Admitir Aquilo que Sempre Exis

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Não, definitivamente não. Eu não estava indo porque eu me senti realmente estranha quando me deparei com os dois, não mesmo. Eu nem tinha ficado tão estranha assim! Era só... surpresa, é, apenas estava surpresa já que ele havia me dito que não estava tão certo em relação a ela. Era tão bom eles voltarem, realmente! E sensação de posse que tomara conta de mim desde então era insignificante, um mero produto de ter sua companhia por um tempo prolongado demais: eu me acostumara a estar ao seu lado, embora não daquela forma, é claro. Mas havia sido eu a estar com ele quando ela não estava. E eu estava feliz pelos dois, tão feliz quanto se era possível. Eram dois de meus melhores amigos e eles se amavam, não havia nada mais certo do que ficarem juntos. Harry era um doce, a pessoa mais generosa e gentil que eu conhecia, merecia ser feliz, ainda que ao lado dela. Ao me deixar ficar no hall de entrada, meus olhos detiveram-se na foto de Lilian e James Potter, moreno e ruiva abraçados, sorrindo e beijando-se como se zombassem dos meus pensamentos. Não que os pais de Harry fossem zombar de mim, isso se eles estivessem vivos, mas... Droga, eu estava decididamente confusa. Eu me estiquei para apanhar meu casaco e bolsa e isso pareceu chamar a atenção de Harry:


- Você está indo também?


- Sim, porque?


- Achei que fosse ficar, não sei.


- Não, eu tenho umas coisas pra fazer por lá – eu era uma mentirosa. Uma grande mentirosa. Havia planejado ficar desde o início e eu não tinha absolutamente nada pra fazer em casa.


- E você volta aqui hoje? – aquilo em sua voz era... Esperança?


- Não. – eu me silenciei momentaneamente, ponderando suas razões para querer que eu ficasse - Porque?


- Essa casa fica... vazia sem você por perto. – eu arqueei a sobrancelha - Quero dizer, sem você e os outros.


- Você sempre pode convidar Ginny – eu não pude evitar de sugerir, ácida. Por Merlim, porque eu não conseguia agir normalmente sobre aquilo? Eu pude ver ele passar a mão pelos cabelos, como sempre fazia quando sentia-se desconfortável.


- Hã... Ahh... Herms, sobre hoje mais cedo...


- Não precisa me explicar nada. Fico feliz que tenham voltado – consegui um sorriso falso, não muito bom.


- Nós não voltamos.


- Hã? – agora eu não entendia mais nada.


- Eu fui chamá-la pra almoçar, ela estava lá no seu quarto. Daí eu fui me desculpar por ter deixado aquela conversa inacabada e ela me beijou.


- E você correspondeu. – retruquei, rude demais – Olha, eu tenho mesmo que ir. Assim que der eu dou uma passada aqui, está bem? – beijei seu rosto e desaparatei.


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- Argh! – resmunguei irritada, fechando o livro com uma brusquidão além do normal, vencida pela frustração. Era a oitava vez que eu tentava ler o mesmo parágrafo e nada. A verdade era que eu não conseguia me concentrar em nada desde aquele dia na casa do Harry e pela primeira vez na minha vida eu não queria analisar nada: já sabia que pensar nos meus sentimentos por meu melhor amigo levava à uma estrada tortuosa que eu não queria percorrer novamente e além do mais... - Mas que...? – um farfalhar de asas se fez ouvir e eu corri para abrir a janela, vendo passar por mim uma enorme coruja parda, carregando uma carta com um brasão conhecido demais. Era de Hogwarts. Passei os olhos rapidamente pelo pergaminho.


Escola reaberta, aluna readmitida, embarque na plataforma 9 ¾ , King's Cross, 01 de setembro. Monitora –chefe. E um P.S:


Sinceramente espero por seu retorno, junto com o Sr. Potter e o Sr. Weasley.
Minerva McGonagall, diretora da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.


- E agora ainda tem isso, maravilha. – olhei para o relógio que marcava 19:21 e sem pensar duas vezes, desaparatei, a carta ainda em minhas mãos. Depois de tocar a campainha e esperar alguns segundos, ele abriu a porta;


- Hermione! – me deu um sorriso radiante e me abraçou – porque você não aparatou aqui dentro? Entra!


- É falta de educação fazer isso Harry, achei que soubesse;


- Eu esperava que viesse – confessou quando nos sentamos, apontando para um pergaminho sobre a mesa de canto. Eu fui direto ao ponto:


- Você vai voltar?


- Ainda não sei Herms. E você?


- Eu acho que sim. Quero dizer, eu quero e tudo mais, só que... – eu pausei por um instante, tentando me explicar – Não me parece fazer sentido, Hogwarts sem você e Ron. O sexto ano foi ruim o suficiente e isso porque vocês estavam lá. – notei um quê de tristeza passando por seus olhos – o que foi?


- É que não são muito boas, as lembranças do sexto ano.


- É, com o Dumbledore e tudo mais... – concordei. A morte de Dumbledore afetara-o profundamente.


- Também, mas não só isso. Aquele ano você... Se afastou. E quando conversávamos a gente só discutia por causa daquele livro idiota. E eu ficava pensando que diabos eu tinha feito de errado, mas não conseguia nada.


- Não era você, nunca foi. A culpa foi minha, eu fui uma idiota. Quis fazer o melhor pra todo mundo e saiu tudo errado.


- O melhor pra todo mundo? Como assim?


Eu juro que se ele não tivesse me perguntando olhando nos meus olhos eu seria capaz de mentir. Não seria muito convincente, mas daria pro gasto. E se fosse uns dois dias antes eu nem me abalaria, mas depois de não ter conseguido ler um livro pensando justamente naquilo, as palavras simplesmente pularam pra fora da minha boca.


- Eu... No quinto ano eu meio que me apaixonei por você – o vi arregalar os olhos assustado, mas continuei falando – foi antes talvez, provavelmente desde que salvamos Sirius no terceiro ano ou mais. Mas eu não poderia arriscar o que eu tinha com você. Você jamais me olharia daquela forma então alimentar aquele sentimento seria insano, seria me machucar. E eu sabia que a Ginny gostava de você e ela parecia tão perfeita, tudo que eu jamais seria, parecia muito mais seu tipo do que eu. E eu sabia que o Ron gostava de mim e eu confesso que acreditei naquela história de "opostos se atraem," porque não tentar? Ron era bom pra mim, apesar das brigas. Já eu e você... nós nos aproximamos muito no quinto ano e morri de medo de perder você contando a verdade, entrei em pânico. Daí eu me afastei e tentei me aproximar do Ron, mas a Lavender apareceu. E eu fiquei tão frustrada com tudo! As pessoas devem ter interpretado com ciúmes do Ron, mas era raiva. Raiva de ter me colocado naquela situação, sabe? Eu me arrependi de ter me distanciado, mas não sabia como voltar às coisas ao que eram. E um pouco de ciúmes sim, mas porque Ron tinha Lavender, você tinha Ginny e eu ninguém. E no final do ano, quando as coisas aconteceram, eu me senti tão mal, porque eu tinha sido uma péssima amiga, e quando você mais precisava que eu acreditasse em você, quando você mais precisava de um amigo eu não estava lá.


Ele ficou em silêncio por muito tempo. A impressão que eu tinha era que ele pensava tantas coisas ao mesmo tempo, que estava totalmente desnorteado. Eu não agüentei e perguntei desesperada:


- Eu estraguei tudo né?


- Não, não é isso. – outra pausa - Se você não gostava do Ron, porque ficou chorando por semanas depois que ele foi embora?


- Eu tava com medo. Eu não conseguia acreditar que ele tinha te deixado, nos deixado e eu estava apavorada de pensar que eu não conseguiria te ajudar sozinha, de não ser boa o bastante. Foi uma junção de fatores, pra ser bem sincera. Eu tava com saudade de Hogwarts, dos meus pais.


- E porque você o beijou?


- Eu não fazia idéia do que ia acontecer dali em diante, não sabia nem se ia sobreviver. Ele me falou sobre os elfos e eu me comovi, minhas emoções estava tão a flor da pele que eu simplesmente fiz.


- E você se arrependeu de ter se distanciado porque as coisas deram errado?


- Não – eu respondi sincera – eu me arrependi porque eu sentia sua falta.


- E você ainda se sente assim?


Meu sangue gelou ao ouvir aquilo. Era o que eu me perguntava há dias, eu sempre me fiz acreditar que já tinha passado, que foi uma paixonite estúpida mas depois de vê-lo com a Ginny eu não tinha tanta certeza mais. Era se é que é possível, ainda pior do que com Cho ou no começo do namoro dos dois. Como se depois de tudo que eu tinha passado com ele, aquele lugar se tornasse meu por direito. E eu desejei estar ali nos seus braços milhares de vezes, desde sempre, tanto que algumas vezes esse desejo chegava a doer por não se concretizar, como quando Ron foi embora e eu fiquei ali com ele, sozinha. Ron estava certo, eu o escolhi. O escolhi no dia que o encontrei naquela estação de trem e tornaria a escolher quantas vezes fossem necessárias. Eu daria minha vida por ele e não viveria sem ele. Quando eu o vi nos braços de Hagrid e achei que ele estivesse morto eu perdi o chão, completamente: nada havia mais razão de ser. E no dia que eu acordei abraçada com ele... foi perfeito, era como ter certeza de ter achado o lugar ao qual eu pertencia. Revesti-me de coragem e admiti pra ele e pra mim mesma, tão fraco que tive dúvidas se ele ouviu:


- Sim.


Nós nos encaramos pelo que pareceu uma eternidade e pela primeira vez eu não consegui decifrar seu olhar. Não continha raiva, nem desprezo nem nada do que eu esperava encontrar. Era um pouco de angústia, confusão e algo que eu não entendia. E isso me assustava.


- Eu... Você... Herms, isso é irreal. Não é possível que você se sinta assim. – ele passou a mão pelos cabelos, sinal de nervosismo.


- E porque não? – eu me indignei. Reação por reação, ele não devia duvidar dos meus sentimentos – Você é meu melhor amigo, pra ser sincera o primeiro amigo que eu tive. E você é doce, corajoso, leal e sincero. Por Merlin Harry, eu fui numa caçada a horcruxes por você! Só porque você não sente não quer dizer que eu não sinta – eu me levantei de súbito, meu olhos cheios de lágrimas que eu me recusava a libertar – Foi um erro, te dizer isso, eu nem sei porque eu ainda estou aqui – Eu já tinha virado quando senti sua mão segurar a minha e ele me girar de volta. Seu olhos verdes eram puro desespero.


- Não vai, por favor. Você não entendeu, deixe-me explicar – eu o olhei confusa, mas consenti e ele não soltou minha mão – Hermione, você é perfeita em milhares de sentidos, a melhor amiga que se pode ter. É meu pilar de força e a única que tem minha total confiança. – Ele afastou uma mecha de cabelo de meu rosto com outra mão e depois a repousou em meu rosto - E justamente por isso eu nunca achei que você pudesse se sentir dessa maneira, porque você é boa demais pra mim. E tudo sempre foi contra essa possibilidade, especialmente com Ron e tudo mais. Por isso que é irreal.


- Não entendo, o que você quer dizer? – Eu não era burra, eu tinha uma idéia de onde aquilo ia dar, mas eu queria ouvir dele. O meio sorriso que ele deu em seguida foi divertido e encantador:


- Sabe, considerando que você é a bruxa mais brilhante de todas, eu achei que já soubesse. Mas em todo caso, vamos esclarecer uma coisa: – ele me envolveu com um dos braços e disse em meu ouvido, causando um arrepio na espinha - Eu amo você.
Meu lado extremamente racional foi a única coisa que me impediu de pular em cima dele:


- E quanto a Ginny?


- Ginny foi atração física, uma fuga. Com ela eu sentia que eu era um adolescente normal, sem um cara louco querendo me matar. Mas eu nunca fui normal, já sabemos disso – seu tom de repente ficou sério e ele me encarou firmemente – Herms, eu preciso que entenda: O que eu sinto por você é totalmente diferente de tudo que eu sinto por qualquer outra pessoa. Eu quero um recomeço depois de tudo e o homem que eu quero ser não existe sem você.Você é... Aquela com quem eu quero passar o resto dos meus dias. Você é a única pessoa que sabe me fazer totalmente feliz e o que eu quero, o que eu estou te pedindo agora é uma chance pra te fazer sentir o mesmo.


- Harry James Potter, você por acaso está me pedindo em namoro?


- Depende, você vai aceitar? – ele tentou disfarçar, mas eu pude perceber a ansiedade por trás da pergunta. Querendo mostrar minha resposta coloquei os braços ao redor de seu pescoço e o beijei. Ele pareceu surpreso por um milésimo de segundo, antes de me puxar mais pra perto e aprofundar o beijo. De repente, ele estava em todos os lugares, Harry era tudo eu conseguia sentir e pensar. Seu beijo era doce, mas incrivelmente apaixonado, me fazendo ansiar por todo o resto que viria. Quando não havia mais ar nos separamos, embora ele permanecesse colado a mim. Eu me aproveitei:
Mas em todo caso, vamos esclarecer umas coisas: - eu disse em seu ouvido – Isso sou eu dizendo sim. E eu também amo você.
Ele me rodopiou no ar e eu não pude conter a gargalhada que veio em seguida. Quando ele me colocou no chão tinha o maior sorriso do mundo, eu nunca tinha visto igual, seus olhos sorriam junto, brilhantes.


- Pra sempre? - foi tudo que perguntou.


- Pra todo o sempre.




Nota da Autora:


Ah, a emoção de finalmente terminar uma fic! Obrigada pra todos que tiveram a paciência de ler até o final, espero sinceramente que tenham gostado.


O capítulo final foi o que mais demorou a sair, porque nada que eu escrevia parecia certo, parecia apropriado. Ai eu pensei e pensei e arranjei a história ideal, sabia exatamente o que escrever: algo baseado em minha experiência pessoal. E aí teve o final feliz e tudo e a fic pareceu completa de verdade. No final, acabou sendo uma homenagem pra duas pessoas. A que me inspirou no começo de tudo e a que me inspira todos os dias ;D

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