Capítulo 1
Capítulo I
ou
I feel that ice is slowly melting
13 de dezembro, Expresso de Hogwarts
Eu passava pelas pessoas carregando minha mala atrás, sem me importar em quem estava batendo e muito provavelmente quebrando alguns tornozelos na confusão de gente que procurava por um vagão naquele trem enorme. Eu não precisava achar um vagão, só as pessoas certas.
– Tanto faz, não é como se a aquela vadiazinha tenha sentimentos mesmo. Ah, qual é, ela passou o ano todo me amolando e agora vem com essa história de que quer “esquecer o passado”. É óbvio que ela soube que sou eu quem vai organizar a festa de volta às aulas na Torre da Grifinória. Filha da puta interesseira.
Ah, exatamente quem eu estava procurando. Marlene e seu linguajar refinadíssimo. Ela estava falando, é claro, da nossa querida, amada e idolatrada colega de dormitório - é, não tô nada irônica hoje - Annelise Miles. Eu concordava em gênero, número e grau com tudo que ela disse, só achava que não tinha necessidade de usar um palavreado de tão baixo calão.
Enquanto esses pensamentos me ocorriam, eu abria a porta do vagão, deixando escapar um “porra” baixinho quando a mala de alguém passou batendo nos meus pés. É, eu sei. Lily Evans é o cúmulo da hipocrisia.
– Finalmente. Achei que você nunca ia entrar na porcaria do trem. O que aconteceu? Eu pensava que suas malas já estavam prontas desde aquela hora.
Eu me virei, pra encarar as pessoas dentro do vagão. Emmeline, a autora da pergunta, me olhava meio irritada - o que eu devo confessar que não entendi, ela estava mesmo assim só por que eu tinha me atrasado uns minutinhos? - Sirius Black, e é claro, Lene.
Eu não sabia exatamente o que pensar do fato de Sirius estar ali. Quer dizer, Marlene sempre fora meio amiga dos Marotos, então eu meio que fui obrigada a conviver com os quatro um pouco. Sempre que podia, eu evitava sair com eles, porque geralmente significava ter que aturar o James enchendo o meu saco o tempo inteiro. Mas ainda assim conhecia o Sirius, e ele sempre me tratara bem. Você sabe, o melhor que um cara popular pode tratar uma nerd pela qual o seu melhor amigo é apaixonado.
Não que o James seja apaixonado por mim, ele é só meio perturbado porque nunca conseguiu ficar comigo. Você me entendeu. Enfim, voltando ao ponto central da história, eu não tinha uma opinião fixa sobre Sirius. Nas férias, que ele sempre passava na casa do James - consequentemente virando meu vizinho temporário - eu achava ele engraçado e uma boa companhia, principalmente quando bêbado, com aquele ar de womanizer dele. Mas eu abominava a atitude que ele tinha para com as mulheres - sabe como é: usa, abusa e joga fora. Além do quê, ele sempre olhava pra mim de um jeito sujo. Como se estivesse tentando me imaginar só de roupa íntima. E não ajudava em nada o fato dele ser gostoso daquele jeito.
– É, as minhas malas já estavam prontas. Eu só demorei um pouco mais do que deveria no banho - respondi, tentando me livrar de todos os pensamentos que a minha mente suja tinha com o Black e me concentrando na Emmy.
– Meu Deus, Lily. Não adianta de nada você ser tão preocupada com o aquecimento global se você passa tanto tempo no chuveiro - comentou Marlene.
Eu estirei língua pra minha amiga, e puxei um saco de feijõezinhos de todos os sabores da minha bolsa. Abri o saco, e Sirius imediatamente estendeu a mão para pegar alguns. Eram os meus feijõezinhos que eu tinha guardado com todo carinho porque queria comer sozinha, e as meninas sabiam disso, e começaram a olhar pra mim como se eu fosse pular em cima do Sirius e expulsar ele do vagão aos gritos. Mas eu não fiz isso, só coloquei alguns feijõezinhos na mão dele e pronto. Acho que foi aquela cara de cachorro pidão. E eu tenho outro saco mesmo, então whatever.
– E aí, Evans. Já está planejando como vai fazer pra escapar do James durante as férias?
Eu fiquei vermelha. É claro que eu já tinha pensado nisso, mas o Sirius não precisava saber.
– Não. Seria ótimo se o James simplesmente não me incomodasse dessa vez. Quero passar um tempo de qualidade em paz com as minhas amigas, se não for pedir demais.
– Com a suas amigas? - ele olhou ao redor com um ar indagativo - Ah, estão planejando fazer uma confraternização das Meninas Super Poderosas durante as festividades, é?
– Meninas Super Poderosas? - eu perguntei, ironizando - Nada de confraternização. Vamos ficar juntas nas férias, só.
Ele ignorou a minha pergunta irônica, e falou de novo, com um tom estranho.
– Por favor, me diga que vai ser na sua casa.
Ele estava com aquela cara idiota de cachorrinho de novo. Mas dessa vez havia uma malícia escondida nos olhos dele - mais do quê o normal, quer dizer.
– Não posso lhe dizer nada, Black, eu nem falei com a minha mãe ainda.
– Ai, meu Deus - ele continuou me olhando, deslumbrado - Os caras precisam saber disso.
Nós três olhamos pra ele como se ele fosse… bem, o palerma que ele parece ser.
– Qual a parte do “nem falei com a minha mãe” você ainda não entendeu?
Ele se levantou de um salto, e se dirigiu a porta do vagão.
– Se me dão licença, damas - falou - tenho que espalhar a notícia para os outros cavalheiros.
Passados uns dois minutos, eu não pude deixar de comentar:
– Caramba, Marlene. Você não podia estar afim de alguém mais idiota.
– Ou mais dominado pelos hormônios - acrescentou Emmy.
Ela apenas assentiu, e murmurou algo como “tem razão”, o que me surpreendeu mais ainda.
– Por que você trouxe ele pro nosso vagão mesmo? - perguntou Emmy.
– Porque ele estava tentando fugir da Annelise - respondeu.
– Ah. Isso explica porque você estava esculhambando ela quando eu cheguei.
Marlene revirou os olhos, a mania atual dela.
– Eu não preciso de desculpa pra esculhambar a Annelise. Só aquela cara de tonta dela já é desculpa suficiente.
– E o que é que ela quer com o Sirius, anyway?
– Todas as mulheres de Hogwarts querem alguma coisa com o Sirius - ela disse, não parecendo se irritar com isso - E alguns homens também, até.
Emmeline bufou, e olhou irritada para a janela. A essa hora, o Expresso de Hogwarts já estava em movimento, e a paisagem era apenas um borrão branco e preto com figuras indistintas.
– Tudo bem - eu disse, sabendo que havia algo de errado com a minha amiga - Que bicho te mordeu?
Ela se virou pra mim, parecendo mais irritada do que antes.
– Do que você está falando?
– Não sei, mas tem alguma coisa errada. Por que você tá tão irritada?
Ela franziu a testa, encostou a cabeça no banco e começou a massagear as têmporas.
– Eu acho que minha mãe estava falando sério quando ela disse aquela coisa toda sobre divórcio.
Eu e Marlene nos entreolhamos. Emmeline estava preocupada já havia algum tempo com o casamento dos seus pais, mas nunca havia tido um ultimato antes.
– Por que você acha isso?
– Ela me mandou uma coruja essa manhã. Falava alguma coisa sobre ela ir me pegar em King Cross sozinha, porque nós íamos nos mudar. Ela foi bem vaga, mas eu entendi a mensagem.
Ah, droga. Isso era capaz de acabar com as férias de qualquer um. Bom, de qualquer um que não fosse amiga da Marlene.
– Não é um problema - ela começou - Se eles resolveram se separar, foi o melhor. Ficarem juntos mas brigando não ia adiantar de nada mesmo. E se der tudo certo, nós vamos passar as férias na casa da Lily, e nem eu nem ela pretendemos deixar você ficar mal por um segundo que seja.
Emmeline fechou os olhos.
- Não sei, Marlene. Não acho que seja uma boa ideia eu ir passar o Natal com vocês. Acho que o certo é eu ficar com a minha mãe…
- Não dê uma de idiota. É claro que sua mãe quer que você passe as férias com a gente e não com ela, ela só quer o que é melhor pra você. E isso certamente não é ficar mofando em casa. Então nem tente, mocinha.
– Mas ela deve estar…
– Não quero escutar “mas” nenhum. Você vai e pronto. Não adianta discutir.
Emmeline esboçou um sorriso triste, provavelmente pensando em como era inútil tentar argumentar com a Marlene. Mais teimosa que ela ainda estava para nascer.
Eu, na minha própria tentativa de levantar o clima, puxei o Uno da minha bolsa e comecei a distribuir as cartas. Era meio que uma tradição nossa ficar jogando pra passar o tempo. Em menos de cinco minutos de jogo, Emmeline já estava dando uma surra em mim e em Marlene, com a aquela mente de gênio do mal dela, e todo mundo estava rindo mais uma vez.
Chegando na Estação, todas nós nos separamos para encontrar nossos respectivos familiares, com a promessa de que eu mandaria uma coruja para as duas, confirmando os nossos planos, assim que chegasse em casa.
Antes de eu e papai alcançarmos o carro, mamãe já havia feito o interrogatório completo, perguntando como havia sido meu ano letivo, como estavam as meninas, se tinha algum paquera novo na parada. É isso aí, com essas mesmas palavras. Minha mãe chegou pra mim e perguntou, na maior cara-de-pau: “Algum gatinho na parada?”
E eu respondi que não, claro. E mesmo que tivesse, a resposta ia ser a mesma. Qual é, mãe, se toca. Aproveitando a oportunidade, eu fiz a ela a pergunta sobre as meninas irem passar uns dias lá em casa. E, felizmente, minha mãe disse sim. É claro que eu fiquei pulando no banco traseiro do carro durante a viagem inteira depois disso.
Chegando em casa, eu não parei pra cumprimentar minha irmã na sala, simplesmente passei direto e fui para a cozinha, atrás da minha alma gêmea, que deveria estar me esperando. Mal cheguei na cozinha, Rhett já pulou em cima de mim.
É, você leu direito. Rhett Butler é o nome do meu gato. Ah, qual é. Era melhor do que Luke Skywalker, o primeiro nome no qual eu pensei. Tudo bem, eu sou uma nerd viciada em Star Wars e filmes de época. Pode me processar.
Eu sempre tive uma queda pelo Rhett (personagem), mas deixa eu só te dizer que eu não trocava o meu gato por ele nunca. Nem em um milhão de anos. Principalmente agora, enquanto eu estava apertando aquela coisinha fofa e sentindo o cheirinho gostoso que vinha do pêlo dele. Quando eu o afastei o suficiente para que ele pudesse respirar, ele me olhou com uma cara feia, quase como se me repreendendo por ser tão entusiástica. Ah, qual é. Uma das únicas pessoas para qual eu expresso algum tipo de sentimento é o meu gato, e quando eu faço isso, ele me repreende. Que exemplo de pessoa sociável você é, Lily.
Deixando Rhett em paz com sua tigela de sardinhas, eu subi para o meu quarto, já ansiosa para passar a coruja das meninas.
Pouco menos de 6 horas depois, eu já havia recebido resposta das duas. Nós havíamos combinado que o dia da chegada delas era dia 15, porque assim mamãe tinha tempo para arrumar o quarto de hóspedes e Emmeline tinha como visitar o pai dela. Marlene queria chegar o quanto antes, mas achou que era melhor passar pelo menos um dia com a família.
Preciso dizer que o dia seguinte passou muito vagarosamente? Tecnicamente, eram menos de 48 horas de espera, durante as quais eu dividi meu tempo entre ajudar mamãe a arrumar a casa, matar as saudades do meu gato, e assistir TV.
Mas deixa eu te dizer, ter que aturar a Petúnia te amolando enquanto você não tem nenhuma grande distração é difícil. Mesmo que seja só por 48 horas.
Por esses motivos, às sete da manhã do dia 15 eu estava me levantando. Eu sei, eu sei. É um milagre, mas eu não conseguia ficar na cama por mais muito tempo, de tão ansiosa que estava. Me levantei devagar, abrindo as janelas, e coloquei meu iPod na caixinha de som dele, pra ficar tocando enquanto eu me arrumava. “Here comes the sun, here comes the sun, and I say… it’s alright” cantavam The Beatles, enquanto eu tomava banho.
Pra variar, tomei banho rápido, e saí do banheiro já com a roupa que ia usar em mente. Coloquei uma calça jeans, indispensável no clima atual, um suéter caramelo e prendi meu cabelo num rabo de cavalo. Penteei minha franja ruiva pro lado, já que desde que eu fizera aquele corte ela se recusava a ficar no rabo de cavalo. Em seguida, desci para esperar lá embaixo e tomar café com o papai. Já eram quase 8 horas, e Marlene e Emmy disseram que estariam aqui por volta das 8 e meia.
Encontrei mamãe conversando alegremente no telefone. Eu, porém, não fiquei mais tão alegre assim depois que peguei o teor da conversa.
– Amanhã seria um dia maravilhoso para convidar os Potter para o jantar.
Já? Meu Deus. Mamãe não sossega.
– Eu posso fazer o meu ravióli especial, e se a Petúnia me ajudar, faço o suficiente pra todo mundo e ainda mais a sobremesa de limão. Nós vamos ter que dar um jeito na mesa de jantar, porque só tem 8 lugares, e contando com as amigas da Lily e os amigos do James, acho que nós somos 12... - ela tagarelava sem parar.
Não querendo escutar mais nada sobre quaisquer que sejam os planos da minha mãe pra amanhã, principalmente se eles envolvessem jantar com o James, eu engoli meu cereal e me dirigi a porta da frente. Assim que a abri, no entanto, percebi que tinha que voltar lá em cima pra pegar um casaco mais pesado se quisesse ficar esperando do lado de fora. Já estava na metade da escada quando uma buzina soou na frente de casa. Desci correndo, pulando os dois últimos degraus e quase me atirando na porta, antes mesmo que pudessem tocar a campainha.
Era Marlene, acompanhada da irmã mais velha dela, Mary. As duas estavam todas empacotadas em cachecóis, o que eu não entendi, porque elas tinham acabado de sair do carro.
– Hey - Mary me lançou um sorriso congelado, juntando as mãos para se esquentar - Tudo bem se eu entrar um pouco, Lily? Hm, o aquecedor do carro quebrou.
– Ah, claro. Vocês devem estar congelando.
Nós três entramos de volta em casa, e fomos direto para a cozinha, onde mamãe ficou feliz em preparar xícaras de chocolate quente pra todo mundo. Uma vez que as duas irmãs estavam quentinhas de novo nós nos acomodamos no sofá da sala na companhia de papai, que estava ansioso pra saber através de Mary qualquer notícia relativa ao mundo bruxo. Engraçado como os trouxas são completamente fascinados pelo nosso mundo.
Apesar de ser poucos anos mais velha do que nós, Mary já era formada, e trabalhava como estagiária para alguns aurores no Ministério da Magia. Em menos de um ano, ela seria um deles. Papai parecia louco com o fato de que ela tinha escolhido uma profissão como aquela nos tempos atuais, e Mary apenas ria, colocando ele a par de todos os assuntos que me deixavam desconfortável. Sabe como é, a politicagem e a guerra.
Eu e Marlene trocamos olhares, dizendo, sem nem precisar nos falar “não é hora para pensar numa coisa dessas”.
Quer dizer, pelo amor de Deus, era quase Natal. Nós tínhamos que falar e pensar em tópicos mais leves.
Papai finalmente mudou de assunto, perguntando quais eram os planos dos McKinnon para o Ano Novo. Marlene respondeu que como parte da família dela estava se refugiando na França, após uma ameaça vinda de Comensais da Morte, eles não iam se juntar para as comemorações de fim de ano. Então Mary, o Sr. e a Sra. McKinnon iriam celebrar em casa sozinhos.
– Ah, não. Agora estou me sentindo culpado por ter tirado a Marlene de vocês.
Mary riu do comentário do meu pai.
– Não se preocupe. Marlene não ia fazer falta nenhuma mesmo, do jeito que ela é irritante!
Lene revirou os olhos, e mandou beijinhos para a irmã.
– You know you love me.
Puft, se acha a própria Gossip Girl.
– Mas de jeito nenhum. Por que vocês não rompem ano conosco? Ia ser um prazer tê-los aqui. Se quiserem, venham para a ceia de Natal também.
E o convite que papai fez me deixou muito feliz. A família de Marlene era ótima, a Sra. McKinnon eram jovem e bem-humorada, assim como o Sr. McKinnon, e todos eles gostavam muito de mim. Eu odiava pensar que eles seriam forçados a passar o Ano Novo em casa.
– Mamãe iria ficar feliz em aceitar o convite. Acho que no Ano Novo não vai dar, mas talvez a gente possa vir no Natal. Eu falo com ela e mando uma coruja para vocês, sim?
Papai riu.
– Sim, sim. Uma coruja. Certo.
Mary se levantou do sofá, dizendo que precisava ir se quisesse chegar em casa a tempo do almoço. Mamãe convidou ela pra almoçar com a gente, mas ela disse que não.
– Ah, Lily?
Eu olhei para ela.
– Você conhece algum feitiço aquecedor? Eu acidentalmente quebrei aquela geringonça do carro - ela gargalhou - Acho que não daria uma boa trouxa.
– Hm, não conheço nenhum. Mas acho que um Reparo resolve o problema do aquecedor do carro.
Ela franziu a testa.
– Claro. Como a gente não pensou nisso antes, Lene?
Depois de levar a Mary até a porta, eu e Marlene subimos, já colocando em dia tudo o que havia acontecido nas poucas horas que passamos sem a outra.
– A Emmy está meio atrasada - eu comentei
– Meio? São quase dez horas. E eu pensando que a atrasada da nossa família era você.
É, a Marlene chama a gente de “família”. Acho que é adequado, quer dizer, eu posso pensar em algumas famílias de verdade que são menos unidas do quê a gente. A do Sirius, por exemplo. Quase como se soubesse no que eu estava pensando, Lene perguntou:
– E os meninos?
– Não sei - olhei para a janela - Já está até ficando estranho. Normalmente, o Potter bate aqui na porta assim que tem a chance. É insuportável. Mas até agora, ele não apareceu.
– E quando nós vamos ver eles?
Eu suspirei.
– Nunca? - sugeri.
Marlene olhou de cara feia pra mim.
– Tudo bem. Sei lá, amanhã. Quer dizer, amanhã não tem nem como eu escapar, porque mamãe vai convidar todos eles pra jantar conosco.
Minha amiga pareceu satisfeita com a resposta, e nós fomos nos ocupar com outra coisa: levar a mala dela pra o quarto de hóspedes. As duas camas que tinham naquele quarto estavam arrumadas, já prontas pra ela e pra Emmeline. Tinha até um armário pra elas organizarem as coisas enquanto estivessem aqui. O único problema era conseguir trazer a mala da Marlene, já que o quarto delas ficava ao lado do meu e do da Petúnia, no andar de cima. Mas com uma ajudinha de papai (tá, tudo bem, ele carregou a mala sozinho) nós conseguimos. E então eu escutei um grito agudo vindo lá de baixo, provavelmente a minha irmã, dizendo que o almoço estava na mesa.
Depois de comer muito, eu arrastei a Marlene da sala de estar para a cozinha. Ela precisava conhecer o Rhett. Meu gato a adorou, mas isso foi provavelmente só porque ele tem um fraco por mulheres bonitas. Que nem o Rhett Butler original, então se você me perguntar, o nome nem é tão estranho assim. É bem cabível, na realidade.
Nós subimos de novo, dessa vez com Rhett trotando ao nosso lado. Fiquei no quarto de hóspedes, olhando a Marlene organizar as coisas dela enquanto conversávamos.
Até que, enfim, a campainha tocou. E nós apostamos uma corrida bem violenta até a porta. Corrida essa que a Lene ganhou. Que é que eu posso fazer? Lily Evans sucks in everything.
Emmeline se encontrava na entrada da minha casa, com seu pai acenando do carro lá atrás. Eu e Marlene retribuímos o aceno, mas enquanto isso eu observava a face de Emmy, atrás de qualquer sinal de tristeza ou de stress, mas não encontrei. As bochechas dela estavam vermelhinhas do frio, e havia um sorriso estampado na cara dela enquanto andava em nossa direção.
– Oi, meninas. Desculpem o atraso. Papai queria assistir um jogo de quadribol comigo.
– Ok - eu disse - Mas a sua fama de pontual já era. Agora você nunca mais vai poder reclamar dos meus atrasos.
Passando pela sala, mamãe e papai cumprimentaram Emmy, e mamãe já foi logo perguntando se ela tinha almoçado, se queria uma xícara de chocolate quente…
E eu a arrastei dali antes que mamãe perguntasse se ela tinha escovado os dentes ou alguma loucura dessas.
Subimos com a mala da Emmy, que não era tão pesada quanto o exagero que a Marlene tinha trazido, e ajudamos ela a arrumar as coisas. Quer dizer, mais ou menos. No meio da arrumação nós paramos e decidimos pintar as unhas uma das outras.
Pintei minha unha de verde, a Marlene de vermelho e Emmy de rosa pink. Rindo e escolhendo os vestidos que íamos usar no jantar de amanhã, eu me senti feliz como não me sentia há muito tempo.
– Que tal a gente ir dar uma volta? - sugeri. Todo mundo concordou, então lá fomos nós, nos empacotar pra sair no frio. Disse a mamãe que estaríamos de volta para o jantar, e saímos andando pela minha rua. O condomínio em que eu moro era bem grande e meio afastado da cidade, mas eu e os Potter éramos os únicos bruxos que moravam por lá. O condomínio, na realidade, era conhecido como “lar dos velhos”, porque muita gente da maior-idade morava aqui, e não havia quase nenhum adolescente, crianças menos ainda. E era por isso que a Petúnia passava as férias tão emburrada… digo, mais emburrada do que ela já é. Nós pegamos um táxi para chegar até a cidade, e fomos ao cinema.
Todas nós concordamos que queríamos assistir um filme de terror, e Paranormal Activity estava em cartaz.
– Ai, droga. Droga, droga, droga - murmurava Emmeline quando as luzes se apagaram, antes mesmo do filme começar.
Acabou que o filme foi exatamente a merda que eu esperava que fosse. Quer dizer, nada demais. Eu passei a maior parte do tempo rindo da cara de babaca do protagonista, e comendo a minha pipoca, num humor maravilhoso. Mas isso não impediu Emmeline de gritar toda vez em que aparecia mais uma das milhares de assombrações no filme, nem de quebrar todos os dedos da minha mão enquanto a apertava.
Eu e Marlene saímos do cinema ainda rindo, e Emmeline dizendo que nós éramos loucas. Tanto faz.
Demos uma volta pela cidade, olhando vitrines de lojas trouxas, andando as três de braços dados, até que o sol começou a baixar e o frio aumentou, então pegamos o táxi de volta pra casa.
Andando da entrada do condomínio até a minha casa, no silêncio alegre que se instalara depois que descemos do carro, eu me senti em paz. Apesar do clima, eu não estava nem com frio. Me sentia quente. Olhei pra o sol se pondo no horizonte, e pensei em como eu tinha sorte. Feliz, cantarolei baixinho:
– Here comes the sun, and I say…
– It’s alright - completamos, as três ao mesmo tempo. Rimos de novo.
– Sabe, o Sirius tem razão. Nós parecemos mesmo as Meninas Superpoderosas - eu disse.
Lene e Emmy se entreolharam, e reviraram os olhos.
– Lily e seus comentários estúpidos.
– Ah, qual é. Tem uma ruiva, uma loira e uma morena. E nós temos superpoderes.
Marlene fez uma careta, e estirou língua pra mim.
– Tá me chamando de Docinho?
– Acho que ela está - riu Emmy.
– Tudo bem, Lindinha.
E depois disso nós inventamos, lá no meio da rua, uma batida bem ridícula. Mas bem ridícula mesmo. Consistia, no geral, em juntarmos as nossas mãos, depois soltá-las e apontar pra o alto cantando “it’s the powerpuff girls, power power”.
Chegando em casa, encontramos papai e mamãe de saída para um jantar. Eles disseram que tinham deixado dinheiro pra comida em cima da geladeira e que iam voltar tarde. Então nós subimos para trocar os agasalhos por shorts e camisetas, já que estávamos de volta ao aconchego quente da minha casa. Eu podia ouvir os gemidos das Pussycat Dolls vindo do quarto da minha irmã. Ugh, Petúnia sempre tivera um péssimo gosto pra música.
Uma vez trocadas de roupa, descemos novamente e decidimos pedir pizza. Fizemos o pedido e ligamos a TV, atrás de algo bom para assistir. Felizmente, estava passando Love actually em um dos canais de filme. O que é absolutamente maravilhoso, porque é a minha comédia britânica preferida. E também é a minha comédia de Natal preferida. Então lá estávamos nós, sentadas no chão em frente a lareira, babando pelo Hugh Grant, quando a campainha toca.
Graças a Deus eles não demoraram pra entregar dessa vez, porque eu tô morrendo de fome. Me levantei correndo pra abrir a porta - caramba, eu estou correndo muito esses dias. Quem sabe não compensa por todos os anos que eu passei no sedentarismo? - e não me deparei com o motoboy espinhoso que eu estava esperando. Não, ao invés disso dei de cara com quatro adolescentes lindos de morrer. Isto é, exceto pelo Peter.
“Já estava demorando”, eu pensei, e devo ter dito isso em voz alta porque o Potter disse:
– Ah, é. Eu só não vim aqui antes porque… hm, tivemos que resolver um problema com o Remus ontem à noite - todos eles desviaram os olhares quando o James disse isso. Estavam mentindo. E além do mais, eu tinha notado os círculos escuros ao redor dos olhos deles. É óbvio que estavam farrando demais pra sequer aparecer. Ha, pensam que me enganam. Não que eu ligue, porque eu sinceramente preferia que o Potter e a insistência dele se mantessem longe pelo menos por uns dias.
– Não devia nem ter se incomodado em aparecer - eu disse - Olha, sinto muito, mas essa não é uma boa hora. Estamos esperando a pizza chegar…
Mas obviamente essa foi a coisa errada a se dizer, porque ao som da palavra “pizza” Sirius passou pela porta, quase me atropelando, e murmurando coisas do tipo “será que ainda dá pra ligar e pedir pra eles acrescentarem mais uma de chocolate?”
Eu suspirei, e saí do caminho para o restante deles passar. Quer dizer, eu certamente não podia deixar eles virarem picolé do lado de fora, apesar de querer muito.
– Tudo bem, tudo bem. Entrem, liguem e peçam quantas pizzas a mais vocês quiserem.
Peter pareceu ainda mais animado do quê o Sirius com a ideia. Eu me demorei mais um pouco na porta, pensando que esse era o meu carma. O meu dia não podia ser completamente perfeito.
Chegando na sala, vi que algum dos meninos tinha mudado o canal. Agora estávamos assistindo American Pie. Bom, pelo menos era engraçado.
O Sirius estava pegando uma briga danada com o cara da pizzaria por telefone, insistindo que o motoboy deveria voltar para pegar as pizzas que ele acabara de pedir para que todas elas chegassem aqui ao mesmo tempo. Só de ouvir, minha barriga já roncou.
Apesar da fome, tenho que admitir que me diverti enquanto esperávamos pela comida. Rimos bastante com o filme, Sirius contou umas piadas muito engraçadas e o meu conceito dele subiu um pouco depois de hoje. Remus não falou muito, parecia bem cansado, mas sempre ria com tudo. James foi outro que também falou pouco, o que eu não entendi. Pelo que eu sabia, ele era sempre tagarela. O filme acabou e nada da pizza chegar, então pelo visto o Sirius tinha conseguido convencer o motoboy a voltar na metade do caminho para pegar as pizzas dele. Resolvemos jogar Uno pra passar o tempo, e todo mundo deu uma surra em mim. Sério, até o Peter tinha menos cartas que eu. Aposto que eles todos se juntaram para fazer um complô contra a Lily. Quando a Emmeline bateu o jogo, uma coruja bege (que eu reconheci como a da Marlene) apareceu na janela da sala, que estava fechada por conta do frio.
Lene logo se levantou pra abrir a janela, e assim que ela desamarrou a carta, a coruja levantou vôo. Nós esperamos por um momento enquanto Lene lia, e depois ela disse:
– Lils, tudo certo para o Ano Novo. Mamãe e papai podem vir, e Mary disse que também vai fazer o possível. Então acho que todos eles vêm.
Eu sorri.
– Que ótimo! Emmy, você poderia convidar sua mãe e seu pai também… - mas aí resolvi calar a boca, entendendo o que eu tinha acabado de dizer.
Ela fez uma careta.
– Melhor não.
Os Marotos pareciam meio confusos. Mas James disse:
– Se isso for sobre o Ano Novo, papai disse que nós podemos vir também.
Eu olhei intrigada pra ele, com um olhar que eu esperava que dissesse, com todas as letras, “e quem convidou?”.
– Hm, acho que sua mãe propôs que nós todos rompêssemos o ano juntos - ele respondeu, parecendo meio sem jeito. Desde quando James Potter ficava sem jeito?
Quando a pizza finalmente chegou, James foi me ajudar a pegar os pratos na cozinha. Mostrei a ele qual era o armário da louça, e depois de pegar os pratos ele ficou me vendo organizar os talheres. Olhava pra minha mão de um jeito estranho.
– O quê?
Ele mais uma vez pareceu desconfortável com a minha pergunta, como se tivesse sido pego no flagra.
– Nada. É só que… A cor das suas unhas realça seus olhos.
Eu me surpreendi com o que ele disse, principalmente porque não foi dito em tom de paquera. E, sabe como é, homens normalmente não reparam em coisas como unhas.
– Hm. É. Verde é minha cor preferida - eu disse, o que foi um comentário realmente muito estúpido.
Ele lançou um olhar estranho pra mim de novo, dessa vez focando em meus olhos. Era como se ele estivesse surpreso e intrigado, mas receoso ao mesmo tempo. Era um olhar que me fazia considerar a possibilidade de James ter um cérebro. Mas, sabe como é, só considerar.
– É minha cor preferida também - ele falou, por fim, e pegou os talheres da minha mão, colocou-os em cima dos pratos que ele estava carregando, e levou-os para fora da cozinha.
Eu fiquei meio sem saber o que fazer com aquela informação, até que decidi que podia pensar no que eu achava da escolha de cores do Potter depois, porque agora tinha uma pizza me esperando.
–
Nota da autora: olá, minhas unhas estão verdes iguais as da Lily, haha! espero que vocês tenham gostado do capítulo. eu sei que não foi nada demais, mas é só uma introdução pra tudo que ainda tem que acontecer. queria fazer dessa fic uma comédia, mas não sei no que vai dar. eu tenho uma tendência a escrever drama, então nunca se sabe. acho que já dá pra vocês pegarem mais ou menos o teor da história nesse capítulo, um pouquinho da personalidade das meninas e do Sirius, e a relação de todos eles antes da fic começar. capítulo que vem as coisas esquentam, não no sentido romântico nem nada mas… hm, vou parar de falar agora, se não vou acabar soltando alguma coisa importante. obrigada a todo mundo que comentou, votou e favoritou: vocês não tem idéia de como é bom começar a fic com pessoas tão carinhosas dando força (: beijos
Nota da beta: me ofereci pra beta, mesmo, porque não aguentei esperar o capitulo. Hahaha. Que capítulo liiiiiindo! Duda, morri com esse final *--* o James no sétimo ano é tão.. oown! Apertável! A unha verde já é só a sua cara hahaha. O capitulo ta perfeito, eu tava morrendo de saudades de suas fanfics! Agora vou parar de falar, ou não sobra criatividade pra comentar. Já estou esperando o próximo. Lisa.
Comentários (1)
então eu não sou a única que riu horrores asistindo atividade paranormal? \o/
2011-03-17