Capítulo sete.
Capítulo sete.
O Sol já ia alto no céu, mas nem toda a beleza daquele dia fez Marlene abandonar seus lençóis. Sabia que um dia teria que fazê-lo, mas que este fosse daqui a uns cem anos ou mais.
A noite mal dormida refletia-se em seus olhos, não fazia idéia de que podia se sentir assim. Se sentou na cama a contra-gosto agora que finalmente os raios de sol haviam encontrado uma brecha em sua cortina.
Devia ser uma brecha enorme pois a luz cegava-lhe os olhos. Tentou prestar atenção na imagem que se desencadeava na sua frente e só então notou sua criada que tentava chamar a sua atenção.
- Senhora, vosso pai retornou!
Não precisou a mulher lhe dizer mais nada, levantou-se de um pulo e arrumou-se numa velocidade que pensou não ser possível.
Chegou a tempo de ver os soldados que retornavam para suas casas. Desceu as escadas e ao aproximar-se do pátio central, viu seu pai, sorrindo vitorioso. Não pôde deixar de retribuir o sorriso, afinal ele retornou para casa vivo.
Assim que avistou sua filha, o rei Horace não soube o que pensar. Tantas coisas que tinha a lhe dizer, a primeira delas um pedido de desculpas, mas ao ver seu lindo sorriso angelical se sentiu verdadeiramente em casa.
Remus também a havia visto. “Linda!” pensou. Achou quase uma tolice o Sol tentar se comparar a ela. Ninguém tinha seu brilho. E como havia pensado antes, não via mais vestígios daquela tristeza que chegou a aflingir a sua mente. Foi interrompido ao sentir o corpo debruçado em seu cavalo se mecher.
Remus fez questão de trazer o príncipe desacordado sobre a sua montaria que sabia ser a mais agitada quando queria. “Lhe renderá ao menos uma boa dor nas costas” desejou maldoso.
Sirius sentia sua cabeça latejar. Parecia que tinha bebido litros e litros de alcool e agora estava com um ressaca daquelas. Tentou levantar a cabeça, mas qual não foi a sua surpresa ao descobrir que suas costas encontravam-se em um estado pior. Um gemido escapou de seus lábios.
- Ora, ora, ora... Vejo que acordou, sua alteza. Já estava na hora!
-Ai... Minha cabeça!
- “Ai... Minha cabeça!” Céus! Parece um bebê chorão!
Remus estava se divertindo com a situação do príncipe. O empurrou de seu cavalo fazendo ele cair nos cascalhos da entrada do castelo.
- SEU DESGRAÇADO!
Sirius nem ao menos pôde amortecer a sua queda com as mãos, estas estavam amarradas as costas.
- Que boca suja príncipe! Parece que andou faltando as aulas de etiqueta...
- E pelo visto você também primo!
Definitivamente aquela não era a voz que Remus esperava ouvir. Marlene ainda o olhava incrédula. “Como alguém pode se transformar tanto?” pensou. Era fato que seu humor mudava sempre, mas não mudava de caráter como seu primo parecia ter mudado.
- Marquês, creio que esses hábitos que adquiriu em Batávia logo deverão ser perdidos, enquanto isso tente não tratar mal nosso convidado. – O rei disse com uma expressão cansada.
- Só podes estar brincando! Tenhas certeza de que se eu tivesse sido convidado a vir aqui por qualquer um de vocês, eu teria dito NÃO no ato.
Sirius olhava para aqueles rostos até então desconhecidos. Com certeza a vida era muito irônica. Aqueles com quem agora troca farpas são os mesmos que defendia ainda ontem! Seu olhar percorreu cada rosto, mas se ateve a um.
A garota, que mantinha muito da infância em suas feições, não parecia combinar em nada com aquele cenário. Em meio a homens e cavalos sujos de lama, lá estava ela com suas roupas em tecido nobre.
Marlene olhou aquele que obviamente era um prisioneiro de guerra. Tinha algo nele que não se assemelhava aos trinovantes aprisionados que ela havia visto antes em Galía. Foi aí que ela se lembrou, seu primo o havia chamado de príncipe.
Ela mal conseguiu acreditar que aquele rapaz visivelmente descuidado era um príncipe. Sua face ruborizou ao perceber que o homem estava sem camisa. Nunca em toda sua vida havia visto um homem sem suas vestes. Nem seu primo Remus, este sempre mantinha-se vestido, assim como ela, ao banhar-se nas águas doces do rio ou salgadas do mar.
-Não tens vergonha? Estás sem vestes adequadas!
Lene falou atónita com aquele jovem que parecia incrivelmente a vontade com sua situação desagradável. Sirius agora se encontrava ajoelhado tentando soprar uma mecha de cabelo que insistia em cai em seus olhos. Notou que a garotinha falava com ele.
- Estás falando sério? Porque, se bem me lembro, eu estava feliz e tranquilo no meu castelo. Não esperava fazer um passeio tão agradável como este que fiz agora...
Sirius tentou usar o tom inocente que sempre irritava Régulos. Uma dura lembrança lhe veio a mente. Seu irmão estava morto e seu assasssino ainda estava respirando bem ao seu lado. Lançou-lhe um olhar de soslaio.
Remus agora estava se sentindo em casa. A princesa tornava tudo mais agradável, apenas com um comentário de pura inocência. Desceu do seu cavalo e quando ia cumprimentá-la sentiu um olhar em suas costas. Virou parte do tronco e deparou-se com um príncipe, que aos seus olhos, parecia mais um mendingo.
- Algum problema, vossa alteza?
- Nada que possa ser resolvido através de forças humanas.
Sinceramente aquele príncipe não parecia-lhe uma pessoa ajuízada. Continuou o encarando, tentando entender o que aquelas palavras significavam.
-Você é uma criatura muito estranha, Black!
- Estranho é vê um homem morto falar. ‘Será uma honra ser conhecido como aquele que silenciou para sempre essa sua maldita boca!’. Farei minhas vossas palavras Marquês.
Sirius continuou olhando para Remus exatamente como o via, um verme! Desprezo e uma raiva contida pôde ser sentida em suas palavras, mas ele não alterou sua expressão.
Não seria hoje e provavelmente amanhã também não, mas com certeza um dia conseguiria ficar satisfeito vendo a vida deixar aqueles olhos âmbar.
- É agora que devo temer pela minha vida?
O marquês tinha um ar presunçoso e isso muito agradava ao príncipe. “Será muito mais interessante matar alguém que confia tanto em sua espada.”, Sirius não conseguia parar de pensar nas palavras que aquele homem disse ao seu irmão. “Tão confiante...” Não pôde deixar de sorrir ao ver a cena da morte de seu mais novo e maior inimigo.
Aquele príncipe era assustadoramente estranho. Sorria como se a situação estivesse invertida e ele não mais fosse o prisioneiro. Talvez tivesse eliminado o príncipe errado. Remus ponderou depois de ver sua expressão de superioridade.
- O que irão fazer com ele?
Lene não conseguia parar de pensar que aquele jovem atrevido, assim como ela, deveria estar acostumado com tudo do bom e do melhor. Não precisava passar por essa provação, o fato de já estar longe do seu reino já era um castigo suficiente para qualquer um.
- Não sabemos ao certo... – O rei estava realmente cansado. – Jogue-o no calabouço até que eu consiga fazer minha mente funcionar direito novamente.
Várias reações seguiram essas palavras: Sirius sorriu sem humor, Remus sorriu satisfeito e Lene... Lene não sorriu de jeito algum.
- Papai! Ele é um príncipe, não pode trata-lo assim! – Lene estava chocada com as atitudes de seu pai nas últimas horas. O que havia acontecido com aquele senhor bondoso que velava seu sono a alguns dias atrás?
- Ele é um príncipe em Trinovante, aqui ele é um prisioneiro como outro qualquer. – Disse Remus, tentando manter a sua voz calma, a princesa lhe parecia muito motivada a defender os fracos e oprimidos esta manhã. – Não concorda que deve ser tratado como os de seu povo, Vossa Alteza?
- Concordo com o rei. Não há melhor lugar que o calabouço a essas alturas... Ao menos ficarei vislumbrando as paredes ao invés desta sua face descarada, Vossa Graça!
Remus riu com a resposta do príncipe. Certamente poderia dividir o seu tempo entre cortejar sua noiva, se encantar com a princesa e acabar com a pouca paciência que o seu prisioneiro real demonstrava ter. Sim, aqueles seriam dias interessantes...
[N/A: Por que eu insisto em colocar pessoas de caráter duvidoso nas histórias? Acho q é porque é divertido ser um pouquinho má... Remus é um pouquinho mau, mas no fundo, no fundo ele tem um bom coração! É isso aí. Bjuxxx e comentem!]
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!