Capítulo 3




"Você viu o jeito que o cara estrangeiro tava olhando pra você na aula de literatura Inglesa?" Mindy choramingou quando nos encontramos depois da escola.


"Ele é lindo, e está tão a fim de você! E ele é da realeza!"


Eu apertei seu pulso, tentando acalmá-la. "Min... antes que você compre um presente para o casamento 'real', eu preciso te dizer uma coisa assustadora sobre o chamado cara lindo."


Minha amiga cruzou os braços, cética. Eu podia dizer que Mindy já tinha criado uma opinião sobre Harry Potter, se baseando apenas em seus ombros largos e maxilar forte. "O que você podia dizer sobre ele que é assustador? Acabamos de conhecê-lo."


"Na verdade, eu o vi mais cedo essa manhã", eu disse. "Esse cara - Harry - estava na parada de ônibus. Me encarando."


isso?" Mindy revirou os olhos. "Talvez ele pegue o ônibus."


"Ele não subiu."


"Talvez ele tenha perdido o ônibus." Ela ergueu os ombros. "Isso é estúpido, não assustador."


Mindy não estava entendendo nem um pouco. "É mais estranho que isso", eu insisti. "Eu... Eu pensei tê-lo ouvido dizer meu nome. Bem na hora que o ônibus parou."


Mindy pareceu confusa.


"Meu nome antigo", eu esclareci.


Minha melhor amiga sugou o ar. "Okay. Isso pode ser meio estranho."


"Ninguém sabe esse nome. Ninguém."


De fato, eu nem tinha dividido boa parte do meu passado com Mindy. A história da minha adoção era meu segredo muito bem guardado. Se ele escapasse... As pessoas achariam que eu sou uma aberração. Eu me sentia uma aberração toda vez que pensava na história. Minha mãe, uma antropóloga cultural, estava estudando uma cultura bizarra na Romênia central. Ela esteve lá com meu pai para observar seus rituais, na esperança de escrever um dos inovadores artigos de jornal dela sobre culturas únicas. No entanto, as coisas deram errado na Europa Ocidental. A cultura era um pouco estranha demais, um pouco bizarra demais, e algumas pessoas de um vilarejo na Romênia se uniram, na tentativa de colocar um fim no grupo inteiro. À força.


Pouco antes do bando atacar, meus pais me entregaram, ainda bebê, para os pesquisadores Americanos visitantes, implorando que eles me levassem para os Estados Unidos, onde eu estaria salva.


Eu odiava essa história. Odiava o fato de que meus pais eram pessoas ignorantes, supersticiosas, que foram tolas para se unir a um culto. Eu nem queria saber quais eram os rituais. Eu conhecia o tipo que a minha mãe estudava. Sacrifícios de animais, adoração de árvores, virgens jogadas em vulcões... Talvez meus pais biológicos estivessem envolvidos com algum lance sexual fora do comum.


Talvez tenha sido por isso que eles foram assassinados.


Quem sabia? Quem queria saber?


Eu não pedi pelos detalhes, e meus pais adotivos nunca pressionaram com o assunto. Eu só estava feliz por ser Jessica Packwood, Americana. Hermione Granger não existia, até onde eu sabia.


"Você tem certeza que ele sabia o seu nome?" Mindy perguntou.


"Não", eu admiti. "Mas eu achei ter escutado."


"Oh, Jess", Mindy suspirou. "Ninguém sabe esse nome. Você provavelmente imaginou a coisa toda. Ou talvez ele tenha dito uma palavra que soasse parecida com Hermione." Eu olhei de lado para Mindy. "Que palavra soa como Hermione?"


"Eu não sei. Que tal 'Oi, tudo bem'?"


"É, ta legal." Mas isso meio que me fez sorrir. Caminhamos em direção à rua para esperar que minha mãe viesse me pegar. Durante o almoço eu liguei pra ela para dizer que não ia pegar o ônibus pra casa.


Mindy continuou com a tentativa. "Eu só estou dizendo que talvez você devesse dar a Harry uma chance."


"Por quê?"


"Porque... ele é tão alto", Mindy explicou, como se altura fosse sinônimo de bom caráter. "E eu mencionei Europeu?"


A van Volkswagen velha e enferrujada da minha mãe parou no meio-fio, e eu acenei pra ela. "Sim. É tão melhor ser perseguida por um Europeu alto do que por um Americano de estatura comum."


"Bem, pelo menos Harry está prestando atenção em você." Mindy inalou.


"Ninguém nunca presta atenção em mim."


Chegamos na van e eu abri a porta. Antes que eu pudesse dizer oi, Mindy me empurrou pra dentro e disparou "A Jess tem um namorado, Dra. Packwood."


Mamãe parecia confusa. "Isso é verdade, Jessica?"


Era minha vez de empurrar Mindy pra fora do caminho. Eu entrei e fechei a porta, fechando minha amiga do outro lado. Mindy acenou, rindo, enquanto minha mãe acelerava pra longe do meio-fio.


"Um namorado, Jessica?" Minha mãe perguntou novamente. "No primeiro dia de aula?"


"Ele não é meu namorado", eu rosnei, travando meu cinto de segurança. "Ele é um estudante de intercâmbio esquisitão que está me perseguindo."


"Jessica, tenho certeza que você está exagerando", mamãe disse. "Adolescentes do sexo masculino freqüentemente são estranhos socialmente. Você provavelmente está interpretando maus comportamentos inocentes."


Como todos os antropólogos culturais, mamãe acreditava que sabia de tudo sobre interações sócio-humanas.


"Você não o viu no ponto de ônibus essa manhã", eu discuti. "Ele estava ali de pé usando um sobretudo preto... E quando eu cortei o dedo ele lambeu o lábio..."


Quando eu disse isso minha mãe pisou no freio com tanta força que minha cabeça quase foi parar no painel. Um carro atrás de nós buzinou raivoso.


"Mãe! O que foi isso?"


"Desculpa Jessica", ela disse, parecendo meio pálida. Ela pisou no acelerador de novo. "Foi só algo que você disse... sobre se cortar."


"Eu cortei o dedo e ele praticamente babou, como se fosse uma batata frita coberta de ketchup", eu estremeci. "Foi tão nojento."


Mamãe ficou mais pálida ainda, e eu sabia que algo estava acontecendo.


"Quem... Quem é esse garoto?" Ela perguntou enquanto estacionava perto de um sinal de pare perto da Universidade Grantley, onde ela ensinava. "Qual é o nome dele?"


Eu podia dizer que ela estava tentando soar despreocupada, e isso a fez parecer mais nervosa.


"O nome dele é..." Mas, no entanto, antes que eu pudesse dizer Harry, eu o vi.


Sentado numa parede baixa que cercava o campus. E ele estava me observando.


De novo.


Suor começou a escorrer na minha testa. Mas dessa vez, eu fiquei fula da vida. Agora já basta. "Ele está sentado bem ali", eu choraminguei, apontando meu dedo na janela. "Ele está me encarando de novo!" Aquilo não era "comportamento socialmente estranho." Era perseguição. "Eu quero que ele me deixe em paz!"


Então minha mãe fez algo inesperado. Ela parou no meio-fio, bem do lado de onde Harry estava esperando, observando. "Qual é o nome dele, Jess?" Ela perguntou novamente enquanto destravava o cinto de segurança.


Eu achei que minha mãe fosse confrontar ele, então agarrei seu braço. "Mãe, não. Ele é desequilibrado, ou algo assim."


Mas minha mãe gentilmente tirou meus dedos do seu braço. "O nome dele, Jess."


"Harry", eu respondi. "Harry Potter."


"Oh, minha nossa", Mamãe murmurou, olhando diretamente por mim para o meu perseguidor. "Eu acho que isso realmente era inevitável..." Ela tinha um olhar esquisito, distante nos olhos.


"Mãe?" O que era inevitável?


"Espere aqui", ela disse, ainda sem olhar pra mim. "Não se mova." Ela soava tão séria que eu nem protestei. Sem outra palavra, minha mãe saiu da van e caminhou diretamente até o cara ameaçador que tinha me seguido o dia inteiro.


Ela estava louca? Ele tentaria fugir? Ficar louco e machucá-la? Mas não, ele escorregou graciosamente para fora da parede e fez uma reverência – uma reverência de verdade, com a cintura - para a minha mãe. Mas que...?


Eu baixei a janela, mas eles falavam tão suavemente que eu não consegui ouvir o que estavam dizendo. A conversa durou pelo que pareceram ser anos. Então minha mãe balançou a mão dele.


Harry Potter se virou pra ir embora, e minha mãe voltou para a van e deu a partida.


"Mas o que foi isso?" Eu perguntei confusa.


Minha mãe me olhou diretamente nos olhos e disse, "Você, seu pai e eu precisamos ter uma conversa. Essa noite."


"Sobre o que?" Eu quis saber, uma sensação incômoda na boca do meu estômago. Uma sensação ruim. "Você conhece aquele cara?"


"Nós vamos explicar depois. Nós temos muito, muito pra te dizer. E precisamos fazer isso antes que Harry chegue para o jantar."


Minha mandíbula ainda estava no chão quando minha mãe deu um tapinha na minha mão e voltou para o trânsito.


 


___-___-___


 


Meus pais nunca tiveram a chance para explicar o que tinha acontecido, de qualquer forma. Quando nós chegamos em casa, meu pai estava no meio da sua aula de tântrica yoga para viciados em sexo, super hippies das montanhas, do lado de fora do estúdio atrás da casa, então mamãe me disse para eu ir em frente na minha tarefa.


E então Harry chegou mais cedo para o jantar.


Eu estava no celeiro colocando o esterco para fora do estábulo quando, fora da visão periférica, eu vi uma sombra cruzar a porta do celeiro, a abrindo.


-Quem está aí? – eu chamei nervosamente, ainda sobressaltada com os eventos do dia.


Quando não houve resposta, eu tive uma sensação ruim do meu visitante que era nosso convidado para o jantar. Mamãe o convidou, eu me lembro como, com suficiente certeza, um europeu alto, estudante de intercâmbio, dando um tranco na poeira que girava em círculos. Ele não pode ser perigoso.


Deixando de lado a aprovação da minha mãe, eu segurei firme o garfo de feno.


-O que você está fazendo aqui? – demandei enquanto ele se aproximava.


-Modos, modos – reclamou Harry, levantando com seus pés pequenas nuvens de poeira com cada longo passo. Ele se aproximou até ficar a poucos passos de mim, e sua altura voltou a me impressionar. – Uma dama não grita nos estábulos. – Ele continuou. – E que tipo de saudação é essa?


Estaria o garoto que me espiou o dia todo, me ensinando etiqueta?


-Eu perguntei por que você está aqui – eu repeti, agarrando o garfo um pouco mais forte.


-Para conhecê-la melhor, é claro – disse ele, ainda me avaliando, na verdade me cercando, olhando minhas roupas. Girei, tentando não perdê-lo de vista, e o peguei enrugando o nariz. – É claro que você também está ansiosa para me conhecer também.


Não, realmente... Eu não tinha idéia do que ele estava falando, mas sua inspeção dos pés a cabeça da minha pessoa, não era legal.


-Por que está me olhando assim?


Ele parou de me cercar.


-Você está limpando o estábulo? Isso são fezes nos seus sapatos?


-Yeah – eu disse, confusa com seu tom. Por que ele se preocupava com o que havia nos meus sapatos? - Limpo o estábulo todas as noites.


-Você? – ele parecia desconcertado – e consternado.


-Alguém tem que fazer – eu disse. Por que você acha que isso é assunto seu?


-Sim, bem, do lugar de onde eu venho, nós temos pessoas para fazer isso. Pessoas contratadas – ele suspirou. – Você -uma dama da sua categoria- nunca deveria fazer coisas de tão pouca importância. É uma ofensa.


Quando ele disse isso, meus dedos se apertaram de novo contra o garfo – e não por medo. Harry Potter não era só intimidante. Era exasperante.


-Olha, eu já tive o suficiente de você me rondando e sua atitude – disse bruscamente. – Quem você acha que é, de qualquer maneira? E por que você está me seguindo?


A fúria e a incredulidade flamejaram nos olhos verdes de Harry.


-Sua mãe ainda não disse nada a você, não é? – ele sacudiu a cabeça. – Dra. Packwood prometeu que contaria tudo a você. Seus pais não são muito bons em cumprir promessas.


-Nós... Nós, provavelmente, iríamos falar disso mais tarde – eu gaguejei, minha indignação fraquejou um pouco ao ver a sua evidente ira. – Meu pai está ensinando yoga...


-Yoga? – Harry soltou uma risada áspera. – Contorcionar seu corpo em uma série de posições ridículas é mais importante que informar sua filha sobre o pacto? E que tipo de homem pratica um passatempo tão pacifista? Os homens deveriam treinar na guerra, não desperdiçar seu tempo entoando “om” e tagarelando coisas sobre a paz interior.


Esqueça a yoga e a tagarelice.


-Pacto? Que pacto?


Mas Harry estava olhando para as vigas no teto do estábulo, passeando com as mãos para trás das costas, murmurando para si mesmo.


-Isto não está indo bem. Nada está indo bem. Eu aconselhei os Anciões que você deveria ter sido levada de volta a Romênia há anos, que você nunca seria uma esposa adequada...


Whoa, espera aí.


-Esposa?


Harry parou, girando seus calcanhares para me encarar.


-Estou cansado da sua ignorância – ele se aproximou de mim, se inclinando e olhando fixamente nos meus olhos. – Já que seus pais se negaram a informá-la, entregarei as notícias eu mesmo, e farei disso o mais simples que eu puder – sinalou para seu próprio peito e anunciou, como se estivesse falando com uma criança. – Eu sou um vampiro – apontou para meu peito. – Você é uma vampira. E estamos destinados a nos casar, quando você tiver a idade. Foi decretado assim desde o nosso nascimento.


Não pude processar nem a parte do “casar”, ou do “decretado”. Eu tinha me perdido na palavra “vampiro”.


Louco. Harry Potter é completamente louco. E eu estou só com ele, em um estábulo vazio.


E foi quando eu fiz o que uma pessoa sã faria. Joguei o garfo em direção a seu pé e corri para casa rapidamente ignorando seu grito de dor.


*********

Obrigada Toddy, por estar acompanhando *-*

Só posto com comentários. Então, mãos a obra =D

Bye ♥

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