Capítulo 8



Capitulo 08 .

Draco: 
 
Enquanto eu estava estudando, sentado frente à escrivaninha, Blaise estava esparramado em minha cama. Na maior parte do tempo ele ficava quieto, com o fone do seu MPALGUMACOISA nas orelhas. Ele sabia que quando eu estava estudando não gostava de ser interrompido, mas eu sabia que em um momento qualquer ele ia tirar os fones das orelhas, sentar-se na beira da cama, fazer aquela cara de sério que só ele conseguia fazer e expor a mim a linha de seu raciocínio. Sim, ele era muito disso, ninguém tinha mais hábito de pensar na vida do que ele e o problema é que não era só na vida dele que ele pensava. E esse momento chegou. Ergui os olhos, até então atentos ao livro, e lhe lancei aquele olhar que queria dizer: “Vá em frente diga o que é dessa vez”. 
  - É que sinceramente, se houvesse uma loirinha disponível para fazer parte do grupo, eu ficaria muito feliz.
  - Como assim?
  - Ora Draco não se faça de tonto. É bem evidente que daqui a pouco eu vou ficar de vela dupla, um belo de um castiçal. 
Eu realmente não estava entendendo o nde ele queria chegar. Ele me encarou por um instante e a testa enrugada transformou-se em olhos arregalados. 
 - Oh meu Deus! É sério mesmo. Você não faz idéia.
 - Não faço idéia do que diabos! 
 - Vamos lá. Harry e Gina. Você e Hermione? 
 - Espera, espera. Harry e Gina? Eu e Hermione? Acho que quem não faz idéia de nada é você. 
 - Ah é? – aquela cara de superior - Explique-se. 
 - Vai me dizer que você nunca viu como a Hermione e o Harry se dão bem? 
 - Mas é claro que sim.
 - Então como você ousa dizer que ela terá alguma coisa comigo e ele com Gina? 
 - Santo Cristo. E ele ainda quer ser Doutor! 
Blaise sabia ser bem chato quando queria. 
 - Eu não perco meu tempo pensando na vida dos outros como você. 
 - Mas deveria pensar um pouco na sua. Se fizesse isso já teria percebido em que bela armadilha você está. 
 - Como assim? 
 - Você não sabe perguntar outra coisa? 
 - Você não sabe ser mais direto?  Ok. Vamos lá. Primeiro não há nada entre a Hermione e Harry, nem nunca haverá, mas vamos deixar a relação dos dois um pouco para mais tarde. Isso vai parecer sinopse de filme adolescente, mas vamos lá: Harry gosta de Gina, que gosta de você, que gosta da Hermione, que muito estraga prazeres rompe o ciclo, pois ao invés de se apaixonar por mim e eu quem sabe sentir algo meio gay pelo Harry, não, ela simplesmente, por motivos que eu não faço idéia, porque sabe, eu sou muito mais interessante, ela gosta de você.

Certo. Aquilo foi assustador. Pareceu que eu tinha acabado de levar uma boa quantidade de tapas na cara, daqueles que se dá em pessoas descontroladas para que elas recobrem a lucidez. Porque se havia algo que faltava ali era lucidez, se bem que quem merecia os tapas era Blaise. Nada do que ele havia falado fazia sentido ou assustadoramente fazia sentido demais. Eram as coisas obscuras que eu sabia que todos escondiam. Quem disse ao Blaise que eu queria saber daquilo? E de repente eu percebo, que a mania de matracar de uma certa morena - que meu amigo dizia gostar de mim – estava me afetando. Era convivência demais. 

  - Calma aí. Isso não tem cabimento nenhum. O que te faz pensar que Harry goste da Gina? – perguntei, enfim.
  - A cara de bobo, a devoção absurda e otras cositas más.
  - E que Gina gosta de mim? 
  - Dois votos para o que eu acabei de dizer e acrescente o simples fato de ela não esconder de ninguém, nem mesmo do pobre Harry que ela sabe muito bem o que sente por ela.
  -  E, por fim, por que acha que a Mione gosta de mim? Pois eu nunca a vi com cara de boba em relação a mim e nenhuma devoção absurda, muito pelo contrário.
  - E é aí que está a chave. Compreende?
  - Não, não faço idéia. 
Com uma expressão mais séria do que a de costume ele ajeitou-se na cama e posicionou-se mais a minha frente. 
  - Eu sei dos sentimentos de Harry e Gina pela maneira como se comportam e sei dos de Hermione pelo simples fato de seu comportamento ser o oposto do primeiro casal – ele fez uma pausa como se estivesse preste a chegar ao resultado de uma equação matemática dificílima, eu não seria louco de interrompê-lo. – Você chegou a contar a ela sobre a sua idéia de se mudar para a África quando se formar?
  - Não, nunca contei, mas o que isso tem haver?
  - É simples. Hermione gosta de você, mas sabe que não deveria gostar. Pensei que se você tivesse contado a ela esse seria um bom motivo para que ela repudiasse qualquer sentimento maior que amizade, mas se você não chegou a contar, de duas a uma, ou alguém contou ou ela tem seus próprios motivos para não querer se apaixonar.

Acho que se eu não o interrompesse, ele seria capaz de virar a noite tentando encontrar respostas, mas eu sinceramente, de uma maneira bem garotinha fofoqueira, não tinha a menor intenção de interrompê-lo, aquilo me interessava. E eu sei que isso é bem óbvio. 
 - E? – o instiguei a continuar. 
 - E o que? 
 - Ela não querer se apaixonar não justifica em nada o comportamento dela com Harry. - Como não? 
Se para ele parecia óbvio, eu simplesmente não fazia idéia. 
 - Não justificando oras! 
 - Certo. Deixe-me explicar então. Você mesmo disse que sempre achou que Hermione precisava de um amigo e depois que a conheci também achei isso e, então, apareceu você que tinha tudo para ser um amigo perfeito, mas o que aconteceu? Vocês se apaixonaram. 
 - Ah Blaise não viaja. 
 - Tudo bem... Vamos fingir que a sua parte não existe. Ela apaixona-se por você, mas não podendo relacionar-se amorosamente com alguém, ela continua precisando de um amigo e é aí que o Harry entra. 
 - Mas por que não você?
 - Gostoso do jeito que eu sou é difícil ser apenas minha amiga, você sabe. 
E diante do meu revirar de olhos, ele continuou. 
 - Estou brincando não seja tão ciumento. – e riu sozinho da sua piada sem graça – Ser meu amigo é algo totalmente fora de questão, não que não sejamos, eu sou capaz de matar por aquela garota, mas nada comparado a ela e Harry e por que? Porque eu sou do lado “inimigo”, ela não pode abrir-se comigo e chego até mesmo a pensar, que de uma maneira inconsciente ela quer te fazer ciúmes e sabe que comigo não ia funcionar porque eu com certeza te diria se acontecesse algo, enquanto que com Harry nós dois ficamos na dúvida. 
 - Por que ela ia querer me fazer ciúme se não quer ficar comigo?  
 - Eu disse que era inconsciente, coisa de mulher. 
 - E eu quero ser amigo dela, ela não pode se afastar assim de mim. 
Sim, eu estava cogitando que meu amigo poderia estar certo em suas teorias. Elas justificavam certos comportamentos de Hermione. E agora eu estava quase me lamuriando. Era ridículo. 
 - Já ouviu falar em tensão sexual meu amigo? 
 - Claro que sim. 
 - Pois então, ela simplesmente não pode chegar perto de você, não é seguro para ela e imagino que para você também não. Já Harry é como um irmão. 
 - Eu não vejo irmãos se agarrarem daquele jeito. 
 - É verdade – ele suspirou. – É até uma coisa curiosa, irmãos de sangue em sua grande maioria se repudiam, vivem brigando. Mas mesmo assim quando temos um grande amigo, com quem dificilmente brigamos e nos identificamos muito logo o chamamos de irmão. É interessante isso.

E agora ele estava começando a divagar sobre um assunto que já não me interessava, então, era hora de interrompê-lo, mas antes eu tinha uma ultima coisinha para esclarecer com ele, antes que ele resolvesse dividir suas teorias com mais alguém. 

 - Você sabe que eu não posso sentir nada por ela, não sabe? 
 - Não pode, não. Não quer. 
 - Você sabe que seria injusto com qualquer garota, um dia eu vou embora deste país, já será doloroso deixar amigos, não quero ter que partir o coração de ninguém e o meu.  
 - Tudo bem meu amigo – e me deu um tapa leve no ombro. – Você sabe que eu sempre acabo te entendendo, mas eu queria muito te ver apaixonado e sabe... Você anda bastante necessitado que eu sei. Quanto tempo faz? Um ano? 
 - Dois. 
 - Pois então, isso é muito tempo mesmo. Deveria aceitar meu convite um dia para uma noitada daquelas, sexo sem compromisso não é crime como você pensa. 
 - Eu sei que não é, mas não é pra mim e você está cansado de saber disso. 
 - É, eu sei. 
A mesma mão permanecia em meu ombro e ele deu mais um leve tapa de camaradagem. Trocamos um olhar de cumplicidade e como sempre acontecia, foi ele quem não resistiu. 
 - Ah! Me dá um abraço vai cara! E nos abraçamos. 
 - Obrigada por tudo Blaise. 
 - Ah de nada. 
 - Sabe, você podia ser conselheiro amoroso ou algo do tipo. Separando-se do abraço ele olhou curioso. 
 - Está falando sério?  
 - Claro que sim, você é bom com as palavras. 
 - Obrigado, mas essa profissão não existe, pelo menos não neste país. Aqui o mais próximo disso seria uma cartomante e eu não jogo cartas, quer dizer, até as jogo, mas não vejo nada nelas a não ser números, letras e naipes. Além disso, não é só porque eu sempre me derreto por um abraço seu que eu já possa exercer profissão de boiola.

Nós dois rimos. E esse era Blaise em todo o seu grandioso ser. Um homem com o coração maior que peito, mulher de sorte a que ficasse com ele, isso quando ele decidisse prender-se a uma.



***



Hermione: 

Um monte de coisa para fazer, às vezes, tenho a forte impressão que professores de faculdade pensam que nós não temos vida fora da dela, passam tanto trabalho que muitas vezes não dá tempo nem de fazer coisas simples – e maravilhosas – como comer e dormir. O pior de tudo é ter que se concentrar e não conseguir porque há coisas demais na cabeça, naquela tarde eu recebi duas visitas, que juntas eram praticamente uma sentença de morte. Opa! Olha a morte aí outra vez. Eu sabia que ela não tardava a aparecer. Primeiro foi Harry, digamos que ele colocou a corda no meu pescoço. Depois veio  Gina e ela chutou a cadeira. Eu estava ferrada, embora eu me recusasse a reconhecer isso na época. Quando Haary chegou não fazia nem dez minutos que havia chegado da faculdade, o que me dá a leve impressão de que ele veio me seguindo desde lá. Eu abri a porta e nem precisei pedir para que ele entrasse, ele logo foi entrando. Sua cara dava medo, uma mistura de pânico e dor, muita dor.
  - Harry? Aconteceu alguma coisa? 
E só então ele voltou seu rosto para mim e pude ver como estava aflito. Apontei-lhe o sofá e ele logo se sentou. E sem olhar pra mim ele despejou. 
 - Você sabia que a Gina gosta do Draco?? 
Não é novidade que eu já sabia disso há bastante tempo. 
 - Claro que não! De onde tirou essa idéia? – era melhor que ele não me olhasse como se eu fosse uma cobra. 
 - Ela me disse.
Uau! Por essa eu não esperava mesmo. Ela, enfim, criou coragem. 
 - Quando? 
 - Quando todos foram embora e restaram apenas nós dois no fim da aula. E o pior é que ela disse que já devia ser óbvio para todo mundo, que eu fui um cego por não perceber. E ela tinha razão. 
 - Mas espera aí. Por que ela te disse isso? O que você disse que a fez confessar?
O rosto lentamente ergueu-se e me olhou, havia tanta vergonha naquele par de olhos verdes que meu coração quase chorou. Ele, enfim, também havia criado coragem, quer dizer, ela não criou coragem coisa nenhuma, apenas teve que dar um fora no meu amigo. 
 - Eu me declarei a ela.
E, então, aquele rosto másculo e maduro, parecia ser de um bebê. 
 - Vem aqui – e o abracei.


Durante um longo tempo permanecemos quietos, nos braços um do outro e, então ele se foi. Gina não era má, estava bem longe disso, mas naquele momento eu tive vontade de matá-la (ops?!). E quase matei quando menos de duas horas depois a campainha toca e a dita cuja brota na minha frente com aquela cara lavada de sim-eu-amo-outro-e-dei-um-fora-no-Harry. A raiva era pelo Harry e era pelo outro. Eu queria voar na jugular dela. 
 - Oi Gina! Que boa surpresa.
Um talento perdido para a arte-cênica, eu sei. 
 - Oi Hermione.
Eu nunca entendi muito bem aquela expressão: “Cara de poucos amigos”, mas agora eu entendia, era essa a cara da Gina e lhe dando um spoiler do que está por vir, era exatamente esse o seu futuro, pois acabara de perder Harry (a não ser que ele seja tão clichê – e tonto - a ponto de dizer que só a amizade basta), estava prestes a me perder (sacanagem com meu amigo é como se fosse comigo e... hãã... eu sei que o Draco não é meu, mas quem disse que podia ser dela?) e perderia Draco se por ventura ele caísse na dela e se tornassem namorados (batendo na madeira um zilhão de vezes). 
 - Posso saber porque veio? 
 - Imagino que como os amigos que são, Harry veio aqui hoje lhe contar a nossa conversa. 
 - É. Acho que ele comentou algo.
Ela riu e sentou-se na cadeira ao lado da minha. 
 - Não me odeie Hermione, não fiz por mal. Não posso me envolver com Harry se meu coração pertence a outro. Eu o amo, não é possível que ele ou você duvide disso, mas infelizmente não é da maneira que ele quer. Só Deus sabe o quanto estou sofrendo com isso. Não queria que esse tipo de situação nascesse entre nós. 
Aquela idiota! Tinha lágrimas nos olhos dela e o pior de tudo é que eram sinceras. 
 - Tudo bem Gina, eu lhe entendo, mas porque veio aqui? Acho que tem que explicar isso ao Harry e não a mim. 
 - Eu sei Mione, na verdade já disse tudo isso a ele.
 - Então? 
 - Acho que você já sabe porque não posso corresponder aos sentimentos do Harry. 
 - Sim, eu sei. 
 - Pois bem. Amo o Draco, mas sei que ele não me ama, pelo menos não do jeito que ama você.
Ama quem? Ela disse que o Draco me ama? Coitada dessa garota, além de tudo, ela agora deu pra beber. 
 - Não viaja Gina. 
 - Você sabe que é verdade. 
 - Eu não sei de nada. Esqueceu que eu sou a aluna de administração, burra e indecisa? Saber não faz parte de mim. 
 - Eu quase posso rir da sua piada se a sua negação não fosse tão triste. Você realmente parece não saber. 
 - Eu não sei, pois não há o que saber. Draco não me ama. Para ser bem sincera acho que você devia lutar por ele. 
 - Sério? – Seus olhos quase me engoliram. – Pois foi exatamente isso que vim conversar com você. Queria lhe pedir permissão para tentar conquistar Draco.
Olha lá eu me lascando. Primeiro eu incentivo, depois fico com raiva porque ela quer me pedir permissão. 
 - É lógico que tem minha permissão. Eu adoraria ver vocês dois juntos.
Opa! Sinto cheirinho de Oscar. 
 - Obrigada Hermione – e me abraçou. – Você é incrível. Sempre soube que podia contar com você. 
 - Sim, sim. Sempre pode.
Ela desfez o abraço, mas eu ainda sentia seus braços em volta de mim. 
 - O maior problema é o Draco. Ele é sempre tão evasivo quando o assunto é relacionamentos. Já cheguei até a pensar que ela era gay e Blaise seu namorado. 
 - Olha que não é uma péssima teoria não.
Nós duas caímos na gargalhada, embora eu não estivesse muito no clima. 
 - Falando sério. É como se ele tivesse medo, como se fosse crime ou algo pior.
Eu sabia exatamente do que ela falava. Muitas vezes aqueles olhos cinzas  me diziam a mesma coisa, sempre disseram, mas meu coração além de surdo não sabe ler e agora... E agora eu seria madrinha de casamento e de toda a penca de filhos.







N/A:   *----------------------------*

Pra compensar a falta enooorme de consideração, o próximo capítulo já está disponível!!! Sim, é verdade, é só apertar "próximo capítulo"!! ;/

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