Cabine Quase Vazia



O expresso foi ganhando velocidade e logo, Rose não conseguiu mais ver seus pais. Lembrou-se que na primeira vez em que embarcara no expresso, Hugo correra até onde pode; até onde podia enxergar a irmã partindo para outra etapa de sua vida. Naquela época, ela não sabia que uma simples palavra transformaria um garoto em seu mais querido amigo.


Scorpius entrara timidamente pela porta da cabine onde ela e Alvo estavam sentados, sem muito que fazer. Alvo brincava com um minigame do mundo trouxa, enquanto a prima lia um livro grosso sobre Hinkypunks; sempre gostara de Hinkypunks. O menino de olhos baixos perguntara se podia se juntar a eles, já que todas as cabines estavam lotadas.


- Claro – ela dissera, deixando o livro de lado.


Uma única palavra, ela pensou, esticando o pescoço pela vidraça que cada porta de cabine exibia. Viu o primo Alvo, já vestido como aluno de Hogwarts, dando uma bronca em dois primeiranistas que corriam brincando as varinhas e lançando feitiços um no outro. Ela se aproximou, enquanto ele dispensava as crianças.


- Obrigada – Alvo sacudiu o bolso das vestes, fazendo um barulho metálico.


- Ah, por nada – Rose respondeu, colocando a mão no bolso das calças e sentindo o colar. – Tiago mereceu já que ele se atreve a me subestimar.


- Você gosta dele.


- Claro que gosto, Tiago é meu primo!


- Você gosta de fingir que não entende as coisas – Alvo observou, apertando os olhos claros. – Eu sei que você gosta dele, Rose.


Rose cerrou a boca em uma linha fina. Não queria falar sobre Scorpius. Não queria falar sobre relacionamentos com ninguém. Nunca falara sobre relacionamentos com ninguém. Não queria conversar sobre Scorpius com o primo. Alvo era da família.


- Eu não quero falar sobre isso – ela disse, por fim.


- Você não vai poder fugir disso para sempre.


- Posso fugir por enquanto, então.


Rose se pos a caminhar, esticando o pescoço atrás de uma cabine vazia. Quando estava prestes a desistir e a procurar Alvo ou qualquer outro membro da família, ela viu uma menina sentada sozinha em uma cabine quase vazia. A menina já usava as vestes de Hogwarts e tinha o rosto enterrado em um livro fino. Os óculos grossos lhe caiam pelo nariz que estava quase encostado nas páginas.


- Com licença – Rose pediu, abrindo a porta da cabine.


- Rose Weasley – a menina disse, a olhando demoradamente.


- Você sabe quem eu sou?


- Sou sua colega – A garota jogou algumas mechas do cabelo claro para longe do rosto, largando o livro. – Cecília Trelawney.


Cecília sorriu, mostrando dentes grandes e muito quadrados. Ela empurrou os óculos para mais perto dos olhos castanhos, aproveitando para apertar os cabelos cacheados atrás de uma tiara de pano colorido.


- Trelawney? – Rose perguntou, se detendo em outra coisa. – Filha de Sibila?


- Não, sobrinha. – Cecília corrigiu. – Minha tia não teve filhos.


- Ela foi professora dos meus pais, durante um bom tempo.


- Sua mãe abandonou as aulas. – Cecília concordou com a cabeça.


Rose sorriu, sem graça.


- Doces – Cecília disse de repente, mexendo nos bolsos.


- Tem certeza? – Rose duvidou, afinal não se ouvia barulho algum.


- Claro – A outra se levantou, mostrando vestes largas demais.


Rose tinha ouvido falar dos Trelawney. Família sobrenatural do mundo bruxo. A Tetravô de Sibila Trelawney fora uma famosa adivinha. Sibila jurava ser uma adivinha tão boa quanto a avó, mas se as contas de Rose estivessem corretas, Cecília herdara da avó o poder da clarividência, assim como a avó herdara da tetravó de Cecília.


A Weasley juntou as sobrancelhas ao ouvir o barulho do carrinho de doces.


- As tortinhas de abóbora devem estar maravilhosas.


Cecília abriu a porta da cabine, tirando dinheiro do bolso. Rose a acompanhou, ainda sem acreditar completamente que sua colega de cabine era uma vidente verdadeira. Essas coisas pareciam não existir quando não se as têm tão perto. Sua mãe nunca deixara de lhe dizer que a adivinhação era uma arte vaga. Rose nunca cursara adivinhação.


- Ele vai gostar de lhe ver com o colar – Cecília disse, por entre dentadas.


- O que?


- O que? – Cecília ergueu os olhos, curiosa.


- Nada – Rose puxou o colar do bolso, mais em um teste. – Olhe...


Ela mostrou o colar que Scorpius lhe mandara em seu aniversário no inicio do ano. Gastara uma pequena fortuna na jóia, coisa que não faria diferença no orçamento da família. Os Malfoy não se preocupavam tanto com isso, depois que Draco e a mulher reergueram a conta bancária da família.


- É lindo, Rose – A outra se postou de joelhos perto de Rose.


- Você me ajuda?


Rose colocou a corrente nas mãos de Cecília e se virou de costas, erguendo os cabelos para que a outra ajustasse o fecho do colar. Elas ouviram uma batida descompromissada na porta e se viraram de imediato para encarar um menino de olhos cinzentos adentrando.


- Olá – Ele cumprimentou Rose, se postando ao seu lado no assento, enquanto Cecília voltava ao seu, ajeitando os óculos. Ele estendeu a mão. – Scorpius Malfoy.


- Cecília Trelawney – Ela esticou a mão. – Ignore os berradores.


- O que?


- Nada – Rose se intrometeu.


         Tinha certeza de que poderia se acostumar com aquilo. Ter um profeta de plantão não parecia ser algo tão ruim para quem tinha um impasse em mãos. Scorpius estava perto demais dela no assento macio do expresso. Ele direcionou os olhos para Rose ao mesmo tempo em que esticou a mão para tocar o pingente em seu pescoço.


- Você ainda está usando.


- Escondida da minha mãe, mas ainda uso, claro.


- Apenas escondida?


- Você é filho do Comensal da Morte fracassado, lembra? – Rose riu, mas ele manteve a seriedade no rosto. – Não que eu me importe com isso, claro.


- Eu sei que não.


- Você não vai se zangar, vai? – Ela colocou a mão no rosto dele.


- Não –respondeu, abrindo um meio sorriso, um tanto quanto deprimido.


O expresso pareceu demorar mais do que o normal para chegar à Hogsmeade. Já era tarde quando os alunos desembarcaram, deixando os malões e as gaiolas e cestos para trás. Rose se demorou garantindo que o cesto de Lírio estivesse bem fechado e que o gato estivesse muito bem acomodado na almofada estampada que ela colocara para ele.


- Vamos, Weasley. – Scorpius soltou, brincando, numa imitação quase perfeita da diretora McGonagall.


As carruagens puxadas por Trestálios, como Rose havia lido no ano anterior, estavam esperando por eles. Cecília acompanhou os dois juntamente com um garoto de olhos puxados. Ele pareceu assustado sentando ao lado da menina de óculos enormes. Olhava desconfiado para o lado quando Cecília sorria, sendo simpática.


- Saudade... – Rose comentou, ao passar pelos portões da escola, esticando a cabeça na direção do lago.


- Quer visitar a escola à noite? – Scorpius cochichou em seu ouvido.


- Vocês só podem estar brincando – Cecília se pronunciou, com a mão sobre o peito. – É contra as regras da escola!


- E quem liga?


- Rose, é o primeiro dia em Hogwarts!


- Pode ser o último da minha vida.


- Cuidado com o lago – Cecília soltou, enquanto evitava o olhar da amiga.


Era mais do que provável que ela tinha mais uma vez, falado alguma coisa sem se dar conta. Estava um tanto assustador. Teria cuidado com o lago, mas não evitaria uma aventura à noite com Scorpius.


- Tudo bem – Ela sussurrou de volta, empurrando o garoto para um campo gramado, escondido por algumas árvores.


Scorpius caiu ao chão, enquanto a garota se jogava entre as árvores, escondendo-se dos professores que os vinham receber. O professor Flitwick era o primeiro na fila. Com sua estatura mínima só era possível ver seus cabelos por cima dos arbustos baixos, atrás dos quais, os dois estavam escondidos.


Rose baixou a cabeça nas mãos, deitada de barriga para baixo na grama, observando enquanto o professor deixava que Cecília passasse. Ela tinha uma expressão apavorada no rosto.


- Ela disse para eu ter cuidado com o lago – Rose engatinhou até o meio do campo, de onde se era possível ver o céu estrelado, sem luar.


- Ela é uma espécie de vidente?


- Ela é uma Trelawney – esclareceu, deitando-se de costas para a grama.


- Vidente.


- Uma verdadeira vidente, se fizermos as contas de talento passado de avó para neta.


- Não assusta você?


- Não – Ela admitiu, sentindo que ele deitara-se muito próximo.


- Mesmo?


- Me acalma. Pelo menos, quanto ao futuro.


- Me assustaria se ela fizesse alguma previsão para mim.


- Ela fez – Rose lembrou a ele, virando-se de lado, encarando-o nos olhos. Ele estava muito próximo mesmo. Podia sentir o cheiro dele. – Ignore os berradores.


- Ignore os berradores. – Scorpius refletiu, dando um tom etéreo à voz, assim como o tom de voz de Cecília.


- Nunca se sabe...


Rose ergueu o rosto para o céu, cerrando os olhos. Largou as mãos ao longo do corpo, sentindo o vento frio da noite lhe lamber. Estava frio para início de setembro. Uma presença quente enrolou sua mão e ela percebeu que era Scorpius que a segurava. Não se virou para olhar nos olhos dele, apenas cerrou os olhos e apertou delicadamente a mão forte.

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Comentários (3)

  • tamires wesley

    ooooow momento dos dois..muito fofos.. essa cecilia vai dar oq falar..kkkkk.

    2012-07-25
  • Lana Silva

    Aiiiiiiiiiiiiiii que fofo eles dois Juntos *----------------------------* Amando!

    2011-09-26
  • Lana Silva

    Aiiiiiiiiiiiiiii que fofo eles dois Juntos *----------------------------* Amando!

    2011-09-26
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