a teoria do iceberg.
capítulo 10
a teoria do iceberg¹
A jovial Marcela havia decidido não se envolver nas decisões de Draco. Se o garoto escolhera passar a noite ao lado de uma desconhecida, ela não pensaria em nada para fazê-lo mudar de ideia. Pelo contrário. Deixaria que Carlotta, com sua discrição e meiguice, descobrisse os desejos macabros escondidos pelas boas ações do loiro.
O céu estava claro e sem nuvens. O sol ainda não despontara totalmente, e seus raios escondiam-se com receio por trás das árvores, permitindo que grande parte do pátio fosse coberta por luzes entrecortadas. A sonserina, com alguns livros nos braços, encaminhava-se para a sala de História da Magia. Havia terminado seu café da manhã mais cedo que os outros e queria estar pronta para os afazeres do dia.
Seu uniforme chacoalhava enquanto suas sinuosas pernas a guiavam pelo labirinto de corredores do castelo. Os cabelos estavam presos num rabo de cavalo e a maquiagem leve acentuava a escuridão de seus olhos.
A menina fez uma curva à esquerda. Seu olhar foi atraído instantaneamente para uma curiosa cena.
A poucos metros de onde estava, Draco percorria com determinação o pátio principal. O loiro não trajava sua camisa, e, ofegante, carregava uma Hermione Granger desacordada em seus braços.
Marcela estacou e arqueou sua sobrancelha esquerda.
Granger estava ligeiramente pálida, e sua cabeça pendia sem vida enquanto Malfoy a segurava. Ele parou e ergueu os olhos, com a testa franzida, aparentando procurar algo. Sua expressão transparecia medo e nervosismo. Após vasculhar o local com rapidez, o garoto caminhou apreensivo até uma porta dupla de madeira. Empurrou-a brutalmente com os pés e entrou, desaparecendo em seguida.
Marcela pôde ouvir um grito ecoar antes que a porta voltasse a se fechar. A garota segurou seus livros com vigor, e enveredou-se pela direção contrária à que viera.
momentos antes
Draco abriu os olhos com tranquilidade. Não podia garantir que dormir no chão era confortável, mas já estivera em situações piores. Por alguns segundos, permaneceu imóvel, encarando o teto e repensando o motivo pelo qual ele e Hermione estavam juntos, dividindo o mesmo ambiente.
Quando o nome da grifinória surgiu em sua mente, o garoto girou os olhos para encontrá-la.
Lá estava ela. Não muito longe, perto da janela e de costas para ele.
Draco sorriu. Em algum momento da noite anterior, Hermione havia percebido que o sonserino abdicara de seu uniforme para mantê-la aquecida. E, ao contrário do que ele imaginara, ela não o devolveu. Estava aninhada num canto, com as pernas encolhidas para que a roupa de Draco pudesse cobri-la por inteiro.
A menina tremia vez ou outra.
Ele sabia disso, já que ela soltava um leve bufar de lamúria e seus ombros se movimentavam bruscamente.
O loiro soergueu-se. Encarou a janela e se deu conta de que já era dia. A superfície escura do Lago Negro continuava intocada, e o cochichar de animais silvestres por perto denunciava o despertar da Floresta Proibida. O horizonte, reluzente pela falta de nuvens, ainda guardava cicatrizes: montanhas gélidas que se erguiam umas sobre as outras, além de pássaros que sobrevoavam o castelo.
Hermione estremeceu novamente. Draco não compreendia. Era uma manhã quente.
Caminhou até ela. Posicionou suas mãos em sua testa e concluiu que estava febril. Os olhos da garota permaneciam fechados, mas seus braços e pernas contraíam-se de modo involuntário. Ela respirava fundo e sua pele estava levemente molhada de suor.
Sem pestanejar, Malfoy colocou-a em seus braços. O uniforme sonserino que a acobertava deslizou e caiu no chão.
O loiro correu até a porta e ordenou:
-Deixe-me sair.
Estalos. Instantes depois, a porta se abriu, permitindo que ambos desembocassem em um corredor qualquer de Hogwarts. Draco caminhou determinado até a Ala Hospitalar. Relanceou os olhos acinzentados pelo pátio, almejando localizar a porta dupla de madeira que o levaria até o recinto médico da escola. Hermione continuava parcialmente desacordada, sem forças para sequer movimentar os músculos.
Madame Pomfrey gritou. A mulher organizava alfabeticamente seu arsenal curativo em uma estante de vidro quando sua atenção foi desviada para a porta que se abria com estrondo. Um menino sem camisa carregava uma menina inconsciente. Seus olhos arregalados correram de Draco para Hermione.
-O quê? –conseguiu dizer, arfando e aproximando-se com velocidade do casal.
-Emergências. –foi a única palavra que Malfoy conseguiu pronunciar.
-Coloque-a aqui. –Pomfrey acenou para a cama ao seu lado. –Com cuidado.
Draco obedeceu.
-O que houve, menino? –a mulher perguntou, enquanto aproximava-se de um armário, à procura de remédios.
-Não entendo. –o loiro estava atônito. –Ela... estava bem.
-O que houve? –enfatizou.
-Quando acordei, a encontrei tremendo de frio.
-Quando acordou? -ela parou e o encarou.
Draco retribuiu o olhar.
-Pode ajudá-la ou não? –desconversou.
Pomfrey permaneceu num silêncio inquietante, observando o sonserino.
-Farei o possível. –declarou, após rápidos segundos. -Saia.
-O quê?
-Saia. Preciso de espaço.
-Não vou incomodá-la.
-Saia imediatamente. –o empurrou bruscamente para fora.
-Onde esteve? –Gina sentou-se ao lado de Harry. O moreno terminava seu café da manhã.
-Quando? –a encarou.
-Ontem à noite. Onde esteve ontem? –repetiu, séria.
-Treinando.
-Treinando? Ronald chegou duas horas mais cedo que você. –continuou.
-Estava treinando sozinho.
-Desde quando? –perguntou. -Desde quando você dispensa a companhia do Ronald?
Harry fitou os olhos da ruiva.
-Você não está piscando. –comentou.
-Cala a boca.
-Bom dia. –Gabriel aproximou-se de Carlotta, que caminhava pelas masmorras com seu livro de Transfiguração nas mãos.
-Bom dia. –respondeu.
-Vai para o Salão Principal?
-Não. Tenho outras preocupações.
-Você precisa se alimentar. –aconselhou.
-Não estou com fome.
-Pelo menos, beba alguma coisa.
-Já bebi um copo de água, Gabriel. Sinto-me ótima.
O garoto a encarou com seu olhar triste.
-Não sinta pena de mim. –a menina disparou.
-Apenas me preocupo com seu bem-estar.
-Devia se preocupar com seus próprios problemas, Gabriel. Minhas decisões dizem respeito somente a mim.
-Não fique chateada com isso. Não vou te obrigar a fazer nada que você não queira.
-Vamos mudar de assunto? –ela sugeriu.
-Tudo bem. –disse. –E seus exercícios? Conseguiu terminá-los?
-Como eu suspeitava, não havia nada de desafiador.
-Até Poções?
-Foi simples. –sorriu. –Além disso, Snape facilita as coisas para sonserinos.
-Talvez essa seja a nossa vantagem.
-É, talvez. Posso ajudá-lo em alguma coisa?
-Como?
-Você deseja algo, Gabriel? Eu sei que você não costuma caminhar por esse corredor. É um dos atalhos que eu utilizo para chegar mais rápido nas aulas.
-Não. –coçou a nuca. –Pensei que quisesse companhia.
-Estou um pouco ocupada. –respondeu. –Mas agradeço seu carinho. –beijou-lhe o rosto. -Até mais.
Boome apressou o passo e encaminhou-se para o pátio principal.
-Tem certeza de que foi o que você viu? –perguntou Hagrid, abaixando-se para procurar algo entre os arbustos.
-Não estou cega, Hagrid. –declarou Luna Lovegood, com os braços cruzados. A loira estava parada, em pé, não muito distante do meio-gigante. Ambos estavam no terreno de Hogwarts, às margens do Lago Negro.
-Não faz sentido algum. –murmurou.
-Conseguiu encontrar?
-Ainda não.
-Talvez tenha caído no lago, como eu disse.
Hagrid ergueu os olhos e tentou enxergar a ponta de uma torre.
-Não há janela alguma lá em cima, Lovegood.
-Não dá pra ver daqui. –a loira também virou seu olhar para cima.
-Eu tenho aula em alguns minutos, Luna.
-Hagrid, você é um dos poucos que conhece esses terrenos. Preciso da sua ajuda. –o encarou, com expressão de súplica no rosto.
-Não tenho muito tempo.
-Não se preocupe. Tenho certeza de que vamos achar.
-Sr. Malfoy? –Madame Pomfrey abriu a porta da Ala Hospitalar e procurou por Draco.
-Aqui. –o loiro estava a alguns metros, ajoelhado perto de uma coluna de mármore branco. Ergueu-se para conversar com a mulher.
-O senhor já pode entrar.
-Como ela está? –perguntou, sério.
-Estável.
-E o que aconteceu?
-Bem... a srta. Granger teve uma espécie de mal estar.
-Mal estar? –questionou.
-Exato. Um mal estar catalisado pela desidratação, pelo cansaço físico, esforço mental e pelo estresse em que ela se encontrava.
-Não entendo. –balançou a cabeça negativamente, abaixando o olhar. –Ela me parecia bem.
-O corpo reage a determinados estímulos externos, Sr. Malfoy. –a mulher continuou. -O desgaste físico e mental a que esteve submetida Hermione foi provavelmente a principal causa para o que ocorreu com ela.
-Que tipo de desgaste físico e mental?
-Rotinas cansativas de exercícios, estudos. Falta de preocupação com a saúde e consequente baixa autoestima. Não é possível precisar nada com certeza. O importante é que ela está melhor agora. Só precisa descansar.
-Ela está acordada?
-Sim. –afirmou. -Vou deixá-los a sós por um momento. Mas não me demoro.
-Obrigado.
Draco ouviu a porta fechar-se atrás de si e entrou na pequena sala. A maioria das camas estava perfeitamente arrumada. Uma delas, entretanto, abrigava uma menina de cabelos enrolados, com olhos castanhos que circundavam o local com curiosidade.
-Oi. –o loiro sussurrou com cautela, enquanto caminhava em direção a Hermione. Sentou-se em um banco de madeira perto da cama, esquecendo-se de que estava sem camisa.
A garota se virou, o encarando como se tivesse acabado de perceber sua presença.
-Draco...
-Como se sente?
-Bem, eu acho. –respondeu, com a voz baixa. –Como saímos da Sala Precisa?
-Pelo mesmo lugar que entramos.
Ela o observou com curiosidade.
-Não entendo. Você disse que não sairíamos de lá. Que poderíamos ficar lá por meses.
-Na verdade, eu não disse isso.
-Que seja! Ficou implícito.
-Granger, nós estávamos na Sala Precisa. Eu precisava de um lugar para onde pudesse te levar e ela apareceu. Se eu precisasse sair, a Sala simplesmente me deixaria sair.
A menina continuou o observando.
-Então, basicamente, você está me dizendo que poderia ter nos tirado de lá antes? –perguntou com seriedade.
-Basicamente.
-Merlin te abençoe.
-Por quê?
-Por eu ainda estar cansada o suficiente para não te matar. –respondeu, a voz leve. –Imagino que você tenha me trazido até aqui. E esquecido seu uniforme lá. –o encarou rapidamente e desviou o olhar.
-Não te deixaria lá, Granger. Que tipo de pessoa você acha que eu sou?
-Não sei, Malfoy. Se você sequestra uma garota quando quer conversar com ela, não imagino o que faz quando se apaixona. –colocou as pernas para fora da cama, pelo lado onde Draco estava sentado.
-Vai aonde?
-O que você acha?
O garoto a pressionou de volta ao travesseiro.
-Você tem que descansar.
-Estou bem. –colocou as pernas para dentro e tentou sair pelo lado oposto ao sonserino.
-Você deveria ter me dito antes. –o rapaz deu a volta na cama e bloqueou a saída da menina mais uma vez.
-O quê? Que eu estava bem? –subiu na cama, inquieta.
-Que você tinha esses problemas de saúde.
Draco disse isso parando em frente à grifinória, que descia da cama. Mas, com sua pergunta, ela acabou tropeçando na colcha.
Ele a segurou. Com pressa, a menina se endireitou:
-Como você sabe?
-Madame Pomfrey.
-Velha enxerida! –exclamou e passou por Draco, esbarrando em seu ombro.
-Estava preocupado.
-Não precisava. –abriu as portas da Ala Hospitalar, com Draco atrás de si.
-Granger, nós passamos a noite juntos. –sorriu. –As coisas geralmente são diferentes.
-Sei perfeitamente como as coisas seriam SE nós tivéssemos passado a noite juntos.
O sorriso do garoto desapareceu aos poucos.
-Você realmente está irritada porque eu salvei sua vida? –indagou.
Parou bruscamente e o encarou:
-Você não salvou minha vida. Só estava com a consciência pesada.
-Eu não tive culpa. As causas para o que houve com você foram outras.
-O que VOCÊ sabe sobre mim? –continuou a andar. –Sua história é diferente da minha, Malfoy.
-Do que está falando?
-Sua vida é uma brincadeira. –jogou as mãos para cima.
-Eu só esperava um agradecimento. –franziu o cenho.
-MERLIN! –andou em direção a ele novamente. –Você um Malfoy, um sonserino nojento que só pensa no próprio umbigo. Acha mesmo que eu acreditaria na sua sinceridade? No seu ato de heroísmo? -aproximou-se dele e disse em tom baixo. -Não sou uma de suas conquistas. -voltou a caminhar na mesma velocidade de antes, sem se importar com os olhares curiosos.
-Neurótica. –respondeu.
-VERME! -e foi para a torre da Grifinória sem olhar para trás.
-Vai mesmo continuar em silêncio? –Gina questionou.
-Sobre o quê? –Harry terminara seu café e encarava o prato vazio.
-Não se faça de estúpido, James.
-James?
-Estou irritada. –explicou.
-Inexplicavelmente.
-Inexplicavelmente? Não sou eu que passo as noites fora.
-Não? E onde você esteve ontem à noite?
-Procurando pela Hermione. Você sabe disso porque EU te chamei para vir comigo.
-É o que você diz.
-Está sugerindo alguma coisa, Potter? –piscou os olhos, tentando sorrir.
-Não estou sugerindo nada.
-Argh! –bufou. –Você sempre espera que eu não descubra.
-Não há nada para ser descoberto.
-Não há? –o encarou com ironia. –Estranho. Meu irmão me contou que passou grande parte da tarde de ontem ao lado da Luna, o que significa que só Merlin sabe o que você esteve fazendo.
-Você é louca. –se levantou.
-O que está fazendo? –arqueou as sobrancelhas.
-Me afastando de você.
Chegando à Torre, Hermione percebeu que a Sala Comunal estava apinhada de estudantes. O local mais tranquilo, e vago, naquele instante era o parapeito da janela. Sentou-se e escorou a cabeça na gélida pedra. Não havia passado muita coisa com Draco, apenas o essencial para saber que ele podia mudar de humor rapidamente.
O vento não era forte o bastante para chacoalhar os cabelos da menina e, conforme percorria a paisagem com o olhar, algo chamou sua atenção. A costumeira árvore de estudos, lá embaixo, perto do lado, servia de apoio para Draco Malfoy, que, ainda sem camisa, encarava o horizonte distante.
Não faça isso. Não faça isso. Não faça isso.
Desceu com rapidez da janela e voltou a caminhar, deixando a Sala Comunal para trás. Sua determinação não era absoluta, mas seu destino já havia sido traçado.
-Está brincando, certo? –ele a encarou com desconfiança.
-Tudo bem. Não sou a pessoa mais decidida do mundo. –respondeu, emburrada. –Pode simplesmente me desculpar?
-Não.
-O quê? Por que não?
-Minha vida é uma brincadeira. –bocejou. -Gosto de me divertir.
-Ok, Malfoy. Você venceu. –rolou os olhos. -Não acredito no que vou fazer. –disse mais para si mesma do que para ele. –O que quer em troca?
Draco permaneceu em silêncio.
-Em troca? –comentou, afinal.
-Não me faça repetir. É constrangimento demais. –girou a cabeça para olhar em volta.
-Pode vir ao baile comigo. –disparou.
Hermione parou e voltou seus olhos para Draco em câmera lenta.
-Você não disse isso.
-Disse.
Hermione permaneceu em silêncio.
-Tem certeza? –ela perguntou, com cara de súplica.
-Quer que eu me ajoelhe?
-NÃO! Por favor, não. Não! –o encarou com medo.
-Tenho meu par?
-Não sei. –respondeu, indecisa. -Não gosto de bailes. Além do mais, nem providenciei um vestido e...
-Granger, você não vai sair com qualquer um. –a encarou. –Posso conseguir o que precisar.
Hermione continuou em silêncio por mais alguns segundos, a testa franzida e os braços cruzados. Outros alunos os observavam de longe.
-Você vem? –Draco perguntou.
-Droga. –rugiu. -Me lembre de nunca mais discutir com você. –o encarou.
-Como se isso fosse acontecer. -o loiro aproximou-se dela com suavidade e beijou-lhe a bochecha. –Vou te deixar em sua sala.
-O cavaleiro branco salva a bruxa má? Acho que estamos na história errada.
-Bruxa má?
-Eu posso ser má. –respondeu.
-Tudo bem. –sorriu.
Gabriel encaminhava-se para o Salão Principal sozinho. Carlotta havia desaparecido há alguns minutos e ele tinha a impressão de que ela não iria para a aula. Perdido em seus próprios pensamentos, não viu quando alguém se aproximava com pressa.
-Garoto! –André o chamou. –Gabriel.
O sonserino chacoalhou rapidamente a cabeça, como se estivesse despertando para a realidade.
-Onde está Carlotta?
-Não sei. Ela estava com pressa. Disse que tinha compromissos.
-Droga.
-Aconteceu algo?
-Nada de mais. Preciso da ajuda dela.
-Precisa? –Gabriel o encarou rapidamente.
-Herbologia. Eu poderia perfeitamente atear fogo naquela estufa. –resmungou. –Ok, vou encontrar Marcela.
-Certo. –respondeu.
-Sã e salva. –Draco declarou, assim que ele e Hermione chegaram ao quadro da Mulher Gorda.
-Obrigada.
Quando a garota levou o pé direito para dentro da sala sentiu o chão sumir e as paredes rodarem. Apoiou-se no quadro e colocou a mão na cabeça, esperando voltar ao normal. O loiro aproximou-se e a segurou pela cintura.
-Não deveria ter deixado a Ala Hospitalar.
-Foi apenas uma tonteira. –levantou-se com a ajuda dele. –Obrigada.
-Poderíamos falar com Madame Pomfrey. Talvez ela tenha algum tipo de antídoto.
-Estou... bem. –levou a mão à cabeça mais uma vez.
-É melhor voltarmos. Eu te ajudo.
-Não precisa. Estou ótima. -ela ia entrar novamente na Sala Comunal quando Draco a pegou pelas pernas e a jogou nos ombros.
-Isso é pela teimosia.
-Me coloca no chão! –batia nas costas dele.
-Onde vocês estavam? –gritou Madame Pomfrey quando, pela segunda vez no mesmo dia, Draco arrombou a porta de sua enfermaria.
-Trouxe-a de volta. –disse, colocando a menina no chão.
-Que ódio! –virou-se para Madame Pomfrey. –Estou ótima.
-Sente-se imediatamente. –a mulher ordenou.
-Mas eu estou ótima! –tentava sair da Ala Hospitalar, mas Draco a impedia.
-Ou você se senta, ou eu te prendo na cama. -disse o loiro ameaçadoramente.
-Você não teria coragem. –o encarou, duvidosa.
-Sério?
Hermione correu os olhos entre os dois e se deu conta de que não tinha escolha.
-Ok! -sentou-se na cama, emburrada e de braços cruzados. –O que eu tenho que beber?
-Vejamos. -Pomfrey vasculhou seu estoque pessoal, escolhendo vidros de cores estranhas e coletando algumas ervas. Despejou os ingredientes em um frasco transparente. Chacoalhou por alguns instantes e derramou o resultado final sobre um copo. Era um estranho medicamento de cor verde-alaranjada, com bolhas e pedaços de plantas boiando. –Engula sem respirar.
-Isso é veneno. –falou, pulando da cama e se escondendo atrás de Draco.
-Volte aqui.
-Eu posso morrer com ou sem isso. Então prefiro morrer sem.
-Draco? –a mulher o encarou.
-Certo.
Como o loiro era bem mais forte que Hermione, ele a agarrou pelos ombros e a arrastou até o estranho líquido que Madame Pomfrey tinha nas mãos. A morena tentava se soltar, gritava e resistia. No final, entretanto, Draco conseguiu abrir sua boca, onde o estranho copo foi virado, e seu conteúdo despejado.
-Que nojo! –ela grunhiu, fazendo uma careta.
-O revigorante precisar ser tomado três vezes ao dia pelas próximas três semanas. –comentou.
-Você é doida!
-Saiam da minha enfermaria. –Pomfrey balançou os braços, gesticulando para que eles a deixassem sozinha. –Sr. Malfoy?
-Madame?
-Assegure-se de que ela siga minhas instruções. -entregou-lhe um frasco com o revigorante.
-Claro.
-Eu não posso tomar isso. É nojento. –falou, enquanto Draco a empurrava para fora.
-Você ouviu o que ela disse. Deve tomar três vezes ao dia.
-Quem vai me obrigar?
Ele a encarou. Ela riu da cara dele:
-Você vai até a mesa da Grifinória?
-Por que não?
-Você não teria a audácia. -falava rindo.
-Espere até o almoço.
-Duvido.
Carlotta aproximou-se com velocidade do Salão Principal. Ao chegar à porta, girou os olhos até a mesa da Sonserina. Havia somente uma pessoa. Caminhou depressa até ela.
-Conseguiu? –Marcela tirou os olhos de seu livro e encarou Boome.
-Sim. –afirmou com a cabeça, enquanto se sentava ao lado da sonserina.
-O que descobriu?
–Eles realmente passaram a noite juntos.
-Granger. O que houve com ela?
-Nada de mais. Um mal estar.
-Não me parecia um mal estar.
-Foi um agravamento de diversos fatores, na realidade. Pomfrey receitou um medicamento. E Draco foi responsabilizado de aplicá-lo.
-O que ele é? A babá dela?
-Pior. O par dela.
Marcela a observou.
-Ele a convidou esta manhã para o baile. –Carlotta continuou. –No pátio principal.
-Eu sei o que par significa, Boome. –exclamou. -Só estou pensando. –girou os olhos. -Algo mais?
-No momento, não.
-Obrigada. Pode ir.
-Tem certeza? –insistiu. -Pensei que quisesse companhia.
-Obrigada, Boome. –repetiu.
Após alguns segundos de silêncio, Carlotta se levantou e foi embora.
A jovial Marcela havia decidido não se envolver nas decisões de Draco. Se o garoto escolhera passar a noite ao lado de uma desconhecida, ela não pensaria em nada para fazê-lo mudar de ideia. Pelo contrário. Deixaria que Carlotta, com sua discrição e meiguice, descobrisse os desejos macabros escondidos pelas boas ações do loiro.
Entretanto, o destino às vezes nos prega peças. A situação estava saindo do controle. E quanto mais o tempo passava, mais a sonserina tinha certeza de que deveria deixar Boome de lado e começar a agir por conta própria.
continua .
referências históricas
¹Teoria do Iceberg
Teoria do escritor norte-americano Ernest Hemingway (1899 - 1961). A imensa massa de gelo (Iceberg) só se move com tanta majestade porque sete oitavos estão submersos e apenas um oitavo aparece fora da água. Os leitores desatentos apenas enxergam a parte acima da superfície, onde se encontram as deduções facilmente percebidas. Entretanto, é abaixo da linha d´água que o Iceberg esconde sua magnitute, seu tamanho colossal, onde localizam-se motivações ocultas, de difícil acesso.
dentro da história
Hermione apenas consegue enxergar a parte vísivel do Iceberg. (Draco se aproxima inexplicavelmente dela.) A grifinória ainda não entende as motivações do loiro, isto é, ainda não conseguiu enxergar a parte submersa do Iceberg.
Não importa como, onde ou por quê. O fato é que todos, de uma maneira ou de outra, vão te decepcionar.
autor desconhecido
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