Capítulo 02 – Reféns
Lucy ficou completamente sem ação quando ouviu aquela frase. Depois de tantos anos, não esperava voltar a vê-lo, e ainda mais numa situação de crise. Aquilo não podia ser um bom sinal. Sentiu algo frio e pontiagudo encostar em sua garganta e seu braço ser fortemente torcido para trás. Buscou Éomer com um olhar apavorado e viu que o rapaz vinha em seu socorro, mas a voz voltou a falar, agora para ele.
- Fique paradinho aí, valentão. Senão eu espeto ela, entendeu?
A ameaça surtiu efeito, pois Éomer parou, olhando para os dois, procurando uma maneira de ajudar Lucy.
- Muito bem, agora me acompanhem, os dois. – Disse o homem, puxando a garota para dentro da estação, com o rapaz os seguindo. Instantes antes de desaparecer, viu um certo moreno na rua e seu sorriso se abriu ainda mais. Sua chance de se vingar do Potter.
Assim que se afastaram o necessário e, pelos cálculos de Norman Randsome ,Harry já estava perto o suficiente, ele puxou um detonador do bolso e apertou um botão, explodindo a entrada da estação. Então, num gesto rápido, empurrou Lucy com uma mão enquanto arrancava a varinha que estava no bolso de trás, com a outra. Éomer a amparou, mas a garota virou-se furiosa, os cabelos balançando energicamente, as faces rubras de ódio.
- Mas o que é que significa isso? Você está louco ou o quê? – Gritou ela.
- Calma, pequena Lucy. Você não está ferida, nunca deixaria que algo acontecesse a você. Seria burrice minha, não é? – Respondeu Norman, balançando a varinha entre os dedos e em seguida guardando-a em um dos bolsos internos de seu surrado sobretudo – Assim como não seria nada inteligente deixá-la com este maldito graveto.
- Devolva minha varinha, Norman! – Exigiu ela, estendendo a mão.
- Não, acho que não. É mais seguro que ela fique comigo. – Sorriu ele, debochadamente, mas com um brilho no olhar. Ele percebeu que ela não o chamara de tio e que isto ocorrera muito naturalmente.
- Afinal, o que está acontecendo? No que você está envolvido agora? – Insistiu ela, pela primeira vez olhando ao redor e notando muitas pessoas por ali.
Com a poeira da última explosão se assentando, finalmente era possível enxergar o lugar onde estavam presos. A estação de trem estava parcialmente destruída, ambas as extremidades dos túneis estavam bloqueadas, assim como agora a entrada. Havia uma composição parada, parcialmente soterrada pelos destroços, as portas abertas, de onde muitas pessoas eram retiradas, algo em torno de trinta, por pelo menos doze homens fortemente armados. As pessoas estavam sendo reunidas em um canto da plataforma, pouco atrás dos jovens, enquanto três dos homens armados se aproximavam, mostrando curiosidade.
- Nada demais, querida. – Respondeu Norman – Apenas estou ajudando alguns amigos meus. Resolvemos arrancar algum dinheiro dos trouxas, sabe?
- É isso aí, Normie. – Disse um dos homens que se aproximava – Nada como um bom seqüestro e um pouco de terrorismo pra fazer o governo abrir os cofres e liberar uma boa grana.
- Seqüestro? Norman, seu grande idiota. Como você pôde fazer uma coisa dessas? Tem gente ferida lá fora, talvez morta. – Continuou Lucy – E por que me pegou? O que quer comigo? Não tenho mais nada a ver com sua vida e seus amigos trouxas.
- Hei, Norman! Esta é a aquela sua sobrinha da qual falou? A que sabe fazer mágica? – Tornou novamente o homem, olhando agora com curiosidade para Lucy.
- Esta mesma, Carl. Essa é a bruxinha. – E virando-se para Lucy, continuou – Foi muita sorte te encontrar, garota. Você me deve. Tem idéia de tudo que passei desde que aquele metido do Potter e aquela ruiva gostosa te tiraram de casa? Passei fome, frio, e fui até preso pelos trouxas.
- Problema seu, não tenho nada a ver com isso. Se foi preso, devia estar fazendo coisa errada. – Respondeu a garota – Nem eu nem meus pais temos culpa de nada disso.
- Seus pais? – Espantou-se o homem, explodindo numa estrondosa gargalhada em seguida – Quer dizer que você foi adotada por eles?
- Fui, fui sim. – Lucy enfrentou o tio, orgulhosa de sua situação – Agora me chamo Lucy Potter, não Lucy Randsome. E acho melhor acabar logo com isso e nos soltar, antes que meu pai chegue aqui. Você se lembra muito bem o que ele disse quando me arrancou das suas garras e Harry não é homem de esquecer uma promessa. Ele vai acabar com a sua raça quando descobrir o que você está fazendo.
- Eu não tenho medo do Potter. – Riu novamente Norman, a ponto de deixar Lucy um tanto receosa – Não mais.
- Pois devia. Posso lhe garantir que ele continua o mesmo, talvez ainda mais poderoso.
- Isto não importa mais. – Ele fez um gesto de pouco caso com a mão – Agora você é minha novamente, e vai fazer o que eu mandar. Vai me compensar por todos estes anos, ah se vai. Vai me dar todo o dinheiro que eu quiser, vai me tornar um homem rico.
- Você está delirando. – Disse ela, incrédula – Nunca mais você vai mandar em mim. Nunca mais você me fará roubar para você. Nunca. E Harry logo chegará aqui e vamos ver o quanto você é valente na frente dele.
- Potter está morto, garota! – Gritou Norman, com extrema satisfação – Seu paizinho vinha correndo pela rua, na esperança de salvá-lo, quando explodi a entrada da estação na cabeça dele.
Houve silêncio no ambiente por algum tempo. Os reféns, que assistiam a discussão sem compreender exatamente o que se passava, finalmente começavam a perceber que não era uma discussão entre dois aliados. O casal de jovens que ali estava, eram tão vítimas quanto eles. Éomer aproximou-se lentamente de Lucy, tentando abraçá-la. A jovem parecia paralisada com a notícia, olhos arregalados e boca escancarada para o tio, que continuava sorrindo. Ao ser tocada pelo amigo, finalmente pareceu despertar. Deu um berro de fúria e pulou sobre Norman, atingindo-o com tapas, socos e chutes, onde quer que conseguisse alcançar.
- Seu canalha, bandido, aborto miserável, como pode fazer uma coisa dessas? Ele é o maior herói do nosso mundo... – E uma nova série de impropérios, de baixo calão, brotou da boca da menina.
No início Norman achou engraçada a fúria da sobrinha. Mas quando ela começou a xingá-lo pra valer e os socos começaram a incomodar, ele resolveu acabar com aquilo. Num movimento rápido, desferiu um tapa contra o rosto da jovem, lançando-a para trás. Quando ela não se intimidou e tentou avançar contra ele novamente, ele voltou a lhe bater, agora com mais força.
- Sua menininha mimada. Vou lhe ensinar a me respeitar novamente, ah se vou. – E agora era Norman quem avançava para cima de Lucy, cobrindo-a de socos e tapas.
Quando o primeiro tapa foi desferido contra Lucy, Éomer deu um salto para frente, pronto a defendê-la. Mas sentiu o ar desaparecer de seus pulmões, devido uma forte coronhada de um rifle, que recebeu na região do abdome.
- Você fica quietinho aí, garoto. Isso é assunto de família. – Disse Carl, acertando mais um golpe no mesmo lugar e um terceiro nas costas do rapaz, que tombou ao chão.
- Parem! Parem com isso, são apenas crianças. – Desesperou-se uma senhora, destacando-se dentre os reféns.
Norman cessou a surra, deixando Lucy caída, próxima a Éomer. A mulher, acompanhada por um homem que usava uniforme de policial, aproximaram-se do casal e com muito cuidado, os levaram até os outros, onde foram tratados da melhor forma possível. Logo surgiram garrafas de água, lenços e pessoas preocupadas com o estado dos jovens. Enquanto era carregada, a morena ainda disse.
- Você não sabe de nada, Norman. Se nem o Lorde das Trevas, com todos os seus Comensais da Morte, nem Wang Chu com seus Dragões Vermelhos foram capazes de matar Harry Potter, você acha que um Aborto inapto como você o fará? – E um sorriso torto, devido os lábios inchados, mostrou toda a confiança que ela tinha em suas palavras – Não quero estar na sua pele quando ele chegar, “Normie”. Não mesmo.
O homem ameaçou atacá-la novamente, mas foi impedido por seu amigo Carl.
Durante algum tempo, os reféns permaneceram quietos, apenas observando a movimentação dos seqüestradores. Estes, por sua vez, não paravam. Finda a confusão, o grupo começou a se mexer. Enquanto alguns terminavam de desligar o sistema de câmeras instalado na estação, outros organizavam os reféns. Os líderes, dentre eles Carl e Norman, improvisaram uma bancada com destroços. Sentaram-se e apanharam um telefone celular, com o qual ligaram para as autoridades da cidade.
Pelas conversas que ouviam, era claro o objetivo do grupo. Extorquir dinheiro do governo em troca da vida daquelas pessoas. O que haviam feito visava demonstrar força. Deixar claro que não se importavam em machucar ou matar as pessoas para conseguirem seus objetivos.
Sentados com os demais, Lucy e Éomer observavam a movimentação, aguardando o desenrolar dos acontecimentos. Estavam em silencio a algum tempo, desde que se recuperaram das agressões. Então Lucy puxou conversa.
- Obrigada por tentar me ajudar. – Disse ela, ainda sem encarar o rapaz.
- Não há o que agradecer, lady. Fui incapaz de ajudar, minha honra está maculada pela minha incapacidade. – Respondeu ele, baixando os olhos em direção ao chão.
- Você não tinha como fazer nada, Éomer. Estava em menor número e desarmado. Não tinha como impedi-lo de fazer o que fez.
- Mas eu tinha a obrigação de tentar. E conseguir. Ou de morrer tentando. Preferia a morte a vê-la sofrer o que sofreu. – E seus olhos marejaram, mas com muito esforço ele conseguiu segurar as lágrimas de ódio que tencionavam rolar – Não posso crer que aquele homem realmente é seu tio.
- Infelizmente é. – Apressou-se em responder, agradecendo imensamente a mudança da conversa. Ela não se sentiu bem em imaginar alguém morrendo por ela – Agora você entende por que Harry e Gina me adotaram. Eles são minha verdadeira família, não Norman.
A conversa cessou, pois os seqüestradores pareciam um tanto exaltados.
- Eu estou falando, John. Os caras só vão levar a sério se provarmos que estamos mesmo dispostos a tudo. – Carl dizia para outro dos líderes, um homem negro, alto e forte, com uma cicatriz que lhe marcava a face direita.
- Se eles não acreditam na gente, pior para os reféns. Vamos esperar o tempo combinado, se não cumprirem nossas exigências, mostraremos que não estamos para brincadeira.
Houve uma agitação entre os reféns. Não precisariam de muito esforço para entender o que ele queria dizer.
*****
Sentiu que aos poucos sua consciência retornava. E com ela uma velha conhecida, a dor, lhe avisava que algo havia acontecido. Aspirou fundo e finalmente abriu os olhos, mas a falta de seus óculos tornou tudo borrado. Conseguiu perceber que tudo a sua volta era branco e o cheiro característico lhe indicou que estava em um hospital. Mas seu instinto lhe dizia que não estava no Saint Mungus. Antes, porém, que dissesse qualquer coisa, sentiu seus óculos sendo colocado em seu rosto e uma voz familiar lhe sussurrar.
- Harry! Finalmente acordou, estava começando a ficar preocupada. Tome seus óculos.
- Mione? Onde estamos? O que houve? – Tornou ele, no mesmo tom.
- Estamos em um hospital trouxa. Houve um atentado e você foi atingido por uma das explosões. Se não tivesse conjurado um escudo, certamente estaria morto.
- Hospital trouxa? – Perguntou, esforçando-se para se recostar em sua cama, tentando se lembrar melhor do ocorrido – Explosão? E Gina? E as crianças? Estão feridos? Onde estão?
- Estão todos bem, fique calmo. Só você se feriu. Gina não conseguiu nos chamar antes que os trouxas o trouxessem para cá, por causa das crianças. E eu tive um pouco de trabalho para conseguir entrar e lhe dar algumas poções, está um movimento terrível por aqui. Mas agora está tudo bem, mais algum repouso e estará novo em folha.
- E o que houve afinal? – E lembrando-se da filha, emendou – E Lucy? O que houve com ela?
- Bom, ainda não temos certeza sobre o que está acontecendo. – Admitiu Mione, constrangida – Parece que houve um atentado ou um seqüestro. Rony está no local, tentando descobrir do que se trata.
- Alguém arrastou Lucy para dentro da estação do metrô antes daquela explosão. – Disse o moreno, esforçando-se para levantar da cama – Não pode ser um simples atentado, deve haver algo mais. Precisamos sair daqui, Mione. Preciso encontrar minha filha.
Mione não discutiu. Conhecia bem demais o amigo para saber que nada o faria mudar de idéia. Ajudou-o a sair da enfermaria. Procuraram uma sala vazia e dali, aparataram para a casa de Harry, onde este constatou que sua família estava bem. O moreno tomou um banho rápido, trocou de roupa e ainda acompanhado da amiga, foi ao encontro de Rony.
*****
O prazo concedido pelos terroristas estava terminando e nenhum contato havia sido feito, indicando que suas exigências estariam sendo atendidas. Novamente movimento entre os homens, agora o sistema de câmeras voltava a ser operado. Logo, voltou a funcionar. Então o prazo se esgotou.
- Pelo visto, não estão acreditando na gente. – Disse o homem chamado John.
- Então vamos ter que convencê-los. – Emendou Carl, indiferente.
- As câmeras estão funcionando? – Perguntou John para um de seus comparsas, que concordou com um aceno de cabeça – Então eles já podem nos ver. Está na hora de mostrar que não estamos de brincadeira.
Jonh pegou seu celular e voltou a ligar para as autoridades. Assim que o negociador atendeu, ele disse.
- Onde está nosso dinheiro? – Silêncio por alguns momentos, então continuou – Vocês já tiveram tempo suficiente para conseguir o que pedimos. Acho que estão precisando de uma prova. Fiquem de olho em seu sistema de vídeo.
O telefone foi desligado e Jonh voltou-se para seus homens, que se mostravam ansiosos.
- Peguem um dos reféns. – E olhando para o grupo, que assistia a tudo, apontou para um homem – Aquele. O condutor.
Dois homens foram até o indicado, arrastaram-no até um local onde as câmeras pudessem captar nitidamente a imagem e então o jogaram no chão. Com um aceno de consentimento do líder, um dos homens sacou sua arma e executou o refém. Imediatamente o celular tocou, e John atendeu.
- Espero que tenham entendido o recado. Executaremos um refém a cada trinta minutos, até que nossas exigências sejam atendidas. E se tentarem invadir isto aqui, liquidaremos todos. - E novamente o telefone foi desligado. O homem ainda olhou para o tumulto entre os reféns, mas este não durou muito. Mais uma vez, o foco do distúrbio era o casal de adolescentes. Ele odiava adolescente. Se a jovem não fosse sobrinha de Norman, eles certamente seriam os próximos.
*****
Todos estavam assustados com o rumo que o seqüestro estava tomando. Ninguém esperava uma execução e quando o condutor, um homem já passando da meia idade foi retirado dentre eles, alguns tentaram protestar. Mas foram intimidados com armas e acabaram sendo obrigados a permanecerem calados. De onde estava sentada, encostada a uma pilastra de sustentação ao lado de Éomer, Lucy levantou em um pulo, mas foi contida pelo amigo. Continuou assistindo a cena, horrorizada, e quando o disparo ocorreu, ela não agüentou olhar e enfiou o rosto no peito do rapaz, dando um grito de horror. Um choro raivoso explodiu em seu peito, e ela se agarrou ainda com mais força a ele, que a enlaçou carinhosamente tentando confortá-la.
- Calma Lucy. Já acabou. Não há mais nada que possamos fazer para ajudá-lo.
- Isto... Isto foi tão injusto, tão horrível. O pobre homem não fez nada, era um inocente. Não merecia morrer deste jeito. – Disse ela, sua voz saindo abafada, pois seu rosto ainda estava mergulhado no peito do rapaz.
- Eu sei, não foi uma morte honrosa. – Concordou ele, apertando-a mais em seu abraço, na tentativa de lhe passar algum conforto.
- Precisamos fazer alguma coisa, Éomer. Estes homens precisam pagar por seus crimes. – O susto inicial estava passando. Lucy estava se sentindo estranhamente bem e segura ali, nos braços de Éomer. Estava confusa, sem saber ao certo o que sentia, mas certamente o calor de seu abraço lhe dava novas forças, força para reagir.
- Rapaz, é melhor controlar sua namorada. – Disse o policial, aproximando-se e cochichando – Vocês estão chamando muito a atenção daquele tal de John e isso não é nada bom.
Éomer olhou para o homem, e este realmente estava olhando para eles. Rapidamente o rapaz puxou Lucy de volta para a pilastra onde estavam e fez a garota voltar a se sentar. Ele também se ajeitou a seu lado, voltando a abraçá-la. O guarda, na intenção de tomar conta dos dois inconseqüentes, sentou-se próximo.
- Lucy, tente se controlar. Não podemos fazer nada, eles estão em maior número e armados. – Éomer disse em tom baixo, bem perto de seu ouvido, o que lhe causou um arrepio.
- Eu sei. Mas não podemos deixar outras pessoas serem assassinadas. Não quando podemos impedir. Não podemos esperar pelo Harry, ele pode estar realmente ferido. – Respondeu ela, afastando-se um pouco. Precisava se concentrar no que acontecia. Não era momento para se distrair ou ficar confusa.
- Tem algo em mente? – Éomer sorriu. Aquela sim era a Lucy que ele conhecia e admirava.
- Se eu conseguir recuperar minha varinha, com certeza teremos alguma chance. Vou acabar sendo expulsa da escola e talvez presa pelo ministério, mas não me importo. Não posso deixar essas pessoas serem feridas e não fazer nada.
- Hei! Que absurdo é este que estão falando? – Era o policial, que próximo, ouvia a conversa dos dois – Vocês não vão fazer nenhuma tolice, estão me entendendo?
- Mas nós podemos ajudar, senhor. Não somos crianças indefesas. – Insistiu ela.
- Você quer que eu acredite neste absurdo? Que você tem uma varinha mágica e pode fazer truques com ela? – O tom de voz do policial agora era ríspido. Ao perceber o olhar de espanto da menina, emendou – É, eu ouvi a conversa de vocês mais cedo. Daquele homem, que se diz seu tio, sobre você ser uma bruxa. Total absurdo.
- Mas é verdade. – Admitiu Lucy, após ponderar por alguns momentos – Eu sou uma bruxa e posso fazer magia. Se estiver com minha varinha. Meu tio a tomou de mim, assim que chegamos, justamente para garantir que eu não reaja.
- Ela diz a verdade, senhor. – Éomer tentou ajudar – Eu mesmo já vi.
- E você também é algum tipo de bruxo, eu suponho. – Agora a pergunta era voltada para o rapaz.
- Não. Mas sou muito bem treinado em combate corpo-a-corpo. Tenho certeza de que posso derrubar alguns deles sem dificuldade.
- E como pretende fazer isto crivado de balas? – O policial não sabia mais se ficava irritado ou se divertia com aqueles dois.
- Com minha varinha posso protegê-lo, e a todos, das balas. – Insistiu a garota – Mas primeiro preciso da varinha. E meu tio não vai me deixar chegar nem perto dele
- Acho que sei como pegá-la. – Éomer disse, sorrindo – Mas você terá que ser bem rápida, senão perdemos o elemento surpresa.
- Pode deixar. Sou artilheira do time de quadribol, posso ser bem rápida quando quero. – Lucy sorriu em resposta – Mas qual é o plano?
- Vamos ter que esperar até a hora de executarem outro refém. – Informou o rapaz e em seguida virou-se para o policial – Uma ajuda seria muito bem vinda.
O homem, que escutava a conversa dos dois pensativo, apoiando o queixo em uma das mãos, olhou para eles e finalmente voltou a falar.
- Acho que vocês são loucos e inconseqüentes. Devo estar também, já que não pretendo impedi-los de fazer o que pretendem. Claro que não acredito neste absurdo de bruxaria, mas vocês são os únicos com coragem de fazer algo. – Ele suspirou e então continuou – Quando vesti este uniforme, fiz um juramento de proteger as pessoas. Não posso permitir que estes bandidos matem mais alguém. Se pudermos fazer algo para proteger os inocentes, contem comigo. Só preciso de uma arma.
- Isto eu posso arrumar. Fique preparado. – Garantiu Lucy – E depois que libertarmos os reféns? Para onde iremos? Precisamos fugir, não podemos enfrentar a todos. Só posso conseguir uma pequena distração, o suficiente para fugirmos.
- Existe uma porta, no final da plataforma. Não sei para onde leva, mas é a nossa única saída. – Informou o policial.
- Muito bem. Então está resolvido. Enquanto eu e Lucy distraímos os seqüestradores, o senhor conduz as pessoas para esta porta e as tira daqui. – Finalizou Éomer, obtendo a concordância dos outros dois.
Alguns minutos se passaram e logo a meia hora de prazo havia se esgotado. Os seqüestradores voltaram a se agitar, e o líder disse que era hora de executar mais um refém. Olhou para o grupo, que apavorado, tentava se esconder o máximo possível. Com um sorriso maldoso, John apontou para uma jovem loira, de aproximadamente vinte e cinco anos.
- Vamos ver se eles não se comovem ao ver essa bela jovem implorando pela vida. – Disse, fazendo sinal para um dos homens buscá-la.
- Espere! – Gritou Éomer, levantando-se de seu lugar ao lado de Lucy – Deixem a moça em paz. Eu ire no lugar dela.
- Éomer, não! – Gritou Lucy, pondo-se em pé mais rápido do que ele – O que é que você pensa que está fazendo?
- O que é necessário. – Respondeu ele, voltando-se e piscando disfarçadamente para ela – Não posso deixar que a machuquem.
- Ora, vejam só. Temos um cavalheiro entre os presentes. – Riu John.
- He!He! He! Parece que seu namoradinho não gosta tanto de você assim, hein Lucy? – Gracejou Norman, aproximando-se.
- Ele não é meu namorado. – Devolveu ela, corando levemente, sem entender por que. Afinal, ele não era mesmo seu namorado.
- Eu vou. – Cortou Éomer, antes que a discussão se alongasse, apontando o dedo para Norman – Mas o desafio a ser meu executor.
- O quê? Eu? E por que eu faria isso? – Norman riu ainda mais.
- Qual é o problema? Não tem coragem? Só é valente quando pode atacar as pessoas sem que elas tenham condições de se defender? Só é homem contra crianças e mulheres, mais fracas do que você?
- Cale essa boca, moleque. Você não me serve para nada, não tenho por que mantê-lo vivo. Se não se calar, acabo dando um fim em você. – Cuspiu Norman, raivoso, olhando para Lucy, tentando captar algum plano, mas a menina tinha os olhos arregalados para as costas do amigo, não acreditando na ação dele.
- Pois eu duvido. Já vivi uma guerra, vi homens matando e morrendo. E você não tem olhar de alguém que tenha coragem para tirar a vida de outro. És um covarde, e seus amigos vão perceber isto a qualquer momento, que não podem contar com você.
- Basta! – Sentenciou Jonh – Vamos logo, Norman. Se o garoto quer tanto morrer, cumpra o seu desejo. Traga-o para cá e meta uma bala na cabeça dele.
Norman compreendeu que aquilo era uma ordem. Olhou para os seus colegas, e percebeu que a semente da desconfiança havia sido plantada. A única forma de reconquistar a confiança agora era matando o rapaz. Mas ele nunca havia cometido um assassinato. Ele era um ladrão. Roubava, enganava, mas nunca matava. Mas não tinha nenhuma outra opção. Caminhou até onde estava Éomer e o agarrou pelo braço.
- Não! Norman, não faça isso. –Gritou Lucy, tentando correr de encontro aos dois, mas foi impedida pelo policial. Olhou desesperada para Éomer, que olhava para ela enquanto andava e tinha um leve sorriso nos lábios, os quais moveu sem emitir som algum, dizendo “ Prepare-se”. Só então ela entendeu e resolveu embarcar de vez naquela loucura – Éomer! Éomer, não. Por favor, não o matem – E enquanto gritava e chorava, tentava se aproximar dos dois.
- Agora é tarde, garota. Vai ficar sem o seu namoradinho. – Disse Norman para ela e em seguida, para ele – De joelhos.
Éomer obedeceu, abaixando-se. Mas não se ajoelhou totalmente, mantendo uma das pernas flexionada. Quando Norman desviou os olhos dele, procurando a Magnun que estava em sua cintura, o rapaz deu um salto sobre ele, uma mão imobilizando a que trazia a arma enquanto a outra desferia um violento soco em seu rosto. A surpresa, misturada com a dor, fizeram-no soltar a arma. Éomer aproveitou para derrubá-lo, com uma rasteira e enquanto o homem caia, a varinha foi recuperada.
- Pegue Lucy! – Gritou ele, jogando a varinha e já se preparando para um dos seqüestradores, que corria em sua direção.
Lucy pegou a varinha ainda no ar. Sem titubear, ela apontou para as câmeras, ciente de que teria que impedir que os trouxas do lado de fora vissem o que ela estava prestes a fazer. Lançou um feitiço “Reducto!” contra a mais próxima, que explodiu e causou um efeito cascata, causando a explosão de todas as outras. Neste momento, Éomer já estava lutando contra seu adversário. Ela apontou a varinha para o homem e bradou.
- “Estupefaça!” – O seqüestrador foi lançado a metros de distância.
O mundo congelou por alguns instantes. Todos, tanto reféns quanto bandidos, olhavam atônitos do homem desacordado para a menina, com a varinha na mão. Então o líder, John, pareceu se dar conta do real perigo que aqueles jovens representavam para sua operação.
- Matem-nos! – Berrou, finalmente levantando uma metralhadora que trazia consigo, mas Lucy foi mais rápida.
- “Accio Armas de Fogo!” – Ela bradou, e as armas dos mais próximos voaram das mãos de seus donos, caindo aos seus pés.
Os bandidos olharam para suas mãos, sem acreditar na forma como haviam sido desarmados. Até que uma nova ordem do líder os tirou do estado de torpor que estavam.
- Peguem-nos de uma vez! Não fiquem aí parados com essas caras!
- Policial, tire todos daqui. – Ordenou por sua vez Lucy, chutando as armas em direção a este.
Não só o policial como mais dois homens correram e pegaram armas, ao mesmo tempo em que Éomer retirava, dentre os escombros das explosões, uma barra de ferro e corria de encontro aos homens que os atacavam. Quando chegou, Lucy já havia derrubado dois. Um com o Feitiço para Rebater Bicho-Papão, que aprendera com Gina e outro com um “Petríficus Totallus!”. O rapaz começou a lutar contra outro jovem, que usava uma faca de caça na tentativa de matá-lo. Mas os anos de treinamento em diversas armas o haviam preparado para enfrentar um adversário com certa vantagem, como era o caso. Ele desviava habilmente dos golpes. Ou então bloqueava com a barra, vez ou outra atingindo seu adversário com um golpe. Num momento de desequilíbrio de seu atacante, ele fez a barra girar e atingir-lhe a lateral da cabeça. O jovem tombou, completamente fora de combate.
Virou-se, procurando por Lucy, e a viu derrubando mais um inimigo, desta vez usando um feitiço “Imobillus!”. Corria em sua direção, quando ouviu um som absurdamente alto e grave machucar seus ouvidos. Tapou-os e procurou sua origem, confuso.
- Éomer! – Chamou Lucy, desesperada – Estão atirando. Cuidado. – A jovem chegou até ele e antes que novos disparos fossem deflagrados, conjurou – “Protego!”
Uma nova saraivada de balas se fez ouvir, mas esta bateu contra o escudo invisível.
- Você está bem? – Perguntou ela, preocupada, recebendo um aceno de concordância dele – Perdemos o elemento surpresa. Precisamos sair daqui.
- Consegue manter este escudo? – Perguntou ele.
- Preciso. Vamos. – E ambos começaram a correr em direção ao final da plataforma, ainda sob uma chuva de balas.
- Crianças, aqui. – Chamou o policial, detrás de uma pilastra – Corram, nós vamos lhes dar cobertura.
Em seguida, ele e os dois homens que também estavam armados abriram fogo contra os seqüestradores. Lucy e Éomer esconderam-se atrás da pilastra, onde os outros reféns se encontravam, tão ou mais apavorados do que antes.
- A porta está trancada! – declarou a senhora que havia ajudado Lucy mais cedo – Não conseguimos passar daqui.
- Deixem comigo. – Disse Lucy aproximando-se da porta, apontando a varinha para a fechadura e murmurando – “Alorromora!”.
A porta se abriu com um click seco. Lucy olhou para os presentes, completamente ciente do assombro e medo que aquelas pessoas agora tinham dela, mas não deixou isso transparecer.
- O que estão esperando? Saiam rápido.
Enquanto todos passavam pela porta, atabalhoadamente, esta voltou para o policial, que junto com os outros dois homens, mantinham os seqüestradores afastados. Éomer estava ao seu lado.
- Precisamos criar uma distração para que os três também possam fugir. – Disse ela, olhando ao redor e tendo uma idéia ao ver os destroços da explosão, onde alguns bandidos se escondiam – Já sei. Traga-os para a porta, assim que eu os distrair.
- Certo! - Concordou o rapaz. – Mas o que você vai fazer?
- Você vai ver. – E Lucy lhe deu um largo sorriso, antes de correr para o mais próximo dos destroços que conseguiu, enquanto Éomer seguiu em direção ao grupo de defesa.
Ela se escondeu atrás de outra pilastra, esta estava um tanto abalada pelas explosões, de modo que faltava um grande pedaço, deixando a vista sua ferragem. Quando viu que Éomer conseguira chegar ao seu destino, apontou a varinha para os destroços e gritou – “Bombarda Máxima!” – E os destroços explodiram, lançando dois dos seqüestradores longe e erguendo uma grossa cortina de poeira. Ela voltou correndo em direção a porta, percebendo que os outros faziam o mesmo.
Mas o plano de ocultamento foi percebido por John, que após um instante, quando foi coberto pela poeira, voltou a atirar em direção da porta, às cegas. Uma seqüencia de gritos lhe garantiu que atingira o alvo. Ou mais de um.
Assim que ouviu os disparos, Lucy convocou seu escudo. Mas a poeira, que deveria lhes proteger também se mostrava sua inimiga, pois não a deixava encontrar os outros. Ouviu alguém gritar de dor e sentiu um medo como nunca sentira antes. E chamou.
- Éomer! Éomer, onde você está?
Não houve resposta, mas três vultos surgiram na sua frente. O policial e um dos homens, amparando uma terceira pessoa, que parecia ferida. Éomer. Ela correu em direção do trio, na intenção de socorrer o amigo, mas foi impedida pelo policial.
- Agora não, menina. Precisamos sair daqui, a poeira já está baixando. Depois socorremos seu amigo.
- E onde está o outro homem? – Perguntou ela, enquanto atravessavam a porta e ela a lacrava com um feitiço “Colloportus!”
- Ele foi atingido também. – Disse o outro homem – Mas não sobreviveu.
Seguiram apressadamente por um estreito corredor, atravessando mais duas portas, que eram imediatamente lacradas por Lucy conforme passavam. Logo começaram a ouvir as vozes de outras pessoas. Desembocaram em uma sala, usada como depósito de materiais, onde todos estavam ao fundo, tentando abrir outra porta. Ao longe, ao mesmo tempo, ouviram o som de uma pequena explosão, o que significava que os seqüestradores haviam conseguido derrubar a primeira porta enfeitiçada por Lucy.
- A porta está trancada. Você consegue abrí-la, minha jovem? Como fez com a outra? – Perguntou a senhora, aproximando-se de Lucy.
- Acho que não. – Respondeu ela, enquanto acompanhava Éomer ser deitado no chão – Estou muito cansada, fiz magia demais. Usei o resto de força de vontade que tinha para explodir o entulho, mal consegui lacrar as portas.
Murmúrios de insatisfação e desapontamento correram pelas pessoas, mas todos se calaram ao receber o olhar indignado da mulher. Esta acariciou os cabelos negros da menina e disse, gentilmente.
- Tudo bem, minha querida. Você já fez demais. – E vendo o olhar aterrorizado dela, completou – Talvez ainda possa ajudar seu amigo? Vá cuidar dele.
Ela não esperou mais nada. Jogou-se no chão, ao lado do rapaz, que ficava mais pálido a cada minuto e chamou baixinho.
- Éomer! – E, para o homem que o carregara, emendou – Ele está muito ferido?
- Levou dois tiros nas costas. Precisa ser levado ao hospital o mais rápido possível.
- Lucy! – Sua voz fraca chamou e a jovem se sentou no chão, pondo sua cabeça no colo.
- Shiii! Não fale, precisa poupar suas energias agora. – Disse ela, acariciando-lhe os cabelos louros. Ela se surpreendeu em pensar, que mesmo com toda aquela confusão, com toda a poeira que os cobria, os cabelos dele ainda estavam brilhantes e sedosos.
- Tudo bem. Eu sei que estou seriamente ferido, minha lady. Mas não se preocupe, está tudo certo.
- Não, não está nada certo. – Sua voz saiu esganiçada, aos trancos – Você não podia ter se ferido. A culpa é minha, tive uma idéia idiota e infantil. Eu deveria protegê-lo, não deixar que fosse ferido.
- Você não teve culpa nenhuma. E sua idéia foi realmente muito boa, como todas são. Foi uma fatalidade. Essas coisas acontecem às vezes e fico feliz que tenha sido comigo e não com você.
Ao longe, mais uma porta era arrombada.
- Mas você não pode morrer. – E agora, lágrimas começavam a riscar o belo e jovem rosto, abrindo caminho pela poeira que o cobria. Ao redor, ninguém mais se importava em arrombar a porta ou com o fato dos seqüestradores estarem chegando. Todos assistiam comovidos a conversa dos adolescentes – Você é príncipe de Gondor, precisa ajudar seu irmão a governar seu povo. Não é justo deixá-lo sozinho.
- Cho deu herdeiros a meu irmão. O sangue de Númenor continuará governando a cidade branca. Além de príncipe, também sou cavaleiro de Gondor. E como tal, não podia escolher morte mais honrada do que esta, em batalha. E ao lado de uma grande maga. Estou feliz, Lucy. Muito feliz que você esteja aqui comigo. Formamos uma grande dupla.
- Não! Não ouse me abandonar, Éomer. Nós somos sim uma grande dupla, e ainda vamos fazer muita coisa juntos. – E lembrando-se de algo, continuou, desesperada – Lembra-se do que Lady Arwen me disse? De que eu voltaria à Terra Média, quando adulta? Então, ela nunca errou. Você não pode morrer, tem que me encontrar daqui a alguns anos. Ainda temos uma missão em sua terra.
- Lucy, Lucy. – Ele disse seu nome de uma maneira tão suave, que lhe causou arrepios – Ela disse que você voltaria. Não que nós nos encontraríamos quando você voltasse.
- Não! Isto não é justo. Logo agora que estávamos voltando a ser amigos, que você tinha parado de me provocar... Não está certo. Você não pode morrer.
- Perdoe-me, Lucy. Por tudo que eu fiz. Estava confuso, sem entender o que se passava comigo. Mas agora, as coisas nunca me pareceram tão claras. – Declarou Éomer, enquanto outra porta era derrubada. Agora, era possível ouvir as vozes muito próximas, restava apenas uma porta até eles.
- Do que você está falando? O que está claro? Éomer, não é hora de...
Mas Lucy não terminou a frase. Reunindo forças não sabia de onde, Éomer a puxou de encontro a si, beijando-a sofregamente. Não era assim que ele havia imaginado demonstrar o que sentia, mas ele sabia que seu tempo estava acabando e tinha que deixar claro o que sentia. E torcer para que ela sentisse o mesmo.
Foi um grande choque quando se sentiu sendo beijada. Lucy arregalou os olhos. Não esperava. Mas assim que percebeu o que acontecia, não se afastou. Pelo contrário, sentiu um desejo e uma necessidade tão grande daquele beijo, que o aprofundou ainda mais. Não era o beijo que esperava para o seu primeiro. Os lábios de Éomer estavam gelados e trêmulos devido o esforço. Eles estavam sujos e o medo de perdê-lo agora gritava alto em seu cérebro. Por outro lado, definitivamente era com a pessoa certa. Agora ela tinha certeza de que não poderia ser com outra pessoa.
Mas, foi breve. Éomer não agüentou a dor e desfaleceu em seu colo, arrancando lamentos de algumas mulheres ao redor, que acreditavam que ele falecera. Mas ninguém ousou interferir naquele momento tão lindo e triste do jovem casal.
- Não! Não vou deixar que parta desta maneira. – Havia uma nova força e determinação na voz de Lucy – Nunca fiz este feitiço, mas sei como funciona. “Amor Eternus!” – Um feixe de luz, branco-perolado partiu de sua varinha, atingindo diretamente o peito de Éomer – Alguém me ajude. Pai! Mãe! Alguém. Por favor, abram esta porta, pelo amor de Merlin.
- Ele não morreu. – Disse o policial, que assim como todos os outros, olhava maravilhado para o casal e foi o primeiro a perceber a respiração fraca de Éomer.
Então, duas coisas aconteceram ao mesmo tempo. A porta que os separava dos seqüestradores veio abaixo, sob o peso de três homens que a derrubaram. Com o susto, Lucy perdeu a concentração e suspendeu o feitiço. Ao mesmo tempo, outras três pessoas se materializaram no pequeno depósito. Sem conseguir acreditar, Lucy caiu em prantos, aliviada e ao mesmo tempo ainda desesperada.
- Pai! Graças a Merlin. Éomer está morrendo, precisa de ajuda!
- Eu cuido dele. – Adiantou-se Hermione, sacando sua varinha e murmurando uma série de feitiços numa fala muito rápida e baixa.
Harry permanecia de pé, estudando a situação. Olhou para os ferimentos de Lucy. Depois registrou os trouxas atrás dela. Então teve sua atenção atraída para a porta.
- Hei! Quem são vocês? De onde apareceram? – Perguntou um dos homens que derrubara a porta, Norman. Assim que Harry se virou para ele, os olhos verdes cintilando de fúria e as feições contraídas, este gemeu – Potter.
- Você! – E Harry apontou para Lucy – O que fez com minha filha?
Apavorado, Norman saiu correndo. Harry ameaçou segui-lo, mas seus companheiros sacaram suas armas e dispararam. O moreno, sem se afetar, gesticulou levemente com a mão e um escudo prateado protegeu a todos. Com a outra mão, fez um gesto brusco e os homens foram içados lançados de costas, derrubando parte da parede. Harry então se virou para os amigos.
- Cuidem de tudo por aqui. Tenho contas a ajustar com esses homens. – E saiu pela porta.
- Harry, não faça nenhuma besteira. – Alertou Mione, ainda sem tirar os olhos de seu paciente. Pegou uma chave inglesa que estava caída no chão, tocou-a com a varinha e virou-se para o marido – Rony, ele precisa ir urgentemente ao Saint Mungus. Você pode levá-lo? E a Lucy também, é claro.
- Pode deixar que comigo. Mas não seria melhor eu tomar conta do Harry? Não sei o que ele pode fazer com esses caras. Não gosto de vê-lo nervoso assim, ele pode acabar matando alguns. Ou é mais provável que mate todos, na verdade.
- Meu pai é bom demais para matá-los. – Disse Lucy, finalmente.
- É, pode até ser. Mas mesmo assim, não gostaria de estar na pele deles. – Afirmou Rony, e fez uma careta ao ouvir gritos de pavor que vinham da plataforma – Vamos lá, pestinha. Vamos para o hospital. Seu amigo precisa de cuidados. Mione?
- Eu já vou. Só preciso resolver um assunto ainda. – Respondeu ela, indicando com um olhar os trouxas.
- Ah! Certo. – E Rony segurou Éomer no colo. Lucy agarrou seu braço direito e todos desapareceram.
- Moça. – Chamou o policial, tomando coragem e chamando a atenção de Mione, que se virou para ele – Eles vão ficar bem, não vão? O rapaz está muito ferido. Será que ainda pode ser salvo?
- Sim meu senhor. Eles ficarão bem. O príncipe Éomer apresenta um quadro delicado, mas cheguei a tempo.
- A senhora é médica? – Perguntou a senhora, que soltou uma exclamação de alívio quando Mione assentiu – Graças a Deus. Devemos nossas vidas a essas crianças. Se não fossem elas, não sei o que teria acontecido conosco lá dentro.
- A senhora chamou o rapaz de príncipe. É verdade mesmo? E vocês... São bruxos de verdade? – Inquiriu o policial.
- Na verdade somos. – Respondeu Mione, sacando sua varinha – Mas infelizmente vocês não poderão se lembrar de nada disto. “Obliviate!” – E uma luz branca cegou a todos.
*****
A última coisa da qual se lembrava era o beijo de Lucy. Então, a escuridão o dominou. Agora, que a consciência retornava, ele esperava sentir muita coisa. Dor, medo, frio. Mas não sentia absolutamente nada disto. Na verdade, se não fosse pelo cheiro de amônia, Éomer diria que estava deitado em sua cama. Estava confortável, aquecido e descansado. Abriu os olhos e uma luz clara o atingiu, ofuscando sua visão momentaneamente.
- Ele acordou. – Cho disse, alegre.
- Éomer! – Anaryon tocou seu ombro, um sorriso aliviado e orgulhoso estampado no rosto – É bom vê-lo bem.
Ele devolveu o sorriso, e correu o olhar pelo quarto, que estava cheio de gente. Finalmente a encontrou, abraçada aos pais e sorriu. Ela lhe devolveu o sorriso, aliviada que estivesse bem. A visita durou um bom tempo, até que uma enfermeira exigiu que fossem embora e deixassem o paciente descansar. Contrariados, os presentes foram saindo, aos poucos. Éomer viu Lucy sussurrar ao ouvido de Gina e em seguida, o casal Potter sair do quarto, deixando a filha para trás. Logo estavam apenas os dois e então ela se aproximou da cama.
- Ainda bem que o pior não aconteceu. – Disse ela, colocando uma mexa de cabelo atrás da orelha – Você conseguiu me deixar realmente preocupada.
- Para ser bem sincero, também fiquei preocupado desta vez. – Respondeu ele, sorrindo – Você está bem?
- Ótima. Principalmente agora. – Ela sentou-se na beirada da cama, torcendo as mãos nervosamente. Talvez não fosse o momento, mas assim que soube que ele não corria mais perigo, precisava entender o que ocorrera entre eles. Tomou coragem e perguntou – Éomer... Sobre o que aconteceu lá naquela sala...
O casal estava tão concentrado em sua conversa, que não percebeu a porta se abrir e fechar atrás deles.
- Você quer dizer o beijo? – Perguntou ele e com sua concordância, continuou – Queria ter feito aquilo há muito tempo. Desde que cheguei, eu acho.
- Mas eu não entendo... Pensei que não gostasse de mim. Por que estava implicando comigo o tempo todo, parecia que só queria me ferir ou me magoar.
- Eu sei, fui um idiota. Na verdade, estava confuso, não entendia o que estava sentindo e acabei descontando em você. Mas quando percebi... Quando entendi o que sentia...
- Éomer, eu não sei o que dizer.
- Não precisa dizer nada. Se fui precipitado ou insensível, peço desculpas. Não quis me aproveitar da situação, apenas não queria morrer sem sentir o gosto do seu beijo.
- Sabe de uma coisa? – E agora um sorriso maroto se formou, deixando-a ainda mais linda – Aquele foi meu primeiro beijo. E, desculpe, mas não foi exatamente o que eu esperava.
- Ah! Sinto muito. – Desculpou-se, envergonhado.
- Não. Tudo bem. Nas circunstâncias... Mas agora, acho que as coisas podem ser diferentes. Afinal, agora você não está morrendo em meus braços.
Dizendo isto, Lucy encurtou a distancia entre os dois, capturando os lábios de Éomer em um beijo leve e delicado. Com uma mão, correu até seus cabelos, alisando-os. Com a outra, alisava levemente seu rosto. Èomer, por sua vez, puxou-a pela nuca, aprofundando ainda mais o beijo. Este sim, na opinião de Lucy, era um primeiro beijo. Sentia seu coração bater de forma descompassada, a sensação de borboletas em seu estomago, frio e calor percorrer seu corpo, tudo ao mesmo tempo. Então se afastaram.
- Wow! Isto sim foi um primeiro beijo. – Disse ela, deitando sobre seu peito.
A porta se abriu e se fechou novamente e do lado de fora, Gina puxou a capa de invisibilidade, sob a qual ela e Harry estavam escondidos.
- Por que me fez sair, Gina? Não podemos deixar aqueles dois lá, sozinhos. – Reclamou Harry, mal humorado – Não sei mais se foi uma idéia tão boa salvar a vida dele.
- Harry! – Ralhou a ruiva, divertida – Foi apenas um beijo inocente.
- Pelo que entendi, não foi exatamente o primeiro. E não sei se ele é tão inocente assim, não gostei nada daquelas mãos principescas.
- Harry, já disse que você fica lindo quando está com ciúmes? Deixe as crianças, isso ia acontecer uma hora ou outra.
- Mas ela ainda é muito nova. Só tem treze anos. Não tem idade para namorar ainda. Ou se apaixonar.
- Eu já era apaixonada aos onze. E já pensava seriamente em namorar. Se o pretendente não fosse tão ocupado...
- Certo, certo. Já entendi. – Concordou ele, de má vontade – Só não queria que ela sofresse. Ele vai embora a qualquer momento.
- Eu sei, amor. Mas isto não depende de nós. Dê tempo ao tempo, tenho certeza de que as coisas vão se encaixar e nossa filha será feliz.
*****
O feriado havia terminado e Lucy estava sentada em um vagão do Expresso de Hogwarts. As amigas conversavam animadamente, colocando em dia as novidades. Mas ela estava calada em um canto, pensativa. Estava triste pela partida de Éomer, mas sabia que voltariam a se encontrar um dia. Por outro lado, estava muito feliz. Descobrira sentimentos que julgou não serem possíveis, por alguém tão improvável quanto Éomer. O ministério não a punira. Muito pelo contrário, ela havia recebido uma comenda, por salvar a vida de tantos trouxas.
Quando deixara Hogwarts, dias atrás, Lucy não imaginou que tanto pudesse acontecer em tão pouco tempo. Aquele havia sido, sem dúvida alguma, um Natal Revelador.
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