Capítulo 2



Capítulo II


ou


Your only fear is possibility


15 de dezembro, casa dos Evans


Então lá estava eu, sentada no chão da minha sala de estar, me divertindo pacas, e presenciando essa cena super improvável. Quer dizer, eu sentada no chão da minha sala de estar com os Marotos, me divertindo pacas com a piada que o James tinha acabado de contar.


Todos nós já estávamos cheios de tanta pizza, então ficamos esparramados no chão da minha sala de estar escutando as piadas que o Potter e o Sirius contavam. Emmeline estava rindo tão descontroladamente que eu via a hora dela fazer xixi nas calças.


Eu deveria ter imaginado que a nossa histeria ia fazer a minha irmã descer, mas não. Eu tinha até me esquecido que ela existia. Então você pode imaginar o susto que nós levamos quando de repente aquela cara de cavalo aparece na porta da sala. Emmeline se calou imediatamente, porque pode acreditar, Petúnia pode fazer umas caras que botam medo em qualquer um. Qualquer um menos o James e o Sirius, pelo visto, porque quando ela apareceu eles só riram mais ainda. E quando ela ficou vermelha de raiva é que eles riram mesmo.


Petúnia engoliu o orgulho, coisa rara de se ver, e disse, com uma voz adocicada:


– James, não sabia que você vinha jantar conosco.


Depois se virou pra mim, e falou não mais com a voz doce de antes.


– Por que você não me chamou pro jantar, aberração? Mamãe deixou o dinheiro pra todas nós.


– Hm, porque eu acho que é do conhecimento geral que cavalos comem grama e não pizza.


E essa foi demais pro Sirius. Ele se dobrou a meio, caiu no chão de vez e ficou roxo. Primeiro eu achei que ele tava se engasgando. Mas não, ele só tava rindo muito. Aparentemente, Petúnia chegou a mesma conclusão que eu, e saiu espumando para a cozinha. Jumenta.


Esquecendo mais uma vez da minha irmã assim que ela cruzou a porta da cozinha, eu comecei a rir com os outros e olhar pra o amontoado de enfeites de Natal que mamãe tinha colocado perto da lareira.


– Ei - comecei - Tive uma ideia.


Esperei um tempinho pra continuar, só pelo prazer do suspense.


– Que tal a gente montar a árvore de Natal?


E eu vi os olhinhos de todo mundo brilhar. Sério, por um instante eles pareciam um bando de criancinhas. E então o pessoal ficou de pé de uma vez, realmente animados com a ideia. Antes que eu pudesse piscar, Remus já estava levantando os galhos de plástico do pinheiro e começando a montá-lo.


– Vamos fazer o seguinte - disse James. Eu sempre notei que ele tinha, sabe como é, um ar de liderança. Quando ele falava, todo mundo escutava. Deve ser por isso que ele foi eleito capitão do time de quadribol da Grifinória tão cedo.


– Eu, Remus e Sirius vamos montar a árvore, enquanto as meninas separam os arranjos e Peter testa os pisca-piscas.


Ótimo. Fiquei com a minha parte preferida. Eu e as outras duas Meninas Superpoderosas separamos todas as estrelinhas, anjinhos, renas e presentinhos que ficavam bonitos na árvore e depois sentamos pra olhar enquanto os meninos terminavam o serviço deles. Remus estava segurando a árvore para que Sirius pudesse colocar mais um galho, mas Sirius acidentalmente bateu nos galhos de cima e acabou derrubando maioria, o que fez James soltar um palavrão bem alto.


Eu assistia tudo isso rindo, de vez em quando me levantando pra ajudar, até que, enfim, a árvore estava de pé.


Então eu e as meninas entramos em ação. E depois que terminamos a nossa difícil e complicada tarefa de decorar, a árvore era simplesmente a coisa mais colorida e gay de todo o UK. Sem brincadeira, dava pra você ver a coisa a 30 quilômetros de distância. E não eram só as luzes, mas a árvore inteira era absurdamente colorida. Tinha tanto enfeite de tantas cores que não dava nem pra ver um centímetro de verde do galho falso. Somos fodas. Ops, essa não é uma palavra que Papai Noel aprovaria.


Nós desligamos a luz e ficamos lá admirando a coluna de coisas coloridas que era pra ser uma árvore de Natal. Minha opinião pessoal, ficou linda. A árvore de Natal mais xeta de todos os tempos. Só não sei o que mamãe vai achar.


[N/B: elisa melo diz: xeta? marys diz: tu não sabe o que é xeta? xeta power X é uma coisa muito massa]


– Senhores, acho que temos uma obra de arte em nossas mãos - comentou Sirius.


– Sou obrigada a concordar - Lene disse, e todos nós rimos da cara de especialistas que eles estavam fazendo.


Só pra fazer tudo ainda mais perfeito, o meu gato apareceu pra olhar a árvore também. Eu peguei ele no colo e fiquei perguntando o que ele achava da decoração, e assentindo toda vez que ele miava. Os meninos me olhavam como se eu precisasse tomar remédio pra a cabeça. Whatever.


– James, é melhor a gente ir - Remus sugeriu.


James tirou os olhos da árvore, e disse:


– É, tem razão, Aluado.


Os quatro se viraram para a porta, andando calmamente e nos desejando boa noite.


– Vejo vocês amanhã - Sirius disse, indo pra o hall.


Eu e as meninas limpamos a bagunça que havia sido feita, e consideramos a possibilidade de esperar meus pais chegarem para contar a eles a notícia que os McKinnon viriam passar o Natal conosco. A possibilidade foi descartada, porque deu uma da manhã e eles não estavam de volta ainda, então resolvemos ir dormir.


Eu já estava toda empacotada debaixo do meu edredom, esperando o sono chegar, quando escuto uma batida na porta. Demorei uns 3 segundos pra perceber que a massa de cabelos loiros aparecendo na fresta de luz do corredor era Emmeline.


– Lils, posso dormir com você hoje?


É o quê?


– Er, claro. Mas por que isso mesmo?


Ela se deitou comigo embaixo do edredom da minha cama - que graças a Deus era de casal - e disse, em uma voz baixinha:


– Marlene fica me assombrando com coisas daquele filme idiota.


Me segurei para não cair no riso.


– Micah - soltei, sem conseguir me controlar. Esse era o nome do protagonista do filme de terror que tínhamos assistido na véspera. Escutei ela gemer debaixo das cobertas.


– Não, por favor. Você também não. Eu preciso de uma boa noite de sono.


Depois disso eu realmente parei de zoar com a cara dela, porque estava muito cansada. Fechei os olhos, mas os abri de novo quando eu ouvi outra batida na porta.


– Ei - disse Marlene - O que é tudo isso? Eu tenho ciúmes, sabe.


– Cala a boca e deita aí, Lene - mandei.


Emmeline colocou a cabeça pra fora do cobertor e se manifestou.


– Nada disso! Ela vai dormir sozinha lá no quarto dela.


– Cala a boca e deita aí, Emmy - Marlene me ecoou como resposta - Eu só não entendo como vocês podem querer dormir. Qual é, é a nossa primeira noite juntas e nenhum adulto está na casa. Será que vocês não têm nem um restinho de uma alma de adolescente?


– Não - respondi - A única pirralha aqui é você, Lene. Agora a gente está tentando dormir, se você não se importa.


Ela jogou um travesseiro em mim.


– Idiotas.


Eu ignorei a travesseirada e Emmeline também, então tudo ficou quieto por alguns segundos. Até que Marlene falou de novo.


– Bem, só pra constar, jogaram umas pedrinhas na minha janela poucos minutos atrás. Eram os meninos, perguntando se a gente não queria dar uma escapada. Se vocês preferem ficar aqui dormindo feito um bando de velhas morgadas, tudo bem. Mas eu tô indo.


Outro minuto de silêncio. Que foi interrompido pelo som de pedrinhas batendo, dessa vez na minha janela. Lene se levantou pra abrir.


– Vocês não vêm? - escutei uma voz perguntar, do lado de fora.


– Acho que as outras duas vão ficar, mas eu tô descendo…


– Estamos indo! - gritou Emmy, antes que a outra pudesse concluir.


Eu olhei surpresa pra ela, que se levantava correndo da cama. Quem foi que disse que precisava de uma boa noite de sono agorinha mesmo?


– O quê? - perguntei, meio chateada. Será que eu não podia dormir um pouquinho?


– Ah, qual é. Você sabe que a Lene está certa.


Me levantei também, e suspirei.


– Está congelando lá fora - mas enquanto tentava argumentar com elas, já estava procurando uma roupa no meu armário. As duas fingiram que não me escutaram, e foram se vestir também.


Na minha praticidade, coloquei um tênis e me enfiei num jeans e t-shirt, com um casaco grosso por cima. Chegando no quarto das meninas, no entanto, percebi que a minha roupa não estava nada adequada. Quer dizer, Emmeline estava com um casaco e um cachecol, mas por baixo disso ela usava uma blusa preta de seda e um jeans skinny, se equilibrando em cima de um sapato vermelho. Não parei pra prestar atenção na roupa de Marlene, porque já estava correndo pro meu quarto pra me trocar, mas vi que ela estava se maquiando. Se maquiando. Meu Deus, pra onde a gente tá indo?


Não divaguei muito na questão, porque estava ocupada procurando outra roupa. Me decidi por um vestidinho verde de lã, com a meia calça preta e ankle boots. Corri pro banheiro e me maquiei rapidamente, saindo de lá quase pronta, apenas para jogar um sobretudo e um cachecol por cima, e descer as escadas correndo.


Emmeline já estava esperando na porta de entrada com os caras, mas eu vi que Marlene ainda não estava lá. Eles já haviam chamado um táxi, e James estava dentro com Peter, enquanto Remus, Sirius e Emmeline estavam em pé na calçada. Fiquei feliz porque não ia ter que andar no frio, mas a presença do táxi ali me fez lembrar que eu não sabia nem ao menos para onde estava indo.


– Hm, pra onde é que nós vamos mesmo?


Foi o Sirius que respondeu. Ele falou com uma voz toda casual, como se fizesse isso todo dia, “Londres”. E quando eu ouvi isso, minha vontade foi de gritar e perguntar se todo mundo tinha perdido a cabeça. Londres? Se nós fossemos até uma das pequenas cidades aqui perto, tudo bem. Mas ir para Londres exigia uma viagem de no mínimo 30 minutos de carro, quando o trânsito estava bom. Deixe-me ressaltar que eram quase duas da manhã.


Então eu já estava pronta pra soltar um grito, mas sei lá. Tinha alguma coisa em mim que queria jogar a responsabilidade no lixo. Quer dizer, eu nunca fui muito certinha, mas também nunca fui muito de fazer loucuras, principalmente se essas loucuras interferiam no meu sono. Decidi que hoje não ia ligar.


– Ah, ok - respondi, ao invés dos berros que planejava dar. Emmeline olhou pra mim com uma cara curiosa, mas de quem aprovava. Era ela quem sempre vivia me dizendo que eu tenho que parar de pensar demais, e me arriscar de uma vez.


Eu finalmente escutei o som de saltos atrás de mim, e me virei para encontrar a Marlene deslumbrante de sempre. Ela estava com um vestido azul elétrico que contrastava com sua pele clara, e fazia os olhos também azuis dela parecerem maiores. Os cabelos estavam soltos e, para a surpresa geral, ela não estava de meia calça. Nem de luvas, ou cachecol. A única proteção contra o frio cortante que ela estava usando era um casaco que não me parecia muito quente.


Alguém vai congelar hoje.


– McKinnon - Sirius disse - Por que você demorou tanto, se não colocou roupa nenhuma?


– Meio exagerado, você - ela retrucou, cínica, enquanto todos nós nos enfiávamos dentro do táxi - Mas demorei porque tive que me livrar da Petúnia.


Eu gemi.


– Ah, não. O que ela fez?


– Perguntou aonde estamos indo, e quando eu disse que não sabia, ela disse que ia contar tudo ao seus pais assim que eles chegassem.


Uau. Minha irmã mais velha podia ser tão infantil às vezes. Não liguei muito pra a ameaça de jardim de infância que ela tinha feito, porque mesmo que papai e mamãe se aborrecessem por eu ter saído sem avisar para onde ia, eles certamente não podiam ficar com raiva de mim por ter saído de casa. Alô, eu vou fazer 17 anos.


Acabou que realizamos o segundo milagre da noite (o primeiro foi me tirar de casa), porque conseguimos nos espremer, todos os sete, dentro do táxi. Peter foi na frente, enquanto o resto de nós sofria atrás. Eu estava sentada no colo da Emmy, e Marlene estava sentada no meu, apesar das insistências de Sirius para ela sentar no dele. O que significava que Emmeline estava morrendo e eu e Marlene não fazíamos nada além de rir, até que finalmente Remus interviu por ela. Lene acabou cedendo e foi para o colo de Sirius, mas eu era orgulhosa demais, então me recusei a sentar no colo de James.


As pernas de Emmy ficaram dormentes, e aí eu me espremi mais ainda pra que ela pudesse sair de baixo de mim e se sentar no colo do Remus, o que me deixou imprensada contra James, que por sinal estava muito cheiroso. Eu pensei isso?


Só o que sei é que depois de meia hora de aperto e de piadinhas sobre a sexualidade do Peter - que por sua vez estava emburrado no banco da frente - nós estávamos em Londres. Em algum lugar de centro, porque eu podia ver o Big Ben, mas eu não fazia ideia de aonde. O táxi tinha parado na frente de um pub chamado Krypton.


– É aqui? - perguntou o taxista.


Por favor, diz que não. Superman nunca foi meu herói preferido, e além do mais, o pub não tinha uma cara amigável. Para a minha consternação, James respondeu um sonoro “sim”.


Todos nós descemos do táxi, finalmente. Marlene tremeu um pouco quando pisou do lado de fora, e não era pra menos. O chão estava coberto de água por conta da neve que deve ter derretido nas últimas horas, mas um vento cortante passava por nós, e tudo indicava que ia nevar de novo.


– Vamos logo - ela nos apressou, já que o Potter ainda estava pagando o motorista.


Entramos no pub, e acontece que ele não era nada do que eu esperava. Eu estava esperando, sabe como é, um lugar sujo, com fedor de fumaça e só bêbados dentro. Mas não, encontrei um lugar de aparência bem limpa, que não estava lotado, mas tinha uma boa quantidade de pessoas entre 18 e 26 anos - não sei como o James conseguiu nos colocar dentro - quase todos dançando ou sentados em mesinhas organizadas ao lado de um bar.


Sirius perguntou se alguma de nós queria dançar, e Emmeline, depois que viu que Marlene não estava afim, disse que ia com ele.


Remus acabou roubando Emmy de Sirius, que nem esperou dois segundos e já estava dançando com outra garota trouxa. James saiu para pegar alguma coisa no bar, então eu, Marlene e Peter decidimos sentar em uma das mesinhas.


Passados alguns minutos e depois de diversas tentativas de conversa, Peter deixou a mesa para ir atrás de uma garota trouxa, enquanto James vinha em nosso encontro.


– Não vão dançar? - ele perguntou, em pé com seu copo de uísque na mão. Nós duas balançamos a cabeça.


– Não estou te reconhecendo, McKinnon - ele brincou, e Marlene riu.


– Você também, James. Anda tão maduro ultimamente, nem parece o mesmo James.


Ele olhou para o chão, e se sentou na cadeira ao meu lado.


– É - falou - Acho que todo mundo muda um pouco, no fim das contas.


Marlene de repente perdeu o ar divertido, e olhou para Sirius.


– Nem todo mundo - ela comentou.


James seguiu o curso de olhar dela, e balançou a cabeça.


– Ele vai crescer também, um dia.


Marlene se levantou, pegou o copo que James segurava, e virou de uma vez.


– Até lá, eu não vou estar mais aqui. Vou dançar.


Então eu estava sozinha na mesa com James Potter. Preciso arranjar um jeito de sair daqui e evitar momentos constrangedores que me deixam vulnerável à ele, como aconteceu na cozinha, quando ele me falou aquela coisa sobre a cor das minhas unhas realçar meus olhos. Me levantei.


– Vou pegar alguma coisa pra comer… - e estava me virando em direção ao bar, quando senti uma mão quente no meu pulso.


– Não tão rápido - ele disse - Não pode fugir de mim pra sempre.


Sem ter o que falar, simplesmente me sentei de volta na cadeira que tinha deixado segundos atrás.


– Não estava fugindo de você - menti, baixinho.


– Claro que não - James riu - Eu só queria dizer que não tem necessidade nenhuma pra nada disso, Evans. Como Marlene deixou claro agora mesmo, eu cresci. Respeito sua decisão de não querer ficar comigo. E, sabe como é, acho que seria bem legal se nós pudéssemos ser amigos.


Tentei entender o que ele estava falando. Ele cresceu? Hm, estranho. As palavras James Potter e maturidade simplesmente não se encaixavam em uma mesma frase pra mim. Quer dizer, até hoje. O que ele estava me propondo era muito sensato, afinal, nós íamos nos ver as férias inteiras, e eu não queria ter que ficar inventando desculpas para evitá-lo, pelo menos não se as minhas amigas estivessem com ele. Além disso, eu descobri que James podia ser bem divertido, quando não estava me cantando.


– Claro, isso parece ótimo pra mim.


– Ótimo - ele deu um meio sorriso - Porque se depender do Remus, nós vamos passar as férias todas colados com vocês três. Mais precisamente com a Emmeline, e como a Emmy está na sua companhia o tempo todo, não queria que as coisas ficassem chatas.


– Então quer dizer que o Remus tem uma quedinha pela Emmy? - perguntei, meio chocada.


– Eu pensei que isso fosse óbvio. - James disse, rindo mais uma vez (ele ri muito, e o sorriso dele é bem bonito), e olhando para a pista de dança, aonde o casal sobre qual discutíamos dançava agora. Remus olhava pra a Emmeline de um jeito carinhoso que até eu, agora, percebia.


– É, acho que é meio óbvio sim. Agora que eu parei para notar.


– Então, Evans. Não quer dançar?


Olhei pra ele, desconfiada.


– Como amigos?


Ele gargalhou, se levantando e estendendo a mão para mim.


– Mas é claro.


Ri também, pegando sua mão e me deixando ser guiada pela pista de dança. Acabamos dançando ao lado de Remus e Emmy, e James piscou o olho pra o amigo enquanto o mesmo passava a mão pela cintura de Emmeline.


Não sei qual era a música que estava tocando, mas era bem dançante. Então eu e James estávamos nos movimentando muito, e era difícil ver qualquer coisa em foco que não fosse o rosto dele. Mas eu vi quando Marlene passou para pegar um copo de bebida, e depois mais outro. Até que finalmente eu parei de dançar e fui ao encontro dela, sabendo que havia alguma coisa de errada.


– Ei - eu disse, parando - Por que tanta bebida?


Os olhos dela estavam brilhando por causa do efeito do álcool, e ela deu uma gargalhada quando eu fiz a pergunta. Lene sempre fora uma bêbada feliz.


– Ah, qual é, Lils. Eu consigo segurar o meu álcool.


Revirei meus olhos, em uma perfeita imitação dela.


– Claro que consegue - enquanto falava, tirei o copo de sua mão - Mas é melhor a gente parar por hoje, não?


Dessa vez foi ela quem revirou os olhos.


– Você quem manda, Srta. Responsabilidade.


Essa é a Marlene que eu conheço, sempre inventando apelidos infantis pra quem a aborrecia. Enquanto esses pensamentos me ocorriam, Remus chegou por trás e perguntou:


– Não é melhor a McKinnon parar com a bebida?


Marlene bufou, divertida com a nossa preocupação.


– Ai, meu Deus. Chegaram os dois monitores-chefes para me passar sermão. Por favor, vocês dois, eu sei me cuidar.


Depois dessa, Remus encolheu os ombros e saiu, indo ao encontro de Emmeline, que estava conversando com James e Sirius a distância. Marlene virou as costas pra mim, e saiu andando em direção ao bar mais uma vez.


– Marlene - eu chamei, indignada. Em resposta, ela apenas levantou um dos dedos da mão para mim, em um gesto obsceno.


Eu comecei a rir porque, bem, aquilo tudo era muito engraçado. Quer dizer, sei lá. Me deu uma vontade louca de rir. Aproveitando para prolongar o meu momento de bom-humor, tomei uns goles do copo que Marlene havia deixado em minha mão. E aí foi que eu ri mesmo, porque na minha linha de visão apareceu Peter, tentando argumentar com uma garota trouxa. Pelo pouco que eu sei de leitura labial, entendi ele falando coisas do tipo “mas você não vai se arrepender, eu beijo bem. Se você quiser, até dou umas mordidinhas”.


HAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHA, Peter selvagem. Rawr.


– Qual o motivo dessa graça toda? - perguntou James, acompanhado de Sirius, que também olhava pra mim curioso.


– O Peter - respondi. Nós três nos viramos para olhar pra ele, que agora balbuciava algo como “mas os gordinhos são os mais potentes”.


– Tsc, tsc. Rabicho não aprende. Talvez seja melhor você ir dar uma aula a ele, Pontas - Sirius pensou duas vezes, e olhou para mim - Ou talvez não. Olha só pra você, sete anos e só foi conseguir uma dança agora.


Eu fiquei vermelha, e achei melhor encarar o copo em minha mão.


– Acho que eu mesmo vou ter que cuidar disto - disse Sirius, saindo para falar com Peter.


– Não ligue para ele… - começou James, depois que Sirius já estava longe, arrastando Peter para longe da loira com a qual ele estivera conversando.


– Ele é um idiota - eu completei, olhando de soslaio para Marlene, que dançava com um garoto até bonito na nossa direita. O copo, no entanto, continuava em sua mão. - É, eu sei.


James riu.


– Ah, não. Não tenha essa visão estereotipada de que o Sirius é um completo idiota. Ele só, sabe como é, consegue ser um insensível às vezes.


Eu dei os ombros.


A conversa acabou aí, porque o que o James disse ser a música preferida dele começou a tocar, e ele me chamou para dançar mais uma vez. Virei o que restava da bebida em minha mão e fui com ele, nem parando para pensar duas vezes.


Dancei muito, tanto que mal conseguia mais sentir meus pés quando Remus finalmente chamou, dizendo que era a hora de ir embora.


No táxi todo mundo estava muito calado, olhando pela janela e observando as luzes de Londres, enquanto Sirius cantarolava alguns versos de Smile com uma voz de dar pena.


Chegando em casa, fiquei feliz em constatar que o carro dos meus pais ainda não estava lá. Pelo menos eu ia poder ir pra cama direto, sem nenhuma interrupção. Desejei boa noite às meninas, que já estavam no fim do corredor, e entrei em meu quarto, feliz enquanto colocava o pijama e me jogava na cama, de maquiagem mesmo.


Acordei 10 horas depois, com a voz de Emmeline perto do meu ouvido.


– Se você não acordar logo, vai perder o jantar - cantarolou.


– Jantar? - perguntei, assustada.


– Ah, finalmente, um sinal de vida! - ironizou Marlene.


Abri meus olhos para constatar que, de acordo com o relógio da minha cabeceira, ainda era duas da tarde. Ah, qual é. Perder o jantar?


– Ainda dá pra eu dormir mais um pouquinho - resmunguei. Minha cabeça nem doía nem nada, até porque eu não havia bebido o suficiente, mas eu estava tendo um sonho tão bom, e me sentia tão cansada.


– De jeito nenhum - Marlene tirou o travesseiro da minha cabeça, e eu vi que ela estava deslumbrante como sempre. Livre de olheiras e aparentemente de dor de cabeças também. Meu Deus, ela era a única pessoa que eu conhecia que escapava incólume de ressacas depois de uma noite como ontem. E olha que ela bebeu, e muito.


Devagar, fui me levantando e me espreguiçando.


– De que horas vocês duas acordaram?


– Quase agora - respondeu Emmy, que estava sentada na cama brincando com o cabelo - Mas achamos que seria bom acordar você logo, pra que não durma a tarde inteira. Temos que nos arrumar pro jantar com os Potter, você sabe.


Balancei a cabeça, em reconhecimento, apesar de ter completamente me esquecido. Fui andando em direção ao banheiro e chegando lá eu vi que estava um urso panda. Quer dizer, tinha dormido de rímel. Enquanto eu lavava meu rosto, Marlene colocou a caixinha de som do meu iPod para tocar, e eu relaxei com a voz de Peter Murray.


– Ei - gritei para as meninas, do banheiro - Vocês já almoçaram?


– Não - responderam, em uníssono.


– Ótimo, porque eu estou morrendo de fome.


Desci para perguntar a mamãe se ela já havia servido o almoço, e de repente me lembrei da ameaça que Petúnia fizera ontem a noite. Mamãe não disse uma palavra sobre isso, então eu evitei o tópico.


– Os McKinnon confirmaram a presença no dia do Ano Novo - disse.


– Ah, que ótimo! - papai exclamou.


– Lily, nós já almoçamos, mas eu achava melhor você e as meninas descerem para comer agora, antes que a comida fique fria demais.


Exatamente o que eu ia perguntar.


– Claro, mãe.


Subi novamente, para encontrar Marlene e Emmy em uma discussão calorosa sobre ontem à noite. Marlene insistia que Remus estivera dando em cima de Emmeline, e a loira discordava veementemente.


– Mas é claro que ele não estava dando em cima de mim!


Me intrometi, sabendo pelo que James havia me confessado ontem, que Remus estava sim afim dela.


– Claro que estava, Emmeline.


Ela me olhou, chocada.


– Não estava não! Vocês duas são cheias de teorias conspiratórias, meu Deus.


Eu ri da ingenuidade da minha amiga.


– É óbvio que ele quer algo com você, Emmy.


– Remus Lupin pode ter quem ele quiser, por que vocês acham que ele iria vir atrás de mim?


Marlene já tinha uma resposta pronta, mas antes que ela pudesse argumentar, Emmy a cortou.


– Porque vocês duas são umas loucas que querem me arranjar com o primeiro cara que aparecer, mesmo que ele não queira nada comigo!


Eu lancei um olhar cínico para ela.


– Por favor, o Remus não é nem de longe o primeiro cara que apareceu. E você sabe muito bem que ele não é só um cara. Se o Remus gosta de alguém, é de verdade. E está na cara que ele gosta de você.


Ela me devolveu o olhar cínico.


– A cega entre nós não sou eu, Lily. Você é quem se recusa a ver que o James está louco por você e…


– Olha aqui, Emmeline, eu conversei com o James ontem, e ele não está louco por mim coisa nenhuma. E pra sua informação, eu não estou mais o evitando nem nada, nós resolvemos ser amigos e…


– Meu Deus, vocês duas. Será que vocês podiam parar e escutar o que estão dizendo, por um minuto? Vocês estão brigando porque dois caras maravilhosos que estão caidinhos por vocês, e nenhuma das duas quer admitir isso!


Passou-se um minuto de silêncio, durante o qual eu e Emmeline deliberávamos sobre o que íamos fazer em seguida: pular uma na outra, ou pular em cima de Marlene. Ao invés disso, começamos a rir, as três ao mesmo tempo.


– Não acredito que chegamos a esse ponto - Lene balançava a cabeça, divertida


- Nunca mais vamos brigar por homens, que tal assim? Cada uma lida com os caras do jeito que quiser.


Selamos o acordo com a nossa batida ridícula das Meninas Super Poderosas e descemos para almoçar.


O resto da tarde passou rápido, com nós três trancadas no quarto ouvindo música e, você sabe, mandando ver na fofoca. Marlene estava nos fazendo rir muito com seus comentários mordazes sobre uma das monitoras da Corvinal, Héstia Jones. Quando ela disse que Héstia devia ser uma hermafrodita frustrada (porque ela nunca mostrava nenhum interesse por homens ou mulheres), eu senti que estava prestes a fazer xixi nas calças e Emmeline caiu para trás de tanto rir.


Antes que eu pudesse perceber o tempo passando, eram 6 da tarde.


– Ei - Marlene anunciou - Seis horas. De que horas os Potter chegam mesmo?


– Oito - respondi, fazendo uma careta.


– Acho melhor a gente começar a se arrumar - Emmeline suspirou.


– Tem razão.


E aí começou o nosso ritual de beleza. Quer dizer, primeiro fomos escolher a roupa de cada uma. Marlene acabou de tubinho preto curtíssimo e pérolas no pescoço, por ordens estritas minhas e de Emmeline. Já Emmy ficou com uma saia preta de cintura alta acompanhada de uma blusa branca. A minha escolha foi a mais difícil porque nada combina com esses meus cabelos ruivos. Mas no fim das contas eu acabei com um vestidinho creme balonê, com decote em forma de coração.


Então fomos tomar banho e realmente nos arrumar. Quando todas nós terminamos, já eram quase sete e meia, e resolvemos descer para ajudar mamãe com o resto das coisas. Eu estava colocando a toalha na nova mesa de jantar quando a campainha tocou, meia hora antes do esperado.


Fiquei curiosa para saber quem era, então fui atender, com Marlene e Emmy no meu encalço. E fiquei mais curiosa ainda quando abri a porta e me deparei com Remus parado sozinho do lado de fora.


– A que devo a honra?


– Hm, oi, Lily. Eu estava pensando se a Emmeline não queria dar uma volta comigo pra conversar um pouco… nós estaremos de volta a tempo de pegar o jantar e…


Lancei um sorriso enorme para o Remus. Fiquei com vontade de dar um abraço nele e sair pulando, gritando um “eu te disse” para a Emmy. Mas não queria assustar o pobre rapaz.


– Mas é claro que a Emmy vai! - respondi, e tive o prazer de ver a minha amiga mudar de cor: verde, azul, roxo e finalmente, um pálido intenso.


– Mas… estou sem casaco e… frio… - ela mal conseguia montar uma frase inteira.


– Eu vou pegar o seu casaco - Marlene se ofereceu. Tão prestativa.


Aproveitei que estávamos só nós três no hall, e lancei uma piscadela significativa para o Remus, com o intuito de que Emmeline visse. Remus ficou vermelho.


Eu sinceramente não sei qual é o mais besta desses dois.


Lene estava de volta com o casaco na mão, mas Emmeline continuava parada feito estátua, até que ela deu dois passos pequenininhos e parou. E aí eu empurrei ela pra fora e fechei a porta. Sou má.


 –


Nota da autora: é isso. não sei o que vocês acharam, mas na minha opnião o capítulo dois está bem melhor do que o primeiro. enfim, acho que esse é o ultimo post do ano, porque vou viajar e só volto dia 04 :) e vocês também vão sentir falta da nota da beta nesse capítulo, porque a elisa viajou. O capítulo já está betado, mas ela só vai postar a nota quando voltar. e vão desculpando o título do capítulo, acho que essa minha mania de colocar letras de música que se encaixam é incurável. xoxo

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