Um Simples Estudo de Caso
O sol entrava fraco pela janela do sétimo andar do prédio do profeta diário em Londres. Ainda era relativamente cedo, mas as atividades dos repórteres e dos editores do jornal já estavam a pleno vapor. As coisas andavam calmas no mundo bruxo, porém Susan Bones não conseguia relaxar e desenvolver suas matérias saudosas sem passar alguns momentos trancada dentro do banheiro feminino, em plena nostalgia.
- Isto está ficando ridículo, Susan! – A voz de uma de suas colegas disse muito próxima ao cubículo em que Susan estava trancada com o computador portátil no colo, sentada sobre a tampa baixa de uma privada.
- Eu preciso ficar quieta e sozinha para escrever, Lina. – A jovem repórter rebateu, teclando muito rápido. Ela tinha os olhos concentrados atrás de óculos de lentes finas e quadradas.
- Peça licença e escreva em casa!
- Não posso. – Susan abocanhou um lápis, buscando um papel de dentro da bolsa em que carregava o computador.
- Porque você não pede transferência para outra área do jornal, então? – Lina sugeriu. – Se essa coisa de saudosismo faz você ficar trancada no banheiro enquanto as corujas aterrissam sem parar na sua mesa, é melhor ser transferida.
A porta do banheiro se abriu com um barulho pesado, mas em poucos instantes, Susan estava fora do cubículo carregando o computador ainda aberto em uma das mãos e levando a bolsa e papeis de anotações na outra. Seus habituais cabelos vermelhos estavam ajeitados em um coque mal feito e os jeans mal dobrados por sobre os tênis.
- Essa não é apenas mais uma matéria saudosista, Lina. – Susan defendeu-se, largando a bolsa e os papeis sobre a pia de mármore. Largou o computador por sobre a bolsa e virou-se para a colega, arregalando os olhos ao anunciar sua maior realização para a próxima edição dominical do jornal. – É uma matéria sobre nossas malucas fotografias que se mexem!
- Como se não fosse normal. – O desdém na voz da outra era visível, mas não proposital. – Não precisamos de uma matéria sobre algo que já sabemos.
- Mas essa é interessante. – Susan fechou o computador, guardando os papeis nos bolsos do blazer curto e jogando uma mecha de cabelo para longe dos olhos. – Além de falar da fotografia e as causas das nossas fotografias se mexerem, fala também dos mistérios que envolvem a fotografia. – Ela apertou as sobrancelhas. – Podem detectar seres sem espírito? São capazes de mostrar coisas que ninguém consegue ver? – Ela parou a si mesma, encarando sua imagem mal arrumada no espelho. – Elas podem mesmo capturar sua alma?
Susan sorriu de canto ao ver o que estava fazendo. Lina tinha os olhos nela, quase pressentindo que a outra se viraria com a maior rapidez que lhe fosse possível e terminaria seu pseudosorriso numa grande gargalhada. A colega de Susan não se surpreendeu quando a outra segurou o computador e a bolsa e chegou até a porta de saída do banheiro.
- Eu pareci uma apresentadora de programas sensacionalistas, não pareci?
- Pareceu. – Lina confirmou, enquanto a outra saía do banheiro, praticamente correndo para sua mesa de trabalho.
Susan correu para o telefone, largando-se levemente na cadeira giratória. Ela tirou os papeis dos bolsos, buscando o que procurava, segurando o gancho do telefone grande demais para a mesa pequena abarrotada de coisas que envolviam fotografia.
- Assim que eu gosto de ver... Compenetrada. – Susan ouviu a voz de Dino Thomas vindo da mesa detrás da sua. Sentiu seu coração pular, mas ela já desistira de tentar segurar a palpitação, que já era automática. - Usando telefone? O que houve com as corujas?
- Contato extrabruxo. – Ela respondeu, apontando para uma revista trouxa que repousava sobre sua mesa.
- Fotógrafo trouxa?
- O melhor fotógrafo trouxa. – Ela corrigiu, voltando-se para sua mesa, largando os cabelos, enquanto esperava que o homem atendesse seu telefonema.
A chamada durou menos de dois minutos, mas ao final do mínimo tempo gasto, Susan havia conseguido uma curta entrevista e uma entrada exclusiva para uma sessão de fotos com o famoso fotógrafo trouxa Basílio Hurshey.
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