Capítulo 3
A Aposta
Existem duas coisas que você precisa saber sobre um Maroto.
Primeiro, você pode (e vai) se apaixonar por ele.
Segundo, ele vai ser sempre um Maroto.
Capítulo 3
Estou na janela do dormitório, completamente insone. Lanço um último olhar para os jardins e vejo algo se movendo lá embaixo, próximo às estufas. Está escuro e é longedemais para dizer qualquer coisa sobre a pessoa. Subitamente vejo mais duas pessoas aparecendo... E outra e mais outra. O que diabos está acontecendo ali?
Os Comensais da Morte subitamente me vem à mente. Será que são eles? Abro uma gaveta e olho o Mapa do Maroto. Não são Comensais, mas são um equivalente: sonserinos.
Pego minha capa, saio do quarto e desço as escadas silenciosamente. Surpreendo-me ao encontrar Lily deitada num sofá lendo um livro qualquer com a luz da varinha.
- James? – ela pergunta. Parece sonolenta. Não posso evitar sorrir: ela me chamou pelo meu primeiro nome.
- Noite – disse eu. – Vi um movimento estranho de sonserinos perto das estufas. Você acha que pode ser?
Ela se pôs de pé num salto e veio se juntar a mim.
- Numa segunda-feira? – ela perguntou.
- É um bom dia, se você quiser evitar suspeitas – apontei.
Recebemos uma mensagem no começo do semestre que dizia que os aspirantes a Comensais da Morte poderiam receber uma missão dentro do castelo para se provarem dignos de serem escolhidos. Dava indícios de que haveria grupos organizados para isso e meio que nos ordenava que investigássemos e impedíssemos. Acreditamos que Dumbledore tenha escrito e algum elfo doméstico deixou no criado-mudo de Remus.
- Foi muita sorte você ter visto – disse Lily.
- É. Vou descer e investigar – anunciei.
- Vamos – ela me corrigiu, erguendo as sobrancelhas e fazendo seus olhos muito verdes brilharem.
Acho que ainda não descrevi Lily. Só uma informação ou outra, como a cor de seus cabelos, sua altura e seus olhos.
Bem, ela é linda. Tudo em Lily é harmonioso e suave, do nariz à boca, passando pela pele cheia de sardas clarinhas. Exceto os olhos, que são bastante profundos, de um tom verde-esmeralda. Quando ela está pensativa, ela faz uma espécie de biquinho muito charmoso que mexe de um lado para o outro. Quando está irritada, seus olhos cerram como duas fendas e ela enrubesce – essa expressão eu conheço bem. Quando ela está feliz, ela se ilumina e seu sorriso faz com que uma única covinha muito discreta apareça entre sua boca e a bochecha esquerda.
O cabelo é vermelho, meio alaranjado, brilha num tom de cobre no sol e balança quando ela se mexe de maneira tão hipnotizante quanto os de uma veela. E o corpo de Lily, bem, eu não deixei por último à toa. Ela é absolutamente sexy. Tem tudo na medida certa, peito, quadril, bunda... Não é gorda, mas também não é magra como as garotas que a gente vê por aí. O momento em que a acho mais sensual é quando abre os primeiros botões da camisa de uniforme no fim do dia, tira a gravata, deixando o colo cheio de sardinhas à mostra e solta os cabelos enquanto estuda no Salão Comunal.
Mais ou menos como ela está agora.
Depois me perguntam por que eu sou louco por ela.
Saímos do Salão Comunal e fomos caminhando sem muita pressa, as varinhas em punho.
- Como foram as férias? – ela quebrou o silêncio quando descíamos o primeiro lance de escadas.
- Foram ok. Passei a maior parte delas resolvendo os trâmites da herança. Depois eu e Sirius fomos visitar Remus. Peter não estava em casa quando fomos vê-lo. Fomos à praia também, mas só por três dias – respondi vagamente. – E as suas?
- Tudo normal. Minha irmã Petunianão implicou muito comigo. Só me pediu para agir normalmente perto do novo namorado dela, Vernon.
- Agir normalmente?
- Digamos que ela me chame de aberração e me esconda de todos os seus amigos – explicou. – Mas eu não me importo. Não mais.
- Isso me soa a inveja – falei.
- É, acho que tem um pouco disso, sim. Além do mais, bruxaria não é algo exatamente positivo no mundo trouxa.
- Espere até ela me conhecer.
Ela sorriu. Ficamos em silêncio por mais alguns minutos.
- James, eu... – ela disse de repente, quando já alcançávamos o segundo andar.
- Sim?
- Eu estava pensando... – Ela limpou a garganta. Eu senti meu corpo todo vibrar em expectativa. – Talvez você e Sirius quisessem cear na minha casa no Natal – ela falou. – Quero dizer, se vocês quiserem... Fica o convite.
Eu sorri. Ela está preocupada com a ausência da minha família no Natal. Eu mesmo já tinha pensado nisso várias vezes, sem realmente chegar a concluir coisa alguma. Não posso evitar um pouquinho de decepção, tinha imaginado um milhão de coisas que ela poderia querer me dizer.
- Obrigado, Lily – agradeci. – Tenho certeza de que Sirius vai concordar.
- Ok – ela murmurou.
Durante o resto do caminho fiquei imaginando como seria cear na casa dela, com a família dela. Como seria ser oficialmente apresentado como seu namorado. E como seria divertido irritar a irmã dela.
Os pensamentos foram desaparecendo da minha mente à medida que nos aproximávamos das estufas. Saímos no ar frio da noite e Lily começou a andar mais lentamente, hesitantemente.
- Pela direita – murmurei, imaginando que ela não soubesse o caminho.
Ela concordou com a cabeça, sempre olhando para frente. Foi quando entendi. Parei de andar e ela também parou, achando que eu tinha visto algo.
- Se você quiser voltar, não tem problema – disse a ela, ainda mantendo a voz baixa.
- Eu vou – respondeu.
- Talvez o Ranhoso esteja lá – decidi falar claramente. – Fazendo algum tipo de ritual de iniciação ou simplesmente praticando magia negra. Você não precisa ver nada disso. Eu prometo que conto tudo quando voltar.
- Seve-Snape não tem a menor importância pra mim – ela disse, ainda sem me olhar.
Ninguém pode me culpar por sentir uma profunda satisfação em ouvir isso. Mas é claro que vou bancar o cara legal.
- Vocês eram grandes amigos – falei. – Depois de tudo o que aconteceu, deve ser difícil pra você.
Ela não disse nada. Bem, chega do cara legal.
- Se bem que, se você for, podemos mostrar as cuecas encardidas dele aos seus amigos comensais...
Um sorriso surgiu em seus lábios e ela meneou a cabeça. Seus olhos finalmente encontraram os meus e fiquei satisfeito em ver que ela não estava triste.
- Você não existe, James. Anda, eles devem ter ido para a Floresta Proibida.
Concordei com a cabeça, era o lugar perfeito. Não que eu desgostasse de lá, como cervo, podia ser bastante divertido. Mas ninguém discordaria se eu dissesse que a Floresta é o local mais sombrio de Hogwarts.
- Varinha à mão? – ela perguntou.
- Claro.
Seguimos em silêncio até as estufas. A partir dali, teríamos que adivinhar o caminho que havia sido feito.
- Está ficando escuro – ela murmurou.
Estávamos nos distanciando das luzes do Saguão de Entrada. Agora algumas poucas luzes vindas de janelas altas iluminavam nosso caminho.
- Acha que podemos usar Lumus? – ela perguntou.
Concordei. Agora com as duas luzes de nossas varinhas, contornamos a última estufa. Não havia onde nos escondermos ali, era uma área plana e a árvore mais próxima era uma das faias que ladeavam o lago da Lula Gigante. Segurei seu braço para que não avançasse e tirei a capa do bolso.
- Talvez seja um pouco pequena – disse eu. – Mas se andarmos...
Lily, no entanto, já estava estendendo a capa sobre nós dois e sorrindo enquanto sentia sua textura suave.
- Mérlin, não acredito que você tem uma capa da invisibilidade – ela sussurrou.
Fiquei alguns segundos observando sua expressão fascinada.
- Herança de família – informei.
- Algum dia você vai parar de me surpreender, James Potter? – ela sorria como um garoto diante de seu ídolo no quadribol.
- Eu espero que não – respondi sinceramente. – Nox!
Agora sem luzes, caminhamos lentamente em direção à floresta. Depois de quase vinte minutos procurando, encontramos uma trilha à beira da floresta, um lugar onde as folhas secas estavam mais pisoteadas. Havia também um papel de bala da Dedosdemel ali.
- Melhor eu ir na frente – murmurei.
- Juntos – ela disse, segurando o meu braço.
Não era uma boa hora para discutir. Poderíamos ser pegos de surpresa e na escuridão silenciosa da floresta cada som que fazíamos era como o rugido de um trovão.
- James – ela sussurrou.
Olhei na direção em que apontava, era Hagrid. Ele caminhava ao lado de um imenso gato, parecia conversar com ele.
- Hagrid conhece bem a floresta – ela tornou a sussurrar.
- Ele nos mandaria voltar para o castelo, pediria que procurássemos Dumbledore – falei. – Não quero mais esperar o aval de ninguém para agir, Lily. O mundo está desabando à nossa volta, não temos tempo para pedir permissão.
Ela concordou com um aceno.
O ar da floresta era mais frio e parado. Senti meus pelos se arrepiarem e Lily procurou minha mão, apertei a dela para que se sentisse mais segura, mas não creio que tenha sido muito eficiente.
Seguimos a trilha devagar para que não tropeçássemos em uma raiz ou coisa parecida, acendendo e apagando as pontas das varinhas para nos certificarmos de que ainda estávamos no caminho certo. Não encontramos animais durante o trajeto, mas ouvimos sons de passos. Imagino que tenha levado uma hora para finalmente ouvirmos vozes, mas imediatamente depois de as ouvirmos, elas silenciaram.
Lily soltou-me, passando sua varinha para a mão direita. A idéia era que apenas tentássemos ouvir qualquer coisa que pudesse nos interessar, mas se precisássemos lutar, estaríamos prontos.
- Ele está aqui – disse uma voz que não consegui identificar.
Lily congelou ao meu lado.
- Não vejo coisa alguma – disse uma voz feminina suave, cuja dona acendeu a ponta da varinha e mostrou estar a cerca de trinta passos de nós, numa pequena clareira.
Naquele momento percebi o quanto havia sido imprudente virmos aqui. Tinha colocado Lily em perigo.
- Potter tem uma capa da invisibilidade – a voz de Snape me fez travar os dentes. – Pode ter emprestado.
- Nesse caso, Accio Capa da Invisibilidade – tornou a garota de voz suave.
Fechei meus dedos sobre a capa para impedir que ela se fosse, felizmente o tecido sequer balançou diante do feitiço. Exalei com força e senti Lily relaxar ao meu lado. Minha mente trabalhou desesperada tentando encontrar uma saída.
- Vamos lá, lobinho – cantarolou a garota e algumas pessoas riram dela. Lobinho? Ela achava que éramos...? – Não precisa se esconder de nós.
- Não pode se esconder de nós – corrigiu um cara de voz rouca.
- Temos a noite toda – a garota voltou a falar.
Ficamos quietos. Por alguns segundos quase não ouvi uma respiração que fosse, não consegui sequer pensar no fato de que precisávamos sair dali imediatamente. Tudo o que me vinha a mente era que o bilhete havia aparecido na cômoda de Remus. Ele era esperado ali.
- Era uma armadilha – sussurrei e Lily me olhou assustada. – Eles armaram toda essa história. O bilhete não era de Dumbledore, era deles. Queriam pegar Remus.
Foi quando aconteceu. Talvez eu tenha sussurrado alto demais, talvez tenhamos deixado alguma parte de nossos corpos descoberta. O fato é que num instante eu dizia Remus e no outro eu voava para trás em direção a uma árvore depois de ser atingido na barriga por um feitiço qualquer. Procurei imediatamente por Lily, mas não podia enxergar nada. Tateei buscando meus óculos, vi um raio vermelho embaçado cortar o ar a alguns metros.
- Devia tê-la desarmado, seu idiota – gritou a garota, a voz bem menos suave agora. – Deixe que eu cuido da sangue-ruim, Snape. Ela tem que aprender a não se meter onde não é chamada.
- Não – contestou Snape.
Houve um estampido e um baque; eu soube que Snape havia sido atingido por defender Lily.
E então, como que por reflexo, eu agi. Num minuto estava sentado no chão e no outro eu estava com os óculos no rosto e a varinha em punho. Corri, escondendo-me atrás de um carvalho e acertei um deles com um feitiço estuporante.
- Quem está aí? – disse o garoto de voz rouca. – Junte-se a nós. Pretendíamos fazer churrasco de lobo, mas vamos ter de nos contentar com sangue-ruim.
Apertei minha varinha com força.
- Acenda a maldita fogueira – ordenou Macnair, um garoto da Sonserina que eu conhecia do quadribol. – Não consigo ver nada.
- Incendio! – disse alguém.
Na clareira um imenso fogo se elevou, tudo se iluminou. Pude ver algumas caras conhecidas, mas nada de Lily. Tornei a me esconder, irritado.
- Acho que o outro foi embora – disse Macnair.
- Vê, sangue-ruim? – perguntou a garota. Aparentemente ela era a única menina ali. – Seu companheiro covarde a deixou para nós. Quem estava com você? O lobisomem?
Lily não respondeu. Eu desejei que falasse, para que eu soubesse ao menos a direção em que ela estava.
- Não vai dizer nada, sangue-ruim? – perguntou a garota e eu finalmente senti a irritação tomar conta dela. - Você não vai agüentar manter esse feitiço por muito tempo. E quando sair daí vai sentir minha ira e a do Lorde das Trevas.
- Vou procurar o outro – informou o garoto de voz rouca. – Vem comigo, Snape?
- Macnair vai com você – disse Snape. – Vou ficar aqui.
- Não pense que vai me impedir de castigar sua amiguinha sangue-ruim, Snape – disse a garota com seriedade.
- Não pretendo ajudá-la. Só quero estar aqui para assistir – ele respondeu e eu tive vontade de matá-lo.
- Você está finalmente aprendendo, Snape – ela disse com satisfação. – Lewis, Macnair, vão.
Os dois vieram andando na minha direção e tive de correr para trás de outra árvore para que não me vissem. Do meu novo lugar pude ver o rosto de Snape olhando em volta como se procurando algo apavorante.
Ainda não podia ver Lily, então tentei me aproximar. Havia alguns arbustos à minha frente e me abaixei para ficar oculto por eles. Meu movimento não passou despercebido.
- É Potter – alguém anunciou e eu praguejei alto.
- Tem certeza disso? – questionou Snape.
- Tenho.
- Vou pegá-lo – disse Snape, avançando em minha direção.
- Ele não vai a lugar nenhum sem a sangue-ruim – disse a garota, retomando seu tom suave. Fazendo Snape parar de andar. – E ela não tem para onde fugir. Veja só o feitiço já está enfraquecendo.
Ela estava irremediavelmente certa sobre mim, claro. Eu sairia dali com Lily ou sairia morto. Mas o enfraquecimento do que quer que protegesse Lily me preocupou.
- Venha aqui, Potter – disse a garota. – Não vamos machucá-lo, só queremos conversar. Você sabe que não representamos perigo para pessoas como você.
Decidi dizer algo. Ir até lá era a única forma de encontrar Lily.
- Acho que representam, sim – respondi, atento a seus passos escorregadios.
- James, fuja – eu ouvi Lily dizer, parecia ofegante.
- Cale a boca, sangue-ruim maldita! – ordenou a garota e pude vê-la se virar para um conjunto de pedras negras atrás da fogueira com a varinha em punho. – Você vai se arrepender por ser tão audaciosa!
Ela lançou feitiços sobre Lily, que gemeu.
- Por quê? – falei alto, erguendo-me de trás dos arbustos, chamando sua atenção. Havia mais quatro pessoas com ela: Snape, um garoto muito alto e magro, o sonserino Avery e o cara desacordado por meu feitiço estuporante. – Por que você acha que não representa perigo para mim?
- Ora, você é sangue-puro – ela disse com simplicidade e eu contornei o arbusto, caminhando em sua direção. – O Lorde das Trevas apreciaria sua adesão ao seu exército. Você seria valiosíssimo nas mãos dele.
- E o que eu ganharia com isso? – continuei, tentando ganhar tempo.
- Obviamente nada seria mais precioso do que a chance de lutar ao lado do Lorde, mas se realmente deseja saber, ele pode nos dar o que quisermos.
- Qualquer coisa? – perguntei.
- Bellatrix, Potter é traiçoeiro – Snape falou para ela, mas olhava diretamente em meus olhos. – Ele certamente tem um plano para salvar Li... A sangue-ruim e escapar com ela.
Pela primeira vez eu lamentei o fato de Snape estar errado. Eu não tinha plano algum, não conseguia pensar em nada.
- Ele não tem tempo de pensar nela. Está pensando em tudo o que o Lorde das Trevas poderia lhe dar. Em como sua vida seria melhor junto à causa dele – murmurou a garota. Percebi logo que sua crença de que a oferta do Lorde das Trevas era irresistível seria minha maior aliada. – Imagine, Potter, todo o mundo bruxo e todos os trouxas nojentos sob seus pés.
- Senhorita, eu insisto – tornou a falar Snape. – Potter deve ter algum plano. Ele odeia o Lorde das Trevas, não acredita em sua causa. Deve estar – e naquele momento Snape olhou-me profundamente, falando de forma incisiva. – Deve estar planejando fugir usando suas vassouras.
Aquilo me alertou de imediato. Eu começava a entender seu recado, Snape estava me dando o plano que eu não tinha para salvar Lily. Odiei a idéia de aceitar sua ajuda, mas soube que talvez fosse a única forma de escapar dali.
- Talvez fosse melhor tirá-las de trás das rochas – disse Snape. – Talvez fosse melhor dominarmos...
- Cale-se, Severo – ordenou ela. – Não vê o quanto pessoas como ele são importantes para o Lorde das Trevas? Dinheiro, pureza, influência no Ministério. Os pais dele morreram lutando por uma causa perdida. – Ela voltou a virar-se para mim. – Potter, seus pais ficariam felizes se soubessem que você não cometeu o mesmo erro que eles.
- O que você sabe sobre meus pais? – perguntei, aproximando-me. Na verdade meu corpo ardia de ódio enquanto ela falava de meus pais, mas foquei-me em Lily. Eu finalmente podia vê-la, abaixada em um abrigo entre as pedras, mantendo a todo custo um feitiço de proteção.
- Ah, Potter, eu estava lá – ela sorriu. – Eu os vi serem torturados e mortos. Não quiseram dizer nada sobre a Ordem, não se renderam. O Lorde tinha bons planos para eles. O Lorde tem bons planos para todos nós. Principalmente um garoto talentoso como você.
- E quanto a Lily? – perguntei, finalmente prestando atenção nela. Meu plano finalmente estava pronto.
- Para ela, não, Potter. Ela não é digna da mágica. O poder não está em seu sangue, em suas raízes. O poder está em pessoas como eu e você. Mas a vida dela pode ser poupada.
- E Remus? – perguntei.
- Lupin é um mestiço amaldiçoado, Potter – ela respondeu com condescendência, como se sentisse pena da minha ignorância. – É um monstro, uma criatura vulgar, também não tem direito ao poder. Nem a viver.
- O que vocês fariam com ele? – perguntei, tentando parecer interessado.
- Breve Macnair e Lewis vão voltar – Snape lembrou-me e vi que deveria fugir antes disso, ou poderia ser impossível.
Nesse momento houve um som baixo e vi o feitiço de Lily finalmente cessar. Ela estava desprotegida.
- Posso lhe mostrar – disse Bellatrix, sorrindo simpaticamente para mim.
No momento seguinte Lily se contorcia sob o efeito da maldição da tortura. Seus gritos se perderam entre as árvores, mas ficaram entranhados em meus ouvidos, junto com sua expressão de dor.
- É uma das minhas preferi... – ela começou a dizer, mas eu a calei com um feitiço estuporante.
Escapei das azarações dos outros dois por pouco e comecei a duelar com Avery depois que o cara alto caiu desmaiado pelo feitiço inesperado de Snape. Quando tinha finalmente vencido com um azaração petrificante e um feitiço estuporante, senti uma forte dor na barriga. Cheguei a pensar que Snape ou a garota haviam me lançado Crucio quando caí de joelhos.
Snape abaixou-se ao meu lado, seus olhos gélidos me censurando.
- Fuja com ela antes que os outros voltem – ele ordenou.
Senti ódio. Eu não acatava as ordens dele. Além disso, não era como se eu não quisesse fugir dali, a dor era o que me impedia até mesmo de me manter em pé. Snape finalmente pareceu perceber.
- Deixe-me ver – falou.
Ignorei-o.
- Deve ser o feitiço – lembrei-me de ter sido acertado mais cedo. Parecia que havia séculos desde que eu tinha visto aqueles sonserinos perto das estufas.
Levantei a camisa e lá estava uma mancha preta que parecia se expandir diante da luz do fogo crepitante. A dor estava ali, na pele, fazendo-me sentir como se milhões se explosivins me ferroassem.
- Que diabos... – comecei a falar, mas Snape me calou quando ergueu sua varinha.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, a mancha começou a diminuir e, com ela, a dor. O maldito estava desfazendo uma magia negra qualquer.
- Pronto, isso vai impedir que cresça, mas você deve procurar Madame Bragstong amanhã se não quiser voltar a sentir dor – falou. – Agora vá.
Irritado, mas incapaz de discutir, me levantei e fui até Lily, ainda escondida em seu reduto entre as pedras.
- Venha, Lily – falei. – Vou tirá-la daqui, venha.
Ela passou seus braços por meu pescoço e eu a abracei, ajudando-a a se por de pé. Convoquei as vassouras e escolhi a que parecia mais nova, um modelo do ano passado. Coloquei-a de lado sobre a vassoura e montei, passando os braços em torno de seu corpo para mantê-la segura enquanto nos guiava.
- Potter – chamou Snape e eu o fitei. Estava agachado ao lado de Avery, fazendo o que reconheci ser um feitiço de alteração de memória. – Me espere terminar com eles e me estupore.
Tão logo ele disse “pronto”, eu já o havia deixado desacordado e ganhava os ares rapidamente. Não tinha noção do quanto havíamos avançado na floresta e me surpreendi ao ver o quanto as luzes de Hogwarts pareciam distantes.
- Obrigada – Lily disse, olhando-me.
- Tudo bem com você? – perguntei. A imagem dela sendo torturada ainda não tinha saído da minha cabeça.
- Estou bem – respondeu, tirando os cabelos que o vento trazia para seu rosto com cuidado. – Graças a você. Você está bem?
- Nunca estive melhor – garanti, dando um sorriso fraco, o melhor que consegui.
Ficamos em silêncio mais alguns segundos. Estávamos seguros ali, não vi necessidade de voarmos rápido.
- Me desculpe – ela disse de repente.
- Pelo quê?
- Eu... Eu realmente achei que você tinha ido sem mim – Lily falou e eu a fitei. – Parecia que fazia muito tempo que eu estava evitando os feitiços com aquele escudo, você não tinha aparecido...
- Tudo bem – disse a ela. – Se você me desculpar por trazê-la para essa armadilha.
- Eu quis vir – ela afirmou impaciente. – Pare de assumir a responsabilidade e me escute. James, eu sofri com a idéia de você ter me deixado, mas sofri ainda mais quando o vi ali, na mira de todas aquelas varinhas.
Quase que inconscientemente, parei de voar. Ficamos planando sobre a floresta, o céu estrelado era a única coisa acima de nós, a única testemunha daquelas palavras. Lily acendeu a luz de sua varinha e eu olhei seu rosto sujo de terra, seus cabelos bagunçados pelo vento... O quanto era possível amar uma pessoa?, pensei.
Sussurrei um feitiço para limpá-la e baixei minha varinha. Meus olhos fixos nela, obviamente sedento por ouvir mais.
- James – ela disse finalmente. – Talvez seja tarde demais. – Abri a boca para dizer que não, mas voltei a fechá-la quando ela continuou. – Mas eu quero que você saiba o quanto eu o admiro. Não apenas por hoje, mas pelo modo como você pode ser sério, doce, engraçado, bobo e sensível, tudo ao mesmo tempo. Você se tornou uma pessoa tão incrível, James, tão fiel e verdadeira que foi impossível não me apaixonar por você.
Deixei aquelas palavras flutuarem no ar, incapaz de permitir que escapassem de minha mente.
- Como eu disse – ela tornou, olhando para o céu. – Talvez seja tarde demais. Mas eu gostaria de aceitar um convite seu para sair. Não aquele bobo e repetitivo, nem aquele do garoto estúpido e prepotente que você deixou de ser. Eu gostaria de aceitar o convite do homem que você se tornou, do homem por quem me apaixonei.
- Lily – foi tudo o que eu consegui dizer diante de seu olhar determinado e claramente temeroso. Como ela podia pensar que eu diria não? Como ela podia cogitar que eu não a quisesse? Só se eu estivesse louco, completamente fora de mim...
Fora de mim. E se fosse isso? E se ela estivesse assustada por tudo o que aconteceu, grata por eu tê-la salvado? Ela havia acabado de ser torturada, há casos de pessoas que enlouquecem sob tortura.
- Não quero parecer desesperada, mas você poderia dizer alguma coisa – ela disse, baixando a varinha e tirando a iluminação de seu rosto.
Segurei suas duas mãos juntas.
- Lily, você acabou de passar por um grande trauma. Talvez devesse pensar antes de tomar uma decisão...
Antes de me machucar, de criar falsas esperanças, acrescentei para mim mesmo.
- James, eu não passei a sentir isso hoje – ela disse, olhando-me como se fosse eu que houvesse enlouquecido. – Hoje eu simplesmente percebi que não devia perder tempo temendo que seu interesse estivesse perdido. Que o novo Potter jamais quereria a velha Lily. O mundo é outro, agora, e nós devemos estar com quem gostamos antes que seja tarde demais. Não quero perder a chance de estar com você.
Aquilo fez um vago sentido na minha mente.
- Você não é a mesma velha Lily – eu falei, sério. – A velha Lily achava que estava sempre certa. Ela não tinha muitos amigos, nem acreditava precisar ter. Ela era orgulhosa... A nova Lily às vezes ainda é. Exceto depois de passar por grandes emoções ou de ser torturada.
Ela sorriu.
- A velha Lily era ingênua e fraca. Você não é mais essa garota, Lily. Você é forte, sabe o que quer, saberia se defender de qualquer coisa e... É linda.
- James – a voz dela me chamou.
E o modo como se aproximou de mim, soltou minhas mãos e puxou meu rosto de encontro ao seu não é algo que eu seja capaz de descrever. Era cheio de carinho e suavidade. E eu esperei passar o mesmo para ela quando toquei seus lábios e a puxei para mais perto de mim, entrelaçando minha mão direita à esquerda dela.
Subitamente eu sabia que mágica não era nada perto daquilo. O que estava acontecendo ali era, para mim, muito mais sagrado e poderoso que qualquer feitiço ou poção. Eu jamais a teria deixado para trás, porque o que eu sentia ultrapassava qualquer loucura ou covardia. Eu não a deixei para trás porque não havia nada adiante sem Lily Evans.
Deixei seus lábios macios somente quando quase caíamos da vassoura. Assim que tornamos a nos equilibrar, ela disse, olhando para baixo:
- Céus, estamos muito alto.
- Melhor irmos andando – falei. – Está ficando frio aqui.
Ela concordou e fechou os olhos mais uma vez antes de receber um novo beijo meu e sorrir.
- Você não imagina o quanto estou feliz – ela disse. – O quanto você é capaz de me fazer feliz.
Sorri. Talvez algum dia o resto do mundo tivesse a sorte que tenho.
- Você sabe que vou ter que contar ao Sirius que você me chamou para sair, não é? – perguntei.
Depois de tanto tempo ouvindo dele que Lily não queria nada comigo e que eu era um idiota por não desistir dela, eu precisava dizer a ele como ela mesma havia me chamado para sair. Certo, tecnicamente ela não havia me chamado para sair, mas ninguém precisava saber dos detalhes.
- Eu mesma poderia contar – disse a ruiva com um olhar travesso
- Ele certamente acharia que está enfeitiçada – garanti.
Ela riu. Sua risada era música para meus ouvidos.
Abracei-a, servindo de apoio para seu corpo, e voltei a guiar a vassoura para o castelo. Entramos pela janela do Salão Comunal da Grifinória em silêncio. Sirius, Remus e Peter estavam lá, aflitos.
Contamos tudo a eles – pelo menos até quando voamos de volta para o castelo. Não era o momento certo para dividir o que acontecera depois com eles, de alguma forma manter segredo parecia tornar tudo mais real.
Enquanto meus amigos xingavam os sonserinos e reclamavam aos brados que eu os havia tirado dessa aventura e que isso havia sido extremamente egoísta, me permiti deixar que as lembranças de Lily tomassem conta de mim. Cada palavra que trocamos desde nossa infância até alguns minutos antes, quando ela disse estar apaixonada por mim.
Não pude evitar perceber que, mais uma vez, aquela ruiva transformara uma das minhas piores noites na melhor de todas.
N/A: Gente, to em crise. Eu fiz uma N/A gigante! e o surtou e eu perdi ela inteira! Vou tentar lembrar o que escrevi.
Primeiramente, oi! Espero que estejam todos bem. Cheguei no prazo combinado e estou postando um capítulo com gostinho de despedida.
Pois é. Sabe quando você para de ler o livro no final, só pra ele não acabar logo, mesmo quando você tá doida pra saber o fim? É assim que eu me sinto. Eu me afeiçoei a isso aqui e nem acredito que acaba no capítulo que vem, que tem menos de uma página. 'Tava pensando em continuar, com algumas lembranças em flashback como nos dois primeiros caps, meio que em fluxo de consciência, como me vier a mente. Talvez algo narrado pelo Sirius, pelo Remus, pelo Pete ou pela Lily. O que vocês acham? To em crise com isso também.
Gente, eu amei tanto as reviews dessa vez! Vou responder todas, como sempre faço, e agradecer também a galera que favorita e acompanha a fic, mesmo sem comentar nada.
Yuufu: Sua resposta anterior tinha mil linhas, era maior que a N/A. Vou tentar sintetizar dessa vez pra você não dormir e poder dar sua review. Eu acho que disse que detesto o Snape desde sempre porque ele não tem lá um bom caráter. Porque ele foi seduzido pelas artes das trevas. Porque ele é mau, egoísta e se acha. Principalmente, porque ele é tão mesquinho que quando Voldemort disse não ao seu pedido, ele largou sua causa! Nisso fã da Bellatrix, sabe, eu acho que se você tem um ideal e acredita nele, tem que ir até a morte, como James e Lily. Agora se você desiste, independentemente do que os outros acham do seu ideal, você é muito fraco de caráter. Sobre os personagens perfietos, eu os detesto. Acho que é por isso que desencantei de Crepúsculo. Noossa, aquela Bella sonsa (e perfeitinha) e aquele Edward cachorrinho (e perfeitinho) me deram nos nervos. Eu já tinha fugido com o Jake há muito tempo. Fala sério. Agora, entrando no universo da fic, fico muito feliz que você tenha sacado o quanto o James erra (o que eu inspiro no Harry, que era um grande 'errador'). E quanto ao resumo, foi algo meio que pouco premeditado, mas que eu adorei. Não deixa de ser verdade, não é? Sirius, Remus, Peter, eles nunca deixaram de ser marotos. James também não teria deixado. Acho que é isso. Muito obrigada e deixe sempre reviews mega grandes ou, como diz a minha irmã de coração, GROPESCAS. Um beijo!
Kaah~: Então! Eu juro por tudo o que é mais sagrado no UNIVERSO que esse cap já tava escrito antes de você pedir um confronto. Não deve ter sido o que você queria, né? Foi mais um monte de sorte e mais erros do nosso amado James. Mas se eu for continuar a fic com os flashbacks eu provavelmente farei mais confrontos, ok? Eles enfrentaram Voldemort três vezes, tem muito material pra usar. É, eu insisto em seguir os livros, mas é mais forte do que eu, assim eu me sinto mais dentro do vazio que HP deixou. Gostou do cap? Ah, você gosta de UAs? Vai descobrir ali embaixo o porquê da pergunta! Adorei sua review! Obrigadaaa! Um beijo!
Flor Cordeiro: Hey! Bem feito pro Severus, mesmo! Mas já pensou se a Lily tivesse ficado com ele? Harry não teria cabelos arrepiados, mas oleosos!! E usaria óculos!! A Ginny não ia gostar. Não mesmo! Hehe. Obrigada pelo carinho! Um beijo!
zihsendin: Aaaah, você se emocionou com a morte dos pais dele? Foi uma coisa interessante. Quando eu escrevi, nem pensei em por drama nem em fazer chorar. Mas o efeito foi recorrente! Obrigada! Beijoooo!
É isso! Semana que vem posto também o primeiro cap de A Senhora dos Mares, ok? A UA do tempo da pirataria de que comentei. Adoraria ver os comentários de vocês lá. No próximo post dou mais informações... E o fim.
Amor,
Dana
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