# uno.








A chuva caia preguiçosa naquela noite. Uma chuva fina que atravessara boa parte da tarde e resistia às primeiras horas da noite. Marlene estava em seu quarto, jogada na cama. No radio, a musica estava tão baixa que a garota nem sabia mais qual era a música, apenas prestava atenção no barulho da chuva. Era o que sempre fazia quando precisava relaxar. A proximidade das provas finais deixava seus nervos à flor da pele.


 


A casa de Marlene era grande, uma herança da família McKinnon. A arquitetura antiga, o charme e o estilo da casa encantavam a garota. Ali era seu refugio. Era ali entre quartos, corredores e o imenso jardim que a preocupação com qualquer coisa se dissolvia e tudo estava em paz.


 


Além da preocupação com as provas, ainda havia a chateação. O pai de Marlene passaria um mês fora a trabalho. A garota era muito apegada ao pai e odiava ficar longe dele. Ele tinha partido já fazia dois dias e a saudade já estava enorme.


 


Porém a casa iria receber dois visitantes. Uma amiga de infância de sua mãe chegaria em breve da Inglaterra e iria se hospedar por algumas semanas ali, junto com seu filho. Segundo o relato apressado de sua mãe o rapaz tinha no maximo 19 anos e fora criado por um bom tempo na capital inglesa.


 


Embora Marlene não tivesse pensado muito na chegada dos novos hospedes, achou que seria bom ter mais alguém na enorme casa.


 


Mais algumas minutos se passaram enquanto a garota contemplava a chuva. Estava tão perdida em seus pensamentos que quase não escutou a campainha tocar. Marlene calçou os sapatos e foi logo ver quem era. Do alto da escada pode ver uma senhora que aparentava a mesma idade de sua mãe, tinha a pele clara e os cabelos negros. Aquela deveria ser a Sra. Black.


 


-Minha querida – exclamou sua mãe abraçando a senhora – não esperava vocês hoje. Houve algum problema?


 


-Nada de grave, apenas achamos que essa data ficava mais conveniente. Foi um erro meu não ter te avisado. Perdoe-me.


 


-Imagine – a mãe de Marlene disse com um grande sorriso – Foi uma ótima surpresa. E onde estão as malas?


 


-Sirius já esta trazendo.


 


Dois segundo após a fala da Sra. Black, um rapaz alto e com cabelos incrivelmente negros entrou na sala segurando algumas malas.


 


-Sirius! Meu Deus, como você cresceu rapaz. Na ultima vez que te vi, você não tinha mais que 12 anos. E um prazer te ver de novo e ter você aqui na minha casa.


 


-Também é muito bom rever a senhora – disse uma voz irresistível – e muito obrigado por nos receber aqui.


 


Marlene estava paralisada no alto da escada olhando a cena, até que um par de olhos azuis a encontrou.


 


-Deixe-me lhes apresentar minha filha, creio que se lembre dela não é Walburga? (que nome gatinhoo)


 


Marlene ia descendo a escada lentamente, ainda sustentando o olhar do recém chegado.


 


-Mas é claro que sim. Minha nossa, você se tornou uma moça muito bonita.


 


-Obrigada senhora – disse sendo força a desviar seu olhar.


 


-Este é meu filho, Sirius.


 


Agora Marlene estava bem próxima do rapaz e podia observá-lo mais atentamente. Seus olhos acompanharam as feições perfeitas do rapaz: sua pele clara, o desenho perfeito de sua boca, e seus incríveis olhos azuis acinzentados. Seu cabelo preto estava molhando por causa da chuva e algumas gotas pingavam em sua face. O deixando mais irresistível ainda.


 


-Muito prazer – disse o rapaz fazendo a garota despertar – Sirius Black.


 


-Marlene – responde meio sem jeito, ainda estava sem ar – Mas por favor me chame apenas de Lene.


 


-Como quiser, Lene – Sirius sorriu para Lene e ela agradeceu por estar apoiada no corrimão assim que sentiu suas pernas ficarem moles.


 


-Vocês chegaram em ótima hora, já vou mandar servir o jantar. Por favor Alberto – pediu ao emprego que estava próximo – leve as malas para os quartos. Walburga vai ficar no quarto ao lado do meu e Sirius ira ficar no quarto ao lado da biblioteca.


 


“No mesmo corredor que o meu” pensou Lene com um sorriso malicioso.


 


 


*            *             *


 


O jantar foi animado com os novos hospedes. A mãe de Marlene e a Sra. Black conversaram o jantar inteiro, há muito tempo as amigas não se viam. Graças à empolgação da conversa, nenhuma das duas notou a troca de olhares que ocorria entre Marlene e Sirius.


 


A garota tentava se concentrar em seu jantar quando este foi servido, mas era inevitável não sentir o olhar de Sirius sobre si. As palmas das mãos começavam a suar e por pouco a faca não escapava. Arriscou um olhar e tímido e encontrou um olhar penetrante. Marlene sentiu um arrepio percorrer a espinha. Sentiu-se uma menina de primeira serie, boba. Aquela não era sua postura habitual, sempre tivera personalidade forte, dificilmente corava, tinha atitude. Mas se sentia absurdamente intimidada com aqueles olhos azuis. Decidiu tentar esconder o nervosismo, retribuindo os olhares, sendo assim o restante do jantar.


 


-Creio que esta muito cansada, não? Esses vôos longos são muito cansativos.


 


-Muito – admitiu a Sra. Black – O jantar estava maravilhoso querida, mas confesso que gostaria de descansar um pouco.


 


-Claro. Você ficara no quarto próximo ao meu – a mãe de Marlene já ia se levantando – vamos juntas até la. Lene, Sirius vai ficar no mesmo corredor que o seu, acompanhe-o por favor.


 


Após um beijo de despedida de sua mãe, Lene ouviu a porta da sala de jantar fechar e percebeu que estava sozinha com ele.


 


-Então – começou meio sem jeito – já sabem por quanto vão ficar aqui?


 


-Duas semanas, três talvez. Até conseguirmos nos estabilizar. Minha mãe decidiu ficar aqui definitivamente, acha que é melhor para os meu estudos. Só precisamos de um tempo para encontrar uma boa casa, até la ...


 


-Até lá vocês ficam aqui – a frase escapou dos lábios de Lene


 


-Sim, até la nos ficamos aqui – o fraco sorriso de Sirius pegou a garota de surpresa deixando-a sem fôlego por um momento.


 


Nenhuma palavra mais foi dita, porém Sirius não parava de encará-la. Aquilo já estava deixando Lene mais que nervosa.


 


-Imagino que como a sua mãe, você também esteja cansado e queira descansar um pouco – falou apressada.


 


Sirius levantou-se da cadeira, foi até onde Lene estava e estendeu a mão para ela levantar.


 


-Gostaria de descansar, como você também deve querer. – a fala mansa do rapaz acalmava qualquer nervo da garota. Ou não.


 


Sem dizer nada, Marlene colocou a mão sobre a de Sirius. Uma onda de calor percorreu seu corpo. Ela começava a se odiar cada vez mais pelas reações exageradas que tinha perto do rapaz. Logo que ficou de pé, retirou sua mão de perto dele, tinha medo de que ele pudesse perceber o que seu simples toque provocava nela. Se é que já não tinha percebido.


 


Em seguida rumaram em silêncio para o andar de cima. Andar do lado de Sirius era uma tortura. O modo como ele andava, como movia seus braços fazendo com que sua mãos passa-se a centímetros da mão de Lene, estavam deixando-a louca. E ele era um simples desconhecido, o qual tinha conhecido há poucas horas.


 


O quarto em que Sirius ficaria, ficava a três portas depois do quarto de Lene. Quando estivesse na frente do seu quarto, ela apontaria a porta para Sirius e fim de história. Poderia ir dormir e tentar se livrar daqueles olhos azuis que teimavam em não sair de sua cabeça. Isso se a porta do seu quarto não estivesse aberta ...


 


-Seu quarto? – perguntou Sirius curioso


 


“Não. É só um lugar onde tem as minhas coisas, minhas roupas e a minha cama” pensou irritada.


 


-É sim.


 


E antes que pudesse dizer mais alguma coisa, o rapaz já tinha entrado no quarto.


 


O quarto estava relativamente arrumado, por que organização não era o ponto forte de Marlene. Havia algumas roupas sobre a poltrona e vários livros em cima da escrivaninha. Sirius parou diante dessa e começou a folhear as páginas de seu caderno.


 


-Química ... – e fez uma cara de pavor – Nunca gostei e muito menos entendi. Não sei por que alguém ainda perde tempo com isso.


 


-Pra falar a verdade, eu jamais entendi – Lene deu um sorriso fraco – por mim nunca mais estudava isso.


 


-Não sei nada de química se você quer saber – e se sentou folgadamente na cama de Marlene. À vontade demais para o gosto dela.


 


-Mas pelo o que eu ouvi no jantar, suas notas são fabulosas, segundo sua mãe – Lene se jogou na cadeira da escrivaninha, ficando diante de Sirius.


 


-Minhas notas são fabulosas, sim, mas em algum momento você ouviu “todas as notas” ? – disse arqueando as sobrancelhas. – Tirando química, o resto das notas são muito boas.


 


A simples conversa sobre notas, tinha desfeito a tensão que havia se formado no caminho para os quartos. Lene já se sentia mais confortável, mesmo com Sirius sentado na sua cama.


 


Num rápido movimento, Sirius deitou na cama, com as mãos na nuca e os pés balançando na ponta.


 


“Agora ele já ta abusando. É muita folga.” E o nervosismo de Marlene voltou subitamente.


 


-Você tem uma bela vista daqui – disse Sirius olhando pela janela.


 


-Uhum.


 


-Deve ser bom ficar olhando a chuva daqui – os últimos pingos acabam de cair.


 


-Uhum.


 


-Acho que já vou pro meu quarto.


 


“Que bom”


 


Lene caminhou para a porta em silêncio, enquanto Sirius se aproximava.


 


A garota se encostou no batente da porta, esperando o rapaz sair, porém Sirius parou bem na sua frente. E mais uma vez naquela noite, Lene se prendeu naqueles olhos azuis que a encaravam tão duramente.


 


-Boa noite Lene – disse com a voz rouca, pegou a mão da garota e beijou, num gesto cavalheiro.


 


Antes que Marlene pudesse ter qualquer tipo de reação, Sirius já estava no corredor a caminho do seu quarto.


 


Depois de alguns segundos que ficou petrificada na porta do quarto, Lene fechou a porta e caminhou lentamente para frente do espelho. Soltou as cabelos, mexeu neles como se quisesse afastar seus pensamentos com a mesma facilidade que fazia com os fios.


 


Foi um simples jantar. Um simples encontro com um filho de uma amiga de sua mãe. Nada mais que isso. Que mentira. Tinha sido muito mais que isso. Ela estava fascinada por Sirius. Havia conhecido o rapaz há poucas horas, mas aquilo era estranho demais. Nunca havia sentido nada naquela intensidade.


 


Marlene recusava se apaixonar. De modo algum queria estar apaixonada. Não queria sofrer. Pois era só isso que o amor trazia, a dor.


 


Colocou seu pijama, fazendo o possível para não pensar em Sirius que estava a poucos metros de distância, estirado na cama como acabara de ficar na cama de Lene, com um charme irresistível, como seu fosse um convite...


 


Mas uma vez a garota balançou a cabeça tentando afastar seus pensamentos. Deitou-se querendo dormir de uma vez, se desligar, esquecer aqueles olhos azuis. Puxou o cobertor para se proteger do frio. O perfume dele ficara entre as cobertas...


 


Por mais que Lene quisesse jogar o cobertor longe para ficar cada vez mais distante daquele perfume, ela puxou-o mais para si e adormeceu sentindo o perfume de Sirius Black.
 
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n/a: Esta ai o primeiro capitulo! Queria explicar uma coisinha: vai ter a questão das provas envolvida na fic. Sei que praticamente todo mundo não aguenta mais falar em prova, mas este galera, aguentem a Lene falando só um pouquinho sobre as provas ok?
Obrigada a todos que estão lendo, principalmente a Mari Barbosa e Flora Gondim; que me aguentam no chat. Vanessa Vianna; que me atormenta no msn pedindo os capitulos, que eu não vou passar =D. Ao Eugênio; que fez essa capa maravilhosa pra mim, muito obrigada, hey baby o Ian ta na minha capa *-*. A Nah Black; que faz qualquer um que le as fics dela amar SM. E a Lizzie B.;obrigada pelo comentario e espero que goste deste capitulo.
Espero que vocês gostem. =D 

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