois você conta. Fechado?
- Fechado.
E então se sentaram de maneira que pudessem se ouvir melhor e assim falar mais baixo. Ficaram falando sobre respectivos alvos por algum tempo, enquanto riam e se divertiam. Davam até uma bela dupla, de fato.
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Todas as pessoas estavam se preparando pra sair. Marlene e James iriam até algum museu de tecnologia e depois a algum concerto. Sirius, Lily e Remus se juntaram pra ir a qualquer boate. Dorcas não quis ir, pois não se sentia bem: havia comido demais – apesar de não ter contado a ninguém que essa era a razão por não ir. Emmeline estava no chalé de alguns amigos jogando algum jogo e Peter, como sempre, devia estar se drogando com seus amigos.
- Tem certeza que não quer ir? – Remus perguntou à morena pela milésima vez.
- Absoluta. Mas você precisa me contar tudo depois! – insistiu.
- Vou mesmo – ele sorriu e beijou a testa da amiga – Juízo. Fica bem, tá? Qualquer coisa me liga.
- Você também – acenou mais uma vez pra ele o vendo sair porta do chalé afora.
No fim das contas, quando todos saíram vestindo seus jeans, saltos altos, vestidos, saias de cintura alta, tênis legais e afins, Dorcas estava tão sozinha quanto poderia estar. Tentou ver TV e se distrair por um tempo, mas logo percebeu que não conseguiria manter aquilo dentro de si e correu para o banheiro.
Era mais do que comida; era um peso exorbitante que aquilo exercia em sua consciência, fazendo com que ela se lembrasse de diversos momentos desgostosos de sua vida. Precisava colocar tudo pra fora, precisava garantir que continuasse do jeito que agradaria a todos; não podia fracassar.
Após ter vomitado grande parte de toda a comida do dia, Dorcas voltou para a sala e tentou prestar atenção na TV de novo. Agora era bem mais fácil, pois sabia que aquilo tudo não iria mais direto para sua barriga ou coxas; estaria como sempre esteve: magra e linda. Ela chegou inclusive a quase adormecer, mas uma vontade súbita de cantar fez com que ela acordasse. Procurou por algum CD e colocou no som na maior altura; como estava sozinha, podia aproveitar e ouvir música na altura que quisesse.
Como era bom poder correr pela casa cantando os versos da música; desafinada ou não (era o que pensava), cantar era rejuvenescedor. Era também um dos passatempos preferidos de Dorcas; ela sentia falta da época em que participava do coral. Ainda era bem pequena, mas tinha vários amigos lá e se divertia bastante. Uma época linda de sua vida, que infelizmente passou e deu lugar a coisas desagradáveis.
Balançou a cabeça se negando a pensar em coisas ruins. Estava uma noite linda pra que ela se preocupasse com isso, e além do mais, era sábado! Ninguém pensa em coisas ruins no sábado. E pra não fazer isso, ela passou para a próxima faixa do CD e voltou a cantar com a música.
Como estava absorta nas palavras de Cyndi Lauper, não percebeu que Peter havia chegado e lhe encarava dançar e cantar com o controle na mão (como se ele fosse um microfone). Quando percebeu, chegou a gritar de susto e então desligou rapidamente o som.
- Peter... Eu não te ouvi entrando, desculpa – disse de maneira afobada.
Ele a encarou por alguns minutos de maneira indiferente: - Tá... – e então ele se sentou no sofá.
Logo depois, Dorcas já estava do seu lado.
- Então... Por que você voltou tão cedo? – ela perguntou tentando puxar algum assunto.
- Sei lá... – olhou pra ela – Você canta bem. Por que tá aqui? Eles não iam pra alguma espécie de boate?
Dorcas não deixou de notar que o jeito dele de falar era muito... incriminador. Qualquer um seria capaz de dizer que ele estava usando drogas antes; sua voz era arrastada e lenta. Além do mais, ele não fala mesmo coisa com coisa... Ou pelo menos não falava as coisas numa ordem normal.
- Ah, eles foram. Mas eu tava me sentindo meio mal e resolvi ficar. Peter, posso te fazer uma pergunta? – esperou que ele concordasse pra prosseguir – Por que você usa drogas? Quero dizer... Usar de vez em quando é até normal, eu sei que um monte de pessoas fazem isso. Mas você parece estar o tempo todo assim.
Peter permaneceu em silêncio por alguns minutos enquanto olhava fixamente para a televisão; se virou lentamente para Dorcas, ignorando completamente a mocinha da novela que chorava.
- Por que você não come? Isso me irrita. Você não devia ser tão fútil e se preocupar tanto com aparência assim.
Dorcas assimilou o que ele havia dito por alguns instantes; não conseguiu ficar realmente ofendida, até porque, o tom do menino não era o tom de quem queria ofender: era ainda indiferente, lento, provavelmente efeito das drogas. Ela respirou fundo e pensou que, se era pra desabafar com alguém, que fosse com alguém que não se lembraria disso no dia seguinte.
- Minha mãe não suporta pessoas gordas. Eu não posso fazer ela me odiar mais do que ela já me odeia. Ela queria uma filha loira dos olhos azuis, eu nasci assim, mas quando cresci tudo em mim ficou diferente, eu... Sei lá, toda vez que eu como muito eu lembro das coisas que minha mãe me disse. Ela odeia pessoas gordas, entende? Eu não posso ser gorda – ela suspirou: querendo ou não, já havia lágrimas em seus olhos.
Que fraqueza.
Peter olhou pra ela com olhos bastante abertos: estava surpreso. Não esperava mesmo que houvesse algum motivo por detrás da magreza da menina. Sempre imaginou que fosse a frescura de ser mais magra do que todas as mulheres a sua volta, aquela coisa toda de que ser magra é ser linda; era deprimente saber que ela agia assim pra obter reconhecimento de sua mãe.
- Sua mãe... O que ela te disse? – perguntou após um tempo, agora com um pouco menos de indiferença.
- Quando meus cabelos e meus olhos escureceram, ela chegou a dizer que eu era uma grande decepção. Mas quando eu comecei a engordar um pouco, isso foi na faixa dos meus doze anos, ela me disse que eu não era uma decepção, eu era uma grande desgraça e que alguma coisa ela devia ter feito de errado pra ter sido minha mãe.
- Ela não pode ter realmente dito essas coisas - sabia que era mentira, pois a maior prova de que pais eram capazes de tudo, eram os seus.
Mas Dorcas era muito linda pra que sua mãe lhe renegasse desse jeito.
- Não sei como ela foi capaz, mas ela disse – deu um sorriso torto – Mas não precisa fazer essa cara. Eu mesma já superei isso, eu acho.
- Com certeza – falou irônico – Tanto é que continua se matando pra continuar do jeito que ela quer que você seja.
- Não é bem assim... Eu não estou me matando. Eu já cheguei a quase fazer isso uma vez, mas ela brigou tanto comigo que eu não seria capaz de fazer de novo. Hoje eu presto atenção em todos os meus movimentos; eu não me deixo ter nenhuma recaída.
- Por recaída você quer dizer o quê? – perguntou atônito.
Não estava mesmo entendendo o que ela estava querendo dizer com aquilo. A menina era extremamente magra, então não comia ou vomitava qualquer coisa que ingerisse; o que seria uma recaída, então?
- Ter que voltar pra clínica.
E uma pergunta importante: como ela era capaz de falar daquelas coisas como se estivesse falando de acordar e notar que o céu é azul-anil nas manhãs de verão?
- Você já esteve numa clínica, você literalmente já quase se matou pela sua mãe.
- Isso não foi uma pergunta.
- Cara, eu não sei como você consegue fazer isso! Ela não merece que você se mate por ela – gritou e encarou Dorcas em seguida.
Ela apenas sorriu: - Engraçado, mas me parece que você faz o mesmo que eu.
Peter não respondeu. Ficou imensos segundos em silêncio, ponderando sobre o que a morena havia acabado de falar. Era verdade: ele se matava pelos seus pais. Não que seu jeito de se matar não fosse bom, mas ainda era um jeito de se matar, e ele mesmo soube disso antes de começar com aquela porcaria toda. Mas era diferente, ainda assim, do que Dorcas fazia.
- Eu não me mato por eles, eu me mato por causa deles.
Suas expressões eram fortes; mesmo que o efeito da droga ainda estivesse passando, era visível em cada sinal que seu rosto fazia.
- Bobo. – ela disse balançando a cabeça levemente de um lado para o outro – Você se mata por eles, é óbvio que sim. Mas Peter, ninguém é julgado por querer carinho e reconhecimento dos próprios pais. Você devia saber disso – passou os dedos lentamente sobre o rosto dele.
Parecia uma criança. Mais do que ela mesma sabia que também devia parecer, inclusive.
E ele mais uma vez não respondeu, apenas ficou parado a olhando. Mas de repente, o que Dorcas não poderia ter previsto em seus anos de conhecimento de reações de pessoas com aquele tipo de problema, Peter começou a chorar. Não soluçava e não fazia barulho algum: era um choro silencioso; um choro do qual ela sabia que podia compartilhar também, pois choravam pelo mesmo motivo: a própria estupidez.
Abraçou-o de maneira que mais parecia que queria consolá-lo, enquanto na verdade compartilhava daquele sofrimento silencioso com ele. Ficariam ali por alguns minutos, mesmo que não pensassem em nada ou não fossem capazes de falar nada. Ficariam ali por um simples motivo: era a primeira vez em suas vidas que tinham alguém com quem compartilhar um sentimento de vergonha, um sentimento tão infantil; um sentimento que os matava por dentro mesmo enquanto eles o ignoravam.
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Olá pessoas! Aqui estou eu again, HIHI. Eu sei que tinha dito que postaria o capítulo quatro na sexta, mas não consegui ligar o computador nesse meio tempo, infelizmente. Enfim, me perdoem. Aqui está o capítulo quatro (eu só gosto do final, btw). O quinto eu to escrevendo ainda (sim, eu dei uma atrasada total!), mas prometo que ele vai estar beeeeeem melhor que esse. As coisas devem ficar mais interessantes a partir de agora, né. E eu vou tentar fazer capítulos mais legais, porque eles andam muito chatos ):
De qualquer maneira, comentem muito muitinho! Eu prometo tentar posta o quinto semana que vem, no máximo. Beijócas de alguém que ama vocês, MMcK.
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