Capítulo 9
Harry estava me esperando no lado de fora da escola, sentado num muro baixo de tijolos perto da entrada. Quando ele me viu, ele pulou de lá e esticou as mãos para meus livros, como sempre fazia quando conseguia me encontrar depois da escola.
"Perdemos o ônibus", Harry apontou. Ele não parecia desapontado.
"Nós podemos caminhar até o escritório da mamãe. Ela nos dá uma carona." A Universidade Grantley era a apenas alguns minutos da escola.
"Idéia excelente", Harry começou a acompanhar meus passos, e nós caminhamos em direção ao campus, no fim de tarde frio do meio de outono.
Depois de alguns momentos de silêncio, ele puxou um lenço monogramado de linho de um bolso interno no seu casaco, e o entregou pra mim. "Seu rosto está molhado de lágrimas."
"Obrigada", eu disse, aceitando o lenço. Eu enxuguei as bochechas. "Aqui", eu disse, entregando de volta.
Harry ergueu uma mão, se afastando. "Pode ficar com ele. Eu imploro. Eu tenho outros."
"Obrigada." Eu ergui o lenço, tentando guardá-lo no meu bolso.
"O prazer é meu, Hermione." O olhar de Harry estava desviado de propósito, sua voz distraída. Mais ou menos um quarteirão depois, ele avançou um pouco à minha frente, caminhando em marcha ré, meio inclinado, procurando meu rosto.
"Aquele garoto... aquele Zinn sem graça."
"O que tem Jake?" Foi minha vez de desviar o olhar, olhando para a rua alinhada com árvores de carvalho.
"Ele... realmente é alguém por quem você se sente atraída?"
Eu cruzei os braços no peito, erguendo os ombros, chutando uma amêndoa caída.
"Oh, eu não sei. Quer dizer..."
"Bem, você vai acompanhá-lo a esse evento do qual todos estão falando"
"É um carnaval. Como uma festa no ginásio. Não um 'evento'. Ninguém diz 'evento'. Pelo menos, ninguém na Woodrow Wilson."
Harry fez uma careta. "Evento, carnaval... que seja. Você está cortejando?"
Isso nos olhos de Harry é mágoa? Ou é só a obscuridade de sempre? "É só um encontro, mas é, eu acho que sim", eu admiti, sem ter certeza de porque de repente eu me sentia culpada. Eu não tinha motivos pra me sentir culpada. Só porque Harry acreditava que estávamos noivos, isso não fazia de mim uma traidora, pelo amor de Deus. Mas ele continuou me encarando, então eu completei muito mal. "Eu espero que isso não seja um problema. Com o pacto e tudo mais."
"Eu só acho difícil de entender."
"O quê?" Isso eu precisava ouvir. "Eu pensei que você soubesse de tudo."
"Ele nem te defendeu." Harry esfregou o queixo, genuinamente confuso.
Eu mesma fiquei um pouco na defensiva, por causa de Jake. "Aqui, as mulheres se defendem sozinhas. Homens não precisam lutar por nós. Eu te disse - eu posso lidar com Dormand."
"Não da forma que eu posso fazer por você. Não do jeito que Zinn devia ter feito. Goste ou não, nós somos forçados pelo gênero. Você pode cuidar de uma mosca, mas eu posso acabar com ele. Qualquer homem honrado teria tomado a frente."
"Hey", eu protestei. "Jake tem honra."
"Não suficiente para te proteger."
"Oh, Harry", eu gemi. "Jake acha que você passou totalmente dos limites - e ele está certo."
Harry balançou a cabeça. "Então ele não viu seu rosto."
Eu não sabia exatamente o que ele queria dizer.
Nós voltamos a andar em silêncio, Harry diminuindo seus passos largos para acompanhar os meus. Ele parecia ainda mais distraído que antes, com uma grande careta no rosto.
Nós passamos pelos portões do campus Grantley, indo em direção ao Prédio Schreyer, onde ficava o escritório da minha mãe. De repente, Harry iluminou.
"Você dirige, não é? Tem uma carteira?"
"Bem, sim, claro. Por quê? Onde você quer ir?"Ao banco de sangue?
"Eu acho que gostaria de comprar uns jeans", ele anunciou. "Talvez uma camiseta. E eles são muito rígidos sobre o uso de certos sapatos no ginásio. Minhas solas Romenas quebram alguma espécie de regra. Aparentemente eu preciso de sapatos com amortecedores se vou continuar a jogar basquete."
Eu parei imediatamente. "Você quer comprar roupas normais?"
"Não, eu quero atualizar meu guarda roupa na linha das normas culturais", ele corrigiu. "Você sabe como comprar essa famosa loja 'outlets' da qual eu sempre ouço falar, certo?"
Eu resfoleguei, colocando um dedo no peito de Harry. "Espere bem aqui. Não se mexa. Eu vou perguntar à mamãe se podemos pegar a van emprestada." Isso eu tenho que ver.
Como Harry Potter ia parecer normal? E mais importante ainda, como um
Romeno alto, imperioso, acostumado a usar calças pretas feitas por alfaiates ficaria usando um par de jeans?
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"Honestamente, eu não sei como algumas dessas histórias começaram", Harry reclamou, ajustando o rádio da van, provavelmente procurando música folclórica Croata, mas se contentando com música clássica na estação pública de rádio.
"Hollywood, eu suponho."
Eu mudei para uma estação de pop, só para irritá-lo. "Então você não acha que pode se transformar num morcego?"
Harry abaixou a música e me lançou um olhar que dizia que ele estava insultado. "Por favor. Um morcego? Que vampiro com auto-respeito se transformaria num roedor que voa? Você se transformaria num gambá, mesmo se tivesse a habilidade?"
"Não, eu acho que não." Eu parei num semáforo. "Talvez só uma vez, pra ver como é."
"Bem, vampiros não podem se transformar em nada."
"E quanto a alho? Ele te repulsa?"
"Só se for no hálito de alguém."
"E estacas? Você pode ser morto com uma estaca?"
"Qualquer um pode ser morto com uma estaca. Mas sim - isso é verdade. De fato, uma estaca no coração é a única forma efetiva de matar um vampiro."
"Uh, sim. Claro."
"Pra poupar seu tempo, eu vou dizer que nós não dormimos em caixões. Nós não dormimos de cabeça para baixo. Nós, obviamente, não desintegramos com a luz do sol. Como uma pessoa viveria uma vida prática e útil desse jeito?"
"Até agora, ser vampiro parece bem chato, se você me perguntar."
"Correndo o risco de levantar um assunto ruim - e novamente, minhas desculpas - na noite passada você não pareceu achar minhas presas chatas. De fato, você teve uma reação muito forte com a afiação delas."
E a sensação das mãos dele, seu corpo... Não vá por esse caminho, Jess.
"Como você fez aquilo? Você tinha, tipo, um par de dentes de plástico na boca?"
Harry me deu uma olhada incrédula. "Dentes de plástico? Eles pareciam de plástico?"
"Não." Eu admiti. "Mas dentaduras tem uma aparência real."
"Dentaduras." Ele bufou. "Não seja absurda. Aqueles eram - são – meus dentes. É isso que os vampiros fazem. Nós criamos presas."
"Então faça isso agora." Eu entrei na Rota 30, navegando pelo trânsito.
"Oh, Hermione... Eu não acho que seja sábio fazer isso enquanto você dirige numa via lotada. Na noite passada você entrou em pânico."
"Você não pode fazer, pode?" Eu desafiei. "Porque foi um truque estúpido, e você não está com as suas próteses."
"Não me provoque, Hermione. A não ser que você realmente queira que eu faça o que você me pede. Porque eu posso, e eu farei."
"Faça."
"Como você quiser." Harry virou em minha direção, mostrou os dentes, e eu quase saí da estrada. Harry agarrou o volante, nos fazendo voltar para o lugar.
"Minha nossa." Ele tinha feito de novo. Ele fez mesmo. Eu passei meu olhar por ele, cuidadosamente. Os dentes pontudos haviam desaparecido. É um truque. Um truque. Eu não ia cair nessa. Dentes eram cobertos com esmalte, uma das substâncias mais fortes no corpo. Esmalte não podia mudar ou sair do lugar. Era impossível, a nível molecular.
"Você realmente deve se acostumar com isso", Harry repreendeu.
"Você comprou esse truque, tipo, em uma loja de mágica?"
"Não é um truque. Por favor, pare de usar essa palavra." Harry tamborilou os dedos no vinil do banco da van. Eu podia dizer que ele estava ficando frustrado de novo. "Transformação vampiresca é um fenômeno. Se você lesse o livro que eu providenciei -"
Eu gemi. "Oh, Deus, aquela coisa." Minha cópia rejeitada de Se Transformando num Morto Vivo ainda estava embaixo da minha cama. Eu vivia querendo jogá-lo fora, mas de alguma forma, nunca conseguia. Eu não queria pensar no por quê.
"Sim, 'aquela coisa'", Harry disse. "Se você lesse o guia saberia que vampiros do sexo masculino ganham a habilidade de crescer as presas durante a puberdade.
Acontece quando ficamos excessivamente nervosos. Ou excitados."
"Então você está dizendo que 'presas' são como uma -" eu comecei a dizer. Mas a verdade era, eu nunca tinha dito isso em voz alta, e descobri que não conseguia fazer isso. Mas Harry compreendeu.
"Sim. Isso. Precisamente. E freqüentemente possuem o mesmo efeito, se é que você me entende. Mas com prática fica fácil de controlar. E, é claro, mulheres também podem criar presas."
"Então porque eu não consigo fazer isso, já que supostamente sou uma vampira tão importante?" Cedo ou tarde, eu acabaria confundindo ele com a lógica.
Mas Lucius respondeu imediatamente. "Mulheres precisam ser mordidas primeiro, eu preciso te morder. É um grande privilégio para um homem, ser a primeira mordida de sua noiva."
"Não comece de novo com essa conversa de noivado", eu disse séria.
Encontrando a primeira entrada para a o shopping outlet, eu fiz uma curva rápida.
"Não estou de brincadeira. Acabamos com isso."
Harry inclinou a cabeça. "Acabamos com isso?"
"Sim."
Eu estacionei numa vaga. "E quanto a espelhos? Quando você experimentar as roupas, vai conseguir se ver num espelho?"
Harry esfregou as têmporas. "Você estudou ciências básicas na Woodrow Wilson? Você conhece os princípios por trás do reflexo?"
"É claro que sim. Sou eu que na verdade acredita na ciência, lembra? Eu estava só brincando." Eu arranquei as chaves da ignição. "Então vamos recapitular. Você não pode se transformar em morcego, não dissolve na luz do sol, e é visível para espelhos. O que vampiros podem fazer? Por que é tão incrível ser um deles?"
"O que haveria de tão maravilhoso em dissolver na luz do sol? Ou não ser capaz de se olhar no espelho e julgar se você está apropriadamente vestido?"
"Você sabe o que eu quero dizer. Você vive dizendo que vampiros são tão legais. Eu só quero saber por quê."
A cabeça de Harry caiu para trás no banco. Ele olhou para o carpete velho no teto da van como se estivesse implorando por paciência ou conselhos. "Somos simplesmente a raça mais poderosa de super humanos. Somos fisicamente presenteados com graça e força. Somos pessoas de rituais e tradições. Nós desenvolvemos poderes mentais: a habilidade de nos comunicar sem palavras quando é necessário. Nós governamos o lado negro da natureza. Isso é 'incrível' suficiente pra você?"
Eu agarrei a maçaneta da porta. "Então por que vocês bebem sangue?"
Harry suspirou profundamente, abrindo sua própria porta. "Por que todos são tão obcecados com sangue? Existem muito mais coisas."
Eu deixei o assunto. De qualquer forma, eu meio que fiquei distraída, agora que íamos fazer compras. "Então, onde você quer ir primeiro?"
Harry deu a volta na frente da van e pôs as mãos nos meus ombros, me apontando na direção da loja da Levi's. "Aqui."
Cinco lojas e cerca de quinhentos dólares depois, Harry Potter quase parecia um adolescente Americano comum. E, eu tinha que admitir, eu adolescente Americano gostoso. Ele usava um par de jeans ainda melhores que suas calças pretas. E ele colocou uma camisa branca folgada por fora da calça – decidindo que camisetas já eram demais para a realeza Romena - bem, o efeito ficou muito bom. Não parecia vergonhoso estar com ele. Nem um pouco. Mandy provavelmente ia desmaiar, literalmente, quando o visse.
"Então, que tal se livrar do sobretudo de veludo?" Eu perguntei.
"Nunca", ele replicou.
Não ser vergonhoso, já era.
Nós estávamos voltando para o carro, levando todas as nossas sacolas de compras, quando Harry parou de repente e agarrou meu braço, derrubando uma sacola.
Eu me virei. "O quê?"
Ele estava olhando para a janela de uma loja chamada Boulevard St. Michel, uma boutique chique com roupas muito, muito caras. O tipo de roupa que mulheres ricas usam para coquetéis. Eu nunca estive lá dentro.
Para começar, papai não acreditava em lavagem a seco, por causa das "emissões de CFC" que acabavam com o meio ambiente. E outra coisa, eu não podia comprar nem um sapato na Boulevard St. Michel, mesmo que fosse em liquidação. Nem depois de um verão inteiro servindo hambúrgueres numa lanchonete.
"O que você está fazendo?" Eu segui o olhar dele.
Harry continuou olhando para a vitrine. "Aquele vestido - aquele com flores espalhadas no corpete -"
"Você acabou de dizer 'corpete'?"
"Sim, e a saia -"
"O vestido com decote em V?"
"Sim. Esse. Você ficaria adorável em algo assim."
Harry oficialmente tinha perdido a cabeça. Não apenas ele achava que era um vampiro, mas agora ele acreditava que eu era uma convidada de trinta anos para um coquetel. Eu ri alto. "Você realmente está maluco. Isso tem estilistas – e preços - para mulheres que vão, sei lá, assistir a orquestra ou algo assim."
Ele olhou pra mim. "Qual o problema com a orquestra?"
"Nada. Exceto que eu não vou. Quer dizer, você consegue me ver usando aquilo enquanto salto um obstáculo 4-H? E também, eu aposto que custa uma fortuna."
"Experimente o vestido."
Eu me afastei. "De jeito nenhum. Eu tenho cem por cento de certeza que eles não gostam de adolescentes lá dentro."
Harry bufou. "Eles gostam de qualquer pessoa com dinheiro suficiente."
"Então eles não vão gostar de mim. Eu não tenho dinheiro nem para olhar."
"Eu tenho."
"Harry..." Mas eu tenho que admitir, eu fiquei intrigada. Era um vestido lindo.
Eu nunca havia experimentado algo parecido. Era tão... Sofisticado. Era de uma cor creme fresca, com pequenas flores pretas bordadas aqui e ali, por todos os cantos, sem um padrão específico, mas de alguma forma, isso só o deixava mais bonito.
Ele me lembrou da teoria do caos: randômica, mas linda em sua simplicidade. O decote era mais ousado do que qualquer coisa que eu já havia usado. Você podia ver o volume dos seios de plástico da manequim saindo pelo tecido. O tecido caro. Eu puxei o braço de Harry. "Venha. Vamos."
Harry puxou de volta, e é claro que ele era mais forte. "Só olhe. Toda mulher precisa de coisas lindas."
"Eu não preciso disso."
"É claro que precisa. Você podia usá-lo, digamos, nessa festa que você vai com o Garoto Sem Graça. Ele seria perfeito para ocasiões assim."
"Ele não é sem graça."
"Experimente o vestido."
"Eu tenho roupas suficientes", eu insisti.
"Sim. E devia jogar todas elas fora. Especialmente a camiseta com o cavalo branco, o coração, e a letra I na frente. Qual é o propósito?"
"Para mostrar que eu amo cavalos Árabes", eu disse.
"Eu amo carne mal passada, e não ando com uma imagem de filé cru no peito."
"Eu já escolhi uma roupa."
Lucius fez uma careta. "Algo brilhante do 'shopping', eu suponho?"
Eu corei. Eu odiava quando Harry estava certo.
"Acredite em mim", ele disse. "Se usar esse vestido, você não vai se arrepender. Ele foi feito para você."
Eu estreitei os olhos. "Como você sabe sobre vestir garotas?"
"Eu não sei como vestir garotas. Eu sei sobre vestir mulheres." Harry deu um sorriso arqueado. "Agora venha comigo. Me agrade."
Harry guiou o caminho até a loja, e eu tive que seguir. Como eu havia previsto, a vendedora pareceu menos que feliz por ver estudantes do colegial na loja. Mas Harry estava inconsciente. "Aquele vestido na vitrine, com os bordados." Ele apontou para mim. "Ela gostaria de experimentar." Cruzando os braços e se inclinando um pouco para trás, ele mentalmente mediu meu corpo, da cabeça aos pés. "Tamanho trinta e oito?"
"Quarenta", eu murmurei.
"O quarenta está no manequim na vitrine", a vendedora notou. Ela colocou suas mãos magras, com unhas pintadas de vermelho, nos quadris. "É muito trabalhoso tirá-lo de lá. Se você não estiver falando sério sobre..."
Uh-oh Não havia muita coisa que eu entendia sobre Harry Potter, mas eu sabia de fato que o tom daquela vendedora não ia cair muito bem nele.
Harry arqueou uma sobrancelha. "Eu não soava sério?" Ele se inclinou para frente, lendo o nome no crachá da mulher. "Leigh Ann?"
"Vamos, Harry..." Eu comecei a ir para a porta.
"Nós estamos com bastante pressa, então se você pudesse tirá-lo agora, por favor,", Harry disse, permanecendo no lugar. De repente era muito fácil imaginá-lo dando ordem a servos num castelo.
A vendedora estreitou os olhos, observando Harry. Aparentemente, ela sentiu pelo menos um traço de dinheiro na colônia dele, o ouviu no seu sotaque, ou o viu na postura dele. "Está bem", ela bufou. "Se você insiste." Ela subiu na vitrine e voltou depois de alguns minutos com o vestido. "Aqui." Ela disse, o jogando nos meus braços. "Os provadores são nos fundos."
"Obrigado", Harry disse.
"Que seja." Leigh Ann voltou para o balcão, começando a nos ignorar.
Harry me seguiu para os fundos, em direção aos provadores. Eu o parei na entrada, com uma mão firme em seu peito. "Você espera aqui."
"Mas me deixe ver."
Na privacidade do provador, eu tirei meu All Star, arranquei meus jeans e camiseta, e coloquei o vestido, desejando estar usando um sutiã melhor. Um sutiã que fizesse justiça ao vestido.
Apesar de parecer delicado, o tecido era mais pesado e mais macio do que qualquer coisa que eu já tive. Eu fechei o zíper traseiro até onde pude, e o vestido se ajustou ao meu redor, e de repente, todos os lugares que eu mais odiava no meu corpo se tornaram meus melhores atrativos. Meus peitos enchiam o corpete ainda melhor que as pontinhas angulares da manequim. Olhando para mim mesma no espelho, eu me lembrei do que Harry tinha dito sobre garotas "pontudas" e sobre os benefícios de ter curvas. Naquele vestido, eu entendi o que ele queria dizer. A bainha descia até meus joelhos, e eu virei um pouquinho, olhando para a minha frente. Minhas costas. O vestido se fechava nos meus quadris cheios e drapeava perfeitamente no meu bumbum. Harry estava certo.
Eu estava bem. Era como um vestido mágico.
"Bem?" Harry chamou de fora do provador. "Como está?"
"Está bonito", eu admiti, minimizando como eu me sentia. Que era linda.
"Então saia."
"Oh, eu não sei..." Eu estava com um pouco de vergonha de mostrar pra ele. Eu olhei para meu peito. A pele que geralmente era escondida pelas camisetas agora estava aparecendo. O volume dos meus seios - seios que eu geralmente tentava diminuir - estava visível para o mundo inteiro. Para Harry ver. Não era obsceno, de forma alguma. Mas era revelador para mim.
"Hermione, você prometeu."
"Oh... okay." Eu tentei puxar o corpete, mas não adiantou muito. Minhas curvas recusavam a se esconder. "Não ria nem nada assim. Ou encare."
"Eu não vou rir", Harry prometeu. "Não há nenhuma razão para rir. Mas talvez eu encare."
Respirando fundo, eu joguei a cortina de lado.
Harry estava na cadeira que estava lá para os maridos entediados, com suas pernas longas esticadas na frente dele. Mas quando me viu, ele deu um salto.
Como se eu servisse de mola. E eu jurei que tinha visto apreciação naqueles olhos verdes.
"Bem?" Eu resisti à vontade de cruzar os braços na frente do peito enquanto virava para o espelho. "O que você acha?"
"Você - você está incrível." Harry ficou de pé, chegando por trás de mim, sem tirar os olhos de mim.
"Sério?"
"Linda, Hermione", ele murmurou. "Linda."
Antes que eu pudesse lembrá-lo de não me chamar por esse nome, Harry chegou ainda mais perto de mim, passou a mão por baixo dos meus cabelos longos e desordenados, e puxou o zíper até em cima. "Mulheres sempre precisam de ajuda com os últimos centímetros."
Eu engoli com força. Quanta experiência ele tinha? "Um, obrigada."
"O prazer é meu." Então, para minha intensa surpresa, Harry ergueu os dedos pelos meus cachos, juntando-os num coque folgado no topo da minha cabeça. De repente, meu pescoço parecia muito longo.
"Agora, é assim que uma princesa Romena deve parecer", ele disse, abaixando para murmurar no meu ouvido. "Nunca mais diga que você não tem valor, Hermione. Ou que não é linda. Ou, pelo amor de Deus, 'gorda'. Quando você tiver necessidade de acreditar nessas críticas tão ridículas e sem senso, lembre de si mesma nesse momento."
Ninguém nunca me elogiou dessa forma.
Por um minuto, eu fiquei ali, me admirando. Eu encontrei os olhos de Harry no espelho. Naquele mero segundo, eu quase consegui nos imaginar... Juntos.
Então ele soltou meu cabelo. Ele bateu nas minhas costas, e o feitiço estava quebrado. Eu olhei para a etiqueta com o preço. "Oh, minha nossa. Eu tenho que tirar isso. Agora mesmo. Antes que eu fique suada ou algo assim."
Harry revirou os olhos. "Se você precisa dizer 'suor' ao se referir a si mesma – e eu desencorajo isso fortemente - use a palavra transpirar."
"Estou falando sério, Harry. Eu estou a ponto de transpirar com esse preço."
Harry se inclinou para ler o número na etiqueta e ergueu os ombros.
Eu corri de volta para o provador, vestindo meus jeans e amarrando meus All Stars velhos. O efeito princesa definitivamente estava acabado. Relutantemente, eu devolvi o vestido à vendedora, que estava esperando, segurando uma linda echarpe de casimira preta. "Eu vou colocar isso numa caixa para vocês."
Eu olhei ao redor, procurando Harry e o encontrei de pé no balcão de compras, batendo um cartão de crédito no tampo de vidro.
"Isso é demais", eu murmurei, me apressando até lá.
"Considere um agradecimento pela sua orientação nas compras de hoje. Meu presente para seu evento."
Eu procurei por ironia ou sarcasmo nos olhos dele, mas não achei nada. O que isso quer dizer? Que Harry Potter estava desistindo de me cortejar?
Duvidoso. Talvez? "Obrigada", eu disse, incerta.
Leigh Ann cuidadosamente empacotou o vestido e a echarpe em duas caixas e as entregou para mim. "Aproveite." Ela ficou consideravelmente mais afável depois que o crédito foi aprovado.
"Tenha um bom dia, Leigh Ann." Harry colocou uma mão na parte baixa das minhas costas, me guiando para fora da loja.
"Eu realmente não sei o que dizer", eu gaguejei quando estávamos lá fora. "Foi um presente enorme. Só o vestido custava uma fortuna, e a echarpe é de casimira."
"Sem dúvida estará frio à noite, e você não pode usar uma 'jaqueta jeans' com esse vestido."
"Bem, obrigada."
"Eu te disse. Toda mulher merece coisas lindas", Harry disse. "Eu só espero que o Garoto Sem Graça te aprecie usando isso." Ele pausou do lado de fora, observando a frente das lojas. "Você não podia ir tomar um suco de morango agora?"
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N/A: Tai, comentem! =D
rosana franco: Menina, você não perde por esperar o troco do Harry =D
Mione03: O Harry é bem fofo na verdade, e essa Hermione ainda vai se meter em cada uma >.<
Continue lendo e comentando, que eu adoro seus comentários! =D
Ana_Banana: Um Harry desse é bom neh, fala ai ;D
Bye ♥
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