Dezessete.



Dezessete.


Lições do amor - o amor ensina mais do que se pode esperar.



Estava bastante cansada no dia seguinte quando foi para o colégio. Trabalhou até mais tarde na noite anterior. Fora isso, também tinha as alterações de seu corpo com a gravidez. E o sono tornou-se algo constante, porém com pouco tempo para ser reposto. Estava dedicando-se mais ao trabalho na lanchonete do que aos estudos. Justo ela que sempre preservava os estudos, via-se atada ao trabalho.


Agradeceu quando entrou na sala e o professor ainda não tinha chegado. No entanto, soltou um muxoxo ao constatar que o único lugar vago era próximo as líderes de torcida. Para o seu desagrado, teria que sentar ali perto e suportar as conversas fúteis e risadas irritantes. Não podia ter mais uma falta naquela matéria. Isso prejudicaria ainda mais as coisas.


- Como vamos viajar amanhã para o próximo jogo... - Gina dizia com euforia para as amigas em sua volta. - Harry e eu vamos nos registrar em outro hotel. Assim vamos poder dividir o mesmo quarto.


As outras garotas vibraram tanto quanto a ruiva com a notícia, e apenas faziam isso para provocar Hermione. A morena, por mais que não quisesse se abalar com as palavras de Gina, não pudera ser imune ao ciúme que sentira. Nem mesmo a dor que sempre a assolava e que voltava mais forte a cada momento em que era exposta a coisas assim.


- Imagino o quanto vão se divertir juntinhos, lá. – uma das líderes de torcida falara.


- Você não tem idéia do quanto. - comentou maliciosa.


- Realmente vocês formam um lindo casal. - a loira ao lado, a mesma que estivera na lanchonete com a turma na semana anterior, disse. - Não consigo imaginar Harry Potter namorando uma garçonete.


- Não devemos julgar o trabalho de ninguém, Kelly. - Gina disse em um falso tom de repreensão. Hermione podia perceber a ironia e o asco em sua voz. - Talvez a garçonete precise trabalhar pra ajudar a família. A mãe deve se matar no trabalho, sem receber nenhum centavo do pai. Imagine o quanto deve ser difícil.


Novamente os sons das risadas fizeram Hermione suspirar fundo. Sua vida era difícil sim, sem ajuda financeira do pai. Mas trabalhava não por conta disso. Era pelo sustento do filho que esperava.


- Está vendo porque não imagino Harry com uma garçonete? - Kelly rebateu novamente. - Ele tem classe, é de família nobre e rica. Merece alguém como você, Gina. - a ruiva sorriu, gesticulando um agradecimento.


Hermione bufou, sentindo a raiva subir sua cabeça. De tudo que disseram aquilo lhe parecera ainda mais fútil. Contavam em uma pessoa apenas dinheiro e status. Não entendiam que o caráter e os sentimentos eram realmente o carro chefe de alguém. E ainda, havia as ofensas diretas a si mesma, e algo diferente brotou em seu peito. Não queria parecer fraca, nem alguém que precisasse de outra pessoa para se defender. Aguentara demais calada, então se levantara e ficou de pé, em frente às lideres de torcida.


- Porque você faz isso?! – indagou diretamente para Gina.


Gina trocou um sorrisinho cínico com as amigas antes de se virar para a morena.


- Faço o quê, querida? - perguntou, fingindo-se de inocente.


- Me provoca desse jeito... Eu a incomodo tanto assim? Eu não sei... Não consigo entender! Talvez se você conseguir me explicar... – Hermione exclamou alterando a voz. Estava muito nervosa.


- Pra falar a verdade... - Gina se levantou, erguendo o queixo naquela pose superior que sempre fazia quando estava diante de Hermione. - Incomoda sim. E você não tem idéia do quanto.


- E eu não sei por quê. Nunca lhe fiz nada de mal. – riu-se por um momento. – Mas você deve sentir algum prazer nisso. Só há essa explicação. Porque sinceramente, não há motivos para eu incomodá-la tanto assim. Eu só sou uma garçonete, que “tem e não tem” pai! Você sempre teve tudo. Dinheiro... O carinho da sua família. – seus olhos marejaram. - E agora, você tem a pessoa que mais foi importante pra mim... Então eu não sei por que ainda continua a me fazer de alvo!


- Você entrou no meu caminho, Granger. - a ruiva sibilou entre dentes. - Harry sempre foi meu. E ele terminou comigo por sua culpa. Porque começou a te enxergar de outra forma. Então é bom que você se acostume. Porque enquanto estivermos no mesmo lugar, vou fazer da sua vida um inferno.


- Minha vida nunca foi um paraíso mesmo. – ela comentou séria, limpando uma lágrima que caíra dos olhos. – E não se preocupa, eu não fui, nem sou importante para ele. Vocês são mesmo perfeitos um pro outro. Então me deixa em paz!


- Ainda bem que você sabe o quanto é insignificante não apenas para os outros, mas principalmente para o Harry. - retorquiu, sorrindo enquanto arqueava uma sobrancelha.


- Sim, eu sei... – Hermione murmurou, segurando o choro doído. Ele se mesclava com a raiva que sentia. Toda a vontade que sentia de assistir aquela aula fora por água a baixo. E agora tudo que queria era ficar sozinha.


Gina ainda continuava a sorrir, e a fita-la de modo superior, quando Hermione juntara seus materiais. Não conseguiria ficar ali mais um segundo, sem desmoronar. E não o faria na frente de Gina, porque pelo visto estavam empatadas na discussão. Sob os olhares dos colegas, a morena saía da sala. Quando chegou a porta, esbarrou em alguém. Ao erguer os olhos, estremecera ao perceber que era Harry.


Ele a olhou, notando os olhos castanhos cobertos pelas lágrimas. As expressões em seu rosto revelava sua tristeza e sofrimento. Foi inevitável que seu coração não se apertasse ao vê-la de tal forma, fazendo-o esquecer de tudo. Mas tivera que reprimir a vontade de acolher Hermione em seus braços e consolá-la. Abriu a boca para dizer qualquer coisa, mas ela se esquivou e correu pelo corredor.


- Hermione. - Harry o chamou sem obter nenhuma resposta. Voltou seu olhar para o interior da sala, encontrando Gina e as amigas em plenas risadas. Ele bufou, tinha dedo da ruiva no meio de tudo isso. Caminhou até ela, chamando sua atenção. - Você tem alguma coisa a ver com isso, não tem?


- Pare de achar que tudo é minha culpa! Eu não sou culpada por essa garota ser tão sensivelmente idiota. Eu não disse nada... Juro. – Gina disse sorrindo. – Não é meninas? – indagou fitando as amigas.


- Quer saber, eu cansei. - o moreno bradou entre dentes, pouco se importando das pessoas em volta que viam a cena. - Você já me tem Gina. Então deixe Hermione em paz. É a última vez que eu vou avisar. - alertou antes de deixar a sala.


**


Estava exausto e irritado quando chegou em casa no final do dia. Além de tudo, tivera que suportar as reclamações de Gina pelo resto da tarde. Sem falar à preocupação que tivera com Hermione. Mesmo depois de tudo, ficou preocupado ao vê-la naquele estado. Conhecia Gina muito bem e sabia que o que ela disse ou fez foi o suficiente para deixar Hermione magoada.


Entrou em casa, encontrando a figura do pai logo na sala. Não sabia de seu retorno. E nessa altura, provavelmente ele já sabia de tudo o que aconteceu. Suspirou, desejando que sua entrada passasse por despercebida. Mas não fora assim. Seu humor não estava agradável para uma conversa, nem para explicar o porquê vinha agindo assim. Pois sabia que, diferente da mãe, o pai não iria entendê-lo.


- Até que enfim chegou. – James dissera, sem se levantar. Bastara um olhar para o filho saber que estava além de furioso, muito a fim de uma conversa. – E espero que tenha se divertido bastante na minha ausência, porque não vou mais admitir coisas desse tipo.


- O senhor quem manda. - Harry apenas murmurou, seguindo em direção a escada. Realmente não queria conversar.


James bufou, levantando-se de onde estava para ir atrás do filho. Não aceitaria o comportamento dele de maneira alguma, pois não fora desse modo que criara Harry.


- Acho melhor você parar aí mesmo, e conversar comigo! – o advogado dissera, pegando Harry na metade da escada. Ficou parado ali, esperando por alguma resposta.


- Pai, meu dia não foi fácil. - disse ao se virar. - Estou cansado. Amanhã tem a viagem para o próximo jogo. Não estou nem um pouco a fim de conversar.


- E acho que eu estou “a fim” de falar disso?! – o moreno indagou bravo. – Não queria estar falando disso com meu filho. O mesmo que saíra dirigindo bêbado, arriscando além da sua vida, a de outras pessoas! No entanto, acho que este não é um assunto o qual deve ser esquecido. E se seu dia foi difícil, com toda a certeza agora vai ser mais ainda.


Harry revirou os olhos. Pelo visto, não se livraria da conversa com o pai. Ele não o deixaria em paz enquanto não descontasse sua raiva em si pelo que fizera. Desceu a escada, seguindo para a sala e se sentando no sofá.


- O senhor não entenderia. Ninguém entende. - apenas disse, abaixando a cabeça.


- Ah, é? – indagou irônico. – Então me explica, talvez assim eu possa entender o que aconteceu pra você ser tão irresponsável!


- Eu não quero falar sobre isso. - respondeu. Assim como tivera receio de falar sobre isso com a mãe, seu receio era maior com o pai. Sem falar que isso machucaria ainda mais seu orgulho. - Eu sei que errei. Reconheço o meu erro. Mas eu não vou explicar os motivos que me levaram a agir dessa forma.


James riu sarcasticamente, pois não acreditava ainda em tamanha teimosia. Por mais que tivera sido advertido dela pela esposa. Lily omitira muitas coisas, ele tinha certeza, e elas eram para proteger o filho da sua ira maior.


- Ótimo, então não vai querer saber os motivos por eu tirar seu carro. – estendeu uma das mãos na direção do rapaz. – Me dê às chaves.


- O quê? - Harry ergueu a cabeça, surpreso. Se tinha um bem que prezava e achava extremamente necessário era o seu carro. - Não pode fazer isso.


- Posso e vou fazer. Se não sabe se comportar, vou tirar seus “brinquedos”. – respondeu sério, mas o moreno notara a ironia nas palavras do pai. – Não vai dirigir outra vez até provar pra mim que pode e que vai fazê-lo com responsabilidade. Ou... Você pode comprar um carro, ah... Pode trabalhar pra conseguir o dinheiro... Mas enquanto não acontecer, eu vou confiscar seu carro. – emendou e continuou com a mão estendida. – Anda. Dê-me as chaves. 


Harry bufou, não querendo aceitar a ordem do pai. No entanto, ele balançou a mão para receber as chaves. Irritado, tateou os bolsos e de lá retirou as chaves. Entregou-as para o pai assim que se levantou, passando por ele. Mas parou antes de alcançar a escada. Já tinha engolido tanto do pai, que aquele dia havia chegado ao limite. Tirar seu carro tinha sido a gota d'água.


- Eu já disse uma vez que não preciso do seu dinheiro. - Harry sibilou ao se virar outra vez. - Então não precisa jogar na minha cara o que eu posso ou não posso fazer. Mas para o senhor tudo deve ser uma diversão. Controlar a minha vida.


- Só quero o que seja bom pra você, será que não entende?! – James retrucou irritado. – Essa rebeldia está te cegando. Não sou o monstro que te controla por cordinhas mágicas.


- Se quer tanto assim o que é bom pra mim pare de me controlar. - o rapaz disse, aumentando seu tom de voz. Por um momento esqueceu-se do respeito que devia ao pai. - Me deixe em paz, me deixe viver a minha vida. Pare de planejá-la como se ela fosse sua, porque não é. Estou farto de seus sermões, de suas ordens e de fazer a sua vontade.


- Então cresça! – bradou alto assim como o filho anteriormente. – Pare de ser um moleque chorão e mimado. E me aponte que tipo de homem é você. Porque o que está fazendo não é oportuno a um homem correto. – James disse, e mesmo inconscientemente, tocara no assunto principal que atormentava o filho.


- Eu não sou dependente de você como pensa. - retrucou, não abaixando o tom. - O que é ser um homem correto pra você? Seguir seus passos? Ser o filho perfeito que o sempre desejou? Porque eu sei, sempre soube que eu estou muito longe disso. E que em nada eu sou um motivo de orgulho pra você.


James o olhou desolado, não esperava ouvir isso do filho. Jamais dera motivos para Harry agir assim, mas isso o irritava. Exatamente por isso, por ele estar tirando suas próprias conclusões. E conclusões erradas. Mas não tinha ânimo para fazê-lo mudar o pensamento.


- No momento você não é orgulho pra ninguém. – o homem dissera. – Não precisava seguir meus passos, mas o seguir o que o ensinei. Mas o que posso fazer se você não aprendeu nada?


- Isso eu sempre soube. - Harry suspirou arrependido pelo que dissera. Pode perceber o efeito que suas palavras causaram no pai. Não queria agir desta maneira, mas o rumo que sua vida andava apenas o induzia mais ao erro. E naquele instante, não estava em condições para se redimir por suas palavras. - Não precisava repetir. - murmurou passando por James, seguindo em direção a porta.


**


Como agora estava sem carro, teve que seguir a pé. E de fato aquilo não fora tão ruim, pois o ajudou a pensar durante todo o caminho sobre sua atitude com o pai. Embora estivesse furioso por ele ter tirado seu carro, não deveria ter sido tão rude e frio com suas palavras. Mas ele sempre dizia a primeira coisa que lhe vinha em mente, sem medir as consequências que aquilo poderia causar. E no meio de sua raiva, o que foi dito era aquilo.


Precisava conversar no momento. A idéia de procurar a mãe era inviável, pois não queria retornar pra casa tão cedo e ter que encontrar além da mágoa do pai, também a de Lily. Sua amizade com Rony não era mais a mesma e certamente ele não iria querer ouvi-lo. E mesmo que quisesse, não procuraria Hermione. Eles não tinham mais nada. Seria injusto incomodá-la com seus problemas. Só tinha uma solução, e esperava que esta desse certo.


Tocou a campainha, suspirando fundo. Desejava que Gina tivesse esquecido as reclamações que fizera por toda à tarde. Porque assim como o seu humor não estava bom para o pai, também não estaria para as reclamações dela.


 Minutos depois a ruiva aparecera para abrir a porta. Ela espantou-se ao ver Harry parado ali. Dera um sorriso sem graça e o fitou, fechando mais o roupão de cetim estampado que vestia.


- O que está fazendo aqui? – perguntou cruzando os braços.


- Estou me fazendo essa mesma pergunta. - Harry murmurou, cogitando se ter ido procurá-la tivesse sido uma boa idéia. - Posso entrar?


- Sabe o que é, eu estou me arrumando para sair. Já que você disse mais cedo que não queria ir comigo. – Gina falou erguendo a sobrancelha. – Mas veio porque mudou de idéia?


- Como é? - ele franziu o cenho, confuso. - Vai sair sem mim?


- Você não quis ir, e essa festa é muito aguardada pra nós. Vamos festejar antes de viajar. Não acha justo? – a ruiva rebateu, revirando os olhos, impaciente.


- E será que não pode deixar essa festa? - indagou, irritado. - É só uma festa como qualquer outra, onde tem um bando de idiotas enchendo a cara e se achando importante. Terá outra na semana que vem.


Gina soltou o ar preso nos pulmões, revirando outra vez os olhos. Estava além de impaciente, muito irritada. Não entendia porque Harry estava batendo na sua porta se não queria ir à festa com ela. No entanto, não deveria mesmo ser isso, já que não via o carro dele parado por ali. E esclareceria suas dúvidas agora mesmo.


- O que houve com seu carro? – perguntou de pronto, querendo sanar sua curiosidade.


- Meu pai o tirou de mim. - respondeu, tentando se acalmar. - Por causa da festa na semana passada, quando voltei pra casa, bêbado. - olhou para Gina, demonstrando o quão arrasado e chateado estava com a discussão que teve com o pai mais cedo. - Acabamos brigando feio.


- E...? – murmurou entediada. Harry a olhou desacreditado, murchando os ombros. Pensou que ouviria palavras de consolo, que o fariam se sentir melhor, mas não. Não ouvira. - Eu não acredito nisso! É verdade? Deixou seu pai tirar seu carro? Ou melhor, deixou seu pai saber que estava bêbado? – indagou espantada. – Que idiotice... Até Rony se sairia melhor nisso. Você deu bobeira.


- Realmente foi uma péssima idéia vir até aqui. - Harry riu-se, irônico consigo mesmo. - O que eu tinha na cabeça pra querer conversar com alguém tão egoísta e fútil como você? Eu vou procurar outra pessoa, porque ao que parece você só tem uma utilidade Gina. - sibilou antes de se virar, deixando a varanda.


- O que? Harry volta aqui! – ela o chamou, partindo atrás dele.


Ele cessou seus passos com a imagem da ruiva diante de si. Aquele dia poderia ser considerado um dos piores de sua vida. E para completar, Gina tivera a infelicidade de estragá-lo por completo. Precisava apenas desabafar, mas ela não entendia isso. Sequer sabia o que era isso.


- O que você quer? - perguntou entre dentes.


- Aonde é que você vai? E o que quis dizer com “você só tem uma utilidade”? – a ruiva perguntou irritada.


- Você entendeu perfeitamente bem o que quis dizer com isso. - retorquiu, erguendo uma sobrancelha. - E aonde eu vou não te interessa Gina. Não temos nada e eu não lhe devo satisfação. Aproveite a festa. Você merece. - lançou um olhar de desprezo para a ruiva, passando por ela e retomando seus passos. Ignorou os gritos e chamados constantes da garota. O que mais queria era ficar longe de Gina Weasley.


**


Mesmo que não tivesse planejado, seus pés o guiaram para a lanchonete. Depois de tudo o que aconteceu, da discussão com o pai e do desprezo de Gina, a única coisa que precisava era ver Hermione. Mesmo que ela o rejeitasse e o ignorasse depois de tudo, apenas precisava vê-la. Tinha certeza de que o olhar doce e o sorriso seriam suficientes para fazê-lo esquecer em parte os últimos acontecimentos.


Abriu a porta, ouvindo o som do sino anunciar sua entrada. Seus olhos percorreram por todo o local, procurando-a. E assim que a viu, forçou um pequeno sorriso enquanto caminhava em sua direção. Hermione estava ocupada no caixa, não notando sua aproximação. E o moreno agradeceu por não ter movimento ali e ela estar sozinha atrás do balcão.


- Oi. - Harry disse, um pouco sem jeito, atraindo a atenção da morena. Sentou-se no banquinho adiante. - Não vou pedir nada, não se preocupe. E desta vez eu vim sozinho.


A morena engoliu em seco, sentindo o coração palpitar forte dentro do peito. Apertou o guardanapo que tinha nas mãos, com força, e fitou diretamente. Queria dizer algo de imediato, mas não conseguia falar nada. Estava surpresa demais para isso, e contente também por Harry estar ali diante dela.


- Então o que você quer? – perguntou acanhada. Continuando a arrumar a pilha de guardanapos. Dobrando-os delicadamente.


- Meus pais estão uma fera comigo. Rony e eu nos tratamos como estranhos quando nos encontramos. Eu só precisava conversar. - confessou entre um suspiro, abaixando seu olhar. - Mas se não quiser me ouvir, tudo bem. Eu vou entender. Não tenho que incomodá-la com os meus problemas.


Hermione não sabia o que fazer. Uma parte de si queria mandá-lo ir embora aos berros, mas a outra... A outra queria muito que Harry ficasse. Queria abraçá-lo, tocá-lo. E por ser mais forte, este desejo vencera o outro. Afinal, não conseguia odiar o ex-namorado. Ainda o amava muito, e se ele precisava de sua ajuda, não iria lhe negar.


- Porque seus pais estão bravos com você? – se atreveu a perguntar. Queria que ele entendesse aquilo como um consentimento de que poderia se abrir com ela.


- Digamos que eu não tenho sido um bom filho. - Harry começou, porém mantinha seu olhar baixo. Além da tristeza demonstrada em seus olhos, tinha receio de que seus sentidos o traíssem quando olhasse para Hermione. Já estava sendo difícil tê-la tão perto e ouvir sua voz. - Exagerei na bebida sexta passada por motivos que nem eu entendo... - mentiu. Não queria dizer que bebeu pelo reencontro que teve com Hermione naquele dia. - Voltei pra casa dirigindo e minha mãe viu. Contou para o meu pai, que acabou me tomando o carro. Eu me zanguei, claro, e acabei falando o que não devia.


- Sei que deve ter ficado irritado, mas não acha que foi um pouco irresponsável? Seus pais confiam em você... E de certa forma você os desapontou. – Hermione disse, ansiando que ele olhasse para ela. Sua voz, porém era calma; o que não era nem de longe o que sentia verdadeiramente. – Er... Você não me parece bem. Foi muito séria a discussão que teve com seu pai?


Harry assentiu, finalmente erguendo seu olhar para a morena. Procurava apoio e consolo com aquele gesto. Levou certo tempo para perceber, mas tinha sim agido errado em tratar o pai daquela forma. Mesmo que as palavras do pai tenham sido rígidas, ele tinha razão. Harry agiu de forma imatura, como se fosse um moleque chorão e mimado.


- Acabei perdendo a cabeça e disse a primeira coisa que me veio em mente. - disse, demonstrando o quão arrependido estava. - Eu sei que errei desde o princípio, mas me extrapolei. Disse tudo que sempre esteve preso na minha garganta e pelo que pude perceber, acabei magoando-o.


- Seu pai o ama, Harry. E quando as pessoas amam, podemos perdoar essas besteiras ditas quando estamos com raiva. – Hermione falou, deixando o guardanapo de lado. Então sem que pudesse refrear suas mãos, elas foram de encontro às dele. – Ele vai entender se disser a ele o que sente e o que pensa. Não só sobre esse incidente, mas sobre sua vida. Como ele vai saber se você está infeliz, ou passando por problemas se há uma barreira que impede tal coisa? – o moreno a fitou um tanto envergonhado. - Eu já lhe disse uma vez que tudo que seu pai faz é pensando em você. E eu entendo isso agora. Quando temos alguém que depende de nós, nossa vida não importa mais. – ela mordeu o lábio. Os olhos castanhos se encheram rapidamente de lágrimas. – Só acho que deveria dar uma chance para vocês dois. Seu pai é um homem bom. Ajudou a minha mãe, lembra?


- Eu acho que ele não é um monstro que me controla por cordinhas mágicas como ele disse. - Harry comentou, forçando um sorriso.


Tentou afastar a lembrança de quando Hermione lhe disse que esperava um filho seu. Aquela notícia o abalou nos primeiros dias, mesmo depois de tudo. Mas logo tratou de esquecê-la. E quando relembrava aquilo, sempre tinha algo que o incomodava. Poderia julgar-se novo, mas se aquela criança que Hermione gerava realmente fosse dele, sentir-se-ia feliz em saber que seria pai. No entanto, as circunstâncias o levaram acreditar que aquele filho não era dele. E essa era outra lembrança que queria afastar.


- Tenho vergonha de me aproximar, de falar com ele, de olhar pra ele depois de tudo o que eu fiz. - murmurou, sentindo a tranquilidade que o toque de Hermione lhe provocava. - E mesmo que eu tenha dito em um momento de raiva para feri-lo, agora começo a pensar de que realmente não sou o filho que ele sempre quis.


- É claro que você é. – ela disse rapidamente. Estava corada. – E eu aposto que ele também está pensando nisso. Refletindo que não vai mais ter coragem de falar com você, e os dois vão ficar assim. E isso dói mais. O silêncio é mais doloroso... E aposto outra coisa, que se for falar com ele, seu pai vai estar mais flexível. Mas você tem que dar o primeiro passo. Pode ser difícil, mas é o que eu faria, e o que acho que é certo.


- Creio que vou ter que fazer isso. Mas vou esperar um tempo, me acalmar depois de tudo e criar coragem para isso. - esboçou um sorriso, sincero e não forçado pela primeira vez. Algo que não acontecia desde que terminara com Hermione. Fitou aos olhos castanhos, recordando-se do quanto adorava aquele olhar. Então sua mão apertou de leve a que Hermione entrelaçava a sua. - Obrigado.


Ela sentira um arrepio varrer seu corpo. O coração acelerara, e o olhar cintilara. Tinha se esquecido do quanto o toque de Harry era cálido, do quanto ele a fazia se sentir bem.


- Não precisa agradecer... – a morena murmurou, encarando-o. – Sempre que precisar pode contar comigo. Um minuto do meu dia não vai fazer falta, se eu puder ajudar. – emendou, tentando sorrir, mas estava nervosa demais. Sentia-o tão perto, mas ao mesmo tempo muito longe. E não queria se acostumar com uma ilusão. Harry só queria um par de ouvidos, e não voltar para ela. 


- Eu realmente agradeço por isso, mas não quero incomodá-la mais. Principalmente aqui, em seu lugar de trabalho. - disse ao se levantar, porém lembrou-se de algo que o fez se virar para Hermione novamente. - Hoje de manhã, aquela hora que você esbarrou em mim saindo da sala, o que Gina fez?


- Isso não importa... – Hermione disse em tom baixo. – Agora tenho que trabalhar... Até logo, Harry. – dizendo isso voltara a dar atenção para os guardanapos. Ajudara-o dando conselhos, e agora se sentia imensamente vazia, por que ele estava indo embora outra vez. Não soube dizer se ele ficara ali por muito tempo, nem se ainda estava. Tinha medo de erguer o olhar e demonstrar o quanto se abalara. Não queria ainda mostrar as lágrimas que já banhavam seus olhos, e caiam molhando os guardanapos.


Ele entendeu as palavras de Hermione. E mesmo que sentisse mais aliviado e tranquilo após desabafar, percebeu que não tinha sido também uma boa idéia procurar Hermione. Não por ele, mas por ela. Pode notar o quanto aquela conversa e o fim dela a abalou emocionalmente. E decidiu que, para o bem dela, não a procuraria novamente. Então deixou a lanchonete, tentando concentrar-se em seus problemas com o pai.


**


- Eu senti tanta raiva quando ele chegou perto. - Katie dizia para o ruivo ao seu lado. Estavam sentados no banco que havia na varanda da casa da morena. Ela surpreendeu-se com a visita de Rony, mas fora uma surpresa extremamente agradável. Principalmente porque não deixara de pensar nele durante o resto do dia, após aquele beijo. - Pensei na Mione e em tudo o que ela está sofrendo por culpa dele e descarreguei minha raiva naquele tapa. Mas eu não faço isso com frequência. - murmurou, corando diante do olhar divertido do garoto. - É muito raro alguém me tirar do sério. E acho que essa foi à primeira vez na vida que bati em alguém.


- Ele mereceu, não se culpe tanto. E... Talvez com esta pancada, Harry acorde e enxergue os erros que está cometendo. – Rony comentou rindo, lembrando-se da cena.


- Inevitável não me culpar por isso. Não sou do tipo que sai distribuindo tapas por ai. Mesmo que ele tenha merecido. - a garota disse. - Mas eu espero que ele não demore muito para enxergar os erros.


- Todos nós esperamos um final feliz... – o ruivo disse, fitando-a. Estava sem jeito para começar a dizer tudo que ensaiara em frente ao espelho. Nunca em toda a sua vida tinha bancado o bobo fazendo isso. E fora tudo inútil, porque não conseguia falar. – Er... Katie...


- Diga. - ela se virou para Rony, curiosa. Tentou esconder as reações de seu corpo ao notá-lo tão próximo.


- Cara, eu to me sentindo muito idiota... Não por sua causa, claro, bem... Não diretamente, mas... – suspirou fundo, rindo sem graça por um momento. – Quero dizer tanto, mas não consigo, então acho melhor fazer o que andei pensando a tarde toda. E espero que não se aborreça comigo.


Katie iria dizer que nada a faria se aborrecer com ele, quando sentira os lábios do rapaz cobrir os seus. Fora tão rápido, que ela apenas acreditara quando a língua dele pedira passagem para explorar sua boca.  Estava em êxtase e seu corpo estremecera com aquele contato novamente. Deixou-se levar pelos lábios de Rony, que conduziam o carinho. Ele lhe despertava reações inimagináveis, fazendo seu coração palpitar cada vez mais rápido. A paixão que sentia por ele apenas crescia dentro de si, de forma inegável. Suspirou quando ele afagou seu rosto, guiando os dedos por entre os cabelos ruivos e puxando-os de leve.


Os dois mal podiam conter o que sentiam, e isso se refletia no intenso beijo. Rony nunca sentira tal coisa com nenhuma outra garota, e não era apenas a beleza de Katie, a qual se revelava deliciosa, que o atraía. Era a personalidade marcante. E não teria como conhecê-la se somente tivesse se atado a conveniência olhar apenas por fora.


- Eu acho que nunca me aborreceria com você por isso. - Katie murmurou, minutos depois quando findaram o beijo. Agora já não tinha mais vergonha ou receio de suas atitudes com Rony. Sentia-se tão bem perto dele, que permitira seus dedos prosseguirem com a carícia em sua nuca.


- Que ótimo, porque eu não reajo bem quando a garota que eu estou muito interessado me dá um fora. – Rony brincou, roubando um beijo leve de Katie. A garota rira.


- Muito interessado? - perguntou, não contendo sua curiosidade após o riso.


- Sim... – ele sorriu, suspirando fundo. Erguera a mão, e afagou o rosto vermelho de Katie. – Assim como você que não sai batendo em qualquer um, eu não saio beijando qualquer uma. – ambos riram outra vez. – O que quero dizer, é uma coisa que ouvi de Harry quando ele conheceu a Hermione. Uma coisa que não acreditei até agora. Porque sei que uma garota pode ser mais que um corpinho bonito. E você é Katie... Você é uma garota incrível, e eu... Gosto muito de beijar você, e de escutar você também, é claro.


- Eu não... - Katie esboçou um largo sorriso. Seus olhos azuis brilharam diante do que Rony disse. - Eu não esperava ouvir tudo isso. Mas eu gostei, e muito.


- Que bom que gostou, porque eu nunca falei nada parecido para nenhuma garota, e eu... Fiquei horas ensaiando o que dizer. – o rapaz falara, sorrindo sem jeito.


- Pois você ensaiou muito bem. - murmurou ao se aproximar, roçando seus lábios aos do ruivo. - E se saiu melhor ainda para uma primeira vez. - disse antes de beijá-lo novamente, o surpreendendo pela iniciativa.


Rony logo tomara as rédeas da situação, aprofundando o beijo tal qual era o seu desejo. Ambos gemeram com a intensidade daquele carinho. Era algo novo e que começavam a não querer que se acabasse nunca. Nem mesmo quando o ar lhes faltava.


Agora Katie compreendia a paixão de Hermione quando Harry tomara uma iniciativa. Sempre enxergou Rony de uma forma diferente. E não era algo recente. Há muito tempo era apaixonada por ele. E mal podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Também compreendia o desejo de Hermione quando queria que tudo aquilo não fosse apenas um sonho. Tão pouco queria que aquele sonho virasse o pesadelo que a amiga vivia.


 


 


 


N/A: Olha, nós autoras somos a favor de matar a Gina.
E apesar do Harry ter agido como idiota com o pai, pelo menos ele defendeu a Mione no começo do capítulo.
Já é alguma coisa, não é? *-*
E pelo menos ele ta quase mandando a Gina para o raio que a parta.
Chamou ela até de vadia. kkkk
E depois o que ele fez? Foi falar com a Mione. *-*
Ele só ta meio idiota, gente. Mas é uma fase. Logo vai passar e ele vai voltar a ser o velho Harry fofo de antes.
Só vai sofrer um pouco até isso acontecer, claro.
Mas ele vai voltar as antigas. xD

Bom, não deixem de comentar ta bem?
Até mesmo para matar a Gina, fiquem à vontade. kkk
Adoramos ver o ódio de vocês com ela. (to má hoje hoho')

Beijo das autoras.



06/12/2010.

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