One



If it kills me


Você me mata quando eu te vejo. Sempre tão bonito, sempre tão descontraído. A imagem do que eu não poderia ter ou ser.  Você me mata quando fala, a voz sempre tão grave, quase uma surpresa quando se pensa que tem olhos tão suaves. Como a neve. Essa neve me penetra, e também me mata.


Me mata quando caminha. Um andar desleixado, mas por um lado gracioso. Afinal, estava no seu sangue, você ainda era um Black. Você também me mata quando canta, quando ri, quando joga o cabelo para trás, quando fica distraído com as coisas, quando dá aquela gargalhada pros amigos.


Você me mata quando canta alguma garota, ou quando as toca. Você me mata quando olha pra mim e seus olhos faíscam, prontos para jogar gasolina e começar o incêndio. E, oh, você sempre começava. E isso me matava também, porque eu sempre soube que não era a única.


Você me mata quando desliza os lábios pelo pescoço de outra e percebe que eu estou passando no corredor, parando de fazê-lo o mais rápido que pode. Porque você sabe que eu sinto alguma coisa por você, e que isso me machuca de algum jeito. Só não sabe o quanto. Quanto, quanto.


Você me mata quando diz que gosta de mim. Que é meu amigo, e que eu deveria te contar as coisas que se passam comigo. E me mata ter que dizer que não é da sua conta, que eu sei me cuidar sozinha, que eu posso viver a minha vida sem você se intrometendo. E você me mata quando me vê por trás dessas palavras fortes e corajosas; como eu realmente estou: quebrada, frágil. Você me mata quando me abraça, mesmo que não me ame. E me abraça forte, dizendo que nada vai dar errado, que você vai estar sempre aqui.


Seria mais fácil cravar logo uma faca no meu peito e girá-la devagar, Sirius. Seria mais fácil se parasse de me matar, de me tirar o ar a cada dia, com cada gesto de proteção ou amor fraterno que você me dedica pacientemente, como se eu fosse algum tipo de criança. E eu queria conseguir te matar como você me mata, mas sei que não tenho poder o suficiente sobre você para causar tal efeito devastador. E você sabe que a culpa é sua, sabe porque me abraça forte e tenta me consolar, mas eu sinto uma ou duas lágrimas suas molharem a minha blusa. Você chora, e me mata, e eu nem desconfio o porquê.


Você me mata quando se ajoelha na minha frente, uma semana depois de uma briga feia. Mas dessa vez, me mata do coração. Você diz que me ama e o meu coração ameaça parar, mas pelo contrário, ele só bate cada vez mais rápido e forte. Eu aceito e me sinto asfixiada com tanta felicidade quando seus lábios de seda tocam os meus, selando minha morte para toda a vida, todos os dias.


Você me mata quando sai em cada missão sem avisar, quando bebe, quando chega tarde em casa. Você me mata quando me pega por trás de surpresa, simulando um ataque de comensal, e então me beija até a minha freqüência cardíaca aumentar e então meu coração ficar sem ritmo. Você me mata quando me ama e quando sente raiva de mim, quando discutimos feio ou quando fazemos amor. Me mata o jeito com que você me abraça e beija com os olhos brilhando quando te asseguro que estou grávida. E me mata mais ainda quando chora escondido ao saber que perdi seu filho.


Mas, o dia que definitivamente me matou, Sirius, foi o dia que você morreu. Porque ali, você levou um pedaço meu junto. Um pedaço da minha essência, um quê importante na minha alma. Você me matou quando foi enterrado na minha frente, e eu morri junto.


Eu morri junto.


“Todo homem mata aquilo que ama.”


Descanse em paz, Sirius, pois só fui viva quando estive ao seu lado.


Descanse em paz.

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