- Farsas: Dinheiro. -



Capítulo 13 Farsas: Dinheiro.


 


Na manhã seguinte Draco acordou cedo. Olhou para o lado, Hermione continuava a dormir – a respiração leve e o rosto despreocupado. Soltou o ar, aliviado. Na noite anterior o medo da mulher descobrir o plano havia o atingido com força.


Já se arrumara e tomara seu desjejum. Caminhou com passos silenciosos até a gaveta da mesinha de cabeceira e tirou a carta de dentro dela. Hermione se mexeu desconfortável na cama, mas não abriu os olhos. Draco sorriu de lado, indo até a janela do quarto e abrindo o envelope.


Seus olhos percorreram com avidez os papéis totalmente preenchidos com uma letra um tanto corrida. No final da carta, o homem bufava irritado, seu humor completamente mudado. Olhou pela janela visualizando as nuvens claras que eram banhadas pelo Sol. Ficou pensativo por longos minutos, a carta já um pouco amassada em suas mãos.


- Ótimo, final perfeito – ironizou Draco com certo temor na voz. Suas mãos tremiam ligeiramente e respirou fundo tentando se recompor.


Amassou totalmente o papel, jogando-o na lixeira ao lado, mas errando por um triz. A carta ficou jogada no chão.


- Draco? – Hermione acordara e olhava inquisidoramente para o homem. Draco assustou-se, mas sorriu sem seguida.


- Bom dia, Hermione – desejou caminhando até o lado da mulher e dando um beijo em sua testa.


- O que faz acordado tão cedo? – Perguntou Hermione confusa. – Oh meu Deus, eu que acordei tarde?


- Não, não. Ainda vão dar sete horas da manhã. Mi, você ficaria um tempo aqui sozinha enquanto eu tenho que resolver umas coisas? – Perguntou Draco carinhoso. Hermione sorriu de lado e fez que sim com a cabeça. – Ótimo, eu juro que não demoro.


- Por favor, não demore se não eu te abandono – brincou Hermione espreguiçando-se na cama. Draco riu enquanto beijava-a de leve nos lábios.


- Eu te amo, Granger – Hermione assustou-se com a frase. Abriu lentamente os olhos, mas viu que Draco já saíra do quarto. Suas mãos tremiam e sua pele empalidecera. Suspirou passando as mãos no rosto.


- Eu também te amo, Malfoy.


Levantou-se da cama sentindo-se feliz como nunca. Não era todo dia que Draco Malfoy dizia que lhe amava. Ele deveria estar contente demais naquela manhã, embora não tenha lhe parecido afortunado quando estava lendo a carta...


A carta.


Hermione passou os olhos no quarto e viu os papéis amassados ao lado da lixeira. Já estava acordada, antes de Draco ler a carta, mas queria apenas ver como era Draco quando acordava.


Mordeu o lábio inferior; cruzou os braços. Será que era muito errado ler a correspondência dos outros? Será que Draco ficaria irritado com ela...?


Mas ele ficara irritado com a carta... E ontem ele relutou quando Hermione pediu para lê-la... Será que ele escrevera sobre ela?


- Não. Draco nunca gostaria que eu lesse as correspondências dele – disse por fim encaminhando-se até o banheiro. Fechou a porta ao passar, mas em menos de três segundos ela foi aberta com força. – Problema, ele não precisa saber.


Caminhou a passos rápidos pegando os papéis amassados e desdobrando-os com um cuidado excessivo.


“Caro Draco,


É claro que eu sou um gênio, quem duvidaria disso? Mas devo dizer que você foi mais rápido do que eu esperava. Quero dizer, eu supunha que a Granger se apaixonaria por você em alguns meses, talvez até anos, mas você a fez sua em algumas semanas. Tudo bem que a convivência anterior já contou para alguma coisa. Mas mesmo assim, devo meus cumprimentos a você e um copo de cerveja como brinde. Então, a Granger é uma ótima cozinheira? Grande coisa, minha avó é! Bom, boa na cama já é outra história, não tenho certeza de que minha avó seja, mas então você está com a sorte grande e não pode reclamar. Dizem que as quietinhas são as piores... Pelo visto meu amigo comprovou isso.


O Weasley foi até o escritório quando a Granger não estava? Putz... É o destino, Draco! O destino está em seu favor. Queria só ter visto a cara do panaca ruivo quando você disse que estava tendo um caso com a Granger – ou melhor, quando você insinuou. Mas aposto que todos já desconfiavam disso, era meio óbvio demais depois daquela festa do livro idiota que vocês fizeram. Eu teria contado que ela o traía com o Potter, mas como você mesmo disse: não queremos que sua mulher seja uma puta. Não, não... Ela tem que honrar os Malfoy...”.


Hermione parou de ler a carta e com raiva amassou todo o conteúdo dela. Lágrimas de ódio e tristeza escorriam pelo seu rosto. Seu corpo todo tremia. Ela tinha sido enganada, usada... Não deveria ter esperado nada mais do que isso vindo de Draco Malfoy.


E ele dissera que a amava! Grande mentiroso, salafrário, imbecil, covarde. Aproveitara-se dela, a fez trair o próprio namorado, implantara ideias em sua cabeça para no final apenas pensar em como se dar bem ao seu custo. Não estava explícito na carta o porque dele fazer tudo aquilo, não dava um real motivo, mas ela não queria saber. Era óbvio que ela era apenas uma diversão – um passatempo – para Draco Malfoy. E ela sabia que a verdade poderia ser mil vezes mais suja do que aquelas palavras.


Deixou a carta cair de suas mãos e saiu correndo da casa, deixando para trás o resto do conteúdo que não lera...


“... Draco Malfoy, desde quando o senhor me diz que Hermione Granger é engraçada? Quero dizer, ela te diverte e te faz rir? Um palhaço faria isso, Malfoy! Sorte a sua que não encontrou uma mulher chata e grudenta, mas, meu velho amigo, eu tenho que lhe avisar uma coisa... Você reparou que elogiou o sexo com ela umas dez vezes na carta? Tudo bem, eu exagerei... mas VOCÊ REPETIU ISSO. Seu loiro oxigenado, eu não posso acreditar que você esteja se apaixonando pela Granger sabe tudo. Você a elogiou – elogiou a comida, o sexo, a diversão, as conversas... falta o que? Dizer um “eu te amo” para ela? Oh Merlin! Você não disse que a ama, disse? Quero dizer, se disse pode me contar, mas eu ficarei meio preocupado! Draco, lembre-se: isso são apenas negócios, é uma FARSA. Não é real! É tudo pelo dinheiro, esquece o romance. Se você por um acaso se apaixonar por ela, não teria nenhum problema, vocês estarão casados mesmo. Mas você conseguiria suportar a ideia de mentir para ela a vida inteira enquanto arranca-lhe dinheiro para poder pagar as dívidas que você tem? Acho que ela não veria isso como um bom sinal... era para você casar com ela, compartilhar todos os seus bens e depois pedir divórcio! E arranjar um bom motivo que o favoreça no tribunal no divórcio! Se apaixonar por ela só vai lhe trazer problemas. Vão querer ter filhos? Hein, Draco? É isso que você quer? Ter filhos com a Granger? Porque se for... bem... não acredito que eu falarei isso, mas é necessário: acho que eu tenho um amigo que pode lhe emprestar a grana. Com a Granger tudo seria mais simples, mas eu não posso fazer nada se você caiu de quatro por ela. E o feitiço caiu contra o feiticeiro, querido Draco...


Como você repetiu mais uma vez em outro trecho da carta que o sexo é ótimo vou fingir que não li e passar por ele despreocupadamente... Agora, quando ao lance dos trouxas, realmente eles são muito incivilizados. Quero dizer, quem é que curte cinema? Pelo amor de Merlin, ficar vendo pessoas dentro de uma tela é legal desde quando? Que coisa de primatas! E comida que pula? Realmente, patético. Deve ser um show de bizarrices. E mais uma vez você falou de ficar se agarrando com a Granger no cinema... Zabini pulando essa parte...


Quer saber? Depois desse final da carta eu vou mudar minha opinião e pedir correndo o dinheiro para o meu amigo. A Granger queria te deixar com ciúmes do Weasley seu loiro burro! Por isso ela ficava elogiando ele. E você caiu direitinho na ladainha dela, ainda quis mostrar que era melhor! VOCÊ QUIS SE PROVAR PARA ALGUÉM. Desde quando um Malfoy quer tanto uma pessoa a ponto de se esforçar por ela?


Malfoy, você está fudido...


E apaixonado.


Eu sei, isso é horrível e trágico. Mas daremos um jeito. Tem que ter uma fórmula que acabe com essa babaquice toda.


Aguardando sua resposta,


Zabini.”


 


Hermione estava em seu apartamento. Já se passara das três da tarde e a vontade de ir trabalhar era mínima.


Seus olhos estavam vermelhos, sua garganta secara totalmente e não tinha mais forças para levantar daquele sofá velho. Enterrou o rosto nos joelhos e voltou a chorar.


Várias batidas fortes ecoaram pelo seu apartamento. Pelo visto alguém tentava arrancar sua porta fora.


E ela tinha uma boa suspeita de quem seria...


- O que você quer? – Perguntou Hermione abrindo a porta com força. Draco, que estava prestes a socar a porta, a encarou com ódio.


- Você foi embora e nem me deu um motivo. Depois não aparece no trabalho e você ainda pergunta o que EU quero? – Perguntou Draco nervoso. Encarou Hermione por alguns minutos e sua expressão se suavizou. – Merlin, você está chorando? O que aconteceu?


Hermione riu sem humor, na realidade soltou uma gargalhada, tamanho era o fingimento de Draco.


- Pode parar com isso, Malfoy. Não precisa mais mentir para mim, eu sei muito bem o que você quer. – Apontou o dedo para Draco. O homem ficou branco como a parede ao lado da porta.


- Como assim você sabe o que eu quero, Hermione? – Perguntou Draco sem entender. Hermione bufou irritada.


- Eu li a carta do Zabini!


- Você leu minhas correspondências? – Perguntou Draco com ódio. Hermione encolheu-se um pouco, na defensiva.


- Bom, você não me deixou escolha com todo aquele mistério de não poder ler a carta. E Merlin, como você é um bom ator! Conseguiu me deixar tão para baixo que eu nem tive ânimo de ler toda a carta!


- Deveria ter lido – falou Draco começando a entender o que estava prestes a acontecer. – Hermione, me deixe explicar as coisas?


- Pro inferno, Malfoy! Você e todos os seus amigos – gritou Hermione nervosa. – Você mentiu para mim, me tratou bem. Eu deveria ter desconfiado de todos os elogios e carinhos. Você me usou quando na realidade ficava rindo de mim depois na sua rodinha sonserina. E agora ainda quer se explicar? Não me faça rir, Malfoy!


- Hermione, pelo amor de Merlin me deixa falar – suplicou Draco. Hermione pareceu abalada por alguns segundos, mas se recompôs.


- Não, você nunca mais dirigirá a palavra a minha pessoa. Vai embora como se nunca tivesse me conhecido. Você disse que me amava! – Exclamou deixando algumas lágrimas caírem de seu rosto. – Droga Malfoy, você me fez te amar.


Draco sentiu como se algo estivesse preso em sua garganta. Não era aquilo que planejara...


- Eu sinto muito – murmurou o homem com pesar. Hermione apoiou-se na porta. – Sinto muito por te falar que te amava, e por fazê-la me amar. Realmente, amor é um sentimento que estraga tudo.


Hermione soluçou e tampou a boca com a mão.


- Realmente Malfoy, amor é um sentimento horrível. – Ironizou fazendo Draco abaixar o rosto. – Eu só gostaria de saber a verdade.


- Que verdade? – Perguntou Draco sem entender.


- Alguma vez você já me amou? – Perguntou Hermione afobada. Draco crispou os lábios.


- Eu não sei. – Confessou. Aquela não era a resposta que Hermione ansiava em ouvir. Ficaram em silêncio por alguns minutos, ambos sem conseguir se encarar.


- Adeus Malfoy – começou Hermione com a voz falhando. – E a propósito, você está demitido.


A porta foi fechada na cara de Draco.


O homem apenas andou a passos largos para fora do prédio.


Caminhou pelas ruas sem ter certeza de onde se encontrava. Só quando sua respiração já estava ofegante e gotas de suor começando a se formar em sua testa, que parou de andar.


Olhou para o céu escuro que se formara naquele dia. Enfiou as mãos no bolso e seus dedos roçaram em uma pequena caixinha preta.


Tirou-a do bolso da calça e analisou-a. Não se atreveria a abrir.


Suspirou enquanto guardava-a novamente.


- Sinto muito, mãe. Não é hoje que seu filho fica noivo.


Fora a toa na casa de sua mãe.


Tivera uma conversa extremamente desgastante à toa naquele dia.


E tudo aquilo não banal pelo simples fato de ter perdido Hermione Granger.


Agora só precisava devolver o anel de sua mãe.

n/autora: obrigada àqueles que voltaram a comentar. A Fic está no final, faltam só mais dois capítulos.
Espero que gostem e comentem.
Beijos,
Ciça ;**

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