ENCURRALADOS
CAPÍTULO 11
ENCURRALADOS
O ruído de passos e o estalar de pinças aumentava e ficava cada vez mais próximo até que, atravessando o véu de teias que cobria a entrada de uma gruta, surgiu uma acromântula quase do tamanho de um jipe, cujos pêlos negros eram entremeados por fios brancos, denotando que a aranha era bastante velha, o que também podia ser percebido pelo fato de seus oito olhos serem opacos e leitosos, ao contrário dos olhos negros e brilhantes das outras. A enorme aranha era cega e, provavelmente, o patriarca daquela numerosa e perigosa ninhada. Ao chegar ao centro da depressão, falou, com voz clara, grave e profunda.
_Posso ser cego, mas percebo que há aqui três garotos e um cão. Vocês são alunos da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts? _ perguntou ele _ Se são alunos, devem saber que a floresta é perigosíssima e proibida a vocês, exceto em companhia dos professores e mesmo eles não se aventuram a vir até aqui.
_Tivemos um motivo. _ disse Algie, ao lado de Rony, que estava paralisado e emudecido de medo _ Um amigo precisa de ajuda para sair de um grande problema.
_Que amigo? _ perguntou a aranha.
_Rúbeo Hagrid. _ respondeu Harry, movendo-se devagar por dentro do casulo de teias que o envolvia. Com o canto do olho, viu que Algie e Rony, que já estava mais calmo, faziam o mesmo.
_Rúbeo Hagrid é bem-vindo entre nós, pois ele me salvou de um terrível destino. O que houve com ele?
_Está sendo acusado de ter aberto novamente a Câmara Secreta. _ disse Rony, com voz baixa e articulando as palavras como se houvesse areia em sua garganta.
_Mas mesmo daquela vez ele não foi culpado. Fui acusado de ser a criatura responsável pela morte da garota, mas o verdadeiro monstro da Câmara Secreta era outro. Eu não poderia fazer o que ele fez, mesmo que meus instintos animais me levassem a atacar humanos.
_Sabe quem foi... desculpe, qual o seu nome? _ perguntou Harry.
_Hagrid me deu o nome de Aragogue. _ disse a aranha, enquanto outra aproximava-se e sussurava algo, entre estalos de suas pinças _ E você é Harry Potter. Minha filha reconheceu sua cicatriz. Um de seus companheiros deve ser seu irmão, Algernon (Algie fez uma careta ao ouvir seu nome) e o outro é Ronald Weasley. Sim, vocês são conhecidos, mesmo aqui nas profundezas da Floresta Proibida. Dois membros da família que sobreviveu ao atentado do Lorde das Trevas, inclusive aquele que resistiu ao impacto direto da Maldição da Morte e um jovem habilidoso, com irmãos também habilidosos, os Weasley.
_Você disse que Hagrid não foi culpado, em 1943. _ disse Rony _ Faz ideia de quem ou do que pode ter sido?
_Não dizemos o nome de tal criatura, que nos amedronta mais do que o nosso pior inimigo, Rony Weasley. _ disse Aragogue, entre nervoso e amedrontado _ Em 1943, eu sentia a presença de tal monstro pela escola e implorava a Hagrid para que me trouxesse para cá, pois temia pela minha vida. Os fatos acabaram se precipitando e aquele outro garoto, que foi responsável pela expulsão de Hagrid, quase me matou com um feitiço. Acabei fugindo para cá e, depois que o expulsaram, ele veio até mim e me guiou até a depressão, onde me instalei, consegui uma esposa, Mosague e demos início a uma linhagem, que inclui esses que vocês estão vendo. Agora que os fatos parecem estar se repetindo, outras aranhas estão abandonando o castelo e juntando-se a nós. Mas uma coisa eu posso garantir, Hagrid não abriu a Câmara Secreta agora, assim como não abriu em 1943.
_Se você tem certeza, Aragogue, então será possível limpar o nome de Hagrid e também descobrir o que é essa criatura, para darmos um fim nela. _ disse Harry.
_Creio que não, Harry Potter. _ disse Aragogue _ Essas respostas, assim como vocês não sairão daqui, pois há muitos a serem alimentados.
_Mas temos de ajudar Hagrid! _ exclamou Algie.
_Vocês adentraram a Floresta Proibida por sua própria conta, Algie Potter. Embora nós não façamos mal a Hagrid, pois assim o determinei, não posso negar alimento à minha linhagem. Ainda mais quando o alimento vem até nós. Adeus. Pelo menos será rápido.
_Pois eu acho que não, Aragogue! _ exclamou Harry, terminando de cortar o casulo com a adaga Tanto que estivera manejando por todo aquele tempo. Rony e Algie também saíram dos casulos e Rony logo tratou de cortar o que envolvia Canino _ Sairemos daqui de qualquer jeito!
_Podem tentar, mas não acredito que consigam, Harry Potter. _ disse Aragogue, estalando as pinças, enquanto as aranhas bloqueavam o caminho até a saída da depressão.
_Isso é o que vamos ver! “Αποκρούουν τις αράχνες (“Apokroúon tis aráchnes”, “Repelir aranhas”)”!! _ com o feitiço de Algie, várias aranhas voaram pelos ares e um caminho começou a ser aberto até a saída, embora ele logo fosse preenchido por outras.
_Vamos fazer algo, também. _ disse Rony, enquanto lançava bombas-Ninja de clarão, que ofuscavam a visão das aranhas. Afinal, oito olhos eram oito vezes mais sensíveis. E ele também lançava seu feitiço _ “Αποκρούουν τις αράχνες”!! Pode dar certo, gente!
_ “Αποκρούουν τις αράχνες”!! _ bradou Harry, enquanto também lançava bombas de clarão. Eles estavam conseguindo chegar perto da saída, mas não estava sendo o bastante. As aranhas bloqueavam o caminho mais depressa do que eles conseguiam abri-lo.
_Acho que não vamos conseguir! _ exclamou Rony.
_Precisamos! Hagrid depende de nós! _ Harry disparou mais um feitiço, que abriu um pouco mais o caminho.
As aranhas estavam começando a cercá-los, tornando a situação insustentável. Quando tudo parecia perdido, o som de uma buzina e o brilho de fortes faróis trouxe uma nova esperança. Um bólido azul-claro irrompeu pela entrada da depressão, espalhando acromântulas e aranhas menores para todos os lados, dando um cavalo-de-pau e cantando os pneus. No meio do claro que se abriu, outra buzinada e um som de portas se abrindo.
_É o “WEASLEYMÓVEL”, gente! _ exclamou Rony, enquanto eles corriam para dentro do Ford Anglia, arrastando Canino _ Ele realmente adquiriu personalidade própria, resolveu viver aqui como um animal selvagem!
_Se ele puder nos tirar daqui bem rápido, tanto melhor! _ exclamou Algie. O carrinho pareceu compreendê-lo, fechando as portas e subindo os vidros. Harry mal teve tempo de dar um chute em uma grande aranha que tentava entrar e picar Rony, antes do carro dar marcha-à-ré e sair da depressão, com os quatro dentro dele e um sem-número de aranhas a persegui-los.
_O Comando de Vôo parece estar emperrado. _ disse Rony, tentando soltar a alavanca _ Está meio difícil a coisa por aqui.
_Se não sairmos voando, as aranhas irão cobrir o carro e vai ficar pesado demais para prosseguirmos. _ disse Harry _ Vou tentar isto aqui. “खोलना लीवर” (“Khōlanā līvara”, “Desemperrar alavanca”)!!
Com o forte feitiço em Hindi que Harry lançou, a alavanca do Comando de Vôo desemperrou e Rony pôde mudá-la para a posição “Acionar”, possibilitando ao Ford Anglia deixar o solo e ainda derrubar uma acromântula que estava na capota, quando passou colado ao galho de uma árvore, no qual ela ficou dependurada, a estalar suas pinças em uma feroz mas inútil demonstração de fúria.
O Ford Anglia sobrevoou a Floresta Proibida e aterrissou em sua orla, ao lado da cabana de Hagrid, onde deixaram Canino. O pobre cão estava bastante amedrontado e desorientado, tanto que logo procurou suas cobertas e deitou-se, dormindo logo em seguida. Os três garotos, com seus trajes Ninja rasgados em diversos lugares, mas sem terem tomado nenhuma picada das aranhas, retornaram para o castelo, ocultos pela Capa de Invisibilidade que Harry deixara escondida na cabana.
_Hagrid nos deve esta. Se eu pegá-lo, ele vai desejar não ter saído de Azkaban, eu juro! _ disse Rony, furioso.
_De repente serviu para você perder o medo de aranhas. _ disse Algie.
_Medo não, Algie. _ respondeu Rony, vermelho de raiva _ Ódio. Agora é puro ódio! EU ODEIO ARANHAS!!!
E subiram de volta para o castelo, tomando o máximo de cuidado para não serem apanhados por ninguém. Por sorte, Lockhart era quem estava na entrada e eles não tiveram muito trabalho.
Na segurança da Torre da Grifinória, depois que todos já haviam ido dormir, os três conversavam em voz baixa, nas poltronas em frente à lareira, onde as brasas proporcionavam uma temperatura e uma baixa luminosidade bastante agradáveis.
_Cuidado para não falarmos alto demais e acordarmos Percy. Ele normalmente tem o sono pesado, mas depois do que aconteceu com Penélope, anda bem agitado. _ disse Rony.
_Quase morremos, mas pelo menos conseguimos nos certificar da inocência de Hagrid, tanto agora quanto da outra vez. _ disse Harry.
_O que nos leva a pensar que o prêmio concedido a Tom Riddle em 1943 foi para lá de fajuto. Ele foi um baita oportunista, sabendo que Hagrid gostava de tratar monstros como se fossem poodles, simplesmente o incriminou e posou de herói. _ comentou Algie.
_Embora os ataques tenham parado. _ disse Rony.
_Mas o que Aragogue disse antes está me dando o que pensar. _ disse Harry, cruzando as mãos sob o queixo _ Uma criatura que mesmo aqueles monstros de oito patas temem. “Nos amedronta mais do que o nosso pior inimigo”, foi o que a velha acromântula disse.
_Fico pensando o que poderia apavorar aquelas coisas. Mas há algo que está me incomodando, um pensamento persistente. _ disse Rony _ E se refere à vítima do monstro, em 1943.
_Fala da garota da Corvinal? _ perguntou Algie.
_Isso mesmo, Algie. _ confirmou Rony _ Harry, quando você entrou nas lembranças do diário de Tom Riddle, pôde localizar em que parte do castelo a garota foi encontrada?
_Sim, eu vi dois bruxos carregando uma padiola, com o corpo da garota, coberto. Não deu para ver o rosto, só uma das mãos. _ disse Harry _ E era no segundo andar, tenho certeza absoluta. E perto do... espere aí, Rony. Não está pensando que poderia ser...
_... Acho que estou pensando o mesmo que vocês. _ disse Algie.
_Logo pela manhã, vou dar uma de Hermione Granger. _ disse Rony.
_???
_Vou pesquisar na Biblioteca, ora. _ disse o garoto.
_Mas será que não andaram suprimindo informações? _ perguntou Algie.
_Olha, parece que não tudo. _ disse Harry _ Lembra-se de quando estávamos pesquisando para o “Dossiê Voldemort”? Pois havia algumas coisas interessantes em exemplares antigos do Profeta Diário.
_Claro, até mesmo Draco Malfoy e Pansy Parkinson chegaram a comentar algo sobre isso, no ano passado. _ disse Rony _ Só espero que não tenham jogado fora nenhum deles.
_Acho difícil, Rony. _ disse Algie _ Madame Pince teria um ataque, se alguém jogasse fora algum material da Biblioteca.
E os três foram dormir.
Na manhã seguinte, Harry e Rony tomaram café e, como teriam um tempo livre, correram à Biblioteca, em companhia de Soraya e Neville. Luna, Gina e Algie estavam em aula.
_Madame Pince, lembra-se dos jornais antigos que a senhora liberou para pesquisarmos, no ano passado? _ perguntou Rony.
_Sim, Sr. Weasley. Eles estão bem ali. _ e apontou para uma estante, com os jornais organizados por datas. Depois de algum trabalho, localizaram o exemplar que procuravam.
_Aqui está. “Misteriosa morte de aluna em Hogwarts. Myrtle Galloway, da Casa Corvinal, foi encontrada sem vida, no banheiro do segundo andar. Fontes não fidedignas associam o ocorrido à lenda da Câmara Secreta de Salazar Slytherin. Nada confirmado, mas o Monitor-Chefe da escola ajudou a esclarecer os fatos, tendo ganho um prêmio por serviços prestados”... É, gente, parece que é só isso. _ disse Soraya.
_Estranho, nenhum detalhe a mais. _ disse Harry _ Realmente, abafaram tudo para evitarem um escândalo.
_A garota, Myrtle..., “Myrtle”..., “Pervinca-trepadora”..., “Erva-da-inveja”..., “Mirto”... “Murta”... _ Neville ia murmurando os sinônimos, utilizando seus conhecimentos de Herbologia, até que... _ “MURTA!!” Merlin! Vocês acham que...
_... Tudo se encaixa com o que desconfiávamos. _ disse Harry.
_Então a garota que morreu... _ disse Neville.
_... Ainda está por aqui. _ disse Soraya.
_E nós a conhecemos. _ disse Rony _ É a nossa conhecida...
_... MURTA QUE GEME!!! _ exclamaram os outros, enquanto Madame Pince fazia cara feia.
_Vamos falar com ela, assim que possível. _ disse Harry, consultando o seu relógio de pulso _ Agora está na hora da aula de Transfiguração.
Na sala, Minerva McGonnagall anunciou aos alunos que os exames estavam se aproximando.
_Mesmo com todos os acontecimentos, o programa de estudos deve prosseguir. Afinal de contas, não podemos e nem devemos descuidar de sua formação, que é a razão de ser desta escola. _ disse a professora, diante das caras desanimadas _ Portanto, estudem. O desempenho de vocês todos continua sendo avaliado.
_Ferrou. _ disse Draco _ Acho que muita gente não estudou direito, preocupada com os ataques aos alunos.
_Inclusive você, não é, Draco? _ perguntou Pansy.
_Fazer o quê... _ disse o loiro, meio sem jeito e corando de leve _ Acho que vai dar para passar raspando. Afinal, com todos esses ataques, quase todo mundo ficou muito preocupado para se concentrar nos estudos, salvo algumas exceções, tipo Hermione Granger, por exemplo.
_É, e agora está lá na Enfermaria, petrificada. _ disse Pansy _ Ela e Nereida.
_Temos outra novidade, alunos. _ disse a professora _ As mandrágoras estão quase no ponto para serem colhidas. Então, será possível que a Profª Sprout e o Prof. Snape façam o Tônico de Mandrágora e Vagem-da-Capadócia, para reanimar as vítimas da petrificação.
_Talvez alguma delas possa dar informações sobre quem ou o quê as atacou, professora. _ disse Fred.
_Assim esperamos, Sr. Weasley. Com isso, poderemos ter de volta nosso Diretor (e, em voz baixa) e mandar de volta para Londres esse arremedo de professor.
_Pois é. _ disse Harry _ A última dele foi soltar um bando de Diabretes da Cornualha na sala, durante uma aula.
_Quando ele tentou usar um feitiço para capturá-los, eles tomaram a varinha dele e ainda o dependuraram de cabeça para baixo em um lustre. _ disse Neville.
_No final, nós é que os capturamos, com Feitiços Inmobulus. _ disse Soraya.
_Como pode um Caçador de Criaturas das Trevas ser assim tão incompetente como professor? _ perguntou Soraya.
_Pois é. A credibilidade dele fica meio abalada. _ comentou Gina, que terminara sua aula e viera esperar Harry.
_Oi, Gina. _ disse Harry _ Menos cansada?
_Sim. Aliás, estou voltando da aula com o pavão. Acredita que ele nos fez encenar a captura de uma Banshee? _ comentou a ruiva.
_Ah, sim. Essa está no livro “O Beijo da Banshee”, Srta. Weasley. Eu já tive o desprazer de lê-lo. _ disse Minerva McGonnagall, com uma expressão de desagrado.
Depois que a aula terminou, Rony comentou:
_Se as vítimas forem reanimadas e puderem prestar informações, pode ser desnecessário falar com Murta.
_Não sei, Rony. _ disse Harry _ Eu acho importante falarmos com ela, assim que possível.
_Vejam, ali está o pavão. _ comentou Soraya, em voz baixa.
Gilderoy Lockhart estava examinando algumas anotações, com ar preocupado. À aproximação dos alunos, tratou de escondê-las no bolso das vestes verde-água.
_Oh, bom dia, jovens. Algum progresso nas suas investigações?
_Mais ou menos. E o senhor? _ perguntou Neville.
_Estou convencido de que, realmente, foi Hagrid quem abriu a Câmara Secreta, assim como da outra vez. _ disse Lockhart _ E acho que é isso que as vítimas dirão.
_Alguma idéia de onde fica a entrada? _ perguntou Harry, para testar Lockhart.
_Estou quase descobrindo, inclusive comentei isso com Severo, outra noite. Bem, com licença, preciso revisar algumas anotações e realizar testes em algumas amostras.
_Aposto que vai é encurvar os cílios. _ disse Luna, que juntara-se aos amigos depois de sair de sua aula, assim que Gilderoy Lockhart se afastou, arrancando boas risadas de todos eles _ Onde vamos?
_Falar com a Murta que Geme, mas antes vamos à Enfermaria, ver Mione e Nereida. _ disse Rony.
_Bom. Soube que logo as vítimas poderão ser reanimadas... essa não! O primeiro ano tem aula de Feitiços, daqui a pouco. _ disse a loirinha, consultando o relógio _ Vamos indo, Gina!
_É mesmo, eu ia me esquecendo! _ disse Gina, dando um beijo no rosto de Harry, enquanto Rony ficava vermelho _ Até mais. Eu direi a Algie onde estão indo.
_OK. Até mais.
Chegando à Enfermaria, deram de cara com... Draco Malfoy.
_Malfoy? Você por aqui? _ espantou-se Soraya.
_Calma, “priminha”. _ disse o loiro _ Não se esqueça de que também há uma sonserina entre as vítimas. Nereida e eu não somos assim tão próximos, apesar do Prof. Snape ser meu padrinho, mas ela sempre foi uma boa colega e o que houve com ela atinge a todas as Serpentes.
_Não me faça recordar que somos parentes, comi uma tortinha de abóbora há pouco e não estou a fim de devolvê-la. _ disse Soraya.
_Não nega que é uma Black. _ disse Draco, sorrindo. Ah, Harry, parece que as duas estão segurando algo.
_Como assim, Draco?
_Tanto a Granger quanto Nereida parecem estar segurando alguma coisa, um pedaço de papel, talvez. Até mais. _ e Draco Malfoy afastou-se, seguindo pelo corredor.
_Papel? _ perguntou Neville _ Não reparamos nisso, antes.
_Vamos ver o que é. _ disse Rony.
Na Enfermaria, eles ficaram em pé, à volta dos leitos das amigas, olhando para seus rostos hirtos e olhos fixos no infinito, como esculturas. Prestando mais atenção, viram que tanto Nereida quanto Hermione tinham uma das mãos fechada, segurando um pedaço de papel.
_Temos de tirar esses papéis das mãos delas. _ disse Soraya.
_E com cuidado, para não rasgá-los. _ disse Harry.
Puxando delicadamente, ao cabo de alguns minutos os amigos conseguiram retirar os pedaços de papel das mãos das garotas petrificadas, constatando que eram páginas arrancadas de livros da Biblioteca.
_Madame Pince não deve ter visto isso ou daria um chilique. _ disse Neville.
_Vamos ver o que está escrito. _ disse Soraya.
_De acordo, mas fora daqui. _ disse Rony _ Se Hermione Granger chegou a arrancar uma página de um livro, é porque a coisa é muitíssimo importante.
_Com certeza. _ disse Harry.
Os amigos foram até um local discreto do corredor, onde à luz de uma tocha leram o conteúdo das páginas. Uma delas, a que estava na mão de Nereida, dizia:
“O BASILISCO. Perigossíssima fera mágica, também conhecida como Rei das Serpentes, pode alcançar um grande tamanho e viver por séculos. Há controvérsias sobre se o seu olhar somente petrifica ou se é mortal e se é o seu hálito que mata ou não. O fato é que o veneno de suas presas é letal e quem encarou um não viveu para resolver a dúvida. Origina-se de um ovo de galinha, chocado por uma rã e é inimigo mortal das aranhas, que o temem e fogem dele. Só há uma coisa que o basilisco teme, que é o canto do galo, pois ele lhe é fatal. Por essa razão, onde há suspeita de existir um basilisco, o bruxo sempre se faz acompanhar por um galo.”
_As coisas estão se encaixando. Tudo indica que a criatura da Câmara Secreta é um basilisco. _ disse Harry _ Vejam, aranhas em fuga, alguém ou algo matou os galos do galinheiro de Hagrid e, principalmente, o fato de somente eu entender as vozes misteriosas que ouvia.
_Claro! _ disse Soraya _ O basilisco é uma serpente e você, por ser ofidioglota, entende o Ofidiano!
_E a dúvida sobre o olhar do basilisco... acho que ele realmente é mortal.
_Por que, Rony? _ perguntou Neville _ Se é mortal, as vítimas deveriam estar mortas e não petrificadas.
_Porque, na verdade, ninguém olhou diretamente para os olhos da criatura, Neville, tenho certeza. _ disse Rony _ E acho que Harry concorda comigo.
_Sim. Mione, Nereida e Penélope portavam espelhos, creio que como segurança antes de virar em uma curva dos corredores. _ disse Harry _ Elas viram os olhos refletidos.
_E quanto a Justin Finch-Fletchley? _ perguntou Soraya.
_Sir Nicholas. _ disse Rony _ O fantasma estava na frente de Justin e olhou diretamente para o monstro.
_Mas como já estava morto, ficou com aquela aparência queimada. E acabou funcionando como uma espécie de anteparo. _ disse Neville _ Por isso Justin foi petrificado e não morto. Sir Nicholas atenuou o poder mortal do olhar do basilisco. E quanto a Colin Creevey?
_A lente da câmera de Colin. _ disse Harry, lembrando-se daquela noite, quando estava na Enfermaria _ Ele estava em posição de tirar uma foto, tanto que o filme queimou, com a força mortal do olhar.
_Certo. E quanto a Filch e Madame Nor-ra, creio que sei o que foi que funcionou como espelho. _ disse Soraya _ Toda aquela água no chão refletiu a imagem da serpente. Por isso os dois estavam olhando para baixo.
_Gente, eu acho que a coisa é ainda pior. _ disse Rony, com a outra folha de papel na mão _ Leiam isso:
“Um bruxo bastante poderoso, Salazar Slytherin tinha também outros interesses, entre eles o estudo de criaturas mágicas e pesquisas sobre a possibilidade de fusão de características entre diferentes espécies, sendo que teve relativo sucesso, em alguns casos. Algumas fontes afirmam, porém outras não confirmam, que ele passou os últimos anos antes de abandonar Hogwarts realizando um trabalho secreto que envolvia a criação de uma nova espécie de criatura, um monstro que obedeceria apenas a ele e a seus herdeiros de direito e de fato, a qual seria escondida na tão falada Câmara Secreta e realizaria o ‘Expurgo dos Trouxas’, a limpeza étnica que ele apregoava. Tal criatura seria a fusão de outras duas, perigosas e mortais, ambas com características reptilianas. Uma delas seria um basilisco, o poderoso Rei das Serpentes. Em um ovo de basilisco, seriam implantadas características de um dos mais terríveis seres da Mitologia Grega, a Górgona, a Medusa.”
_A... a Medusa?! _ espantou-se Neville _ Ela era um dos mais terríveis e mortais monstros da Era Mitológica!
_Vejamos o que o livro diz. _ e Rony continuou a ler.
“A Medusa era uma das três irmãs Gorgon, belíssimas sacerdotisas de Athena, filhas de Forcis e Keto. Suas outras irmãs chamavam-se Esteno e Euríale. Apaixonado por ela, o deus dos oceanos, Poseidon, a assediou ao ponto dela, não mais podendo resistir, cedeu aos seus apelos e fez amor com ele no interior do templo de Athena. Sabendo daquilo, a deusa a castigou, retirando a delicadeza de seu rosto, tornando-o de uma beleza perigosa, dotando-a de alvos e venenosos dentes como os dos porcos, dois dos quais tinham o tamanho de presas, como as dos javalis, além de redondos olhos amarelos, capazes de petrificar quem os fitasse. Seus sedosos cabelos foram substituídos por serpentes venenosas. Seu corpo escultural ganhou formas atléticas e ela tornou-se exímia arqueira, matando com suas flechadas aqueles que conseguiam evitar fitar seus olhos. Seu sangue era venenoso como o da Hidra de Lerna, somente Perseu, seu matador, era imune a ele por ter manuseado o Olho das Graias, as Feiticeiras Antropófagas de Styx, outro trio de filhas de Forcis e Keto, irmãs das Górgonas. Utilizando-se dos presentes de seu pai, Zeus, que mandara forjar um elmo de invisibilidade, um escudo com interior espelhado e uma afiadíssima espada de aço, metal desconhecido na Era do Bronze, Perseu matou a Medusa, decapitando-a após se aproximar rapidamente sem que ela visse, calçando as sandálias de Hermes e olhando para seu reflexo, no interior do escudo. Contam outras lendas que, com sua cabeça decapitada, Perseu teria petrificado Atlas e, com gotas de seu sangue, dado origem aos corais do Mar Vermelho e às víboras da Etiópia, onde o herói casou-se com a princesa Andrômeda, após petrificar o monstro Kraken, que iria devorá-la.”
_Caracas, que criatura! _ exclamou Harry _ Mesmo morta, ainda causava estragos!
“Depois de tudo, Perseu petrificou o Rei Polidectes de Serifos, que queria forçar sua mãe, Dânae, a casar-se com ele e, por fim, ofertou a cabeça da Medusa a Athena, que a colocou em seu escudo, o Aegis. Contam fontes não-oficiais que Salazar Slytherin teria obtido, de alguma forma, amostras do sangue da Medusa e as teria implantado em um ovo de basilisco, dando origem a uma terrível criatura híbrida, com um corpo feminino até a cintura, abaixo da qual seria o corpo de uma serpente, cujo olhar mataria, em vez de petrificar, sangue e mordida mortais, com cobras no lugar de cabelos e estupendas habilidades de arco-e-flecha. Teria sido batizada de ‘BasiGorgon’ ou ‘GorgoLisk’, não há um consenso sobre isso. Só se sabe que habitaria a Câmara Secreta e obedeceria apenas e tão somente ao herdeiro de Salazar Slytherin.”
_A coisa realmente é ainda pior. _ disse Soraya _ Se tal criatura for real, ela é mais perigosa do que um basilisco porque, além de tudo, ainda seria uma exímia arqueira.
_Mas mesmo Salazar Slytherin não conseguiria um feito de tal magnitude no cruzamento de criaturas mágicas. _ disse Neville.
_Acho que conseguiu, Neville. _ disse Harry _ O pior é que tenho três confirmações.
_De uma delas eu me lembro. _ comentou Rony _ Lá na Floresta Proibida, Aragogue nos disse que o Monstro da Câmara é uma criatura que os amedronta mais do que o pior inimigo das aranhas. Ora, o pior inimigo das aranhas é o basilisco. Se há algo que amedronta as aranhas mais do que um basilisco, isso significa que Slytherin obteve sucesso. E quais as outras, Harry?
_Vocês podem até achar graça, se bem que a situação é grave. Mas, quando eu ouvia a criatura falar em Ofidiano, sua voz parecia ter sotaque grego ao chegar a meus ouvidos. E os espelhos existentes nas proximidades estavam todos rachados. Creio que ou essa criatura não deve ser imune ao poder do seu próprio olhar ou ele é tão forte que racha espelhos.
_Sotaque grego? _ espantou-se Soraya _ Merlin! Então essa criatura, a tal “BasiGorgon” ou “GorgoLisk” realmente existe!
_Bem, mesmo que não seja uma serpente gigante, como ela poderia se locomover pelo castelo sem chamar a atenção de alguém antes de atacar suas vítimas? _ perguntou Neville _ Alguém a veria ou ouviria o som de seu rastejar.
_O som do rastejar poderia ser disfarçado. _ comentou Harry _ Mas, quanto a não ser vista...
_... Acho que a resposta está aqui, Harry. _ disse Soraya, pegando a folha que haviam retirado da mão de Hermione _ Há uma anotação com a letra dela.
No rodapé da página, Hermione havia escrito “O ENCANAMENTO”.
_Mas claro! O encanamento de um castelo como Hogwarts possui uma bitola que permitiria até mesmo a um basilisco se locomover, quanto mais uma criatura com dimensões aproximadas de uma pessoa. _ disse Rony _ Você estava ouvindo a voz da criatura dentro das paredes, Harry.
_E, se a criatura se locomove pelo encanamento, a entrada para a Câmara Secreta deve ser em um ponto inicial ou terminal. _ disse Harry _ Ou no... eca... despejo ou então em um dos...
_... Dos banheiros. _ disse Neville _ E isso justificaria a inundação no corredor, na noite do primeiro ataque, quando Filch e Madame Nor-ra foram petrificados. Foi no corredor do segundo andar. E lá é o banheiro...
_... DA MURTA QUE GEME!!! _ exclamaram os outros.
_Em nome de Merlin! _ exclamou Harry _ Tudo se encaixa. O corpo de Murta foi encontrado no banheiro do segundo andar. O corredor estava inundado quando houve o primeiro ataque. A entrada deve ser no banheiro mesmo, gente. Temos de ir para lá, tentar encontrá-la.
Correram em direção ao segundo andar mas, no meio do caminho, o sistema de som mágico da escola anunciou um toque de recolher antecipado.
“TODOS OS ALUNOS PARA AS SALAS COMUNAIS E OS PROFESSORES DEVERÃO IR PARA A SALA DE REUNIÕES. MONITORES, FAÇAM A CONTAGEM DOS ALUNOS, ASSIM QUE TERMINAREM DE ENTRAR.”
_A coisa deve ser grave. _ disse Rony.
_Vamos para a Sala Comunal? _ perguntou Neville.
_Não, vamos ver o que houve. _ disse Harry _ Acho que pode ter relação com o caso e, de repente, poderemos ajudar com as informações que temos.
Mudaram o rumo e foram para o térreo, onde ficava a sala de reuniões. No caminho, Luna e Algie juntaram-se a eles.
_Cadê a Gina? _ perguntou Rony, enquanto Harry começou a sentir uma desagradável vibração no Ki, geralmente associada a problemas.
_Rony, um grande problema. _ Algie ia explicar, quando tiveram de se esconder, pois os professores iam chegando, inclusive o interino de Defesa Contra as Artes das Trevas, Lockhart.
_Uma aluna desapareceu. _ disse Snape _ E surgiu uma nova escrita de sangue na parede.
_O que dizia? _ perguntou Lockhart.
_Dizia: “SEU CORPO SERÁ A PRINCIPAL OFERENDA PARA A TRIUNFAL ASCENÇÃO DO HERDEIRO.” Creio que foi levada para a Câmara Secreta.
_Merlin! _ disse Flitwick _ E quem é a aluna desaparecida?
_Gina. Gina Weasley. _ disse Minerva McGonnagall.
Rony ficou branco e Harry crispou os lábios. Os outros Inseparáveis não tinham palavras.
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