Capitulo 3 - Sonhos
Capítulo III – Sonhos
NT: PdV de Hermione
Estava confusa, se debatendo em seus próprios pensamentos enquanto subia a escada circular em direção ao dormitório das meninas. Ao chegar a porta, correspondente das alunas do sexto ano, parou por um instante olhando para a maçaneta prateada. Não queria abrir, sabia que se fizesse isso estaria deixando para trás uma oportunidade de conversar com Ron a sós.
Pela expressão do rosto de garota, parecia que travava uma guerra, uma guerra consigo – Hermione versus Hermione -, mas tomada por um acesso repentino, a razão levou a melhor conduzindo-a ao dormitório sem mais delongas.
Parvati e Lilá Brown conversavam, sentadas em confortáveis poltronas, próximo a janela do quarto. As demais garotas estavam dormindo.
Hermione, sem trocar de roupa, deitou na cama, fixando seu olhar para o teto. Não conseguia pensar e muito menos dormir; não porque não quisesse, mas as risadinhas e os cochichos de Parvati e Lilá a deixavam doida.
Por algum tempo ficou bufando exasperada, mas era inaudível. Passada mais de meia hora, as duas amigas também foram se deitar.
“Finalmente”, pensou Hermione, “vou poder dormir”.
Seu corpo começou a ficar pesado e confortavelmente quente e podia sentir que seus pensamentos ficavam cada vez mais vagos...... uma simples lembrança..... até ouvir um som muito familiar bem no fundo de sua mente.
- VAMOS WEASLEY, VAMOS... SE USAR ESSA VARINHA EM MIM, VOCE VAI PERDER MAIS DO QUE SEU DISTINTIVO – gritava Draco, em um súbito de coragem.
- Não, Ron, por favor, não... – implorava Hermione, sua voz estava embargada como se estivesse chorando – Não quero te perder agora, deixe ele ir – soluçava agora.
Suas mãos estavam agarradas no ombro e braço do amigo, sentia que Ron tremia ainda mais.
Foram os cinco segundos mais longos de sua vida até Ron, finalmente, abaixar a varinha. Ela olhou diretamente para os olhos do amigo e viu que ele também a olhava, seus olhos expressavam um misto de surpresa e ternura.
- É.... tem razão, não vale a pena – olhando agora para Malfoy, mas não era mais um olhar frio e sim de piedade.
Grabbe e Goyle fizeram movimentos tão bruscos e pesados que no momento seguinte estavam agarrando Ron pelo pescoço, vestes e braços, impedindo que o garoto se movimentasse.
- Solte-o! – ordenou uma voz relutante e rouco atrás dos dois brutamontes – Agora estamos quites, Weasley – acrescentou Malfoy ficando face a face com Ron.
Os três se viraram e foram caminhando em direção as carruagens, empurrando vários alunos do segundo e terceiro ano.
Ron acompanhou Malfoy com os olhos até que não se pudesse mais ver aqueles cabelos loiro-prateados no meio da massa de estudantes. Após, virou-se para Hermione fitando-a desconcertado.
- Er... obrigado, não sabia o que estava fazendo. – com um leve sorriso nos olhos.
- Você devia se controlar mais, agora que é monitor – dizendo solenemente, mas de forma amigável e calma, muito embora estivesse tremendo ainda.
Ron olhou por cima da cabeça de Hermione.
- Posso te fazer uma pergunta? – com uma expressão séria no rosto.
- Claro que pode, o que é? – tentando adivinhar que pergunta seria tão grave para ele ficar daquele jeito, a ponto de não olhar diretamente em seus olhos, se bem que ela sentia uma certa gratidão por isso, pois não conseguiria ficar encarando o amigo naquele momento.
- Como.... porquê.... o que foi aquilo?... – Ron pareceu confuso ao dizer essas palavras, mas continuou – Que negócio.... o que você quis dizer com “de não querer me perder agora?” – ainda olhando por cima de Hermione, mas estava respirando profundamente, buscando ar para se recompor.
- Bom.... – sem muita emoção na voz – Você sabe – abaixando o tom para um sussurro – sobre a guerra e V-Voldemort.
Ron olhou para a amiga com terror e um breve guincho saiu de sua garganta.
- O que é que Malfoy tem haver com isso? – perguntava a Hermione fazendo caretas, ainda com a expressão de terror que o nome de Você-Sabe-Quem produzia em todos os Weasley.
- Francamente! – esganiçou, virando-se e batendo o pé em direção à frente do Expresso de Hogwarts.
- SERÁ QUE A SABE-TUDO NÃO TEM UMA REPOSTA LÓGICA PARA ISSO? – berrava Ron, gesticulando freneticamente.
As pessoas em sua volta olhavam com curiosidade, não sabiam o que estava acontecendo e outros alunos davam risadinhas.
Hermione parou de chofre com os olhos fechados e virou-se nos calcanhares tornando a caminhar em direção a ele, mas com uma expressão de fúria contida.
- MUITO BEM – gritava, ignorando os estudantes em sua volta que os observava, mas não se atreviam a parar e apreciar o espetáculo. – VOCÊ É MEU AMIGO, ASSIM COMO O HARRY E A GINA – apontando um dedo no nariz de Ron – VOCÊ ACHA QUE EU NÃO ME IMPORTO COM MEUS AMIGOS? QUERO QUE TODOS FIQUEM BEM. E COMO FICARIA SUA MÃE E SEU PAI? SE SOUBESSEM QUE O FILHO DELES FOI EXPULSO DE HOGWARTS POR UMA BOBAGEM? – berrava a plenos pulmões Hermione, mas não acreditara como conseguira tanta inspiração, pois um segundo antes sua mente estava completamente vazia, ficando apenas flutuando uma palavra “francamente”. Continuou gritando e para piorar as coisas adicionou um frenético agitar de braços, como se os berros não fossem suficientemente ruins para Ron. – VOCÊ FAZ AS COISAS SEM PENSAR, SÓ FAZ BURRICES “”E”” NÃO ENXERGA AS COISAS “”ÓBVIAS””, MESMO QUE “”DANÇASSEM”” EM SUA “”FRENTE”” !!! – ficando vermelha quando enfatizava algumas palavras.
Ron parecia não ter escutado e absorvido todo o desabafo, somente compreendeu “burrice” e “faz coisas sem pensar”.
- Eu não faço as coisas sem pensar e não faço burrices – retrucava Ron na cor vermelho-perigo – Sei muito bem o que ocorre em minha volta – acrescentou rapidamente.
Hermione juntou as duas mãos à frente do rosto e inflando seus pulmões gritou. – VOCÊ É UM COMPLETO TRASGO!!! – e correu para frente do trem, ao mesmo tempo que começava a sentir culpa e vergonha. Ron não merecia aquilo tudo. Talvez pedisse desculpas mais a noite, em Hogwarts.
Sua mente foi assaltada por um redemoinho e voltou a sonhar.
“Esse é o dia mais feliz da minha vida”, sorria Hermione observando os convidados na igreja. Era dia do seu casamento. Estava em um lindo vestido de noiva e o véu arrastava-se mais de um metro no tapete vermelho da igreja. Ao seu lado estava seu pai, todo sorridente para a filha, e ao som da marcha nupcial começaram a caminhar.
Por algum motivo Hermione parara de andar, estava na metade do caminho quando tentou ver quem era o noivo. Não podia ver, seu rosto estava embaçado como se existisse um vidro ofuscante ali, atrapalhando sua visão. Nesse momento virou-se bruscamente para o lado e seu pai havia desaparecido e em seu lugar estava Fleur Delacour, impecavelmente linda.
- Vai se casar Granger?– falava Fleur, mas sua voz era de Lilá Brown – Eu acho que não – correndo em direção e parando em frente ao noivo, dizendo: – Amo você!.
Seu noivo subitamente se transformara em um grande e feio trasgo montanhês, agarrou Fleur pela cintura e saiu andando para a parte de trás da Capela. Fleur acenava e sorria afetadamente para Hermione.
- AAAHHHHHHHHHH !!!! – esganiçava Hermione no meio das gargalhas dos convidados.
- Hermione, HERMIONE!
Abrindo os olhos viu Gina debruçada em sua cabeça e sacudindo-a, estava com uma cara séria.
- O que houve? Você estava tendo pesadelos? – perguntou Gina ainda preocupada – Você não parava de gritar trasgo, burro, casamento e ficava se debatendo com a colcha e o travesseiro.
Hermione se sentou envergonhada, ainda se lembrava do sonho que acabara de ter.
- Que horas são? – mudando rapidamente de assunto, pois não queria discutí-lo com a amiga.
- 8:40 – afirmou Gina consultando o seu relógio.
- Droga! – esganiçou – Estou completamente atrasada e ainda estou com a roupa de ontem, eu estava tão.... nervosa.
Gina riu e levantou um prato de torradas com geléia.
- É, deu para perceber – disse empolgada – Os meninos ficaram preocupados com você e como eles descobriram que não podem entrar aqui, pediram para ver o que estava acontecendo.
- Preocupados, é? – olhando de esguelha para Gina
- É, principalmente Ron – dizendo casualmente – Falou que você era amiga dele assim como Harry é, e estava preocupado com seu bem-estar. Me obrigou até de trazer as torradas.... não que eu não quisesse trazer, é lógico. – acrescentou rapidamente, ficando levemente rosada – Afirmou que você não teria tempo de descer e tomar o seu café no Salão Principal – agora com um tom que mais lembrava uma risadinha abafada – e que Artimancia era quase impossível de barriga vazia.
Hermione levantou as sobrancelhas e Gina corou novamente.
- Ele viu seu horário quando a profª McGonagall pediu que lhe entregasse urgente. Desse jeito, Ron me empurrou o prato de torradas, falando rapidamente que seria quase impossível associar letras e números, fazer contagens e somatórias com o estômago roncando, pois tinha experiência própria.
- Experiência própria? – exclamou curiosa enquanto calçava os sapatos.
Gina ficou estranhamente sombria.
- Meu irmão ficou muito diferente depois que recebeu suas notas no N.O.M. pela coruja da Escola. Não parava de ler livros de feitiços. Pensávamos que ele havia levado bomba no exame, principalmente mamãe – sua expressão ficara mais animada – mas isso ate vermos seus resultados. Mamãe dava pulinhos de felicidade. – abafando uma risada – Mas o que ficou realmente estranho foi quando começou a ler “Aritmancia: uma fonte de diversão”. Até Fred e Jorge caçoaram dele. Papai ficou meio desapontado, queria que Ron cursasse “Estudo sobre Trouxas”. Essa fixação de papai. – rolando os olhos para o teto.
Hermione parecia admirada. Ron que sempre repudiara Aritmancia, agora estava lendo por livre e espontânea vontade.
- Sabe – disse Gina, interrompendo o pensamento de Hermione – sempre achei o meu irmão adorável, mas é um completo doido!
- Ele não é doido! – exclamou Hermione – só porque leu sobre Aritmancia no verão, talvez ele seja só um pouquinho atrapalhado. Eu também leio essas matérias nas férias de verão e não me acho doida – acrescentou rapidamente ao perceber que Gina havia se sobressaltado e ficado com cara de indignação.
- Hermione, estamos falando do Ron – falava hesitante – ele não é nenhum gênio e só lê quando está em apuros buscando uma solução.
Hermione não disse nada, pois sabia que a amiga havia dito a verdade.
- Mesmo assim, pode estar mudando – disse triunfante e olhando de esguelha para Gina.
- O Ron? – exclamou – É mais fácil Fred ou Jorge se tornarem Ministro da Magia – andando para a saída do dormitório e desaparecendo.
Gina tinha razão novamente, o amigo nunca iria mudar, não aquele Ron que ela conhecia, mas estava apreciando essa mudança.
Terminando de colocar os livros na mochila e levando a última torrada à boca, ela desceu as escadas rumando para sua primeira aula do ano, mas não podia parar de imaginar, sorrindo, como teria sido a cena do Ron sentado em uma mesa, lendo e calculando em tabelas de Aritmancia.
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Nota do Autor: Mais um capitulo. Espero que Gostem. Abraços.
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