A Cortina que os separa

A Cortina que os separa



Capítulo 4: A cortina que os separa


“Eles têm sorte de estarem vivos Minerva!” -uma voz apressada pôde ser ouvida.


Draco abriu os olhos com dificuldade e desejou não ter feito isso. Agora que estava desperto com os olhos abertos podia sentir o impacto do ocorrido, quando ondas de dor começaram a tomar conta do seu corpo. Forçando os olhos a se fecharem, começou a respirar profundamente e a obrigar a dor se retirar para algum canto distante da sua mente. Lúcio o tinha treinado para ignorar os seus efeitos. Depois de mais alguns momentos ela estava longe, o suficiente, para que conseguisse reabrir os olhos.


O quarto estava às escuras. Alguns poucos raios lunares penetravam pelas janelas. Draco tentava lembrar o que tinha acontecido com as cortinas de sua cama, quando percebeu que estava na ala Hospitalar de Hogwarts, e não no seu quarto.


“Dumbledore já foi notificado?” -a voz apressada sussurrou novamente, Draco reconheceu a voz como sendo de Madame Pomfrey


“Claro que sim Poppy!” -respondeu uma outra voz, que ele sabia pertencer à Professora McGonagall.


“Ele e Hagrid saíram para capturar aquela criatura infernal. Eu imagino que ele vai estar muito interessado em saber o que Granger e Malfoy estavam fazendo lá fora.”


“Por que eles trouxeram aquele monstro para cá? Eu sei que Hagrid tem uma queda por monstros, mas uma manticora já é algo que ultrapassa os limites.”


“Não havia muita escolha sobre o assunto Poppy, eles tinham de trazer a criatura para ser guardada em algum lugar até que pudesse ser transferida, e Hagrid é o único que poderia cuidar de tal abominação.” -a professora disse.


Draco mal podia ouvir a Professora McGonagall, sua voz parecia ficar cada vez mais distante. Começou a relembrar dos eventos que o haviam levado para a ala hospitalar. A ida até a cabana, a manticora, o ataque, e havia algo mais, olhos castanhos cheios de uma emoção que ele não conseguia reconhecer. Se o pai dele tivesse sido qualquer outro, que não Lúcio Malfoy, ele não teria problema em reconhecer a emoção como preocupação.


“A Sangue Ruim...” murmurou. Ela tinha estado lá, mas por quê? Tentou lembrar o que havia acontecido... o que ela tinha feito. A dor recomeçava a tomar conta dele. “Ela me salvou!” -ele gritou. Uma sensação desconhecida começou a atravessar o corpo de Draco, mas ele não deu a menor atenção a ela, pensando se tratar de algo relacionado com a dor.


As vozes tinham parado, e luzes acenderam-se ao lado da cama de Malfoy. Madame Pomfrey aproximou-se com McGonagall logo atrás dela.


“Você não devia estar acordado Senhor Malfoy.” -a enfermeira disse, cuidadosamente, enquanto se aproximava. “Você deve permanecer quieto, não quero que acorde a Senhorita Granger.”


Draco virou a cabeça, com cuidado, para olhar a cama ao lado da sua. Descobriu que se mover fazia a dor aumentar, mas anos de experiência haviam lhe ensinado como escondê-la dos olhos de outras pessoas. Ao seu lado, pode ver Granger, os cabelos espalhados em cima de um travesseiro, seu rosto de um pálido assustador.


“O que há de errado com a Granger?” Sua voz soava dura, enquanto passava pelos seus lábios cortados. Não conseguia lembrar dela sendo ferida.


“A Senhorita Granger quebrou o pulso e diversas costelas, uma das quais perfurou seu pulmão.” O tom de voz de Madame Pomfrey tentava permanecer neutro.


“Ela vai ficar bem?” Draco espantou-se de ter formulado tal pergunta, mas não tanto quanto ficaram Madame Pomfrey e a Professora McGonagall. Ambas olharam-se, a enfermeira com uma expressão de incredulidade.


“Sim tanto o Senhor, quanto a Senhorita Granger irão ficar bem.” A enfermeira lhe disse, “Entretanto, ambos vão ter que ficar aqui na ala hospitalar por alguns dias. O veneno deveria ter lhe matado, mas a manticora era muito jovem para ser letal.”


“O que eu quero saber, Senhor Malfoy” -o olhar da Professora McGonagall para Draco era sombrio enquanto ela falava isso- “É o que, exatamente, você estava fazendo na Cabana de Hagrid?”


“Eu...” Draco olhou para o rosto da professora, depois voltou a olhar para Granger. “Gran... quero dizer, Hermione e eu tínhamos algumas perguntas a Hagrid, a respeito da próxima aula de Tratos das Criaturas Mágicas.”


Os olhos da Professora McGonagall fecharam-se ainda mais. “Realmente? Eu não me recordo de que o senhor e a senhorita Granger passem muito tempo juntos, seja em classe, ou fora dela.”


Draco sentiu o chão sumindo embaixo dos seus pés, mas não deixou que os outros reparassem. Tentou manter sua cabeça erguida, conservando o olhar fixo em um ponto acima do queixo de Mcgonagall. Esforçou-se a não pensar no que Lúcio iria fazer quando soubesse que ele tinha sido expulso. Desejou, por um instante, que a manticora tivesse terminado o serviço e acabado com a sua vida. Seria ao menos, uma morte mais rápida, do que aquela que o esperava na mansão.


“Professora McGonagall” -uma voz fraca vindo da sua direita, tirou Draco de seus pensamentos. Granger tinha aberto os olhos e estava, agora, olhando para a mestra.


“Malfoy e eu somos parceiros em Aritmancia. Estávamos conversando sobre Trato das Criaturas Mágicas na biblioteca e decidimos perguntar a opinião do Hagrid sobre algumas questões. Eu sei que era muito tarde para sairmos, mas imaginei que não ficaríamos fora por muito tempo.” Granger fechou os olhos e deixou um sorriso sair dos seus lábios, aparentemente, o esforço de dizer aquelas, poucas, palavras tinha sido pesado para ela. Draco não conseguia acreditar no que tinha ouvido. Qual era o jogo dela? Ela podia facilmente conseguir que ele fosse expulso, por que o estava defendendo? O que iria querer em troca?


A Professora McGonagall olhou desconfiada para Granger, provavelmente, fazendo-se as mesmas perguntas que Draco. Começou a abrir a boca, para fazer novas perguntas, mas Madame Pomfrey a puxou de lado.


“Por enquanto está bom de perguntas Minerva, ambos precisam descansar.” Com essas palavras, ela pegou o queixo de Draco e o forçou a beber parte de uma poção. Ele a observou andar até a cama da Granger e fazer ela beber a mesma poção. Suas pálpebras pareceram cada vez mais pesadas. Granger virou a cabeça para o olhar, seus olhos se conectaram por um instante, e Draco sentiu uma emoção desconhecida passar entre eles, um momento antes de caírem no sono.


Draco acordou, novamente, com o som de vozes. Devia estar dormindo por um bom tempo, porque havia luz do sol passando pelas janelas próximas da sua cama. As vozes estavam vindo do outro lado da cortina que separavam sua cama, da cama da Granger. Identificou as vozes como pertencendo a Potter e Weasley. Permaneceu em silêncio, ouvindo a conversa.


“Mas o que diabos você estava pensando? Indo até Hagrid com Malfoy? Como você pôde ir a qualquer lugar com o Malfoy? Você ficou louca?” A voz de Weasley parecia furiosa, mas a fúria não podia mascarar a preocupação nela.


“Ron, eu tenho certeza que Hermione teve uma boa razão para estar com Malfoy, não é verdade Hermione?” Potter, sempre o mediador, estava tentando acalmar seu amigo.


“Ta legal, ta legal. Então explique, por favor, por que você estava lá com o Malfoy? E não me venha com essa conversa que era por causa de estudo, Malfoy odeia Trato das Criaturas Mágicas!” Weasley falava tão alto, que Draco não tinha o menor problema para ouvi-lo do outro lado da cortina.


“Ron, Harry, eu realmente, não quero falar sobre o Malfoy. Eu não quero pensar sobre o Malfoy, ou olhar para o Malfoy. Já tive problemas suficientes com ele. Por favor, podemos falar de alguma outra coisa?” A voz da Granger soava baixa e com dificuldade.


Potter, rapidamente, mudou o assunto de Draco para a manticora. “Porque Hagrid tinha uma?” -ele perguntou.


“Não tenho certeza, a Professora McGonagall disse que eles tiveram que trazê-la aqui até que ela pudesse ser transferida. Mas eu não sei quem a trouxe, ou de onde aquela criatura horrível veio. Vocês sabem se eles a pegaram?” Hermione tinha, obviamente, estado acordada e também havia ouvido McGonagall e Pomfrey conversando.


“Eu espero que eles tenham” -Weasley falou- “Como se já não houvessem criaturas perigosas o suficiente andando na Floresta Proibida, agora, nós também temos que nos preocupar com uma manticora!”


“Ron, nós temos que ir para a aula agora. Traremos seus deveres Hermione. E voltaremos durante o almoço, tudo bem? Tente não deixar o Malfoy te aborrecer.” Potter falou para ela.


Draco pôde ouvir eles se despedindo e fingiu estar dormindo quando Potter e Weasley passavam em frente à sua cama e se encaminhavam para a saída. Esperou mais alguns minutos, para ter certeza que eles tinham partido e lentamente sentou-se na cama. Testou sua perna e embora ela estivesse insensível, constatou que podia apoiar-se nela. Draco olhou em torno observando que a sala de Madame Pomfrey estava fechada. Respirou fundo e então puxou a cortina. Ficou satisfeito ao notar que a Granger assustou-se emitindo um pequeno grito de surpresa. Avançou, rapidamente, para ela e segurou seus braços antes que ela conseguisse afastar-se para o outro lado da cama. Ele segurava seus braços com tanta firmeza, que ela não conseguia levantar-se. Abaixou-se até que seu rosto ficou a apenas alguns centímetros do dela.


“Por quê?” -ele perguntou.


“O quê?” Granger sussurrou, seus olhos completamente abertos.


“Por que você está mentindo para me proteger, o que você quer?” Falou com a voz carregada de raiva, mas ainda assim baixa, para não atrair a atenção da enfermeira.


“Eu... eu não quero nada de você.” Ela respondeu, a raiva, rapidamente, tomando o lugar do medo.


Draco forçou mais o aperto nos braços dela. “Eu nunca imaginei que você fosse do tipo que chantageia, Sangue Ruim.” Olhava diretamente para seu rosto pálido.


“Você está me machucando.” -ela disse com dor na voz.


Draco, imediatamente, soltou seus braços e se afastou. Olhou para onde suas mãos tinham estado, provavelmente, ficariam marcas depois. Granger começou a massagear os braços, onde as mãos dele tinham deixado marcas vermelhas.


“Me... me desculpe, eu não pretendia te machucar.” A desculpa dele surpreendeu a ambos. Continuou lá por um minuto, sem saber por que tinha se desculpado, ou por que ainda estava ali.


“Como está sua perna?” Granger perguntou, quebrando o silêncio entre eles.


“O que você acha? Está ferida” -ele replicou.


Granger não falou mais nada para ele e se virou para o outro lado. Draco ficou lá por um instante, apenas olhando para ela, depois voltou para sua cama e recolocou no lugar as cortinas que os separavam.


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Nota: Gente, quero comentários poxa. Se não vou ter que parar de postar... Capítulo terminado.

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