Hogwarts

Capítulo 1

Hogwarts

 

Tudo parecia ter começado quando eu tinha apenas dezesseis anos, ou ao menos era isso que eu sempre acreditei.

Minha vida não fora exatamente feliz quando eu estive com Sirius. Na verdade, podia-se dizer que era uma vida feliz, mas absurdamente teimosa – a teimosa, no caso, era eu mesmo. Mas, para chegar a Sirius, eu teria que começar do começo.

Eu cresci com meu irmão cuidando de mim. Meus pais morreram quando eu ainda era bebê. Arktos tinha apenas treze anos quando isso aconteceu. E eu digo que foi meu irmão quem cuidou de mim, pois é assim que me sinto, embora a gente tivesse ficado por cinco anos com minha tia Françoise, na França. Mas quando Arktos completou dezessete anos, a maioridade bruxa, e consequentemente terminou os estudos, nos mudamos para a Inglaterra.

Ele estudou aqui, na Inglaterra mesmo. Ele já estudava em Hogwarts antes dos meus pais morrerem e minha tia achou melhor não tirá-lo de lá, com ele tendo vários amigos.

Meus pais deixaram uma casa para nós, onde morei minha vida toda – fora, é claro, os cinco anos que vivi com minha tia Françoise. Koira, meu pai, não permitiu em testamento que vendêssemos a casa. Ele não deu motivos para isso, mas a vontade dele foi respeitada. Eu adorava a casa. Ela era grande e me dava espaço suficiente, já que Arktos parecia gostar de me prender por aqui junto da minha babá. Eu sabia que ele era bem explícito quanto a isso, pois o flagrei conversando com ela, uma vez.

– Não permita que Ariadne saia de casa sozinha, Sra. Morgan.

Ele fora bem redundante quanto a isso. Sentia-me sufocada, às vezes, mas o imenso jardim parecia compensar. E Elizabeth Morgan também era uma boa mulher, tanto é que, quando eu tivesse uma filha, gostaria de dar o nome dela.

Elizabeth fora uma mãe para mim. Ela cuidava de mim com tanto carinho que me emocionava, embora nunca mostrasse para ela diretamente. Como dizia Arktos, eu era arredia. Tão arredia como, bem disse antes, teimosa.

Teimosia era uma das minhas qualidades que sempre irritaram muito meu irmão.

Meus pais foram assassinados quando eu era bebê. Arktos nunca me disse como, mas eu percebia a dor nos olhos dele quando o fazia lembrar-se disso. E eu sempre agia feito uma adolescente imensamente teimosa e egoísta quando queria tirar algo dele acerca da morte dos meus pais. A gente brigou no dia anterior a que eu regressaria à minha escola de magia por causa disso. E sentada aqui na única cabine vazia que encontrei no Expresso de Hogwarts, não consegui segurar minha mente para a briga de ontem.

Ele estava me ajudando a arrumar minhas malas. Havíamos chegado da França há dois dias, onde passamos as festas de fim de ano na casa da tia Françoise. Ah, sim, tia Françoise também tinha uma filha, Aimeé. Uma grande amiga. A gente sempre cavalgava juntas quando eu ia até lá, nas férias de verão. A maior parte do tempo conversávamos sobre garotos. Ela tinha um total fascínio por um primo nosso em comum que às vezes visitava a mãe dela. Mas depois falo mais de Aimeé.

A questão é que Arktos foi me ajudar com minhas coisas. Não tinha muito, então a maior parte do tempo ficamos conversando no meu quarto. O problema é que eu não aguentava mais aquele silêncio dele acerca dos meus pais. Por todos os santos, eu já tinha dezesseis anos, não era uma criancinha que deveria ser poupada o tempo todo!

A conversa, ou briga, começou quando eu peguei um porta-retratos que tinha uma foto de meus pais, Arktos e eu segura em seus braços.

– Quando você vai me contar? – perguntei num sussurro para que não parecesse petulante demais. Na verdade, minha vontade era encará-lo tão irritada quanto eu estava por dentro.

– Sobre o quê? – ele retorquiu sem entender.

Eu apenas virei o porta-retratos para ele. Se o olhasse, Arktos com certeza veria a petulância em meus olhos. Porém apenas o retrato serviu para tirá-lo do sério.

– Não vou falar disso, Dina.

A censura na voz dele foi como um estopim, mas eu ainda respirei fundo.

– Por que não? – perguntei tentando me acalmar. – Eu não sou criança, Ark, não mais. E sou capaz de superar como nossos pais foram assassinados.

– Eu não vou te contar. Ponto.

– Eu tenho total direito! Você sabe disso! Eles também eram meus pais! – eu já estava gritando no final.

– Eu não estou dizendo o contrário – Arktos parecia estar rosnando para mim.

Ótimo. Eu também sabia rosnar. E se ele quisesse, eu até morderia!

– Eu sei que você pesquisou, foi atrás de alguma informação. Mesmo você falando que não sabe de nada, que ficou escondido, eu sei que você fez algo sim!

– Eu não cheguei a pesquisar muita coisa, se você quer realmente saber.

– Mas eu sei que você estava lá.

Ele ficou de costas para mim, tentando se acalmar. Éramos dois pavios curtos, eu sabia, mas independentemente de quem estourava, era sempre Arktos quem primeiro se acalmava. Então não foi diferente dessa vez.

– Eu não vi muito, Dina – ele suspirou e eu senti novamente a dor na voz dele. Ele parecia estar se culpando, e culpa era algo novo. Era eu quem sentia culpa pela morte de meus pais, contudo nunca contara isso a ele. Dessa vez eu maldisse minha intolerância e minha enorme língua.

– Por quê? – minha voz estava verdadeiramente sussurrada daquela vez, eu não forcei nada. Parecia que, se eu perguntasse um pouco mais alto poderia machucá-lo mais. E eu nunca machucaria Arktos. Ao menos tão intencionalmente. Ele pareceu compreender isso.

– Quando os assas-... Quando aquelas pessoas chegaram – ele falou, tentando consertar sua hesitação; Arktos não queria falar a palavra assassinos na minha frente –, mamãe Lya já me colocou dentro do guarda-roupas do quarto do hotel. Eu só pude escutar, Dina, não vi nada. Escutar já foi muito difícil. Mesmo eu tapando meus ouvidos, ainda ouvia os...

Ele hesitou, e eu não insisti. Acho que eu sabia o que ele diria. Ele ouvira os gritos de nossos pais. Senti um arrepio percorrer meu corpo.

– Mas quando eu vi... - Arktos continuou, mas daquela vez eu realmente queria perguntar o que ele vira, já que ele continuava dentro do guarda-roupas. Ou ele pulara alguma parte, a parte que ele saíra de lá? Porém achei melhor esperar. Ele prosseguiu. – Chegou alguém que colocou aquelas pessoas para correr e então ele me encontrou no guarda-roupas. Papai Koira estava quase irreconhecível – eu custei ouvir quando Arktos falara isso. – Mamãe Lya estava melhor, mas...

– Quem foi até lá, Arktos? – achei melhor interromper um pouco aquela descrição mórbida.

Ele parecia hesitar em me dizer, mas eu não desviei meus olhos dos dele.

– Alexey – ele finalmente falou.

– Nosso primo? O que a Aimeé gosta?

– Ele mesmo. – Arktos riu. – Achei que ele era um imbecil, mas lá estava ele, nos ajudando. Pena que não chegou a tempo.

Então Arktos não disse mais nada. Eu voltei meu olhar para o porta-retratos que ainda estava seguro em minhas mãos e depois suspirei.

– Obrigada por me contar, Ark. De verdade – falei baixo, mas ele me ouviu.

– Por que você gostaria de saber, Dina? É uma história tão horrível.

– Eu precisava – falei sentindo minha garganta começar a se fechar ao mesmo tempo em que meus olhos ardiam. Mas não segurei. Eu nunca segurava minhas lágrimas quando estava na frente de Arktos.

– Mas só está te fazendo mal, querida – ele falou daquele jeito que eu adorava enquanto me fazia sentar em minha cama.

– Agora. Está me fazendo mal agora, pois não sabia que nossos pais haviam sofrido desse jeito.

– Eles estão bem, agora, Dina. Estão em paz.

Eu meneei a cabeça, assentindo. No entanto, o sentimento de culpa me dominou novamente.

– Dina, o que realmente te fez perguntar essas coisas para mim? São os pesadelos? Você está tendo aquele pesadelo novamente?

Senti meu corpo tremer de maneira quase imperceptível. Neguei com um movimento da cabeça antes de responder:

– Eu ouvi você e a tia Françoise conversando sobre isso, antes de virmos embora. Por isso te perguntei novamente – confessei. – Eu não queria te machucar, Ark, fazendo você se lembrar de tudo.

Ele apenas sorriu, colocando uma mecha de meus cabelos atrás de minha orelha.

– Desde quando você fica espiando atrás da porta?

– Eu não fiquei espiando – falei com uma careta nos lábios. Respirei fundo duas vezes e quase desisti antes de continuar. – Ark?

– O quê?

– Por que eu estava envolta de um lençol preto? – perguntei diretamente me referindo ao que eu ouvira quatro dias atrás, nessas férias. Vi a surpresa no rosto de meu irmão. 

– Eu não sei, Dina.

Ele não me olhou nos olhos quando me respondeu. Eu estava pronta para acusá-lo, porém preferi não ouvir a verdade. Algo me dizia que eu não gostaria. Que faria minha culpa ficar maior. Algo que me atormentava quando eu dormia, em meus pesadelos.

– Você acha mesmo que eles estão em paz?

– Sim - ele respondeu, parecendo estar aliviado por eu não ter dito outra coisa. Sim, ambos éramos covardes.

Eu suspirei.

– Acho que é isso que não me deixa enlouquecer.

– Enlouquecer mais – ele falou tentando colocar um pouco de humor em sua voz. Eu não aguentei e também soltei um riso que pareceu sair meio estrangulado por causa do meu choro e do medo que os pesadelos me causavam.

Depois, sabendo como eu gostava de ficar sozinha quando começava a chorar, Arktos apenas me deu um beijo no topo da minha cabeça e saiu do meu quarto.

– Se precisar de ajuda com a mala, me chame, ok? – ele falou antes de sair.

Eu apenas acenei com a cabeça e voltei a arrumar minhas coisas.

Eu não o chamei de volta, pois o choro me deixou cansada. Então acabei dormindo e terminei de arrumar minhas coisas no dia seguinte. Não pensei mais na morte de meus pais ou na culpa que eu sentia, e muito menos nos pesadelos que me atormentavam há pouco mais de um ano.

Não havia muita gente na estação quando chegamos, pois Arktos deveria ir cedo para o trabalho, logo, acabamos “madrugando” aqui. Ele apenas me deixou numa cabine, me deu um beijo e foi embora.

Arktos estava tendo muito trabalho àquele ano. Um tipo de bruxo sádico parecia estar fazendo desaparecer muita gente, controlando outras, mas tudo na surdina. Ele me contara isso porque eu acabei reparando no rosto dele, um dia desses. Só que dessa vez nem minha teimosia o faria entrar muito em detalhes. Afinal, ele tinha que conter algumas coisas por ser auror e algumas informações não poderem vazar do Ministério.

Então, aqui estava eu, dentro de uma cabine com um trem que começou a encher-se há poucos minutos. Ainda tinha meia hora para que ele começasse sua viagem e mais tantas outras para que chegasse ao seu destino. A sorte é que logo minhas amigas chegariam para me fazer companhia, e com isso o tempo correria mais rápido.

E não deu outra. Quando olhei no relógio para verificar que faltavam apenas cinco minutos para o trem partir, a porta da minha cabine se abriu revelando uma das pessoas que eu mais gostava – embora eu nunca, obviamente, falasse diretamente sobre isso tudo. Arredia, lembram?

– Oi, Ari!

– Olá, Lily! – correspondi seu enorme sorriso e a vi se jogar na poltrona à minha frente.

Lily Evans era minha melhor amiga em Hogwarts. Certo que isso provocava caretas em algumas pessoas, mas eu não ligava. Lily era uma pessoa especial, a qual eu conheci em meu segundo dia na escola que estávamos indo.

Estávamos perdidas no castelo e atrasadas para nossa primeira aula que seria Transfiguração. Já sabíamos, por ter ouvido alguns alunos mais velhos falarem, que a professora era uma carrasca. Nós nos encontramos num dos corredores do terceiro andar, afoitas e com os horários nas mãos. Precisávamos mesmo era de um mapa.

– Oi, por favor, você sabe onde é a sala da Profa. McGonagall? – Lily me perguntara parecendo que poderia me dar um enorme prêmio se lhe respondesse afirmativamente.

Mas eu estava tão perdida quanto ela.

– Não. – Então olhei para as vestes dela e não segurei uma careta. – Mas você deveria saber! É a chefe da sua casa!

Lily não gostou do que eu disse.

– E você por acaso sabe onde que fica a sala de aula do Prof. Slughorn? – me desafiou. Eu quis rir.

– Claro que sei – falei sem segurar um meio sorriso.

– Certo. Ponto para você.

Claro que eu não contaria a ela que não fazia ideia de onde realmente era a sala do Prof. Slughorn.

Nós continuamos procurando pelo que pareceu ser uma eternidade até que encontramos a sala de aula. Soltamos, ao mesmo tempo, o ar, aliviadas. Isso nos fez sorrir uma para a outra.

– Com licença, professora? – Lily falou quando abriu a porta.

Eu rolei meus olhos pela voz estranhamente submissa dela. Qual é, éramos alunas atrasadas, não duas elfos domésticas. Mas acho que foi melhor assim do que como eu pensei em entrar na sala, escondida. Aquela professora com certeza me notaria.

– Perderam-se no meio do caminho senhoritas... – ela consultou a lista de nomes que tinha em cima da mesa dela para continuar – Evans e Lakerdos?

Nós duas levantamos as mãos quando ouvimos nossos nomes, cada uma no momento certo.

– Na verdade sim, professora – falei sem querer ser grosseira, mas ela pediu a verdade, não pediu? Mas minha língua não parou por aí. – Sabe que seria interessante dar um mapa para os alunos nessas primeiras semanas de aula? – perguntei enquanto me sentava numa mesa vazia, dividindo-a com Lily. – Essa escola é realmente perigosa para nos perdermos.

– Não acho que tenha necessidade, Srta. Lakerdos – a professora me respondeu friamente. – Se fosse o caso, todos teriam chegado atrasados.

Certo, ela argumentava melhor do que eu. Também, era bem mais velha do que eu. Porém eu apenas dei de ombros com o que ela disse, mas não tive coragem de olhá-la quando o fiz. Apesar de ser teimosa e petulante, eu ainda tinha amor à vida.

Lily, obviamente, me censurou no momento que conseguiu uma brecha.

– Você é doida? Respondendo a uma professora?

– Ela perguntou, não perguntou? Eu respondi, oras.

Ela então me olhou de cima a baixo, como se me analisasse. Percebi na hora qual era o problema dela: minhas roupas. Slytherin. A palavra arrogância deveria estar estampada em minha testa, para ela.

– Algum problema, Evans? – perguntei indiferentemente e a vi semicerrar os olhos, embora também corasse as bochechas levemente.

– Eu não vou ter problemas por causa de alguém da Slytherin. Com certeza a professora marcou nossos rostos e vai me associar a você.

Eu me segurei para não gargalhar. Esperei que a professora desviasse a atenção para o outro lado e sussurrei:

– Pode ficar tranquila, pois, como você bem deve saber, Slytherin e Gryffindor não se misturam.

Depois disso, não podendo responder já que a professora realmente parecia estar prestando atenção em nós, Lily mostrou-se incrivelmente carrancuda. O que piorou quando eu levantei da carteira assim que deu o sinal indicando o fim da aula.

Mas apesar deste primeiro encontro, eu não pensei duas vezes, alguns meses mais tarde, quando a percebi com problemas.

Uma das coisas mais hipócritas que os bruxos sentem está em relação ao sangue ser puro. Cem porcento bruxo. E Lily era a primeira bruxa da família dela – e família estou me referindo a geração. Claro que, quando os hipócritas preconceituosos descobrissem não a deixariam em paz.

Eu estava voltando da biblioteca e vi dois alunos também do primeiro ano seguindo ela, falando coisas nada agradáveis. Quando eles passaram por mim, percebi que Lily estava se segurando para não chorar.

Eu nunca fui altruísta. Nunca tomei as dores dos outros. A não ser quando realmente me importava com tal pessoa – o que até aquele dia se limitava apenas a Arktos e minha babá Elizabeth. Porém, vendo Lily daquela maneira, pega totalmente desprevenida por um preconceito idiota, eu não pensei duas vezes e já azarava aqueles dois moleques, também da Slytherin, com o único feitiço que eu sabia. Os tentáculos em seus rostos até que ficaram engraçados...

Desde então eu e Lily nos tornamos inseparáveis, uma vez que eles não me viram e muito menos falariam para alguém que uma “sangue-ruim” os azarara.

E é exatamente por isso que muitos torciam o nariz quando nos viam juntas: Gryffindor e Slytherin. O que muitos julgavam como água e óleo, na verdade poderia se misturar sim. Além disso, eu nunca consegui gostar de muitas pessoas da minha casa. Então acabei saindo no lucro com Lily.

– Como foram as festas, Lily? – perguntei a ela, voltando para a realidade.

Lily fez uma careta.

– Tirando Petunia, foi maravilhoso. Agora ela está com um projeto de porco como namorado.

Eu tive que rir ao ouvir aquilo.

– Projeto de porco?

– Sério, Ari, o cara se parece com um. Só falta o rabo e o nariz de tomada.

– Bem, você pode arranjar isso, então.

– Sabe que às vezes foi tentador, mas se eu fizesse, seu irmão teria que usar a influência dele para não me mandarem a Azkaban.

– Quem seria mandada para Azkaban? – uma voz suave perguntou à porta da cabine. Lily e eu nem sequer paramos de rir para responder.

– Lily – falei.

– Por quê?

– Por querer completar a transformação no meu cunhado – Lily falou. – Clair, ele parece um porco.

Clair apenas meneou a cabeça enquanto se sentava ao lado de Lily.

Clair McKennit também era minha amiga, e assim como Lily, ela era da Gryffindor. Com Clair a amizade aconteceu por consequência, já que ela era amiga de Lily primeiramente. Adorava ela. Ao contrário de mim, Clair era toda doçura e altruísmo. Às vezes chegava a me irritar. Eu achava que o fato de ela ser muito esquecida das coisas ajudava nessa pose angelical.

A viagem se seguiu rapidamente depois que estávamos nós três e logo chegamos a Hogsmeade. Lá fora estava um frio rascante e nunca agraciei tanto as carruagens de Hogwarts.

Quando atravessamos os portões da propriedade, ouvi Lily gemer.

– Que foi? – Clair perguntou antes que eu o fizesse.

– Olhem só quem está logo na entrada – ela falou entre os dentes.

Clair e eu colocamos nossas cabeças para fora da carruagem apenas um pouco para que conseguíssemos visualizar o que quer que aborrecera Lily, embora já soubéssemos de antecedência. Apenas uma pessoa poderia deixá-la assim. Portanto, não foi com grande surpresa que visualizamos James Potter bem em frente à porta de carvalho do castelo.

Ele e os amigos pareciam estar numa batalha árdua de bolas de neve. Uma dupla para cada lado. Obviamente, a dupla dinâmica Potter-Black estava formada contra Remus e Pettigrew. Não consegui segurar um sorriso de satisfação quando uma bola de neve especialmente grande acertou em cheio a cara do Pettigrew.

– Idiotas – rosnou Lily.

– Eu gostei da cara do Pettigrew.

– Não sei o que você tem contra ele, Ari – Clair falou calmamente enquanto descia da carruagem que acabara de parar.

– Eu tenho tudo – falei como se fosse óbvio. – Ele falta beijar o chão por onde o Potter e o Black andam. Se bem que às vezes eu acho que ele faz isso, às escondidas – zombei.

Clair meneou a cabeça, mas Lily sorriu. Ela estava mais acostumada com minhas palavras rudes, Clair gostava de me censurar a maior parte do tempo.

Lily e eu bem que queríamos passar diretamente, sem que aqueles garotos nos notassem, mas seria impossível. Clair estava namorando Remus, e tanto o Potter quanto o Black pareciam ter uma antena para nos captar quando passávamos.

Eu lancei um olhar para Clair e Remus juntos. Eles pareciam tão perfeitos assim. Não consegui conter um sorriso. Remus merecia depois de tudo o que passou e ainda com certeza passará. Mas logo meu sorriso sumiu quando percebi quem parara na minha frente e de Lily.

– Oi, Lily! – James Potter a cumprimentou efusivo. Vi Lily bufar ao meu lado. – Lakerdos.

– Potter – respondi tão educada quanto ele.

O fato de Lily bufar com a aproximação do Potter era que, segundo o mesmo, ele era apaixonado por ela. Claro que isso era completamente questionável, uma vez que ele sempre bancava o idiota completo, principalmente perto dela. Ele dizia que era para impressioná-la. Mas de imaturidade, Lily não queria nem saber.

Lily, assim como eu, achava que ele apenas se empenhava em conquistá-la por orgulho ferido. Ela foi a única quem se negou a sair com ele - não que ele chamasse todas as garotas da escola. Eu não estava nessa lista, graças a Deus! Afinal, ele não se rebaixaria chamando uma garota da Slytherin para sair. Como minhas amigas - e os amigos dele também -, Potter pertencia à Gryffindor.

No entanto, por mais que eu gostasse de ver a Lily desprezando aquele infeliz, não fiquei nos jardins esperando por Clair como ela. Meu destino eram as masmorras das serpentes, não a torre dos leões. Então, antes que os outros amigos do Potter se aproximassem, eu já seguia meu caminho.

Rapidamente, por conhecer alguns atalhos, cheguei à entrada do meu salão comunal.

– Sangue-puro – suspirei.

Logo me encaminhei para meu dormitório, embora passasse os olhos pelo salão para ver se encontrava algum conhecido. Mas o único quem eu gostaria de encontrar, não estava ali.

Eu gostava de pertencer à Slytherin, embora tenha suspirado quando disse a senha para entrar aqui. Identificava-me com a filosofia de Salazar Slytherin, um dos fundadores de Hogwarts. Eu era ambiciosa, não fugia de uma boa briga, porém nunca as procurava, e sempre estava armada para defender o que me era caro. Ah, sim, e o mais importante: eu conseguia ser escorregadia como uma cobra, quando queria.

No entanto, ao contrário do que mais era prezado pela Casa de Slytherin, eu não via problema algum que os trouxas adentrassem nosso mundo se soubessem fazer magia ou se relacionassem-se com magos. Um bruxo poderia muito bem gostar de um trouxa e vice-versa.

Claro que esse pensamento, além de minhas amizades, faziam meus colegas de casa terem uma boa distância de mim. Eles só se aproximavam quando queriam me ofender. Acho que o sonho de consumo deles era eu me enfiar em meu dormitório, fechar o cortinado de minha cama e me depreciar por isso até recuperar minha sanidade. E agora, olhando ao redor e notando rostos muito amigáveis por aqui, a vontade de dizer que sanidade também não era uma de minhas grandes qualidades queimava em minha garganta.

Porém, limitei-me em apenas sorrir para mim mesma e realmente seguir para meu quarto. Eu gostaria muito de um banho naquele momento para me aquecer. Desejei que o banheiro dos monitores estivesse vazio...

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N/A: Primeiro capítulo, com algumas informações. Acho que, depois do Prólogo “meio perdido”, esse capítulo norteou um pouco, não? Rsrs.

Porém, antes de responder e agradecer pelos coments, só uma coisinha: o Prólogo se passou na morte do Sirius, em “Ordem da Fênix”, mas essa cena não consta em “Encontro das Trevas”. Por isso que achei interessante começar essa nova história dessa maneira. E, só mais uma coisinha: não é necessariamente necessário (hein??) ter lido “HP e o Encontro das Trevas” para ler essa daqui. Vai dar pra entender do mesmo jeito... =D

Espero que todos tenham gostado.

Diana W. Black: sim, mana! Essa história promete emocionar e fazer rir! Afinal, com o humor que a Ari tem, não há como não rir de algumas coisas. Obrigada!! Beijos, te amo.

Kelly: Ah, amore! Eu não pensei em outro absurdo... E postar essa fic foi meio do tipo: ah, vam’bora! Eu ia te falar, mas assim que decidi, você saiu do skype..hihi.. E, sim, você é a que menos pode reclamar..kkkkk... E..um ano?? Nossa... Por isso que minha saudade deles também só aumentava..rsrs.. Espero que tenha gostado, querida!!

Beijos,

Livinha.

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