Capítulo 11
Erm, bom, sei que demorei pra caramba dessa vez, mas foi por motivos de força maior, por favor compreendam ;-; quando minha inspiração estava a mil e consegui escrever, minha beta ocupou-se até a ponta dos cabelos, quando ela conseguiu me entregar eu que acabei tendo problemas técnicos com o PC ._. Sorry, pessoal! Espero que tenham uma boa leitura \o
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Hermione quase não reconhecia os corredores que percorrera durante seus sete anos como estudante de Hogwarts enquanto seguia logo atrás de Wiltord, que indicava o caminho teoricamente desconhecido para ela.
Durante o percurso, Wiltord explanava um pouco da história e do significado do castelo. Muitas vezes quis corrigi-lo ou consertar alguns equívocos em seus contos, mas sempre lembrava-se a tempo de que era uma estrangeira. Atuava como uma pessoa que não lia com freqüência sobre a história inglesa – mas não significava que ela não lesse nada.
Repentinamente, Wiltord decidira se calar, quando seus ouvidos já estavam se acostumando com a voz e os diversos equívocos, e analisava os quadros que dormiam – ou pareciam fazer isso. Desviou os olhos do que estava fazendo para saber a causa. Ele olhava diretamente para frente e descobrira que estavam quase chegando à gárgula que dava acesso ao escritório dos diretores.
E alguém os recepcionava logo na frente.
Percebeu o porquê de Wiltord ter se calado tão instantaneamente. Mesmo daquela distância, percebeu pela luz refletida das tochas algo dourado na altura do pescoço. Apesar da capa negra comum dos comensais que utilizava, o capuz continuava sobre sua cabeça, mesmo que naqueles tempos mostrar o rosto fosse comum.
“Então, esse é Lacbel.”, pensou Hermione enquanto se aproximavam. Os olhos analíticos, conforme se aproximavam, começavam a focar-se cada vez mais sobre o broxe dourado, que, para seu completo espanto, realmente existia e do jeito que havia sido descrito. Era hipnotizante. “Nunca vi nada parecido com isso!”.
- E-entã-ão, srta Lavransdatter. – Wiltord perdera todo e qualquer sinal de confiança e amabilidade. Seu corpo parecia mais rijo que o normal também, provavelmente tentando esconder que tremia. – Este é... é o sr Lacbel. – ele tentava o melhor possível falar sem gaguejar, no entanto sua voz mudara para algo gutural e forçado – Ele va-va-vai leva-lo... quer dizer! Leva-la até nosso mestre. – nesse momento, ele virou-se para a gárgula e falou a senha apressadamente – Presente de Natal. – que senha estranha era aquela?
- Obrig... – começara a dizer, mas, antes de poder terminar de agradecer, Wiltord saíra apressadamente, como uma lebre desesperada, fazendo-a esquecer sobre a senha esquisita.
Quando virou-se para Lacbel, este simplesmente começara a seguir em direção a escada sem falar nada ou mesmo gesticular para que o seguisse. Mas o fez, começando a subir logo atrás dele pelas escadas.
Dera-lhe uma vontade imensa de tentar descobrir quem estava por baixo daquela capa negra. No entanto, precisava ser o mais discreta possível, pois provavelmente se fez aquela atrocidade com Crabbe, obviamente era por não querer ser revelado. Imaginava que também não quisesse por métodos de pesquisa.
“Mas o que você está pensando, Hermione? Não veio para ficar fuçando a vida de um comensal, veio procurar por Harry! Atenha-se a isso!”, reclamava mentalmente consigo mesma, mas aquilo era mais forte do que ela, enquanto observava o comportamento dele.
Finalmente, encontravam-se de frente a porta de carvalho e tudo que sua mente estava fazendo foi focada em um só ponto. Seu coração batia descompassadamente, pois sabia o que encontraria logo adiante. “Calma absoluta, Hermione. Você pensou em tudo, seu disfarce é perfeito, nenhuma utilização mágica para modificar sua aparência. Nada pode te comprometer.”, repetia aquelas palavras numa velocidade incrível dentro de sua mente dentro do pouco tempo que Lacbel teve para abrir a porta e lhe dar passagem.
Adentrou o escritório, que parecia ter sido modificado muito pouco, tirando que o ar lá dentro tornara-se mais pesado ao encarar a única pessoa presente no aposento e que, obviamente, só poderia ser... Lord Voldemort.
Por mais que Harry tivesse explicado a aparência dele, Hermione sempre achou que ele estaria exagerando por ser seu arquiinimigo. Mas, vendo-o pessoalmente, ela constatou que Harry havia sido até gentil demais ao descrevê-lo e não pôde deixar de perder alguns milésimos de segundo a observar a face animalesca que mantinha sua concentração em alguns papéis que carregava entre as mãos. No intuito de retirar rapidamente a provável face de choque que apoderou-se de seu rosto, começou a analisar o resto do aposento.
Foi então que percebeu que havia algo de muito errado ali. Estava tão acostumada com o escritório cheio de bugigangas excêntricas de Dumbledore que se esquecera de que a professora McGonagall havia revolucionado aquele espaço quando se tornara a diretora. No entanto, os estranhos objetos estavam espalhados pelas estantes, assim como livros de todas as grossuras possíveis. O chapéu seletor encontrava-se em cima da estante e mesmo o poleiro de Fawkes continuava ao lado da escrivaninha, mesmo que a ave estivesse dentro da Sede da Resistência – como se a antiga professora de transfiguração nunca tivesse mexido em nada.
“Que eu me lembre, a professora McGonagall havia retirado tudo isso e colocado no segundo andar do escritório, para onde nunca ia. Ela me disse que mesmo que alguns objetos a entristecessem, joga-los fora ou doa-los lhe parecia uma traição. Por isso ela os havia guardado. Então, por que tudo isso parece ter voltado ao lugar novamente?”
- Sente-se, srta... – ouviu a voz aguda e tão fria que sentiu os pêlos dos braços a se arrepiar, mas ainda havia um quê cordial e cavalheiro. Seus olhos desviaram-se em direção ao Lorde, fazendo contato visual direto. Encontrava-se sentado logo atrás da escrivaninha ainda com os papéis em mãos, mas logo ele desviara os olhos novamente aos papéis, retornando a falar pouco depois. – Lavransdatter. Pronunciei certo seu nome? – perguntou, dirigindo os olhos vermelhos a si novamente, enquanto indicava a cadeira logo a frente da escrivaninha para que sentasse.
- Perfeitamente, Milorde. – respondeu, sorrindo com delicadeza, tentando expressar cordialidade e esconder a surpresa da situação inesperada, enquanto seguia para sentar-se na cadeira logo a frente. Sentira as duas tentativas dele de penetrar sua mente, mas não treinara arduamente aquela habilidade para ser pega numa situação ridícula. – Agradeço a preocupação.
Ele apenas sorriu levemente, provavelmente para não tornar seu rosto mais distorcido e feio do que já era. Não sabia o porquê daquele sorriso, mas nenhuma das alternativas que ela pôde imaginar eram boas. Seus olhos, mesmo que não quisessem, acabaram se desviando para o brilho dourado do broxe de Lacbel, que só naquele momento percebera de repente encontrar-se ao lado do Lorde. “Nossa, poderia jurar que ele ainda estava atrás de mim. Devo ter fixado muita atenção no Lorde para notar. Deve ser isso.”
- Convoquei-a aqui para saber de perto se parece tão digna quanto a descrevem em sua ficha. Recebi ótimas observações a seu respeito. – ele comentou enquanto repousava o que agora tivera a certeza de ser sua ficha sobre a mesa. – Liderou uma equipe de novatos a uma das tantas filiais de aurores e conseguiu, mesmo que com tantos inexperientes, sucesso na missão de resgate. Pelo que soube, não houve qualquer baixa para o nosso lado.
Hermione tentava pensar na melhor resposta àquilo. Não podia ser muito humilde, porque comensais não o são, mas tampouco poderia demonstrar arrogância demais, pois poderia causar reações adversas em seu “mestre”.
- É um belo elogio que tenham ressaltado o sucesso que obtivemos como apenas meu, mas acredito que tenham exagerado. – deu um sorriso de lado, enquanto continuava – Provavelmente, os aurores deviam ser tão inexperientes quanto nós. Ganhamos por número e o elemento surpresa também nos ajudou bastante. – era um teste de improviso que ela detestava. Odiava não ter muito controle da situação e ter de se adequar a ela sem um mínimo de conhecimento anterior.
“Por que tudo tem que sair do modo que eu não imagino? Vim preparada para engolir toda uma enxurrada de arrogância e agora me vejo numa guerra de etiqueta. Isso faz toda a diferença!”, reclamava mentalmente por ter de fazer um planejamento apressado e retirar do seu banco de memória tudo que tivesse lido sobre regras de etiqueta e educação refinada.
- Não seja tão humilde, Lavransdatter. – houve uma leve mudança no tom de voz. Embora falasse com formalidade, sentia a autoridade que emanava dele. Sabia que, embora parecesse gentil, ele mantinha bem claro de que ela continuava em um nível abaixo dele. – Fiquei muito interessado e pedi um relatório mais detalhado sobre o ocorrido. Sua habilidade com a varinha é incomparável, provavelmente adquirida no conflito que se sucedeu faz algum tempo na Noruega, como mencionado em sua ficha. – aquela voz aveludada, num tom deliberadamente calmo, tornava o momento aterradoramente tenso. Como ela podia estar conversando tão corriqueiramente com o maior bruxo das trevas do século XX?
- A necessidade faz o homem. – Hermione respondeu com um sorriso levemente convencido nos lábios. Sua atitude foi tão natural e impensada que, se não fosse seu alto auto-controle, teria demonstrado o medo da reação que ele poderia fazer com aquele comentário.
- Uma observação muito sábia. – ele respondeu ainda com um ar muito calmo. Ele era indecifrável, suas atitudes, apesar de serem lógicas, eram completamente incoerentes com a imagem que pintavam dele ou que ele mesmo fazia questão de demonstrar. Agora, a imagem que fazia dele parecia completamente distorcida. E sabia que acabara por adentrar num terreno extremamente perigoso. – Acredito que seja tão sagaz quanto é boa em duelos. Minhas impressões da senhorita excederam minhas expectativas. Impressiono-me que alguém com tanto talento tenha se interessado em ingressar em meu exército para defender minha causa. Ultimamente, estamos em uma maré de terríveis incompetentes. – não conseguia parar de pensar em como era estranho ouvi-lo de modo tão cavalheiro – Não quero desperdiçar tanto talento com missões inúteis. Por isso desejo que permaneça aqui, Lavransdatter, servindo-me diretamente.
- Seria uma honra, Milorde. Principalmente para mim, que sou apenas uma novata. – apesar da aparente calma e do sorriso que demonstrava uma leve arrogância, Hermione só conseguia imaginar a enorme da enrascada que havia acabado de entrar. O pior era saber que não haveria como fazê-lo mudar de idéia. Ele perceberia sua jogada e poderia fazer até pior: invertê-la.
- Novata é um termo relativo. – ele sorriu minimamente e ela percebeu seus olhos brilharem - Espero que se adapte, logo começarei a lhe dar alguma tarefa. – ele virou na direção de Lacbel, mudando completamente o tom de voz. – Chame o comensal que a acompanhou para que a leve a um dos aposentos do castelo. – era seco, indiferente. Era daquele jeito que o imaginava e que se preparara tanto aquela manhã para aturar.
Ela observou Lacbel sair do aposento sem falar nada ou gesticular que cumpriria o que ordenava. Apenas poderia supor que estava indo procurar pelo comensal. Depois de poucos minutos, ele voltou sozinho, caminhando até o lado do Lorde das Trevas.
- Chamou-o como ordenei? – ele perguntou de modo ríspido, olhando-o de soslaio e com um quê perigoso.
Pela primeira vez, viu Lacbel fazer algo além de caminhar e permanecer parado como uma estátua. Abaixou e ergueu a cabeça levemente, confirmando. Ele simplesmente não falava. Poderia adicionar na lista que provavelmente era mudo. “Droga, Hermione, não é para ficar fazendo pesquisa inútil sobre comensais. Você já tem uma Horcrux que está procurando a mais de um ano, sem sucesso; Harry desaparecido e este, para só aumentar mais o tanto de coisas que precisa fazer, ainda pede para procurar uma garota desaparecida faz 7 anos. Para completar com chave de ouro, teve o azar de dar boas impressões ao Lorde das Trevas e ele decidir te prender aqui no castelo. Não, não, muito ruim a situação para querer fazer algo tão banal e arriscado. Já estou atarefada demais!”
Poucos minutos mais tarde, nos quais imperou o silêncio, este foi quebrado pelo bater da porta. Três batidas ritmadas na madeira.
- Entre! – falou o Lorde displicentemente, logo sendo atendido, já que Wiltord já abria a porta vagarosamente e começava a adentrar o aposento, mas parando apenas alguns centímetros da porta.
- Vim fazer o que ordenou, Milorde. Levar a senhorita para os aposentos. – ele falou tentando ao máximo ignorar a presença de Lacbel, que permanecia estático ao lado do Lorde. Era o que notava, já que ele mantinha os olhos pregados neste último.
- Muito bem. Avise para que tragam todos os pertences de Lavransdatter para o castelo. Ela ficará aqui de agora em diante. – sentenciou o Lorde ainda dirigindo-se ao comensal, que fez uma reverência, consentindo com a recente ordem.
Hermione não se abalou com aquilo, pois o objeto mais comprometedor que tinha estava em seu bolso. O galeão mágico sempre era carregado com ela. Todas as cartas que recebia eram queimadas e já havia avisado seus contatos de que não poderia receber mais cartas dali para frente.
Seguiu Wiltord pela porta, desaparecendo pouco depois.
Voldemort a seguiu com os olhos até que ela desaparecesse. Passado mais alguns minutos, uniu as mãos, entrelaçando seus dedos, enquanto apoiava os braços em cima da escrivaninha, sem despregar os olhos da porta.
- Verificou-a, como ordenei?
- Sim. – Lacbel respondera com sua voz enrouquecida, mas sem complementar mais nada. Voldemort sabia que Lacbel não iria responder o que realmente desejava, mas ele já sabia disso. Era o único método de ele demonstrar rebeldia. Ele sempre soube daquilo.
- Quais feitiços e poções mágicas estava utilizando?
- Nenhuma, Milorde. A aparência que demonstra é a verdadeira, sem qualquer modificação mágica. – apesar de continuar com a sua voz insensível, para quem conhecia tão bem quanto o próprio Lorde das Trevas, sabia que havia algo de diferente. Sua insensibilidade era forçada.
- Muito interessante. – comentou enquanto voltava-se para a escrivaninha e olhava para a porta de carvalho fixamente. – Resta apenas duas possibilidades... ou é realmente quem diz que é ou alguém realmente inteligente.
“Se for uma infiltrada, tenho que admitir que foi inteligente não utilizar meios mágicos para disfarçar sua verdadeira aparência. Caso não seja, pode ser uma ótima aliada. Perfeita aliada.”
- Vamos, Lacbel. – chamou, sem mesmo olha-lo, começando a caminhar para fora do aposento.
Lacbel logo o seguiu, como a sombra silenciosa – como parecia desde sempre.
Não fora exatamente a noite mais tranqüila que já tivera em sua vida, mas Hermione conseguiu encontrar a paz dos sonhos. No entanto, ela durou poucas horas, assim que acordou extremamente cedo, hábito ganho em sua luta pela sobrevivência.
Notou, assim que se sentou na cama, que seus pertences já estavam ali. Obviamente, haviam mandado algum elfo doméstico traze-los. A primeira coisa que fez, para relaxar, foi começar a organizar tudo perfeitamente no ambiente, como se esperasse ficar ali por um tempo demasiadamente longo. Depois de verificar se tudo estava no lugar, foi examinar quanto tempo poderia manter aquele disfarce.
A maquiagem provavelmente não acabaria antes dos 5 meses e a chapinha... não tinha luz elétrica em Hogwarts, mas Hermione sabia que poderia resolver esse problema facilmente. No entanto, para o seu horror, justamente a tintura de cabelo estava com estoque baixo, provavelmente daria apenas um mês. Como ia arranjar tintura sem magia!? Como ela iria disfarçar seu cabelo castanho?
Ela precisava arranjar um plano para solucionar o problema da tintura antes de se completar um mês ou tudo iria por água abaixo. Onde já se viu uma Puro-Sangue odiadora de trouxas usando química trouxa para se embelezar? Não duvidava nada que em algum momento havia sido verificada e se seu cabelo trocasse de cor estranhamente e fizessem nova verificação perceberiam a jogada que estava fazendo.
Sua primeira decisão fora querer organizar seu tempo enquanto começava a caminhar de um lado a outro do aposento. De dia, enquanto ela ainda tivesse tempo para si, tentaria verificar alguma pista do Diadema, arrancar alguma informação dos comensais sobre Harry e, finalmente e última opção, pensar sobre a garota desaparecida. Pelos seus cálculos matemáticos, a última tarefa deveria ser difícil... em 7 anos as pessoas que haviam estudado com ela já teriam se formado ou estariam... cursando o sétimo ano. Também teria os quadros e fantasmas que perambulavam pelo castelo. De qualquer forma, não era a prioridade.
Quanto à noite, seria para planejar como resolver o problema do seu cabelo, pelo menos durante seu primeiro mês. Mas gostaria de resolve-lo rápido, antes que fosse tarde demais e não houvesse mais tempo quando surgisse a idéia. Depois desse planejamento prévio, decidiu novamente deitar-se na cama e observar o teto do aposento.
Ficou pensando por algum tempo sobre o dia anterior. Analisando-o mais friamente, tentou encontrar alguma coisa que pudesse dizer que estava sendo enganada e que já deviam saber sobre quem era. A única coisa que encontrou foi um evento muito estranho, antes de se encontrar com o próprio Lorde das Trevas.
“Wiltord realmente falou ‘Presente de Natal’ como a senha de passagem para o escritório. Tenho certeza do que ouvi... mas eu não posso acreditar que realmente seja isso. Quem coloca a senha normalmente não é o recente dono do castelo? Não faz muito sentido...”, refletia levemente incomodada. O verdadeiro possuidor do castelo não seria o Lorde?
Retirando esse detalhe e um pouco do comportamento do Lorde, tudo parecia correr perfeitamente... exceto o fato de achar que ele estava desconfiado de alguma coisa. Ele queria mantê-la por perto. Era um velho ditado trouxa... “Manter os amigos perto e os inimigos ainda mais próximos.”
Mais do que nunca, Hermione precisava encarnar sua personagem fictícia.
A primeira coisa que ela deveria fazer era redescobrir naquele castelo a biblioteca e rezar para não se horrorizar pelo estado depredado em que ela provavelmente se encontrava.
Saiu de seus aposentos, começando a caminhar pelo castelo. Percebeu que, apesar de conhecer várias das armadilhas, não lembrava-se de quase nada sobre seus caminhos e descobriu-se levemente perdida dentro dos corredores. O que seria apenas uma máscara tornara-se real, enquanto tentava se situar no enorme castelo.
Andou por várias horas, cansativamente, mas nem sequer cogitou pedir ajuda aos comensais que perambulavam. Não podia confiar neles e seu orgulho, que normalmente engolia quando estava com os amigos e aliados, começava a aparecer.
Finalmente, vislumbrou a entrada tão conhecida da biblioteca. Conseguiu encontrar após horas perambulando. Enquanto se aproximava, olhou o relógio de corda em seu pulso para perceber quanto tempo perdera e ficou levemente aborrecida ao perceber que já era hora do almoço. Perdeu preciosas horas do seu dia a caminhar erraticamente por aqueles corredores iguais.
“Ficarei sem almoço, mesmo. Demorei muito para chegar e ter de sair. Além disso, preciso agora recuperar esse tempo perdido. Cada segundo é muito importante.”, resmungava mentalmente, descobrindo que não era só ela que perderia o almoço naquele dia ao finalmente chegar a entrada e analisar o ambiente.
Assim que aparecera no vão da porta, vários rostos de alunos ergueram-se para saber quem era. Não demorou muitos minutos para novamente abaixarem-se com ar derrotado à leitura de seus livros ou a escrita de trabalhos nos pergaminhos. Pareciam cansados, sem esperança.
Ignorou-os, logo caminhando para perto das enormes estantes, que, para seu completo alívio, pareciam intactas. Passava a ponta dos dedos, sentindo a poeira que se desprendia do material pouco usado. Uma sensação saudosista por alguns momentos dominou sua mente, mas que logo retornou aos reais afazeres. Da outra vez, conseguiu achar duas Horcruxes através dos livros, mas aquela estava sendo a mais chata de encontrar relatos.
Procurou pelos assuntos desejados, já formando uma pilha, como se era esperado de Hermione, e encontrando o lugar apropriado para uma leitura concentrada. Tudo estava indo perfeitamente bem, até um garoto decidir interrompê-la.
- De-descul... pe, senhora. M-mas já leu es... este livro? – ele perguntou indicando um dos livros que ainda não havia lido com um medo evidente. Ele devia estar fazendo um grande esforço para aquilo.
- Não. – respondera seca e com um olhar atravessado, fazendo-o suar mais friamente.
- P-pos-posso pega-lo por... por... por u-uns instan-tantes? – Hermione ficou intrigada com o porquê de ele estar tão obcecado pelo livro.
A curiosidade de Hermione venceu, enquanto virava a cabeça completamente na direção do garoto, que se encolhia. Sentiu toda a biblioteca ficar com um ar mais tenso enquanto fazia isso. Não conseguiu frear a vontade de observar as motivações do garoto.
De todas as tralhas retiradas da mente dele, naqueles poucos instantes de inspeção, soube a motivação. O garoto não tivera tempo de fazer o trabalho, ele precisava daquele livro, que tinha apenas um exemplar naquela ampla biblioteca, e o professor era extremamente exigente, assim se poderia dizer. A punição era severa e além da necessária com pirralhos da idade dele. Obviamente, ele acreditava que ela não poderia ser tão cruel quanto o professor.
O coração mole de Hermione não permitiria uma injustiça daquelas, mas sua razão dizia que não poderia cometer uma gafe ridícula. Comensais gostam de estraçalhar a vida alheia sem motivos e, caso ele existisse, ficaria mais divertido. O que fazer? Decidiu-se em pouco tempo.
Voltou-se ao seu livro, bufando, antes de falar.
- Sente-se aí, leia o que precisa e pare de me perturbar. – vendo a falta de reação do garoto, acrescentou em tom ameaçador – E faça rápido, antes que eu mude de idéia. – lançou outro olhar atravessado ao garoto, que decidira reagir sentando-se e pegando o livro, procurando rapidamente o que precisava.
“Deveria ter simplesmente ignorado, ignorado! Seria o mais sensato a fazer! Não posso ficar arriscando meu disfarce por simples pirralhos.”, refletia com um leve mau-humor por não ter conseguido domar seu lado emocional, enquanto continuava a ler.
Foi o único evento estranho daquele dia, assim como dos próximos quinze dias, onde fazia sua mesmíssima rotina. Já se acostumara a fazê-las. Cada ida à biblioteca mais rápida que a anterior.
Em mais um dia qualquer em que se encontrava ali com mais uma pilha de livros – começando a ficar levemente mais desatenta graças à chegada iminente do término de um mês e sem qualquer idéia brilhante para sua sinuca, pois perdia a hora dentro da biblioteca e já estava morta de sono ao chegar ao quarto –, percebeu novamente aquele ar de tensão no aposento. Passou-se apenas poucos segundos para sentir alguém ao seu lado. Mais um aluno não...
Ergueu os olhos, querendo demonstrar todo o mau-humor de ter novamente sido interrompida pela simples presença da pessoa. Ajudar uma vez era uma coisa, mas duas já era abusar da própria sorte. Iria mandar o pirralho se virar para achar algum outro livro do modo mais humilhante possível quando deparou-se com o próprio Lorde das Trevas a encara-la fixamente, abrandando quase imediatamente suas feições, mas contendo-as num ar indiferente e inexpressivo, antes que pudesse avançar para o choque do encontro inesperado.
- Bom dia, Lavransdatter. – ele disse em sua voz naturalmente gélida e cortante, mas ainda com aquele toque de cortesia.
- Bom dia, Milorde. – ela respondera ao cumprimento, sorrindo levemente – A que devo a honra?
- Muitos de meus comensais comentaram que a senhorita fica praticamente o dia inteiro dentro dessa biblioteca e me intriguei sobre seu interesse. – respondera com displicência, cruzando os braços, enquanto sentava-se no banco ao lado dela, com as costas para a mesa – Vejo que se interessa muito pela história bruxa inglesa. – ele comentou, enquanto levitava um deles até as mãos e analisava o título.
- Não tive oportunidade de ter acesso a tantos livros sem qualquer custo. E conhecer um pouco melhor a origem da cultura bruxa inglesa pode me ajudar a compreender o comportamento inglês e assim me portar melhor. – respondera na mesma displicência. Suas idéias estavam vindo em relâmpagos, parecia que estava ficando tão boa em conversas imprevisíveis quanto em reflexos em duelos.
- Parece que leva a sério o sábio ditado... “Conhecimento é poder.” – ele dissera, aproximando o rosto do dela. Tinha um tom mais sibilante e surgia um leve sorriso no canto de seus finos lábios ao terminar a frase. – Você é um caso muito intrigante, Lavransdatter. São poucos comensais que chamam meu interesse como a senhorita.
- Não vejo o que há de interessante numa comensal que se interessa por cultura estrangeira. – respondera no mesmo tom baixo, tomando expressões de incompreensão. Esperava que ele não tivesse percebido o tom quase imperceptivelmente defensivo com que falara aquilo.
- Diga-me, Lavransdatter, o que essa biblioteca significa para você. – ele perguntou, ou o mais próximo que obviamente ele conseguia chegar disso, de modo calmo e relaxado. Hermione não entendeu porque mudar de assunto tão rápido, mas era melhor não ficar indagando abertamente sobre isso.
- Fonte de conhecimento. – respondera com certa simplicidade.
- Acredito que a senhorita seja muito boa para fazer lógicas, então, quando se diz que conhecimento é poder... – ele inclinou levemente a cabeça, mantendo um ar levemente divertido.
- Uma fonte de poder. – respondera, impressionada, agora olhando para as estantes. Toda aquela disponibilidade de livros, conhecimento... poder, como ele dizia, e, no entanto, todos eram completamente submissos e pouco interessados naquela velha biblioteca. – Isso não seria perigoso? Deixar tanto conhecimento a mercê de qualquer um? – perguntou antes de conseguir se frear. Não podia acreditar que aquela biblioteca estivesse intacta!
- O verdadeiro poder é para poucos, Lavransdatter, pois eles não sabem onde encontra-lo. Não importa ter o feitiço mais forte se não souber onde usa-lo, assim como não adianta ter exímia habilidade se não discerne qual a melhor a se utilizar em cada caso. – nesse momento, ele voltou os olhos para uma mesa logo atrás – Conhecimento, na mentalidade desses jovens, é perda de tempo. Conhecimento, na mentalidade da maior parte dos meus comensais, é inutilidade. Por isso que eu digo: “Não existe ódio nem amor, apenas o poder e aqueles que são muito fracos para consegui-lo.” – ele voltara os olhos vermelhos na direção dela com um sorriso malévolo.
Mas ele se levantou, tornando novamente às expressões relaxadas – ou o que ela acreditava serem. Parecia ainda ter mais alguma coisa a dizer, apesar de não entender porquê ele disse tudo aquilo para ela. Ele teria julgado-a digna de confiança? Ah, aquilo estava mais complicado do que deveria ser!
- Encontre-me daqui uma semana em meu escritório, Lavransdatter. Tenho uma tarefa para lhe dar. Um comensal irá buscá-la, pois acredito que apenas descobrir o caminho para a biblioteca e o Salão Principal seja insatisfatório. – nesse momento, ele dera as costas, sem deixá-la ao menos falar qualquer coisa. – Boa leitura. – desejou, retornando o livro que pegara nas mãos à pilha e saindo tão silencioso e sorrateiro quanto adentrara no aposento. Próximo a porta da biblioteca, só percebendo-o naquele momento, Lacbel se encontrava estático, apenas movendo-se no momento que Voldemort passava, seguindo-o como um guarda-costas.
Hermione teve um pensamento ridículo naquele momento, mas que logo foi recriminado. Poderia jurar que, por alguns instantes, teve a certeza de ver uma versão maligna do próprio Dumbledore.
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