Capítulo 01 – Visitas Indesejá

Capítulo 01 – Visitas Indesejá



Quando o apito acusou a parada do trem, indicando que a viagem chegara ao fim, ela pulou do banco, como se tivesse molas. Pegou seu malão e correu, estava morrendo de saudades de sua família. Por mais que adorasse a escola, aguardava sempre ansiosa pelas férias, para poder retornar para sua casa e rever toda a sua família. Desceu do trem, buscando pelos cabelos negros e espetados, que sempre a aguardavam, mas ao invés dele, visualizou um homem alto, que se destacava na multidão, não só pela estatura como também por seus cabelos rubros e um sorriso sincero. Ela lamentou a falta do moreno por um momento, então se rendeu ao sorriso acolhedor e os braços abertos. Correu em sua direção, jogando-se em seus braços.


 


 


            - Tio!


            - Oi Pestinha. Como você está?


            - Ótima.


- Andaram te azarando com algum feitiço de espichamento? Tenho certeza de que você cresceu além do normal nos últimos meses. – Afirmou o ruivo, sorrindo, bagunçando seus cabelos – Parece ter dezessesi anos e não treze, sabia?


- Claro que não. E deixa de ser chato, até parece que você não passou por isso. – Retrucou ela, enquanto um grupo de meninas, da mesma série, passava por eles e olhavam, com admiração, para os dois – Olha tio, eu adoro quando vem me buscar. Adoro ver a cara de inveja das minhas colegas, quando elas passam e ficam babando pelo senhor. O grande Auror, forte, bonitão e tal. Não quero parecer ingrata nem nada... Mas onde está o meu pai?


- Bom, ainda bem que gosta quando eu venho. Senão teria que deixar esta missão para Fred ou Jorge, o que deixaria sua mãe completamente louca. – Respondeu Rony, fitando a jovem e ambos riram, diante da possibilidade de um dos gêmeos por ali. Seria uma verdadeira balbúrdia, uma temeridade deixar qualquer dos gêmeos tão próximos dos alunos de Hogwarts – Seu pai não pôde vir te buscar por que ainda está viajando. Já deveria estar em casa, mas houve algum atraso. Mas não se preocupe, ele chega até o natal.


- Sabia. Só podia ser. – Afirmou ela, mas não havia ressentimento nesta frase, apenas conformismo – Vamos então?


- É pra já. Venha, tem um carro do ministério nos esperando.


 


 


 


Pouco tempo depois, o carro os deixou defronte a residência dos Potter, num subúrbio de Londres. A casa era linda e aconchegante, mas extremamente simples. Mesmo podendo comprar uma mansão ou uma casa em um bairro nobre, Harry e Gina decidiram por discrição e tranqüilidade para criar seus filhos, e aquele bairro se enquadrava perfeitamente neste contexto. Era um bairro residencial, com sobrados muito parecidos e charmosos, tipicamente ingleses. Claro que a casa deles tinha todas as proteções anti-trouxas necessárias e ainda possuía uma série de proteções contra bruxos das trevas e curiosos, do tipo Rita Skeeter, mas fora isso era perfeitamente normal.


 


 


Lucy despediu-se de Rony, que avisara que precisava voltar ao ministério, aparatando logo em seguida. Então subiu as escadas e abriu a porta. Imediatamente o delicioso cheiro que vinha da cozinha inundou seus sentidos e ela sorriu. Sem dúvida, uma das características herdadas por Gina de sua mãe, era o dote culinário. Além do “jeito Molly”de ser, é claro. Largou o malão ali mesmo, no hall, atravessou a sala e um estreito corredor, até desembocar na pequena cozinha.


 


 


- Hummm! O cheiro está delicioso. Se não fossem as proteções, os trouxas estariam sentindo lá da rua. – Disse ela.


- Lucy! – Assustou-se Gina, que estava concentrada em lidar com as panelas sobre o fogão, virando-se rapidamente e indo em direção à jovem – Você demorou. Já estava ficando preocupada.


- Estava conversando com tio Rony e acabamos nos esquecendo da hora. – Respondeu Lucy enquanto roubava um bolinho de ruibarbo de cima da mesa, atravessava a cozinha e pegava a pequena Lilly, que estava brincando em seu carrinho, no colo – Oi coisa linda. Como você está grande e bonita. Os gêmeos andam judiando de você? Se estiverem, pode me contar que eu protejo você, viu? Cadê aqueles pestinhas?


- Não fale assim de seus irmãos! – Ralhou Gina, fingindo indignação – Estão lá em cima, estavam me deixando louca, correndo e derrubando tudo por aqui. Mandei-os brincar lá no quarto deles.


- Ok! Vou lá ver o que estão aprontando. – Disse ela, levando a pequena nos braços.


 


 


Na verdade, Lucy e Lilly se juntaram a Thiago e Sirius, e juntos praticamente destruíram o quarto. Mas Gina não se importou ao ver o que aprontaram. Sabia que Lucy amava seus filhos como se realmente fossem seus irmãos e que sentia muita saudade deles nos período em que estava na escola. Assim, quando os chamou para jantar e viu a menina corar de vergonha quando notou o estrago que ajudara a fazer, apenas fingiu estar zangada. E enquanto Lucy levava os irmãos para lavar as mãos, a ruiva apenas sacou sua varinha e com um simples gesto, arrumou todo o quarto.


 


 


Quando acordou na manhã seguinte, Lucy se espreguiçou com gosto. Por mais que gostasse de sua cama no dormitório, nada era melhor do que acordar em sua própria cama. Ainda com muita preguiça, levantou-se e se arrumou para o café. Minutos depois descia as escadas, distraída, e talvez por isso não tenha reparado que havia vozes na cozinha. Apenas quando entrou foi que percebeu.


 


 


- Pai! – Exclamou ela, correndo para os braços do moreno que lhe sorria e a envolvia carinhosamente – Quando você chegou?


- Agora há pouco. – Respondeu ele, afastando-a gentilmente e olhando-a por inteiro, avaliando seu estado – Como você cresceu, garota. Está cada dia mais linda.


- Ah, você também? – E Lucy ficou extremamente corada – Já não bastava o tio Rony me perturbar por isso ontem, agora você também?


- Estou apenas falando a verdade, Lucy. Você está se tornando uma mulher muito bonita. Tenho certeza de que anda arrasando corações na escola. – Insistiu ele.


- O quê? Nãaaa. Nada disso. Não quero saber de garotos, e eles não querem saber de mim.


- Por enquanto. Tenho certeza de que será tão popular com eles quanto Gina era. – Continuou Harry, agora olhando para a esposa, que também corou um pouco – A concorrência era grande, e cheguei a pensar que a perderia para outro, sabia?


- E poderia mesmo ter perdido. Se insistisse naquela idiotice de “estou me afastando de você para lhe proteger”, certamente teria perdido. Já estava me cansando daquela sua mania de super proteção. Era extremamente irritante.  – Cortou Gina – Mas eu nunca deixaria de amá-lo, isso não.


- Eu sei, amor. – Sorriu Harry, tomando as mãos de Gina entre as suas, carinhosamente – E sei também que quase a perdi por culpa minha, e isso nunca mais vai acontecer.


 


 


Harry puxou Gina, beijando-a apaixonadamente. Lucy sorriu, adorava ver as demonstrações de amor daqueles dois. Esta era uma das razões pela qual não se importava muito com os garotos. Duvidava que algum deles pudesse demonstrar sentimentos por ela como Harry demonstrava por Gina. Quando o beijo começou a se aprofundar e ela percebeu que eles haviam esquecido que não estavam sós, resolveu lembrá-los.


 


 


            - Eu ainda estou aqui, ok? E não preciso ver este tipo de cena, por favor!


 


 


O casal se separou, sorrindo, lábios inchados. Mas o olhar que trocaram deixou claro que logo matariam a saudade que estavam sentindo.


 


 


- Você sabia que nossa filha entrou para o time da casa? – Gina perguntou, enquanto retomava o preparo do café.


            - Sério? – Perguntou Harry, abrindo um enorme sorriso – Mas isto é ótimo!


- É, não é? – Sorriu Lucy – Mas não consegui a vaga de apanhador, acabei me tornando artilheira. Mas já está ótimo, só de estar no time já é maravilhoso.


- Claro que é. E artilharia é uma ótima posição, Gina jogou muito bem assim. Uma das melhores dos últimos anos. – Disse Harry.


- É, eu sei. – Concordou a menina.


- Bom, tenho que admitir que adorava jogar como artilheira. Tenho certeza de que você se sairá muito bem, Lucy. – Gina disse, enquanto servia torradas para todos.


- Obrigada! Pai, eu queria perguntar uma coisa. – Começou Lucy, um pouco mais séria. Ensaiava há dias o pedido que faria naquele momento e temia pela resposta – Eu queria saber se já posso começar a treinar esgrima com uma espada de verdade.


 


 


Harry parou de comer e olhou primeiro para a esposa, depois para a filha, antes de falar.


 


 


            - Mas as aulas de esgrima não começam apenas no quinto ano?


- Sim, na escola só terei aulas daqui a dois anos. Mas eu pensei que o senhor poderia começar a me ensinar antes, talvez este ano. Deixar aquela espada de madeira que uso e começar a usar uma espada de verdade. Assim, quando as aulas começassem pra valer, eu já teria uma boa base e me sairia um pouco melhor. – Justificou ela.


- Um pouco melhor! – Repetiu Harry, franzindo levemente a testa, o que provocou uma deformidade na cicatriz em forma de raio – Ou seria por que a senhorita deseja chegar já sabendo muito mais do que os outros, para se destacar frente à turma? Para parecer melhor do que seus colegas?


- NÃO! Isso não. Não quero ser melhor do que ninguém. Nem tenho a intenção de ser a melhor da classe ou coisa assim. – Respondeu ela com urgência, corando levemente – Só não quero fazer vocês passarem vergonha.


- E por que nós teríamos vergonha de você? – Perguntou Gina.


- Nós nunca sentimos vergonha de você, Lucy. Você sabe disto. – Completou Harry, acariciando os cabelos da menina.


- Eu sei. – Respondeu ela, ainda mais envergonhada – Mas é que... É complicado explicar.


- Tente. – Sorriu Gina, passando-lhe confiança – Vamos tentar entender.


- Bom... São as cobranças, entendem? Não de vocês, mas de outros. Pessoas que ouvem o sobrenome Weasley-Potter e começam a conjecturar que só por eu carregar este nome tenho que fazer jus a ele. Nem sempre é intencional, mas é bem comum de acontecer. Sempre esperam mais de mim, sempre exigem mais.


 


 


Harry e Gina permaneceram calados por alguns instantes, assimilando a informação. Sabiam que seus filhos enfrentariam algo parecido no futuro, mas imaginavam que Lucy, por ser adotada, escaparia desta sina.


 


- Não imaginávamos que estivesse passando por isto, filha. – Disse Harry, finalmente – Vou conversar com Minerva, ver o que ela pode fazer para que haja menos pressão sobre você.


- Pai! Se a diretora se intrometer, as coisas só ficarão ainda piores. – Alarmou-se Lucy – Não é nada demais, já estou me acostumando. Só estou querendo me antecipar a algo que eu sei que pode acontecer. Já que eu moro com vocês, todos esperam que eu seja boa em várias coisas, como o Quadribol, feitiços e DCAT. E sem dúvida, esperam por algo parecido quando as aulas de esgrima começarem para valer. Todos acreditam que, tendo os melhores esgrimistas em casa, seja natural que eu treine desde pequena.


- Ela não deixa de ter certa razão, Harry. – Gina partiu em defesa da menina, que lhe deu um belo sorriso. Ela sempre podia contar com a cumplicidade da mãe.


- Certo! – Anuiu o moreno, a contragosto – Vou pensar no assunto. E não vou conversar com a Minerva, pelo menos por enquanto.


 


 


Encerraram a conversa, pois os gêmeos davam sinais de terem acordado no andar de cima. Harry subiu para buscá-los, enquanto Gina preparava o café para os dois. Pouco depois, quando a família estava novamente toda reunida na cozinha, Harry estava contando como fora sua viagem.


 


- ... E assim, quando estava voltando, tive a idéia de convidar Anaryon e Cho para passarem o natal conosco. E adivinhem? Eles aceitaram.


- O que? Cho e Anaryon estão vindo para cá? Harry, por que você não disse antes? Precisamos preparar o quarto de hóspedes para eles. – Ralhou Gina, levantando-se com urgência, já pensando no que teria de fazer.


- Calma Gina! Eles não vêm para ficar aqui em casa. Mesmo por que, não estarão sozinhos. Trarão o pequeno Arador, filho deles, além da mãe de Cho. Parece que ela quer aproveitar a oportunidade para visitar alguns amigos e parentes distantes. Afinal, já fazem cinco anos que partiram, e só agora ela parece ter superado a dor pela perda do marido. Ah! E Éomer também virá.


- Ai que saco! Vão trazer aquele garoto? – Bufou Lucy, sem conseguir se conter – Ele é um porre.


- Lucy! – Repreendeu Gina – Ele é um ótimo garoto. Não entendo por que você fala assim dele. Lembro perfeitamente que se deram muito bem quando se conheceram. Bem até demais para o meu gosto. Quase acabaram mortos, os dois.


- Não precisa pegar no meu pé de novo por aquilo, né mãe? Já faz tanto tempo.


- Mas os pais não se esquecem, mocinha. Nunca. – Sorriu Harry, para perturbá-la – Mas sua mãe tem razão, por que isso? Pensei que gostasse do príncipe.


- Eu até pensei que a gente poderia ser amigo. Mas quando voltamos lá, para o casamento da Cho, ele estava muito mudado. Arrogante, petulante, esnobe. Parecia outra pessoa, me tratou como se eu fosse criancinha.


- Mas você era uma criança. Só tinha dez anos. – E Harry piscou para a esposa.


- E ele doze. Grande diferença. Com o tempo, só deve ter aumentado ainda mais todo aquele ego que ele tem. Este natal vai ser horrível, já vi tudo. – E ela cruzou os braços em frente ao corpo, em sinal de protesto.


- Não no que depender da gente. – Disse Gina – E ai da senhora se for mal educada com ele, está me ouvindo? Por isso, pode desamarrar esta tromba. – E virando-se novamente para Harry – E onde eles vão ficar? Quando chegarão?


- Ficarão na casa dos Chang. Devem chegar amanhã pela manhã. – Informou Harry.


- Mas aquela casa deve estar imunda, depois de tantos anos fechada. Precisamos ao menos fazer uma limpeza. – Disse Gina, voltando a se levantar e andar pela cozinha – E tem que ser hoje. Vou deixar as crianças n’a Toca, chamar a Mione e pedir ajuda a ela.


- Ótima idéia, amor. – Disse Harry, levantando-se e rumando para a porta, seguido de Lucy, mas ambos foram barrados pela próxima frase de Gina.


- E vocês dois também vão ajudar. Ou acharam que poderiam se livrar desta? – A ruiva, com olhar zombeteiro e mãos na cintura, disse.


 


 


 


O resto do dia foi uma tremenda confusão. Definitivamente, não era assim que Lucy imaginava começar suas férias de natal, trabalhando como um Elfo-Doméstico. E ainda por cima, sem poder usar magia, já que era menor de idade. Tudo que fazia, tinha que ser feito usando as mãos. Mas ela não podia reclamar. Até que a casa não estava tão suja quanto imaginara, depois de tantos anos fechada. Não chegava nem aos pés de como estava a antiga casa dos Black, local para onde ela, Harry e Gina haviam se mudado logo após retornarem da Terra Média. Ela ainda se lembrava muito bem da mordida que levara de uma fada mordente na ocasião. Definitivamente a limpeza da casa dos Chang não chegava nem aos pés daquela. O máximo que encontraram foi um Bicho-papão sob a pia da cozinha, o qual acabara virando brinquedo nas mãos de Rony e Harry. Ambos passaram um bom tempo alternando-se em frente à criatura, que mudava de forma a todo instante, só para lançar-lhe o feitiço Ridikulus e ver o pobre se transformando em algo engraçado. Isso até Hermione se enfurecer com os dois e acabar de vez com a criatura e a brincadeira. Assim, no final da tarde, deram a limpeza como concluída.


 


 


Eram por volta de dez da manhã do dia vinte e três de dezembro quando o grupo surgiu num rastro multicolorido deixado por Fawkes. A fênix surgiu bem no meio da sala da Toca, como Harry avisara que aconteceria. Imediatamente foram cercados por abraços e cumprimentos, Molly estava exultante com as visitas. Abraçou Cho, depois um desconcertado Anaryon, pegou no colo o pequeno Arador e assim por diante. Logo depois foi a vez de Arthur, Harry e Gina. Os outros Weasleys estavam trabalhando e só apareceriam no dia seguinte, à noite.


 


 


Assim que ouviu o som de vozes, Lucy desceu as escadas. Subira para colocar Lilly, que dormira, numa das camas. Já estava voltando quando percebeu que as visitas já se faziam presentes. Terminou de descer as escadas e aguardou um pouco, até as coisas se acalmarem e poder se aproximar. Abraçou Cho e a mãe dela, que ressaltou o quanto ela estava bonita e crescida. Também cumprimentou Anaryon e finalmente virou-se para o garoto, que ela sentia, a observava desde que entrara no aposento. Quando seu olhar cruzou com o dele, sentiu seu coração falhar uma batida. Ela podia não gostar de Éomer, mas tinha que admitir. Ele estava incrivelmente lindo. Seus cabelos, tão louros quanto o sol, estavam compridos, já passando dos ombros, como era costume dos Elfos. Seus olhos, brilhavam como duas estrelas na imensidão do cosmos e sua pele era pálida mas corada ao mesmo tempo e parecia extremamente sedosa. Lucy não compreendeu como ou porque notou tudo isto, tão rapidamente e de forma tão marcante. Só percebeu seu rosto corar, e constrangida, resolveu tomar a iniciativa.


 


            - Oi! – Murmurou ela, desviando finalmente o olhar.


- Lady Lucy! – E o rapaz fez uma reverência, o que a deixou ainda mais envergonhada – As damas têm razão. Você está linda. E, definitivamente, não é mais a menina que visitou nossas terras no passado.


- Err...Obrigada! – Agradeceu, ainda sem jeito – Você também está... Bem diferente do garoto que conheci.


- Obrigado, é muita gentileza de sua parte.


 


 


Lucy não soube dizer mais nada e a conversa acabou morrendo ali, deixando a ambos um tanto constrangidos. Foram salvos por Gina, que os puxou para a conversa geral, contando o que pretendiam fazer nos próximos dias. Logo depois do almoço, os recém-chegados partiram para a residência dos Chang, para se alojarem.


 


 


A noite de natal era sempre algo fora do comum na casa dos Weasleys. Com todos presentes, a alegria era geral. E Lucy adorava aquilo tudo. Ela olhava para Harry e sabia que também para ele, aquela era uma data especial. Era um sentimento que apenas os dois partilhavam, já que ambos eram órfãos. Eles, mais do que ninguém ali, sabiam o valor de um verdadeiro natal em família, transbordando de amor. Mas neste ano, era diferente de tudo que Lucy esperava. Após aquele contato inicial, as coisas voltaram a “azedar” entre ela e Éomer. Assim que se reencontraram, no início daquela noite, começaram as trocas de farpas. Ela não sabia quem havia começado, só sabia que durante toda a noite, um não perdia a chance de cutucar o outro. Já fora até advertida por Harry, mas ela não conseguia se conter. Não suportava aquele ar de superioridade que o rapaz exalava. E uma das coisas que realmente a tirava do sério, era quando alguém citava sua estatura. Ela não se achava baixa, mas obviamente perto daquele rapaz esguio e extremamente alto para a idade, ela parecia uma anã. E ele se valia disto, a todo momento fazendo piadas a respeito. Foi com muito esforço por parte dela e o medo de ser punida por Harry que a impediram de sacar sua varinha e azarar aquele ser intragável. Sua única opção era manter-se o mais afastada dele que pudesse, mas parecia que ele a seguia. E adorava torturá-la. Havia conseguido escapar pela porta da cozinha e estava encostada em uma árvore, observando as estrelas, quando ouviu uma voz atrás de si.


 


 


            - Está se escondendo de mim?


- Na verdade estou. – Respondeu,sem se virar – Só assim para ter um pouco de paz.


- Entendo. – Disse Éomer, aproximando-se e parando a seu lado – Peço desculpas se a perturbo, mas como é uma das únicas pessoas da minha idade...


- Cara, você não gosta de mim. Não me suporta. Por que insiste em ficar me atormentando? O que quer de mim? – Perguntou ela, virando-se para ele.


- Quando nos conhecemos, disse que era uma bruxa. Mas desde que cheguei aqui, não vi nada que comprovasse isto.


- E o que uma coisa tem a ver com a outra?


- Quero ver se realmente se tornou a grande bruxa que disse que se tornaria. Acho que precisa de incentivo, então estou providenciando isto.


- Por isso você está me atormentando tanto? Para que eu perca o controle e azare você? – perguntou ela, descrente, enquanto ele permanecia estático, mas fitando-a seriamente – Mas você é um cretino mesmo. Eu não posso fazer magia fora da escola. Posso ser expulsa, seu idiota. É isso que quer? Que eu seja expulsa da escola de magia?


- Expulsa? Não, claro que não. – Respondeu ele, incerto – Mas você fazia magia, eu me lembro muito bem. Chegou a salvar nossas vidas.


- Mas era uma outra situação, droga! Estávamos no meio de uma guerra, no seu mundo. Não havia fiscalização do ministério nem nada. Agora é diferente, não posso executar magia até os dezessete anos. – Respondeu ela, furiosa – E afinal de contas, por que você queria que eu fizesse magia? Queria que eu te machucasse? Você é doido ou o que?


- Não pode fazer magia até os dezessete anos? – Murmurou ele, mais para si mesmo – Como poderia saber? Ainda faltam anos... Eu tenho me esforçado tanto, queria saber se o esforço é válido ou preciso de mais.


- Ei. Do que é que você está falando? – Perguntou Lucy, ao perceber que ele esquecera-se dela ali ao seu lado.


- Como? – Balbuciou ele, parecendo voltar a si e percebendo sua presença – Nada! Nada demais, Lady Lucy. Peço desculpas por meu comportamento, prometo não importuná-la mais.


 


 


E dizendo isto, girou nos calcanhares e voltou para dentro da casa, pensativo. Por todo o resto da noite e o dia seguinte, no almoço de natal, Éomer pareceu outra pessoa. Muito mais polido e educado com ela, mas também aéreo e distante. O que deixou Lucy ainda mais desconfiada.


 


 


Quando acordou na manhã seguinte ao dia de natal, Lucy pretendia ficar exatamente ali, na cama, por um bom tempo. Afinal, ela estava de férias na escola, era inverno e estava um frio gostoso, convidando a permanecer sob as cobertas. Espreguiçou-se e virou-se para o lado, pronta a pegar novamente no sono, mas seus planos foram interrompidos quando Gina bateu à porta e depois de autorizada, entrou.


 


 


            - Vamos lá, moça. Hora de se levantar, teremos um dia cheio hoje.


- Como assim? Que estória é essa de “dia cheio”? – Perguntou Lucy, ainda sob as cobertas.


- Marcamos de nos encontrar com Cho e Anaryon. Vamos mostrar a Londres trouxa a eles e Éomer.


- Ótimo, bom passeio. – Respondeu a menina, malcriada.


- E você vai conosco, para fazer companhia ao príncipe. – Emendou Gina, ignorando o que ela dissera.


- O QUÊ? – Gritou ela, sentando-se completamente desperta na cama – Não! Sem chance, mãe. Não quero, não dá pra ficar de guia para ele. Não mesmo.


- Pois vai ter que dar. – Gina respondeu, deixando bem claro que não havia escolha – E pro seu bem, espero que seja uma ótima companhia para Éomer, você é a única pessoa da idade de vocês que ele conhece aqui. Não quero ver aquelas intrigas infantis que vi durante o natal entre vocês.


- Mas a culpa não foi minha. Ele é quem não parava de me provocar o tempo todo. – Tentou argumentar a jovem, levantando-se da cama.


- Não me interessa quem começou, só sei que isso terminou. Fui clara? – Definitivamente Gina podia ser um amor de pessoa, mas era osso duro de roer quando queria, e Lucy sabia muito bem disso.


- Sim senhora. – Anuiu ela, derrotada.


- Ótimo! Estamos aguardando-a para tomar café e sairmos. – Disse a ruiva, deixando o quarto.


 


 


 


*****


 


 


 


Já era meio da tarde quando finalmente o grupo terminava de almoçar. E por incrível que pudesse parecer, até ali o dia havia sido realmente muito agradável. Nem mesmo o frio, característico da época, estava incomodando muito. Fazia um dia claro, sem nuvens ou neve, o que era difícil para a época.


 


Já haviam passeado por vários locais, desde a residência oficial da rainha, passando pelo Big-Ben e o Museu de História Natural de Londres. Durante toda a visita, todos mostraram-se realmente interessados no que Harry explicava. Como sendo o único do grupo a viver entre os trouxas, era ele o guia. Normalmente esta função caberia a Hermione, mas como ela estava de plantão naquele dia, acabaram indo apenas Harry, Gina, as crianças, Cho, Anaryon e Éomer. A mãe de Cho resolvera visitar amigos.


 


Após deixarem o museu, resolveram almoçar. Seguiram até um restaurante trouxa, onde Harry foi obrigado a lançar um feitiço Abaffiato, para que os outros clientes não estranhassem a bagunça e estranheza das crianças quanto aos pratos e maneiras de se portar. Já ao final, rindo de uma brincadeira de Sírius, o olhar de Lucy cruzou com o de Éomer, e o rapaz sorriu para ela, que devolveu o sorriso. Ela não tinha do que reclamar por ter vindo. Estava se divertindo bastante, vendo muita coisa que desconhecia do mundo trouxa. E Éomer não a estava importunando, muito pelo contrário. Estava sendo uma companhia agradável e divertida.


 


Lucy estava confusa com todas aquelas mudanças de comportamento do rapaz em tão pouco tempo. Mas como esta última fora para melhor, ela resolveu não discutir. Apenas aceitou a nova faceta e esperava que esta demorasse mais tempo antes de mudar novamente.


 


 


Estavam atravessando uma movimentada praça. Harry levava os gêmeos pelas mãos, enquanto Gina carregava a pequena Lilly. Ao lado, Cho trazia Arador, acompanhada de perto de Anaryon, que olhava espantado para um ônibus de dois andares, que fazia uma curva. Assim, Lucy e Éomer acabaram ficando um pouco para traz. À direita de onde estavam, havia a saída de uma estação de metrô, o que chamou a atenção do rapaz, por isso eles se deixaram ficar, enquanto Lucy explicava como funcionava. De repente, uma grande explosão assustou a todos. O ônibus, que fizera a curva, explodiu, enchendo o ar de fogo e fumaça. Antes que as pessoas conseguissem entender o que ocorrera, a terra tremeu e uma nuvem de poeira subiu dos esgotos e pela entrada do metrô, indicando que novas explosões haviam acontecido sob o solo.


 


Agindo por instinto, Harry conjurou um escudo, protegendo as pessoas próximas. Quando a fumaça e poeira assentara, ele olhou em volta e percebeu que faltavam duas pessoas em seu grupo.


 


 


            - Onde estão Lucy e Éomer? – Perguntou, alarmado.


            - Estavam atrás de nós. – Disse Cho, procurando ao redor.


            - Lá! – Gina apontou onde os jovens estavam.


- Fiquem aqui e protejam-se. – Disse Harry, olhando significativamente para a esposa, enquanto entregava as mãos dos filhos para Anaryon – Vou buscá-los.


 


 


Harry tentou atravessar a praça o mais rápido possível, mas o fluxo de pessoas que vinham na direção contrária, fugindo das explosões o atrasava. Quando estava se aproximando, viu que não estavam mais sozinhos. Um homem segurava Lucy, uma pessoa que Harry reconheceu imediatamente, e que fez seu sangue ferver. Tentou correr, mas enquanto isso o homem arrastava Lucy para dentro da estação do metrô, com Éomer em seu encalço. Ele não sabia o que estava acontecendo, mas os seguiria. Quando finalmente colocou os pés na calçada, porém, uma nova explosão destruiu a entrada da estação, mais uma vez o instinto salvando Harry em cima da hora, o escudo conjurado recebendo todo o impacto da explosão e salvando sua vida. Mesmo assim, o moreno foi lançado a metros de distância, onde caiu desacordado. Do outro lado da praça, Gina soltou um grito de desespero, enquanto corria para o amado.


 


 


*****


 


 


 


Lucy ficou um tanto confusa com a seqüência de explosões e toda a poeira que a envolveu.


 


            - Lucy? Você está bem? – Ela ouviu Éomer a chamando.


            - Estou. – Respondeu ela – E você?


- Também.


- Venha, precisamos encontrar meu pai, alguma coisa grave está acontecendo. – Ela buscou a mão dele instintivamente, mas antes que ele a pegasse, sentiu-se puxada para trás e presa numa gravata – Hei!


            - Oi Lucy! – Disse uma voz em seu ouvido – Saudades do titio?


 

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