O Pesadelo
Estava tendo novamente aquele terrível pesadelo que vinha sempre atormentá-la, quando menos esperava. Ginny virava-se de um lado para o outro na cama, na ânsia de acordar para pôr fim ao pesadelo e, ao mesmo tempo, sabendo que não conseguiria.
As lágrimas corriam-lhe pelo rosto enquanto via claramente seus pais, rindo. O sol brilhava forte na praia onde a familia ia passar o dia. Seu pai não vira o carro vindo na contramão e, ao se dar conta, foi tarde demais. O ruído dos pneus era muito forte e o grito de sua mãe ecoava sem parar. O carro capotou várias vezes e tudo ficou escuro. Ela acordou gritando.
Nisso Harry entrou correndo no quarto e acendeu a luz. Ginny, pálida como cera, chorava descontroladamente.
— O que foi? O que aconteceu? — perguntou preocupado, aproximando-se dela.
Ginny encostou o rosto no peito de Harry.
— Oh, Harry, foi horrível... horrível! — Soluçava desesperadamente.
— O que foi? — Ele a abraçou.
— O sonho. Eu tive o sonho outra vez. Já fazia tanto tempo, que eu quase me esquecera. — Os soluços diminuíam.
— Que sonho, Ginny? Conte para mim.
— Eu... eu não posso. Nunca falei sobre isso com ninguém.
— Conte para mim — pediu ele. — Afinal, foi a mim que você chamou.
— Chamei? — Arregalou os olhos, admirada.
— Foi. Você chamou por mim diversas vezes antes de eu chegar aqui. Ginny ficou surpresa, pois geralmente chamava pelo irmão.
— Será que acordei o resto da família?
— Bem, como ninguém mais apareceu, acho que não. Eu ouvi porque estava perto e ainda não tinha dormido. — Levantou-se e continuou: — Escute, se eu a levar para o meu quarto, você vai se sentir melhor?
- Vou. — Ginny tremia tanto que só se sentiria segura nos braços dele, a salvo daquele terrível pesadelo. Não queria mesmo continuar ali, pois a lembrança do sonho ainda a perturbava.
Harry carregou-a nos braços sem dizer mais nada e colocou-a gentilmente em sua cama. Deitou-se ao lado dela e abraçou-a. Agora conte tudo para mim — insistiu mais uma vez.
— Foi o desastre... o desastre em que todos a minha familia morreram — disse — Eu vi tudo acontecer de novo, a batida, o carro capotando... Perdi a consciência antes que ele parasse.
— Que idade você tinha?
— Cinco anos.
— Foi então morar com a sua tia?
— Sim. Fiquei só dois dias no hospital e os médicos acharam melhor que minha tia me contasse o que havia acontecido, já em casa. Mas ela não gostava do meu pai, nunca aceitou o casamento dele com minha mãe. Ela... ela me acordou à noite, no dia em que cheguei do hospital, para me contar que tinham morrido.
Harry ficou atônito.
— Ela acordou você para lhe contar isso? Ginny agarrou-se mais a ele.
— Sim, e desde então eu tenho, às vezes, esse pesadelo. Mas o intervalo entre eles está ficando maior e este foi o primeiro em mais ou menos um ano.
Jarrod abraçou-a mais forte.
— Essa mulher não podia ter cuidado de você! E seu irmão onde estava?
— Ela era boa a seu modo. E ela não quis ficar com meu irmão ele Ra maior de idade para ela ele podia se virar sozinho. Ele foi capaz hoje vive bem na frança junto com minha cunhada Hermione e eu procurava contar menos coisas possível para ele, ele já tinha coisas demais para se preocupar.
Harry esticou o braço e apagou a luz.
— Agora durma, Ginny, que você está protegida aqui comigo.
— Mas eu... eu não posso ficar aqui — protestou ela. Ginny sentia a respiração de Harry em seu rosto.
— Não vai voltar para o seu quarto de jeito nenhum, você ainda está perturbada. Fique aqui comigo e procure dormir. Não se preocupe, eu espero até que adormeça.
— Obrigada.
Harry beijou-lhe as têmporas e Ginny estremeceu.
Agora se sentia segura, mas seu coração batia acelerado. Estava abraçada a Harry Potter, ali na cama dele, e teve medo de não conseguir resistir àquele contato tão íntimo...
— Ginny, durma — ordenou ele de repente. — Controle-se um pouco. Acho que já foi o suficiente para uma noite e fique certa de que não pretendo fazer nada para perturbá-la ainda mais. A gente conversa amanhã.
Ginny achava que não ia conseguir dormir, abraçada daquele jeito com ele. Mas o ritmo da respiração de Harry a embalou e em pouco tempo adormeceu.
Ginny acordou na manhã seguinte sem saber onde estava. Mas, ao ver Harry a seu lado, lembrou-se de tudo. Dormindo, ele parecia mais jovem. Ninguém acreditaria que tinha passado a noite com ele sem que nada acontecesse! Nem ela mesma! Com toda a sua reputação de conquistador, Ginny esperava algo bem diferente e, no fundo, ficou até meio desapontada...
Porém não teve muito mais tempo de pensar sobre isso, pois alguém abriu a porta do quarto e entrou sem avisar. Era Angie que, por estar colocando o relógio no pulso, ainda não a tinha visto na cama do irmão.
— Ande logo, Harry! Já é... — Sua voz foi sumindo ao ver Ginny abraçada a Harry. — Oh, meu Deus, o que é que eu fui fazer! Eu não pretendia....
— Não foi nada — disse Ginny, sacudindo Harry com delicadeza, para acordá-lo. — Eu...
— Ei, Harry, ande logo com isso! Será que... — David também estava na porta do quarto. Então pegou Angie pelo braço e puxou-a para fora. — Desculpe, Ginny, a gente não sabia. — E, com um sorriso malicioso, fechou a porta.
— Harry, acorde! — Brooke sacudiu-o com mais força. Ele virou-se de costas e espreguiçou-se.
— Ah! Que horas são? — Olhou então para ela, sonolento.
— Não importa a hora, acabamos de receber visitas — disse ela, preocupada.
— Verdade? Angie ou David?
— Os dois. Como é que você sabia? Ele afastou as cobertas, sentou-se e se espreguiçou novamente.
— Esta cama é um pouco estreita para dois...
— Como é que sabia que podia ser um de seus irmãos? — perguntou outra vez, para disfarçar o embaraço.
— Porque já são mais de sete e meia e, quando estou em casa, vou sempre dar uma volta a cavalo com eles às sete horas. Provavelmente pensaram que eu havia perdido a hora e vieram me acordar.
— Oh, muito bonito! E não fica preocupado em saber que sua irmã nos viu juntos na cama?
— E o que adianta? Provavelmente ela foi correndo contar a mamãe.
— Oh, não! — exclamou Ginny, empalidecendo. — Isso seria constrangedor para mim! Não vou poder encará-los, se souberem.
Harry pegou uma camisa limpa do armário e perguntou:
— E por que não? Eles provavelmente pensam que a gente dorme junto há muito tempo. Quase todos os noivos fazem isso hoje em dia.
— Não é o meu caso.
— Mas depois do que aconteceu há pouco, nem meu pai nem minha mãe vão admitir o fim do nosso noivado. Provavelmente vamos ter que nos casar para satisfazê-los.
Ginny olhou espantada para ele.
— E você diz isso com essa calma? Harry tirou o paletó do pijama e respondeu:
— O que mais posso fazer?
Ginny sentou-se na cama, esquecendo-se de que estava só de camisola.
— Eu pensei que você nunca concordaria em se casar por obrigação, ainda mais com alguém que não ama.
— Mas você aceita essa possibilidade?
Ginny não podia se esquecer da gentileza com que tinha sido tratada pela família de Harry e mesmo por ele. Em Londres, Harry levava uma vida bem diferente, mas ali, na casa dos pais, tinha que se comportar como qualquer filho, com respeito e amor. Por outro lado, Ginny não podia suportar a idéia de que eles pudessem pensar mal dela. — Aceito — concordou baixinho.
— Saiba que estou tão aborrecido quanto você diante dessa possibilidade — disse ele, seco.
— Então por que não fica zangado? Não protesta?
Ele foi até o banheiro, levando o resto de suas roupas. Estava só com as calças do pijama, com o peito musculoso à mostra.
— Mas acho que não vai ser tão ruim se a gente se casar. Foi gostoso dormir abraçado com você e, depois de nos beijarmos, não posso dizer que não combinamos!
— Quer dizer... — Ginny prendeu a respiração. — Quer dizer que você espera... espera um casamento normal?
— Você anda lendo romances demais — afirmou ele com um sorriso irônico. — Os casamentos de conveniência não existem mais e, se existem, há sempre o lado físico. Eu nunca me casaria com uma mulher apenas para contemplá-la!
— Mas o casamento seria conveniente para você, não seria?
— Você acha?
— Claro. Ninguém suspeitaria que um homem recém-casado tivesse um caso com a esposa de outro.
— E quem seria ela?
— Você sabe muito bem.
— Luna — disse ele sem hesitação.
— Exatamente.
— É, você pode estar certa...
— Mas isso não aconteceria se eu fosse sua mulher. Nunca admitiria que você tivesse um caso com Luna. Eu não gosto dela...
— Ah, então, se gostasse, não teria importância? — Harry a provocou.
— Não seja ridículo! Além disso, eu jamais me casaria com você. Posso ler romances, sim, e fique sabendo que ainda prefiro o jeito como eles terminam.
— É mesmo? — surpreendeu-se. — Mas de um modo geral eles acabam com a heroína nos braços do herói, não é verdade?
— De fato, mas não é o nosso caso! Por isso é que você nunca vai fazer amor comigo, pois para mim isso só pode acontecer entre pessoas que se amam.
— E você nunca vai me amar?
— Nunca! — respondeu Ginny, sem conseguir encará-lo. Sabia que ele descobriria a verdade no fundo de seus olhos.
— É uma pena, pois não pretendo ter uma esposa apenas para exibi-la aos outros. As mulheres foram feitas para serem desejadas e...
— E você as deseja! — completou Ginny.
— Sim.
— Oh, Deus, você é mesmo um...
— Eu já lhe avisei para não me insultar! Eu a vejo na hora do café, agora vou dar um passeio a cavalo. Se eu fosse você, dormiria mais um pouco. Talvez o seu humor melhore...
Ginny atirou o travesseiro contra a porta do banheiro. Voltou em seguida para o seu quarto. Como podia dormir de novo depois de tudo o que tinha acontecido? Enrubesceu ao pensar na expressão de Angie quando flagrou-a na cama do irmão. A moça só poderia ter imaginado uma coisa, aliás, o mesmo que toda a família pensaria quando soubesse do caso.
E tinha que enfrentá-los, provavelmente na hora do café. Quanto mais cedo, melhor! Sabia que Harry não permitiria que ela ficasse trancada no quarto o dia inteiro.
Mas o que mais a espantava era a calma dele! Pareceu não dar a mínima importância ao fato de a irmã tê-los surpreendido naquela situação comprometedora. Ainda por cima disse que provavelmente teriam que se casar, e que a desejava como esposa de verdade!
Apenas a mãe de Harry se encontrava na sala quando Ginny desceu, às oito e meia. Aceitou à xícara de café que ela lhe serviu, mas não conseguiu encará-la, tão embaraçada se sentia.
— Vocês dois já marcaram a data do casamento?
Ginny sentiu o rosto queimar. A pergunta viera à queima-roupa.
— Ainda não. Olhe, Sra. Potter...
— Chame-me Lilly, por favor. Espero que no futuro você me chame de mamãe, como os meus outros filhos.
Aquelas palavras emocionaram Ginny, fazendo-a sentir-se ainda mais culpada. Não podia mentir daquele jeito para ela! Lilly Potter era exatamente o tipo de mulher que ela escolheria para mãe, se pudesse.
— Obrigada — conseguiu dizer. — Eu gostaria de explicar que o que Angie viu hoje cedo... Bem, não era o que podia parecer... Harry e eu... Bem, Harry e eu não...
Lilly sorriu com simpatia e deu um tapinha amistoso na mão de Ginny.
— Eu sei, querida. Harry já me explicou o que aconteceu e eu acho que ele agiu certo. Você não podia mesmo ficar sozinha depois de ter tido um pesadelo daqueles. Harry fez o que devia ser feito.
— Ele contou à senhora?
— Meu filho é muito honesto e, se tivesse feito amor com você, também me diria.
— Oh!
— Você não deve ficar aborrecida conosco, Ginny. Aqui em casa não gostamos de segredos, apesar de Harry ter nos surpreendido muito com esse noivado.
— É que foi tudo muito repentino — explicou Ginny.
— Foi isso o que ele disse, e a imprensa sempre acaba descobrindo coisas que você quer esconder. Harry contou que o noivado ia ser anunciado no dia do seu aniversário, na terça-feira, mas, já que havia sido noticiado nos jornais, vocês resolveram deixar que as coisas ficassem assim. Esse pessoal de jornal às vezes é bem desagradável — reclamou Lilly.
Seu aniversário! Como é que Harry descobrira? Claro, sua ficha de identificação pessoal. E ele soube usar muito bem os dados! Provavelmente por isso tinha se tornado um empresário tão brilhante: sabia se lembrar das coisas certas nas horas certas.
— É verdade — concordou Ginny.
— Eu queria que você soubesse que tanto eu quanto James gostaríamos muito de que o casamento fosse celebrado aqui. Você nos daria esse prazer?
Ginny corou mais uma vez.
— Eu... Bem, nós ainda não...
Harry chegou nesse instante. Usava uma camisa de gola olímpica e calças de montaria. Abaixou-se para beijar o rosto da mãe.
— Bom dia, mamãe. — Sorriu malicioso para Ginny antes de beijá-la de leve nos lábios. — Mais uma vez, bom dia, meu amor — disse, sentando-se ao lado dela.
— Bom dia — respondeu, constrangida.
A mãe sorria para ambos, sem perceber a tensão entre eles.
— Eu estava acabando de explicar para Ginny que gostaríamos que o casamento fosse aqui.
— Estavam conversando sobre o casamento?
— Não, eu...
— Não foi Ginny — interrompeu Lilly, rindo. — Fui eu. Estou tão entusiasmada por ter um casamento na família que não consigo parar de pensar nele. Vocês já marcaram a data definitiva?
— Ainda não — respondeu Harry, tomando um gole de café. — Pensamos no próximo mês, mas...
— No mês que vem? — Lilly espantou-se. — Mas é cedo demais! Não vai dar tempo de organizar tudo e Ginny deve ter um mundo de compras para fazer. Outra coisa: vocês não vão poder morar no seu apartamento, Harry. Vão precisar arrumar um maior.
— Calma, calma — Harry tranqüilizou-a. — Eu disse apenas que pensamos no mês que vem, mas nada ficou decidido.
Lilly Potter respirou, aliviada.
— Harry, pare de me atormentar. Então ainda não se decidiram sobre a data certa?
— Não, mamãe. Nós acabamos de ficar noivos e Ginny precisa de tempo para me conhecer melhor e eu a ela.
Lilly levantou-se da mesa.
— Vou para a cozinha, tratar do almoço. Não quero que pense que estou tentando apressar as coisas, Ginny. Harry tem razão, você precisa de tempo. Desculpe-me.
— Não tem por que se desculpar — respondeu Ginny timidamente. Ginny virou-se para Harry assim que a mãe dele saiu da sala.
— Por que você fez isso?
— E o que queria que eu fizesse? Que concordasse com tudo o que ela dizia? Pensei que você não queria se casar comigo.
— E não quero mesmo, em nenhuma hipótese.
— Ora, ora, ora! — disse David atrás deles. — Mal acabaram de ficar noivos! Acho que você devia ter um pouco mais de paciência, Ginny!
Ela ficou ainda mais pálida e, pedindo desculpas, levantou-se da mesa e saiu da sala.
Encontrou Angie na entrada e deu-lhe um sorriso vago antes de correr em direção a um bosque próximo da casa.
Finalmente parou e sentou-se no chão, exausta. O que David iria pensar?
De repente ouviu passos, cada vez mais próximos. Provavelmente tinham pedido a Harry para procurá-la. Continuou sentada, quieta, mesmo quando o percebeu de pé, na sua frente.
Harry sentou-se na grama ao lado dela e perguntou:
— Não acha que foi tolice o que fez?
Ginny agarrou um galho, como se procurasse apoio. Tinha o rosto ainda molhado de lágrimas.
— Eu... eu não sabia o que dizer... O que disse a David? Harry deitou-se de costas, olhando o céu azul por entre as árvore.
— Disse que você tinha ficado tão embaraçada com o que aconteceu hoje cedo que queria desmanchar o casamento.
— E ele acreditou?
— E por que não? Você ficou mesmo envergonhada!
— Mas não foi por isso que eu disse que não queria mais me casar com você.
— Eu sei — concordou ele, sentando-se e acariciando-lhe suavemente o rosto. — Foi por eu ter agredido muito você. Desculpe-me.
Ginny espantou-se com a reação que teve ao simples toque da mão dele.
— Você está pedindo desculpas?
— Sim, Ginny... — E beijou-a com paixão.
Ginny não esperava por isso e correspondeu plenamente, sentindo-se aos poucos submissa aos carinhos de Harry. Estava tão excitada que teve vontade de ser possuída por ele ali mesmo.
Harry afastou-se um pouco e falou com dificuldade:
— Ginny, eu a desejo, você sabe disso, não é?
— Sim.
— E não se incomoda?
— E você se incomoda?
— Não, não me importo com nada. A única coisa é que talvez este não seja o lugar ideal para fazermos amor.
Ginny sorriu para ele como se estivesse sonhando e respondeu:
— Pois eu acho que é perfeito.
— Mas pode vir alguém... — argumentou Harry. As mãos de Ginny o puxaram para mais perto.
— Não vem ninguém, eles não se atreveriam... — sussurrou, bem próxima aos lábios dele.
Com um gemido ele abraçou-a com força. Seus corações batiam no mesmo ritmo, seus corpos desejando a mesma coisa e nenhum deles disposto a voltar atrás.
Ginny acariciou os cabelos de Harry e olhou para ele demoradamente.
— O que foi? — perguntou Harry. — Mudou de idéia?
Ela apenas sacudiu a cabeça, sem dizer nada. Só sabia é que estava perdidamente apaixonada por Harry. Teve certeza disso na noite em que acordou do pesadelo, chamando por ele.
— Chegue mais perto — pediu Harry, cobrindo-a de beijos novamente.
Ela correspondeu, apaixonada.
— Meu Deus! Ginny, como é que vou conseguir me controlar se você me deixa louco desse jeito? Eu não...
— Quieto! Vem vindo alguém...
Harry afastou-se dela, reclamando:
— Que diabos! Só pode ser Angie ou David. Só eles se atreveriam.
E ele tinha razão, pois alguns minutos depois o irmão apareceu por entre as árvores. Harry levantou-se e tirou as folhas grudadas em sua roupa. Olhou para David, de cara feia, e o rapaz indagou, inocente:
— Será que apareci outra vez na hora errada?
— Totalmente errada — respondeu Harry, caminhando de volta para casa.
David olhou para Ginny ao ver que o irmão se afastava.
— Sinto muito.
Ginny tentava disfarçar seu embaraço, limpando a roupa.
— Tudo bem — disse ela e fez menção de acompanhar Harry, mas David a segurou pelo braço.
— É verdade, Ginny. Eu não pretendia interromper nada. — Parecia tão envergonhado quanto ela.
— Você não interrompeu coisa alguma — assegurou-lhe, embora estivesse magoada por Harry tê-la deixado ali sozinha.
— Não ligue para Harry — disse David. — Se ele não saísse daqui, acabaria me agredindo. Já o vi zangado, mas nunca desse jeito!
— A culpa foi minha. — Brooke tentava a todo o custo se controlar. — Discuti com ele por causa de uma bobagem.
— E eu cheguei na hora errada e atrapalhei a reconciliação de vocês...
— Não foi bem assim. É que você chegou na hora errada e disse a coisa errada. — Deu um sorriso nervoso. — Acho que estou sensível demais.
— Dizem que não é fácil ficar noivo.
— Mas só com dois dias de noivado?
— Bem, é que Harry é muito orgulhoso e autoritário. Pelo jeito como ele se apressou em defendê-la para mamãe, hoje cedo, imagino que vocês ainda não estejam dormindo juntos e isso pode tornar as coisas muito tensas.
Ginny arregalou os olhos com aquela franqueza toda.
— Eu...
— Acha que sou franco demais? — perguntou ele, percebendo a hesitação dela.
— Sim.
— Sim estou certo. Harry está apaixonado por você.
— Eu não acho...
— Está, sim. — David caminhava ao lado de Ginny pelo gramado. — Acho que você é o tipo de garota com que os homens se casam, e Harry não está habituado a esperar. Além disso, ele não é mais jovem...
— Acho que ele não gostaria de ouvi-lo falando assim — disse Ginny e caiu na risada.
— Eu sei — concordou ele, rindo também. — Mas é que mamãe está entusiasmadíssima com o casamento. Ela já havia perdido as esperanças com Harry. Ele nunca ficava com uma mesma garota por mais de algumas semanas, e nunca trouxe nenhuma delas aqui em casa.
— Talvez não fossem do tipo que ele pudesse trazer aqui...
— É, talvez você tenha razão. Vai entrar agora? Prometo não dizer mais nada desastroso hoje.
Ginny não pôde deixar de sorrir.
— Acho que vou dar uma volta antes do almoço para abrir o apetite.
— Está bem — disse ele, acenando com a mão antes de deixá-la. Ginny ficou andando pela chácara durante mais de uma hora.
Era tudo muito bem-cuidado; deviam ter vários jardineiros e mais uma boa quantidade de criados para cuidar da casa. Tudo isso a tornava ainda mais consciente da diferença entre ela e Harry. Ele nascera em berço de ouro, enquanto ela fora criada por uma tia rabugenta que reclamava de cada centavo gasto com a sua educação. Era bom mesmo que aquele noivado fosse de mentira; iria pôr fim a tudo assim que fosse possível.
O almoço foi agradável e Ginny aceitou a proposta de Harry para voltarem a Londres no meio da tarde. A família protestou, mas ele foi inflexível.
— Você não agüentava mais, não é verdade? — perguntou ele, assim que pegaram a estrada.
— Será que dava na vista?
— Só para mim.
— Você não precisava vir embora por minha causa, eu estava muito bem.
— Você estava ficando nervosa e poderia deixar escapar alguma coisa que fosse nos causar encrenca.
— Eu sei, sinto muito — respondeu, irritada com ele porque estava certo e consigo mesma por deixar que harry a tratasse daquele jeito. E o pior é que não conseguia nem queria esquecer do que havia acontecido entre eles naquela manhã. Harry parecia tranqüilo, mas Ginny estava tensa demais!
— Não precisa se desculpar, sei que está tensa por minha culpa. Mas você não resistiu às minhas investidas! Na verdade, até me estimulou.
Ginny ficou chocada com a agressão.
— Não há nada demais em deixar que um homem beije a gente. Você pode me considerar criança, mas não sou assim tão inexperiente.
— Nem precisa dizer isso, Ginny!
— O que você está insinuando?
— Ora, você conhece todos os truques para enlouquecer um homem.
Aquelas palavras a magoaram. Ela podia ter agido como ele disse, mas fora inconscientemente. Harry era o primeiro homem que a deixava excitada daquela maneira, mas ele certamente via as coisas de modo diferente.
— Pode parecer isso, ainda mais sendo com você, que tem tanta experiência com as mulheres.
— Não há dúvida — concordou, irritado.
— Se não quer ouvir certas coisas, não me provoque. E fique sabendo que nunca vai ter chance de fazer amor comigo.
— Vou tentar me lembrar disso, mas você deve fazer o mesmo!
— Ora, vá para o inferno!
O silêncio durante o resto da viagem foi opressivo e, ao chegarem a seu apartamento, Ginny convidou Harry para um café, apenas por educação.
— Não, obrigado — respondeu seco, tirando a mala dela do carro.
— Ainda é cedo...
— Boa noite, Ginny. Vejo você amanhã. Hoje tenho um compromisso para o jantar.
— Com Luna Longbotton?
— Com quem mais poderia ser
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