Planejar o Amanhã
- Você já arrumou suas coisas? – ouvi Ron me perguntar, levantando-se do sofá. Estávamos na sala, conversando após o jantar. Era sexta a noite, e no dia seguinte iríamos pra casa de Hermione.
- Já. Você?
- Não, eu to indo agora. Você vai subir também?
- Mais tarde, vou ficar um pouco mais. – dito isso, ele fez seu caminho em direção ao quarto que dividíamos. Resolvi dar uma volta lá fora, era uma noite bonita, afinal de contas. Tudo parecia tão quieto e eu tinha tanto pra pensar. Aparentemente, não era apenas derrotar Voldemort. Era necessário planejar o que faria depois disso. Mas eu não fazia idéia, nem sabia por onde começar. Talvez se Hermione estivesse ali, ela ajudaria a clarear minhas idéias, como sempre fez. A verdade é que eu sentia a falta dela, mais do que eu julguei que sentiria. Não apenas pelos conselhos, pela ajuda dela: eu sentia falta dela em sua totalidade, como se algo estivesse faltando. Também pudera, mesmo quando ficávamos em silêncio por horas e só falávamos o essencial, como durante aqueles meses que Ron esteve longe, era ela que estava lá, a única a ficar sempre comigo, a única que me via como apenas Harry, sem cicatrizes, sem fama indesejada e um destino marcado. Eu só esperava que ela estivesse bem, feliz ao lado da família dela. Imaginava o que ela faria dali em diante, certamente gostaria de terminar a escola e posteriormente, fazer "algo de bom no mundo". Mas e eu? Eu não me imaginava voltando pra Hogwarts e me sentindo em casa como costumava me sentir. E se voltasse, o que viria depois? Se me fosse perguntado isso anos atrás eu responderia num piscar de olhos: auror. Mas depois de tanta luta, eu não sabia se era algo que gostaria de fazer para o resto da vida. A única coisa que eu tinha certeza era que eu precisava de um lugar só meu: por mais que a Sra. Weasley me tratasse como um filho, eu não podia ficar na Toca pra sempre, sem contar que eles precisavam de um tempo só deles devido a morte de Fred. Eles precisavam uns dos outros e por mais que eu e Hermione apoiássemos tanto Ron quanto Ginny, não era o suficiente. E ainda tinha Ginny, se eu parasse pra pensar. Eu havia lhe dito ao terminar que era pela segurança dela, mas agora não havia mais perigo. Eu lhe devia uma conversa sincera, uma decisão: mas eu não sabia o que dizer, muito menos que atitude tomar. Confuso demais pra resolver meus pequenos grandes problemas, rumei para a cama, ansioso pro amanhã chegar.
- Ah.. você tem certeza? Certo então.. Bem eu não vou me preocupar com eles. Tá tudo certo para vocês dois, não é, com seus pais a salvo, fora do caminho.
- Meus pais estão mortos! - Harry berrou.
- E os meus podem estar indo no mesmo caminho! - gritou Ron.
- Então vá! - rosnou Harry. - Volte para eles, finja que sarou e sua mamãezinha irá alimentá-lo e...
Ron fez um movimento repentino: Harry reagiu, mas antes que as varinhas de ambos saíssem do bolso de seus respectivos donos, Hermione levantou a sua.
- "Protego!" - ela gritou, e um campo invisível se expandiu entre ela e Harry de um lado e Ron no outro; todos eles foram forçados a dar uns passos pra trás pela força do feitiço e Harry e Ron se olharam através da barreira transparente como se estivessem se vendo claramente pela primeira vez. Harry sentiu um ódio corrosivo por Ron: algo havia quebrado entre eles. Ron puxou a medalhão por cima de sua cabeça e o deixou numa cadeira perto. E virou para Hermione.
- O que você está fazendo?
- O que você quer dizer?
- Você vai ficar ou o que?
- Eu... - ela parecia angustiada – Sim, sim, eu vou ficar. Ron, nós dissemos que iríamos com Harry, nós dissemos que iríamos ajudá-lo...
- Eu entendi. Você o escolheu.
- Ron, não.. Por favor... Volte, volte!
A claridade bateu em cheio em meu rosto enquanto eu me espreguiçava lentamente. Mais uma noite mal-dormida, povoada por lembranças pontuais que me atormentavam constantemente. Essa memória, particularmente, era rara: não me lembrava de ter sonhado com isso antes. Atravessei o quarto o mais silenciosamente que pude, embora duvidasse que Ron fosse acordar tão cedo. Perto da cozinha, estranhei o silêncio gutural do ambiente sempre tão movimentado. Deparei-me apenas com longos cabelos ruivos, ela sentada com uma xícara na mão.
- Bom dia, Ginny – cumprimentei e notei seu sobressalto enquanto se virava rapidamente – não quis assustá-la.
- Só estava distraída – ela me sorriu tranquilamente, eu me sentei na sua frente – Bom dia.
Veio o silêncio. E não do tipo confortável, mas sim opressivo. Nas raras ocasiões em que estávamos sozinhos isso sempre acontecia enquanto que ao lado de Ron e Hermione as coisas eram sempre normais. Era como se ela esperasse eu dar o primeiro passo, mas eu não sabia se queria fazê-lo. Resolvi me servir de um pouco de café, tomando a xícara vermelha mais próxima em minhas mãos.
- Vai pra casa da Hermione hoje, né? – eu levantei a cabeça surpreso que ela finalmente tivesse falado – Achei que ela fosse demorar mais por lá.
- Pois é, também achei. - dei um gole rápido, e tive a sensação de queimar a garganta - Só fico feliz por tudo ter se resolvido bem.
- E depois ... – ela olhou para a janela por alguns instantes e voltou a me olhar - você volta pra cá?
- Acho que sim – respondi distraído, tentando me decidir pelo que comer - por quê? – Eu a percebi corar e desviar o olhar mais uma vez.
- Só pra... – ela suspirou – pra saber quanto tempo você ainda vai ficar por perto. – eu quase caí da cadeira e meu susto pareceu tornar sua voz mais forte – eu senti sua falta durante tanto tempo e mesmo agora com você aqui eu te sinto mais distante do quando vocês estavam... Onde quer que vocês estivessem .
- Ginny, eu... – baixei a cabeça, eu não sabia me explicar – é complicado – e mesmo sem usar legilimência eu sabia que ela pensava "isso é o melhor que você pode fazer"?
- Você mudou de idéia, sobre nós dois? - ela se inclinou sobre a mesa e segurou meu queixo, travando seus olhos agora inseguros nos meus. Ela tentava se manter indiferente, mas eu via toda a ansiedade escondida por trás da máscara tão sutil. Por mais que eu tentasse, nenhum som escapava da minha boca. Não que eu não me importasse com ela, ou não gostasse dela. O que eu não tinha mais certeza é se o meu gostar tinha a mesma conotação do dela. Vendo que eu não iria responder ela prosseguiu – durante todo o tempo que você esteve longe, eu rezei pra que você voltasse pra mim, são e salvo. E eu senti tanta saudade que achei que era impossível ser algo unidirecional. Talvez eu estava errada no fim das contas, não sei...
- Não é assim, Ginny – a cortei, retirando delicadamente suas mãos do meu rosto – eu senti sua falta: durante horas eu ficava olhando seu ponto no mapa do maroto, imaginando se você estava bem, se pensava em mim, se... – eu não pude dizer o que planejava, porque de repente passos se fizeram ouvir, cada vez mais próximos. Ron entrou pelo arco de acesso a cozinha, sonolento.
- Dia... – sentou-se ao meu lado e olhou confuso ao redor – cadê mamãe?
- Loja de logros, com papai e Jorge – a voz de Ginny saiu seca, áspera. Ron pareceu não notar, enquanto pegava uma torrada e enfiava goela abaixo. Ela me olhou por um breve instante, os olhos insondáveis. Fuzilou Ron com o olhar e saiu sem dizer uma única palavra enquanto eu a observava, engolindo seco. Não era uma conversa pra se deixar inacabada, mas que diabos ela esperava que eu fizesse?
Pouco mais de duas horas depois, estávamos desaparatando em frente a uma casa enorme, uma verdadeira mansão. Havia um amplo jardim, o qual atravessamos abismados enquanto Ron dizia "uau" repetidas vezes. Toquei a campainha e, segundos depois a porta foi aberta:
- Harry? Ronald? – me atentei nos olhos castanhos e no sorriso largo, as feições delicadas. Era como ver Hermione, mais alta: Sarah Granger estava parada a nossa frente
- Entrem, por favor, fiquem à vontade – ela se virou rapidamente em direção as escadas e gritou – Hermione, eles chegaram! – ela nos conduziu até a sala – Fico feliz que tenham vindo.
- Também ficamos, sra. Granger – olhei ao meu redor. Havia uma lareira no lado oposto ao que nos encontrávamos com uma espécie de barzinho mais a direita. As paredes eram de um tom sóbrio, as janelas amplas permitindo os raios de sol iluminarem o ambiente. Normalmente um lugar como aquele seria no mínimo intimidador, mas era exatamente o oposto: era aconchegante. Nos sentamos no sofá preto enquanto a ouvia dizer:
- Por favor, me chamem de Sarah – Ron olhava ainda chocado; a questão financeira sempre havia sido um problema e pelo jeito dele ele não fazia idéia (assim como eu) que Hermione era... rica.
Assim que pensei nela, a ouvi se aproximar, mais senti do que ouvi, pra ser sincero. Virei-me para vê-la vindo em nossa direção, os olhos brilhantes e o sorriso luminoso. O cabelo estava preso num rabo de cavalo, revelando mais do seu rosto e ela usava um vestido de tecido leve, azul turquesa, muito diferente das roupas que me acostumara a vê-la usar. E ficava tão bem nela. Ron e eu nos levantamos e ela meio que andou, meio que correu até que seus braços me envolvessem e eu sentisse o toque que tanto tinha me feito falta. Seu abraço foi mais apertado que o costumeiro, como se quisesse compensar o tempo longe.
- Senti tanta saudade! – ela me soltou e sorriu novamente pra mim, antes de abraçar Ron – Que bom ver vocês! – ela olhava pra nós dois alternadamente – Venham, quero mostrar a casa pra vocês!
O tour pela casa foi longo, talvez porque havia tanto pra se ver. Passamos pela cozinha, sala de jantar, a biblioteca (e eu não tive dúvidas que era um dos lugares favoritos dela). Fomos lá fora e nos fundos da casa havia uma piscina. Estávamos agora no andar superior, onde ficavam os quartos – aquele é o quarto dos meus pais – apontou para a porta ao fim do corredor. Andamos mais um pouco, parando em frente a uma porta entreaberta – esse é o meu quarto – ela abriu a porta e entramos.
Era tudo tão Hermione, desde a parede verde claro até a estante cheia de livros meticulosamente organizados. Havia uma cama de casal no centro, cheia de bichos de pelúcia. Ao lado da cama, no criado mudo, havia uma foto. Me aproximei pra ver melhor, para me deparar comigo mesmo acenando, ao lado dela e de Ron. Colin havia tirado a foto na última reunião da AD antes do feriado do Natal. Ron pareceu perceber também, pois o ouvi perguntando:
- Essa foto... Não era do Collin?
- Eu pedi uma cópia a ele quando voltamos do feriado.
Encaminhamos-nos pra porta, ainda observando – É a sua cara, totalmente – eu comentei.
- É mesmo, né? – ela lançou um olhar por cima do ombro ao quarto rapidamente – eu ainda preciso mostrar onde vocês vão ficar – ela apontou pras duas portas em frente a seu quarto. Eram seis quartos ao todo. Meu pai achou um exagero, demoliu dois deles – ela abriu a porta mais a direita – são exatamente iguais, então não há muito o que escolher, só muda a cor, o outro é amarelo, eu acho. - Eu acabei ficando no primeiro, o azul. Nós ainda passamos um tempo por lá, enquanto ela nos contava minuciosamente os acontecimentos na Austrália e na volta. Quando descíamos pro almoço encontramos John Granger, pai de Hermione.
Os olhos dele passaram de mim para Ron e por fim pousaram em Hermione, enquanto esta sorria. Eram de um azul profundo e pareciam conter uma determinação sem limites e ao mesmo tempo uma bondade infinita. Foi ele quem falou primeiro, apertando nossas mãos:
- Como estão? Hermione já mostrou onde irão ficar?
- Já sim, senhor Granger – Ron confirmou e Hermione deixou escapar uma risada.
- Eu não pareço assim tão velho, pareço? Tomara que não! – ele deu uma risada contagiante – me chamem de John. – Chegamos na sala
De jantar e encontramos a Sra. Sarah lá, pedindo desculpa pela demora. E eu percebi depois do almoço que, caso realmente me importasse por isso, a perdoaria instantaneamente: a comida era deliciosa. Conversamos durante muito tempo, os pais da minha melhor amiga sempre sorridentes: era visível a felicidade que sentiam por estarem com ela novamente e igualmente visível o orgulho que sentiam.
- Nós temos que ouvir a história por vocês depois – comentou Sarah em certa altura – Hermione é modesta demais, tenho a impressão que fez mais do que contou.
- Mãe! – a morena ao meu lado protestou, ruborizada – não é assim, eu já lhes contei tudo! – eu olhei pra Ron e compartilhamos um sorriso cúmplice, antes que eu começasse:
- Depende... – os olhos de Hermione fixaram-se em mim, perigosos, como se dissessem "você não ousaria" . Eu apenas continuei, ignorando-a – ela contou as incontáveis vezes que salvou minha pele, não contou? Como quando estivemos em Godric's Hollow e ela, cara a cara com Voldemort explodiu tudo e me tirou de lá, ileso?
- Não! – John negou, divertindo-se ao encarar a filha com um olhar acusatório – Ela disse algo sobre a mulher ser a cobra e que vocês escaparam por sorte antes que ele chegasse.
- Mas é verdade! Nós escapamos por sorte, não foi? – reclamou azeda – E nem tudo saiu ileso: eu destruí sua varinha e você ficou inconsciente por horas, doente!
- Sorte? Só se for de você saber feitiços e azarações que eu nem sabia que existiam. E eu estava vivo, nenhuma parte faltando! Quer mais ileso que isso? – foi a sua vez de me ignorar, contrariada. Mas ai Ron continuou:
- E teve a batalha de Hogwarts, em que ela duelou com Belatrix Lestrange. Uma cobra, é verdade, mas também o braço direito de Voldemort.
Ela fuzilou o ruivo com o olhar, enquanto seus pais a olhavam intrigados com os "pequenos detalhes" que ela não contara – Grande coisa! Havia Ginny e Luna comigo, não é como se eu tivesse sozinha.
- E teve também aquela vez que... – eu começei, ela revirou os olhos, bufando. Passamos horas contando tudo que ela havia feito, morrendo de rir enquanto ela resmungava. Eu sabia que ela odiava ser o centro das atenções assim como ser "pintada como heroína da história" como ela havia me dito certa vez mas eu queria (e Ron parecia partilhar do mesmo desejo) que os pais dela soubessem o que ela representava na derrocada de Voldemort, que soubessem todos os motivos pra se orgulharem dela. Quando ela parecia emburrada demais pro nosso bem, sua mãe sugeriu:
- Porque vocês não vão tomar um banho na piscina? Está tão quente aqui!
E lá fomos, trocar de roupa.
Já era tarde, passava da meia noite. Como sugerido, fomos pra piscina, depois de Hermione demorar uma verdadeira eternidade pra se aprontar. Iniciamos uma guerra entre nós três que rendeu inúmeras risadas e nenhum vencedor declarado. Eu estava particularmente exausto uma vez que não praticava uma atividade física tinha muito tempo. No entanto, por mais cansado que estivesse eu simplesmente não conseguia dormir, por mais que quisesse (e tentasse). Depois de me revirar indefinidamente na cama, resolvi tomar um copo d'agua, me esgueirando o mais silenciosamente possível pelos corredores escuros. Quando eu já estava voltando, quase na porta, ouvi um grito: era Hermione.
Sem ao menos pensar duas vezes, entrei em seu quarto; o abajur ligado, um livro no chão, que aparentemente havia caído quando ela cochilara. E minha melhor amiga na cama, dizendo palavras disconexas e contorcendo-se como se sentisse dor, os olhos fechados. Era um pesadelo.
- Eles não... –sua voz saiu fraca - Harry não me deixaria... – "O que ela sonhava?", me perguntei, enquanto sentava na beira da cama e inconscientemente segurei sua mão: estava assustadoramente gelada.
- Hermione, acorde... é apenas um sonho, vai ficar tudo bem – ela deu mais um grito – eu estou aqui, com você. – continuei a dizer palavras de conforto, mas a verdade era que eu não sabia o que fazer. Ela não acordava e dizia coisas sem sentido, gritando muito e era desesperador vê-la tão frágil. Mas aí num determinado instante ela aquietou-se e tremeu involuntariamente, como se estivesse com medo: seus olhos se abriram completamente cheios de pavor. Puxei-a instintivamente pros meus braços, abraçando-a como se num abraço eu pudesse dar um fim a todos seus medos, ao menos era isso que eu queria. Ela chorava compulsivamente, seus soluços a sacudindo de uma forma quase que violenta. "O que poderia ter a assustado tanto"? Eu me perguntava enquanto sentia que o choro diminuía. Ela afastou-se de mim, secando as lágrimas com as costas da mão e me olhou vulnerável como nunca a vi, sua voz um fio:
- Como você...? – ela não conseguiu terminar.
- Eu estava com insônia, tinha ido à cozinha beber água. Voltei e escutei você gritar, fiquei preocupado e vim te ver – agora eu é quem tinha dificuldade de falar, sua expressão de dor intensa gravada a ferro em minha mente – você dizia coisas incompreensíveis e gritava, eu não sabia o que fazer. – admiti por fim.
- Desculpa por ter preocupado você – ela pareceu hesitante, mas levou uma de suas mãos à minha, num carinho suave – não queria que tivesse visto isso.
Uma pergunta se formou em minha mente, na verdade era mais uma certeza – Você tem tido esses pesadelos com frequência, não tem?
- Quase toda noite, sim – ela confessou sem me olhar, tirando sua mão da minha e passando a brincar com a barra do pijama.
- E sobre o que são? – ela não respondeu e eu insisti, agravando o tom – Hermione...
- É sempre o mesmo – comentou enquanto deixava de encarar suas mãos e relutantemente me olhava – Nós estávamos na casa dos Malfoy, era quase tudo igual ao que ocorreu, mas ao contrário da realidade – ela tremeu tal como fizera antes de acordar e levou a mão ao pescoço, onde se encontrava uma cicatriz fina. Meus punhos se fecharam... E se eu tivesse chegado tarde demais? – você não aparecia, Bellatrix continuava a me torturar. Quando eu pensei que ela me mataria dando fim aquela dor ela me entregou a Greyback e ele... – ela escondeu o rosto entre as mãos e com dificuldade falou novamente, sua voz denunciando o choro com o qual ela tão insistentemente lutava – era horrível, absolutamente horrível.
Eu mais uma vez a abracei, a raiva crescendo continuamente em mim – Eu te prometo que nunca mais vou deixar alguém te machucar, nem Greyback, nem Bellatrix nem ninguém. Eu a odeio por fazer você sofrer tanto... Se ao menos eu que estivesse no seu lugar.
- O que aconteceu naquela noite, Harry? – e tal como antes ela que se afastou e estranhamente meu corpo pareceu protestar pela falta de contato - Enquanto eu estava lá com ela, eu nunca entendi. Lembro de ouvir alguém gritar meu nome, não sei bem quem... Nem o que se seguiu.
- Nós encontramos Luna e o Sr. Ollivander lá. Ron gritava como louco – uma pontada de desapontamento passou por seus olhos, mas se foi antes que eu pudesse pensar sobre seu significado – eu não sabia o que fazer, seus gritos iam ficando piores... Eu peguei aquele fragmento de espelho, chamei por ajuda. Dobby apareceu e levou os outros. O barulho chamou atenção, Wormtail foi ver o que tinha acontecido e enfim... Você sabe. Nós fomos atrás de você. Você estava desacordada, aquela - eu procurei uma palavra que descrevesse todo meu desprezo, nenhuma era boa o bastante - maldita com uma faca no seu pescoço, pronta pra te matar se não entregássemos as varinhas. Draco as pegou. Dobby derrubou o candelabro, que ia cair em cima de Bellatrix, Ron te tirou do meio dos destroços e aparatamos em Shell Cottage. Eu quis enterrar Dobby de forma apropriada e fiquei lá fora enquanto você se tratava.
- Foi algo incrível, o que você fez por Dobby. Quando eu acordei e soube do que aconteceu eu quis imediatamente ir atrás de você, mas Ron e Fleur não permitiram. Não gosto da idéia de ter te deixado sozinho lá, você devia estar precisando de alguém nem que fosse pra ficar em silêncio.
- Pois eles estavam certos, você não devia ir lá fora, estava frágil demais! – os defendi, embora tivesse total consciência que a presença dela ao meu lado me acalmaria - Tive tanto medo por você, que não ficasse bem. E agora descubro que embora fisicamente você esteja, psicologicamente não está. Porque não me contou antes? – a pergunta que fiz a seguir saiu curiosamente dolorida - Não confia em mim? – Ela me sorriu, o primeiro sorriso aquela noite, parecendo divertir-se com a idéia
- Eu confio minha vida à você, sabe disso! Apenas não quis que se preocupasse. Você já tem problemas suficientes.
- Eu me preocupo sempre com você, Herms. – me silenciei por um instante, antes de pedir – Prometa que sempre que tiver algo, por mais besta que ache que seja, vai me contar?
- Prometo.
Nota da autora: A citação de Deathly Hallows (pág 309, edição americana) é uma tradução livre feita por mim.
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