starbucks, part i.



Then you notice a likkle carpet burn


Dois dias pro meu casamento mais pareciam 2 horas. Eu sentia como se já precisasse colocar o vestido, a maquiagem e fazer o cabelo, pra não deixar Ronald esperando.


Então eu olhei em meu relógio naquela manhã e lembro de ter pensado “Ainda é cedo, o casamento não é hoje, relax”. Mas já era tarde. E eu ainda não sabia.


Casar. E. Ser feliz. As palavras se repetiam a cada segundo, pontuadas de um jeito errado.


Em vez de “Até que a morte os separe”, por que não “ser feliz até onde puder ser”? Parecia bem mais seguro. Tão seguro quanto esses pensamentos negativos que a minha consciência não jogava fora.


Eu não reparei quando o estranho se aproximou. Porque ele não era um estranho. Porque eu mal lembrava que esse verme ainda respirava o mesmo ar que eu.


Malfoy então, sem pedir licença (nunca espere cavalheirismo de um arrogante, é claro), puxara uma cadeira da mesma mesa que eu estava sentada, achando-se o dono do mundo. Grande bosta hein.


- Granger? – Eu preferi não cair em seu clichê e fingir que estava surpresa. Não é que eu não estivesse, mas eu não tinha tempo para velhos hábitos. - Bom dia pra você também. – Respondera, ignorando o meu olhar raivoso.


- Cai fora, doninha.


- O Weasley já conhece esse seu mau humor matinal? – Pausara, em deboche. – Se eu fosse ele pensaria duas vezes antes de dizer sim na festa.


- Se você fosse ele, não haveria nem a sombra desse casamento, pra começar.


Casar. E. Ser feliz. “Essa vai ser sua vida pelos próximos 20, 30 ou quem sabe 50 anos”. 50 anos vivendo um comercial de margarina ambulante... Ah meu deus! E AGORA?


- Granger? – A voz rouca havia me chamado pra realidade. “Concentre-se, Hermione!”. – Granger? - Casar. E. Ser feliz... Feliz, feliz, feliz e... – Granger? – “Merda, ele ainda tá falando!”.


- Eu não consigo. – Foi a frase que murmurei, mais pra mim mesma do que para o Malfoy.


Ele me encarou como se eu fosse alguma espécie de extraterrestre não identificado, até que após algum tempo compreendeu o que eu quis falar.


- Casar com o Traidor do sangue? É sobre isso o seu monólogo? - Ironizara.


Não me dei ao trabalho de responder, obviamente.


Malfoy continuava sentado na mesa da Starbucks, bancando a sombra muda , o que - com toda a certeza - ele não era. Mas ele estava "de alguma maneira" me ouvindo, e eu precisava pôr tudo pra fora. O jeito como aquele vestido era... Simétrico e como o branco era irritante. Sem falar nas flores, nos presentes, nos votos. Ah deus, OS VOTOS! Eu nem tinha escrito nada. Nada mesmo. As palavras corriam de mim tanto quanto "Casar" tomava conta de todos os meus medos.


- Não posso cancelar e dizer que eu lamento a minha indecisão... Não, não posso fazer isso... Quer dizer, é o Ron. Tudo vai ficar bem. 50 anos passam rápido, certo? Existem outras coisas mais importantes do que essas dúvidas. Toda noiva sente esse nervosismo, tenho certeza. A Ginny me tranquilizou sobre isso ontem de noite, disse que foi exatamente assim um dia antes de casar com Harry. Por que eu deveria temer? Será que esse nervosismo "clássico" inclui...?


- Granger. - Pausara, erguendo sua sobrancelha, dominador. - Respira.


- Respirar? Okay, eu tô tentando... 1... 2... - E soltava o ar que estivera prendendo.


- Você é mais estranha do que eu pensei, sangue sujo.


- E Você é mais arrogante que um Malfoy,  e nem por isso eu tô te condenando por estar me ouvindo desabafar sobre o casamento que eu vou ter que...


- ... Dizer sim?


- É.


- Qual o problema com o "não"? - Draco perguntara encarando-me, sarcástico.


- Babaca.


- Falando sério, Granger: eu não sou nenhum dos seus amiguinhos e muito menos terapêuta, mas eu sei que você não o ama, e se não o ama, por que vai casar com ele?


- Boa pergunta.


- Resposta errada.


- Qual seria a certa?


- "Eu amo o traidor do sangue, quero ter uma ninhada e ser pobre... blá blá blá blá..." - Dissera, me imitando de uma maneira que fez os meus músculos facias se moverem. Oh god, isso foi um sorriso MEU?


A conversa andou, com pernas que eu nem sabia que existiam. Era apenas uma conversa. Por que eu me sentia tão estranha? Uma conversa. Uma das milhares de conversas que seriam registradas na minha memória. Uma das mil lembranças que se perderiam com o tempo. Apenas uma conversa que perderia a data. Perderia os nomes e perderia o conteúdo. Mas nós estávamos lá. Por que eu me sentia patética por planejar uma forma de guardar a primeira conversa, como se só fosse a primeira, e não também a última?


Era fácil, mas também era difícil. Uma paradoxo oco por dentro das metáforas infantis, de ser feliz com alguém a vida toda. Eu tinha medo de tentar. Rony... Ele era bom. É. Demais. Mas não era o bastante.


Nunca foi o bastante pra mim ser somente boa, eu sempre quis ser a melhor, eu sempre quis a perfeição. O cara certo, o lugar certo, o beijo certo. Eu queria o homem que me fizesse morrer por um sorriso, eu queria flutuar e ser capaz de fugir pra aonde quer que ele fosse. Esse não era Ron. Nunca foi. Rony é o cara com quem a gente conversa e conta piadas, é o cara que pode me fazer sentir melhor, que considera tudo passageiro e dramático, mas que sabe estar lá. Era isso o que eu precisava? Um parceiro? Não, óbvio que não.


- mais um capuccino? - Ele perguntara.


Pela primeira vez eu pude realmente enxergar Draco Malfoy.


- aham. - Concordei, mas sem realmente concordar.


Eu senti a cafeína descer minha garganta, com a certeza de que Nada disso era só uma fase. Não ia passar. Minha vida era medíocre. Ou talvez não. Talvez eu que o fosse, cada vez que fingia as reações de uma boa noiva.


Meu coração sentiu um baque. Achei que estivesse com algum mau estar, mas de qualquer maneira, a sensação era boa. Tum, tum, tum. Era uma melodia violenta, enquanto essa coisa chacoalhava também em meu estômago. Eu desviava meu olhar a cada segundo, com medo de que o meu rosto delatasse essa merda. Lembro de ter fitado as paredes da starbucks, depois as pessoas ao redor... Alguns mexiam em seus palmtops, outros conversavam com seus estúpidos acompanhantes. Comprimi minhas mãos por baixo a mesa, como se estivesse com frio: elas suavam. Ah meu deus... Perguntava-me qual seria o próximo sintoma.


- Odeio essa ideia distorcida de "felizes pra sempre" que o casamento provoca...  - Comecei a dizer. Achei que ele fosse me encarar tipo Que-merda-foi-essa?, mas não. 


Granger... Granger... Eu não conhecia esse seu outro lado... - dissera-me. 


- Sorte a sua. – Respondi, distante. Meus olhos focaram logo em seguida, um ser familiar, ou pelo menos seria familiar, em um mundo paralelo ao meu.– Aquela ali não é  a Parkison? – Sim, a idiota acabara de chegar. Com a pose de quem tinha nojo de oxigênio.


- Droga! – O loiro murmurou. Vi-o apressar-se, jogando uma nota de 100 paus na mesa. Ele segurou meu copo e fez um sinal de “Vem comigo”. Ele apoiou uma mão no meu ombro, para aparatar. Pra aonde? Boa pergunta!


- O que foi a coisa lá na Starbucks? – Perguntei, tomando o capuccino de suas mãos.


Estávamos agora em uma rua. Menos mal que fosse uma rua e não um quarto!


- Ela me odeia, isso resume. – E dera um suspiro. – Não o de praxe, entende? Ela me odeia mesmo!


- Por quê?


- 2 vezes na nossa cama. Com a vizinha trouxa. É, no geral foi isso... Nós estávamos, você sabe... Transando... E a Pansy abriu a porta, e chorou, e gritou e... Preciso contar que ela me assusta? – O loiro falara.


Eu ri. Tentei conter. De verdade!


- E o que houve com a tal vizinha?


- Espero que não achem o corpo, tsc tsc tsc. – E abrira um sorriso. – Foi brincadeira, Granger, HAASHAUASHAUSHAUHS...


- Idiota! – Falei, dando-lhe uma tapa.


- É isso o que você faz com o Potter?


- Hã?


- Esses lances de... sorrisos, tapas, conselhos e... Sei lá. – Dissera, desviando os olhos, como se dizer aquilo fosse um absurdo.


- É, é assim que funcionam as coisas entre amigos. – Respondi, sem entendê-lo muito bem.


- Podemos ser amigos então, certo?


- Por que faz parecer um acordo?


- Só quero que tudo fique claro.


- E eu devo acreditar afinal...?


- Olha só pra você, você é a Granger! É isso o que você faz de melhor: acreditar nas pessoas. Por Merlin, você vai casar com o Weasley, UAHSUHASHAUSHAUSH!


- Quer atingir alguém? É isso?


- Não, não... Eu só... quero estar lá.


- Quando...?


- ... Disser sim ao Weasley.


- Que diferença faz?


- Tenho que fechar um contrato com o Gringotes, mas preciso mudar a minha reputação. E... Quem melhor do que Hermione Granger? Sem contar que não vai ser um graaande esforço. Você mesma viu, Granger: Eu posso ser um cara legal. Quase um amigo, se precisar. Só não espere que eu banque o gay, tsc.


Arregalei meus olhos. Muito estúpido achar que seria diferente. Mas não, óbvio que não, com Draco Malfoy certas nunca mudam. Um fato eu precisava admitir: eu admirava a maneira selvagem com a qual estava lutando contra seus próprios instintos, a favor de uma causa maior. Pena que eu não fosse essa causa. 

-
n/a: Espero que tenham gostado. A parte II já tá quase pronta, vou postar assim que terminar. Ah, visitem minha nova fic 'love is for fools' :) beijos. 

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