One
“Came apart inside of a world made of angry people”
-Eu não posso acreditar que você fez isso, Senhorita Evans – A voz de McGonagal, pela primeira vez nos meus ouvidos, era implacável. Eu tremi levemente, tentando não chorar – Saia da mina sala durante esta aula, senhorita, enquanto consertamos isso daqui.
Eu obedeci silenciosamente, saindo da sala sob os olhares de todos na sala, a maioria perplexo. Então deixei as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, quentes, salgadas, com gosto de fracasso.
Exatamente como a minha irmã havia me dito. Ela me falou, mas eu teimei em não escutá-la e vir para esse colégio.
- Você vai ser um fracasso lá, Lílian, e você odeia fracassar – Eu ainda podia ver o ódio queimando nos olhos dela, algo quente e pegajoso, me envolvendo e me sufocando de um jeito que eu não poderia entender.
Nunca quisera que Petúnia me odiasse, mas esse sentimento irrompera por dentro de suas entranhas, sendo alimentado e embalado pelos ciúmes e pela confusão, já que eu praticamente escolhera me afastar dela e ir para esse colégio estranho.
Eu era uma burra.
Caminhando inconsolável pelos corredores, encontrei Potter rindo alto nos corredores, conversando com alguém. Logo identifiquei Remus e tentei conter as minhas lágrimas, sabendo que era impossível esconder os olhos e o nariz vermelhos.
Droga.
-Lily? – A voz dele era genuinamente preocupada, e sua expressão também, enquanto andava em minha direção rapidamente. Eu dei um sorriso amarelo, forçado.
-Nada demais – Mas ele não precisava que eu respondesse. – Desculpe-me Potter, mas é impossível você me afetar de qualquer maneira hoje. Então nem pense em tentar me chamar para sair – Avisei-o tentando forçar a minha voz mais McGonagal o possível, mas a lembrança desse nome me lembrava do meu fracasso anterior, e isso me fazia ficar ainda mais fraca.
-Eu sou o senhor do impossível, Lily – O seu sorriso doce repentinamente cintilou pelo corredor, e o sol coincidentemente se abriu, iluminando tudo á nossa volta ao entrar pelas janelas. Oh, certo, agora até mesmo o sol conspirava a favor do Potter.
Eu tinha que admitir, o rapaz tinha carisma.
Eu olhei para Remus, que, apoiado na parede ao lado da janela, nos observava tranquilamente. Então olhei para Potter novamente, sentindo aquelas ondas de calor irradiando até mim, como sempre acontecia à todos. Potter era conhecido por ter um humor contagiante, um encanto em volta dele, ao qual todos se rendiam facilmente.
Eu não costumava me deixar levar, mas estava fraca, e aquela energia parecia me encher novamente. Forcei-me a não sorrir, sem conseguir evitar uma mexida leve nos cantos de meus lábios. E isso foi o suficiente para ele.
“found a boy who had a dream of making everyone smile”
-Viu só? Vamos, o que houve com você? – Tomou minha mão com a dele e conduziu-me até perto de Remus, que me cumprimentou casualmente.
Eu não iria responder àquela pergunta. Não sem um bom punhado de tortura física cruel, não sem ficar louca antes. Não admitiria para o Potter que eu era um fracasso. Eu deveria odiá-lo, mas naquele momento estava tão vazia e triste que não conseguia conduzir os meus sentimentos para tal feito. Ele estava lá, e coincidentemente era tudo que eu precisava.
-Não houve nada, eu já disse – Repeti firmemente, mas ele não se convenceu.
-Tudo bem se não quer me contar – Um sorriso doce iluminou as faces dele novamente, e eu me perguntei como nunca tinha visto aquilo. Oh, certo, eu estava fraca. E drenaria todas as energias do bom humor dele se ele não saísse de perto de mim.
Senti que o consumiria.
“he was sunshine”
-Lílian, a garota do silêncio absoluto em todas as aulas, na biblioteca e quando tem problemas. Você já pode se transformar para sua forma original agora, Lil, porque imagino que você não seja feita de nada menos duro que madeira – Potter brincou e eu ri, pega desprevenida pela piada fora de hora.
Ele me fizera rir. Depois de ter feito uma tragédia acontecer nos ratos da aula de transfiguração.
“i fell over”
-Potter, você realmente é o senhor do impossível - Declarei e ele sorriu para mim abertamente, se aproximando e me beijando na bochecha. Eu não pude fazer nada.
-Sabe, eu tenho esse sonho de vez em quando. O sonho em que eu faço algo bom o suficiente para fazer todos rirem. Já pensei em fugir com um circo trouxa – Ele riu-se, mas eu percebi o tom mais adulto de sua voz. Avaliei as possibilidades antes de me deixar admirá-lo imensamente. – Eu nunca conseguiria.
Um brilho triste passou por seus olhos e eu quis dizer que ele já me fizera rir muitas vezes, eu só fingira que não. Eu tentava me concentrar em não ser um fracasso, e ser mais uma na lista do Potter com certeza me faria um.
Mas ele sempre me afetara de um jeito que eu não conseguia entender. Preferia me manter longe e recusar os convites dele para sair, também porque precisava me concentrar em estudar. Eu simplesmente não conseguia controlar o modo com que me sentia sobre ele. Observá-lo com os amigos me dava inveja, inveja da felicidade espontânea que ele demonstrava, daquela elegância nata e da intimidade casual que tinha com os quatro.
Ele era como os raios de sol: brilhante, quente, dourado. E fazia tudo mais a sua volta parecer convidativo, mais bonito. E não era sua aparência que me fazia sentir assim, era seu jeito de mexer no cabelo, seus sorrisos calorosos e o modo com que sempre era atencioso com todos e seus problemas.
Ele não era normal. Deve ser deficiente mental.
“my feet like bricks underwater”
Ao invés de fazer o que queria, eu somente revirei os olhos.
-Potter, é impossível agradar à gregos e troianos. Você não conseguiria fazer todos rirem – Tentei desdenhar sem machucá-lo, afinal tinha que parecer adulta o suficiente para não acreditar em sonhos bobos e nobres como esse. O mundo era ligeiramente mais feio que isso.
“and how am i supposed to tell you how i feel?”
-Foi você mesma que acabou de dizer que eu sou o senhor do impossível, Lily – Potter disse surpreso, rindo-se logo depois. Então aproximou a boca da minha orelha, e eu repentinamente notei que Remus havia sumido. Espertinho.
-Além do mais, a única pessoa que eu queria fazer rir hoje, sorriu para mim há alguns momentos atrás. – Os sussurros e o hálito quente muito perto de mim me fizeram arrepiar mais do que eu admitiria.
Mesmo para mim.
Corei imensamente e fitei o chão, afastando-me dele suavemente. Potter deu um daqueles sorrisos que entravam na corrente sanguínea das garotas e tomava-lhe todo o oxigênio, fazendo-as agir como retardadas mentais. Eu só não entendia essa reação a partir do princípio que a maioria delas não perdia o ar, e sim hiperventilava.
Vai entender, né?
“i need oxygen”
Percebi que eu mesma não respirava direito.
Quanta bobagem por um garoto. Eu não podia ser tão tola a esse ponto.
-É bom eu voltar para o salão comunal, sabe. Essa era a minha última aula do dia e eu estou cansada – Despejei tudo muito rapidamente, ajeitando a bolsa no ombro enquanto fitava o chão.
Ele riu.
-Eu posso ir com você – Disse, e pude perceber no reflexo dos olhos dele que eu o olhava com terror.
“and so i found the state of mind where i could be speechless”
Eu não soube o que dizer, absolutamente. Ele sorria para mim como se soubesse o que eu tentava fazer. Será que eu estava sendo tão clara assim?
-Como água, Lily – Ele piscou para mim respondendo aos meus pensamentos, e eu corei mais uma vez. Mas que inferno esse garoto! Ele provavelmente passaria o resto de seus dias me importunando. Imbecil.
Caminhamos lado a lado, ele assoviando alguma canção que eu jurava conhecer, mas não me lembrava da onde, e eu tentando conter os meus pensamentos que inundavam como uma cachoeira os meus pensamentos conflitantes.
“i had to try for a while to figure out this feeling”
Daquela vez eu não conseguira ser desprezível ou dura com o Potter, mas não tinha dado alguma positiva tampouco. Mas martelava na minha cabeça o quanto eu me sentia confortável em fazer tudo isso: me deixar levar por ele.
Que Potter era mestre em ludibriar qualquer um, isso eu já sabia. Deveria ser por isso que nunca fora expulso do colégio. Tenho certeza de que ele conseguiria enganar até mesmo Dumbledor, que parecia conseguir penetrar nossas mentes somente com um olhar.
“Você é um fracasso, Lílian”
As palavras ecoaram na minha mente enquanto eu observava o perfil dele e voltava a fitar os corredores. Com certeza começara a era que prenunciava o fim do mundo, porque eu mal conseguia respirar pensando em tudo isso. Eu estava gostando de ficar com ele. Quero dizer, eu já gostava antes, mas não admitia isso. Agora tudo estava em uma confusão enorme.
“this felt so right, pull me upside”
-Você está sorrindo – Ele constatou e tocou a minha bochecha com a ponta dos dedos, me fazendo sorrir mais largamente mesmo sem ter a intenção. Pelo jeito era absolutamente tudo o que ele queria, pois abriu o sorriso mais carinhoso que eu já havia visto na vida.
Surpreendi-me ao perceber que o sorriso era para mim.
“down to a place where you been waiting”
-Eu já te disse hoje o quanto amo o seu sorriso? – Potter estava novamente irradiando energia para mim, mas desta vez o calor não era provindo do seu carisma ou da sua felicidade. Era algo mais, algo intenso, algo como um furacão ou uma supernova.
Ele se aproximou e eu recuei instintivamente, fazendo-o dar um suspiro.
-Eu te amo – A frase foi pouca, mas o significado caiu como as pedras do Stonehenge sobre mim, uma sobre a outra. Das outras vezes eu sempre tinha me considerado séria demais para acreditar no que James Potter dizia, mas agora começava a reconsiderar minha opinião anterior. Mas não sobre eu ser séria ou não, e sim sobre a seriedade do que ele dizia.
Talvez eu não tivesse tanta razão quanto eu pensava que tinha.
-Potter, não brinque comigo – Eu disse séria, tentando impressioná-lo para que ficasse quieto. Afinal, se eu o coagisse o suficiente, obviamente ele iria retirar a declaração.
-Com amor não se brinca, Lílian. E eu sei que eu amo você. Sei porque faria qualquer coisa; alcançaria qualquer pico por você. Eu te prometeria a lua se pudesse – Nos olhos dele havia tudo que eu tinha procurado a minha vida inteira, me fazendo perder o ar. Só conseguia olhar para ele.
-O sol – Foi o que eu falei ao observar o rosto dele iluminado, em um murmuro solto, e ele sorriu antes de me perguntar, confuso:
-O que?
-O sol – Eu repeti, começando a explicar – Eu quero o sol. – O rosto dele transformou-se em surpresa pelo meu pedido, um tanto grandioso demais. – Você sempre me pareceu com o sol, Potter. Sempre. Você é quente, é vibrante, é acolhedor, e brilha. – A surpresa aumentou mais ainda, fazendo-o sem fala.
Eu dei uma risada.
-E você faz todos rirem sim – Meus braços foram para os ombros dele timidamente, e ele os incentivou ao ajeitá-los brandamente. –Você faz até McGonagal rir. –Sorri-lhe docemente, a realização do tamanho do meu sentimento pelo rapaz, cultivado de longe, vendo suas bravuras e suas nobrezas, admirando-o a cada segundo daquilo .
Ele coçou a nuca sorridente – Eu faço o que posso.
“tell me what you want, baby, tell me what you need,
everything you ask, baby, give it to me”
-Posso ter ajudar nisso? – Eu podia jurar que o brilho dele naquele momento ofuscaria o sol. Ah sim, ofuscaria. Sorri.
-Claro que sim. – James Potter me beijou docemente nos lábios, uma mão no meu pescoço e outra na cintura, e eu soube que dali por diante eu ajudaria o meu sol a brilhar, sendo seu apoio, sua força, mas acima de tudo, eu seria sua.
“Oh baby, if i was your lady, i would make you happy,
I’m never gonna leave, never gonna leave
Oh baby, I would be your lady,
I am going crazy
For you.”
Comentários (1)
Meu Merlin, to sem paravras!Parabéns pela fic, é maravilhosa
2011-04-30