O início do pesadelo



Capítulo XXVII
O início do pesadelo



A boca de Rony ainda permanecia entreaberta, deixando o garoto experimentar um gosto salgado. O gosto das lágrimas que ainda escapavam de seus olhos azuis cobalto. O gosto do suor de seu coração. Coração que parecia incapaz de parar de saltar loucamente e bombear paixão por suas veias, banhando cada célula do seu corpo desse sentimento infindável que só alguém em todo o mundo seria capaz de fazê-lo sentir. Afundando seu corpo e sua alma, sua razão e sua emoção, num poço morno chamado amor. Amor por Hermione Granger.

-Mione. – ele sussurrou roucamente, enquanto os cantos molhados de seus lábios começavam a se entortar para desenhar um sorriso e sua mente corria numa trilha rebuscada de incoerentes pensamentos:

“Será possível?” – ele pensava. – “Será possível que essa seja a mesma menina que riu do meu feitiço e notou uma sujeira em meu nariz? A mesma garota por quem eu vomitei lesmas? A menina por quem entrei na floresta proibida e encontrei uma comunidade inteira de acromântulas famintas está apaixonada por mim? A-PAI-XO-NA-DA? Por MIM?”

-Mione...
– ele voltou a murmurar correndo uma mão por entre os fios de seus reluzentes cabelos vermelhos. – MINHA Mione! – completou soltando uma grande risada e sobressaltando alguns pássaros pousados à janela.

Rony sentiu vontade de pular e rodopiar no mesmo lugar, por mais idiota que isso parecesse. Ele queria gritar e dançar, sorrir e chorar, guiado por um ímpeto de emoções que tomavam conta de cada molécula do seu ser. Mas antes que o garoto se rendesse e começasse a girar como um pião ou dançar como uma Veela, um gemido amortecido pegou sua atenção e o puxou bruscamente de volta à realidade. Ele desviou seu olhar na direção do barulho para ver um Harry adormecido, mas bastante agitado. O menino, que claramente estava tendo um sono muito conturbado, se revirava sob os lençóis e suava frio, resmungando e ofegando, o que fez o ruivo se aproximar e encará-lo cautelosamente.

Harry se debatia vigorosamente e palavras desconexas deixavam sua boca. Rony se ajoelhou ao lado da cama do amigo, chamando baixinho e tentativamente: - Harry?

Não se sabe se por algo em seu sonho ou se pelo som da voz do ruivo, mas o garoto deu uma remexida particularmente forte, chutando suas mantas e carranqueando antes de falar com um desespero evidente:

-Hermione... Não... Não, Hermione!

Os olhos azuis de Rony se arregalaram imediatamente, quase atingindo o tamanho de duas bolas de golfe. Ele tocou o amigo no ombro, dando-lhe uma leve sacudidela e chamando-o com mais urgência:

-Harry! Acorde, Harry!

Harry tomou um impulso e se sentou bruscamente, um grito abafado deixando sua garganta enquanto suas duas mãos apertavam sua testa.

-Harry, o que houve? O que está acontecendo? – indagou Rony fitando o menino intensamente.

-Eu... eu... Voldemort!... – disse ele se esforçando para falar, a dor na cicatriz o cegando. – Ele... está... feliz!... Hermione...

-O que... O que tem a Mione?
– exigiu o ruivo parecendo assustado.

-A felicidade dele tem... tem a ver com ela. – concluiu Harry com dificuldade.

Rony boquiabriu-se durante alguns instantes, parecendo muito pálido, antes de conseguir murmurar:

-M-mas... como assim, Harry?

-Eu não sei.
– respondeu o outro esfregando a cicatriz e lutando para ficar de pé. – Eu não sei como, mas tem.

Ele se ergueu, oscilando sobre seus pés e fitou Rony com uma expressão séria, porém determinada:

-Esqueça as brigas agora, Rony. – falou. – Nós precisamos encontrá-la.

Rony encarou o amigo de volta e acenou com a cabeça, seus olhos arregalados e sua mão ainda segurando a carta. Mas seu coração tornara-se repentinamente apertado e muito quieto. E com a certeza de que ele só voltaria a dançar novamente quando encontrasse seu combustível, o garoto embolsou a carta próxima ao peito e seguiu Harry para fora do dormitório. Sim, ele a encontraria. Custe o que custar, ele traria de volta o combustível para seu coração. O combustível chamado Hermione Granger.

*****



Os pés de Hermione se encontraram com o chão numa força demasiadamente grande. Em parte pelo impacto e em parte pelo mal-estar que a menina já estava sentindo, ela tombou para a frente e sentiu o peso de seu corpo desabando sobre os seus joelhos, que afundaram numa terra úmida, fofa e coberta por mato. Firmando ambas as mãos no chão de cada lado de si e tentando inutilmente controlar a tontura (que havia aumentado consideravelmente com a viagem do Portal), Hermione abriu os olhos e ergueu o rosto, olhando ao redor. Com a mente ainda girando em confusão e ainda sem encontrar energia o suficiente para ficar de pé, a menina constatou que estava num lugar escuro e sombrio, com muito mato e algumas árvores espaçadas aqui e ali, erguendo-se imponentes e mostrando suas silhuetas fantasmagóricas sob a lânguida luz do luar. À medida que seus olhos foram se acostumando com a escuridão, a garota identificou o contorno de um extenso morro ao longe e o esboço de uma grande construção à sua encosta, que parecia se tratar de uma enorme e antiga casa senhorial. Assim, com o coração falhando uma batida, ela soube imediatamente que deveria estar à quilômetros de Hogwarts.

-Onde eu estou? – ela murmurou se arrastando e se sentando num largo, sujo e retangular pedaço de mármore. Olhando à suas costas, Hermione discerniu à distância uma cruz de madeira contra o céu escuro e sem estrelas da noite. O objeto estava encarrapitado sobre o teto de uma pequena capela e balançava precariamente sob o efeito do impiedoso vento que uivava e levantava a poeira do chão daquele lugar macabro. O mato também dançava sinistramente e foi com horror que a menina notou outras diversas cruzes menores em todo seu redor, encabeçando construções mal-conservadas que lembravam horrivelmente...

-Túmulos! – ela exclamou, o desespero nítido em sua voz. – Eu estou cercada por túmulos!

Encontrando forças em algum lugar dentro de si, Hermione se ergueu num salto, no mesmo momento em que percebeu que o pedaço de mármore que ela estava sentada há pouco se tratava também de uma simples e imunda sepultura, tão velha que o nome e a data gravados sobre sua superfície já tinham sido totalmente degradados pelo tempo.

-Isso é um cemitério. – ela cochichou com a voz trêmula, esfregando freneticamente uma mão contra a outra.

Um barulho amortecido de passos ecoou pelo ar em companhia aos murmúrios do vento e com um sentimento de alerta, Hermione alcançou para sua varinha no bolso interno de suas vestes. Mas foi então que uma vertigem particularmente aterradora lhe atingiu e ela fechou os olhos, apenas em tempo de ouvir uma voz masculina vagamente familiar pronunciar atrás de si:

-Accio varinha!

A garota sentiu o objeto deslizar fora de seus dedos suados e com o coração acelerado, começou a se virar para encarar o recém-chegado, mas antes que completasse a ação, a voz berrou outro feitiço e fortes e grossas cordas envolveram todo seu corpo, a imobilizando. Um arrepio avassalador correu sua espinha e naquele segundo ela soube que algo terrível estava por vir.

*****



Harry e Rony desceram as escadas do dormitório masculino saltando dois degraus de cada vez. Harry estava muito suado, com mechas de seu cabelo escuro grudando sobre sua testa, e Rony estava branco-coalhada, os reluzentes olhos azuis ainda arregalados. Assim que ambos entraram na sala comunal, visualizaram Gina sentada à um canto com outros quintanistas, perdida entre livros, penas e pergaminhos.

-Gina! – chamou Harry com urgência se aproximando da ruiva. – Você viu a Hermione?

-Ah...?
– fez ela se virando para olhá-los. – Oi, Harry...

-Você VIU a Hermione?
– cortou Rony impaciente.

-Não, eu não a vejo desde o almoço. – respondeu a menina encarando os garotos atentamente. – Aconteceu alguma coisa? Vocês parecem... afobados.

Harry a puxou pela mão, afastando-a dos olhares curiosos dos outros alunos sentados à mesa de estudos.

-Agora não tenho tempo para explicar, Gina, mas precisamos encontrar a Hermione o quanto antes. Você tem alguma idéia de onde ela possa estar?

-Não.
– falou ela lentamente. – Na biblioteca, talvez?

-Certo, vamos até lá.
– declarou Harry já começando a caminhar para a saída, mas Rony o segurou pelos ombros.

-Nós temos outras maneiras de encontrá-la. – disse ele sério. – Quem sabe com uma ajudinha dos Marotos...

-É claro!
– exclamou Harry. – O mapa!

-E o C.L.I.
– lembrou Gina.

Os três se olharam por um segundo.

-Eu vou buscá-los. – disse Harry com firmeza. – Rony, enquanto isso você pode perguntar por aqui se alguém a viu...

-E eu vou verificar no dormitório.
– falou a ruiva.

Harry e Gina partiram em seguida, cada um para uma escada e Rony viu-se sozinho e desnorteado. Ele apertou ambas as mãos sobre seu rosto, murmurando num tom abafado:

-Mione... Onde você está?

-Oi, Monitor.
– disse uma vozinha à suas costas, fazendo-o se virar.

-Oi, Adam. – respondeu ele rispidamente, pouco disposto a suportar o garotinho no momento.

-Está tudo legal? – insistiu Adam. – Parece que todo o mundo resolveu passar mal hoje, a Mon-

-Olha, Adam, agora não tenho tempo, ok?
– cortou Rony, impedindo o menino de completar a frase. – Estou muito ocupado.

Adam adotou uma expressão bastante amuada, mas Rony sequer reparou, já que Harry voltava correndo, tropeçando pelos degraus e Gina também já juntava-se a eles.

-Eu não a encontro em lugar algum nesse mapa. – ofegou Harry. – E o C.L.I. não está sendo de nenhuma ajuda, tampouco. – completou entregando o cartão prateado nas mãos do ruivo, que leu avidamente as palavras sobre o bonequinho azul intitulado “Hermione Granger”:

“Hermione Granger: Local não identificado.”

-Mas que diabos!
– exclamou o ruivo socando o encosto de uma poltrona próxima. – Essa porcaria não serve para nada!

Ele fez menção de atirar o C.L.I. pela janela, mas Gina segurou o braço do irmão:

-Espere, não seja estúpido! – ralhou ela. – Nós ainda podemos saber o que é que ela está sentindo. – somou a menina arrancando o cartão da mão do garoto e o virando para observar as palavras sobre os bonequinhos vermelhos:

“Gina Weasley – Preocupada”

“Hermione Granger – Amedrontada”

“Rony Weasley – Preocupado/Ansioso/Nervoso”

“Luna Lovegood – Tranqüila”

“Neville Longbottom – Calmo”

-Amedrontada?
– sussurrou Rony, o restinho de cor que ainda restava em sua face se esvaindo rapidamente. Gina engoliu com força e Harry trocou incomodamente sobre seus pés. Adam, por sua vez, ainda de pé ali do lado, observava os três curiosamente.

-Talvez... talvez você não tenha olhado direito, Harry. – arriscou Rony puxando o mapa da mão do amigo. – Não é POSSÍVEL que não haja um pontinho aqui intitulado “Hermione Granger”. Em algum lugar ela TEM que estar!

-Eu sei onde a Monitora está.
– declarou a vozinha infantil de Adam, fazendo todos se virarem para observá-lo.

-Você sabe? – perguntou Harry.

-Onde está a Mione? – reforçou Gina.

-Por que você não disse antes? – ralhou Rony.

-Ora, ninguém me perguntou. – ele encolheu os ombros. – E eu não sou adivinho nem nada para saber que vocês estavam procurando por ela...

-Certo, Adam!
– o ruivo se ajoelhou ficando da mesma altura do garotinho e o segurando pelos ombros. – Onde está a Hermione?

-Com a professora Brinks.
– declarou o menino com simplicidade.

Harry e Rony trocaram um relance assustado.

-Quando foi que você a viu? – indagou Harry.

-Não faz muito tempo. Ela estava seguindo para a sala da professora e não quis que eu a acompanhasse até a Ala Hospitalar, mas ela me deu um beijo na bochecha, sabem? – contou o menino visivelmente empolgado.

-Ala Hospitalar? – estranhou Gina.

-Beijo? – resmungou Rony.

Adam acenou com a cabeça.

-Por que ela iria para a Ala Hospitalar? – continuou Gina.

-E por que ela beijaria você? – prosseguiu Rony.

-Ela disse que estava com um mal-estar. – contou o garotinho. – E ela me beijou porque me acha adorável...

-É, suponho que ela irá querer que os FILHOS dela sejam todos como você.
– disse Rony friamente.

-Não seria nada mal ter SOBRINHOS assim. – falou Gina olhando o irmão com um sorriso danoso.

Rony corou, mas antes de retrucar foi interrompido por Harry, que tinha recuperado o mapa das mãos do ruivo e tinha afundado na poltrona, falando com um enorme suspiro:

-Não é só Hermione quem não está em lugar algum do mapa. – sua voz saiu estrangulada. – A Brinks sumiu também.

Um silêncio intenso se seguiu à essa declaração. Os olhos dos garotos se buscaram instintivamente e foi Harry o responsável pelas primeiras palavras:

-Você sabe o que isso significa, não sabe, Rony?

O ruivo fechou os olhos em claro sinal de desespero, sua voz tropeçando em sua garganta e saindo abafada e gaguejante quando ele voltou a falar:

-Sim. Você estava certo, Harry. – ele disse. – O tempo todo você estava certo. E a Brinks... a Brinks...

Harry balançou a cabeça tristemente: - A Brinks capturou Hermione.

*****



Aterrorizada, imobilizada pelas cordas e deitada de costas contra o mármore gelado da velha sepultura, Hermione observava o céu da noite escuro e sem estrelas, apenas a lua reinando soberba naquela imensidão negra. O som amortecido dos passos agora se tornava cada vez mais acentuado, abafando os assovios do vento e até mesmo o roncar distante de alguns trovões. A garota se sentia tonta e fraca, sensações que eram quase camufladas pelo intenso medo que tomava conta de todo seu ser. Uma pequena sombra escureceu sua visão segundos antes de uma figura pequena e encapuzada entrar em foco, estendendo uma mão escandalosamente reluzente para ela e a erguendo estupidamente pelos ombros.

-Rabicho... – ela murmurou boquiaberta, seu coração batendo na velocidade da luz e seu corpo inteiro tremendo como uma grande gelatina.

O pequeno homem pareceu se perturbar com a menção de seu nome, mas preferiu ignorar, agarrando a menina pela cintura e começando a arrastá-la numa direção mais ao centro do cemitério. Hermione sentiu aquela mão firme e áspera apertar em volta do seu corpo e o enjôo que ela estava sentindo cresceu assustadoramente. Rabicho exalava um fedor de suor e sujeira, fazendo a garota ter ânsia de vômitos. Ela tinha certeza que se sentimentos pudessem ser associados com odores, esse seria exatamente o cheiro da covardia e da inescrupulosidade.

A cabeça de Hermione girou uma vez mais e ela sentiu seus pés deslizando sobre o chão, com toda a certeza deixando para trás uma trilha funda sobre a terra úmida e entre o mato. Ela queria chutar e esmurrar, mas seus pés e braços estavam firmemente envolvidos pelas cordas. Ela queria enfeitiçar aquele homem sórdido, mas sua varinha tinha sido tirada de si. Ela queria gritar, mas isso parecia uma idéia ridícula, além do fato daquele cemitério parecer intimidar qualquer ação que levasse a um barulho mais alto. Assim, Hermione fez a única coisa que ainda sentiu que poderia fazer: ela chorou.

Poucos minutos depois, ambas as bochechas da garota já estavam completamente molhadas e vermelhas. E foi por entre lágrimas, com uma visão ligeiramente turva, que a menina viu um grande círculo de pessoas encapuzadas logo à frente.

-Comensais da Morte. – os lábios dela mexeram-se formando as palavras, mas não emitindo som algum.

Hermione poderia ver também que haviam duas figuras paradas ao centro do círculo e à medida que Rabicho a arrastava para mais perto, a imagem tornava-se mais nítida. Uma das figuras era alta e magra, e mesmo a garota não vendo sua face viperina, ela já sabia de quem se tratava, já que sua mera presença exalava maldade. Ela estava a poucos metros de Lorde Voldemort.

A segunda pessoa ao centro do círculo também era alta, embora não usasse capa nem vestes negras. E estava, assim como Hermione, envolvida por grossas cordas. Foi então que Rabicho a arrastou por mais alguns metros e com outro assomo de horror (dessa vez combinado com surpresa), ela identificou a figura amarrada ali. Ela reconheceu aqueles olhos profundos que tanto a ajudaram. Olhos que refletiam o mesmo terror e medo que ela própria sentia. Olhos que pareceram ainda mais desesperados ao cruzarem com os dela. Os olhos de Rebecca Brinks.

*****



Rony tinha escorregado lentamente para a poltrona mais próxima e escondido seu rosto entre as mãos, sua respiração pesada. Gina arregalara os olhos em nítida expressão de confusão e surpresa, mas Harry assumiu uma postura firme e um brilho decidido no olhar.

-Precisamos avisar Dumbledore. – disse ele de modo resoluto, embora ainda oscilasse sobre seus pés e esfregasse sua cicatriz.

-Claro, vamos! – exclamou Gina de prontidão. – Anda logo, Rony! – ela somou se virando para o menino.

-Mione... – murmurou o ruivo erguendo a cabeça. Os olhos dele estavam desfocados e tinham virado uma sombra funda de vermelho, fazendo Harry e Gina desconfiarem que ele estava lutando uma batalha perdida contra as lágrimas.

-Nós vamos encontrá-la. – falou Gina dando um leve aperto no ombro do irmão. – Não se preocupe.

Rony se limitou a acenar com a cabeça e assim os três atravessaram a sala comunal, cruzaram o buraco do retrato e correram rumo ao escritório do diretor.

-Ei, garotos! – chamou uma voz logo atrás, no momento em que eles iriam virar uma curva e tomar outro corredor. Os meninos se viraram e se depararam com a figura simpática e translúcida do fantasma da Grifinória, acenando alegremente.

-Desculpe, Sr.Nicholas, mas agora estamos com pressa. – disse Gina encarando o fantasma por cima do ombro.

-Sim, entendo. – ele falou parecendo meio emburrado. – Mas só que se vocês forem por aí vão se atrasar ainda mais para o que quer que seja a razão dessa pressa. Pirraça está atirando bombas de bosta sobre todos que tomam essa direção e agora também está planejando derrubar um lustre bem pesado na cabeça do próximo que se aventurar por esse caminho.

-Droga!
– praguejou Harry. – Nós vamos perder muito tempo, esse é o caminho mais curto para o escritório do Dumbledore!

-Onde está o Barão Sangrento quando mais precisamos dele?
– resmungou Rony, sua voz entre exasperação e desespero.

-Ah, meninos, poupem o trabalho! – exclamou o fantasma observando-os. – Se vocês estão atrás do diretor eu receio que terão que esperar...

-Esperar?
– retrucou Rony irritado. – Desculpe, mas se você não reparou, nós não temos tempo para isso agora...

-Dumbledore não está no castelo no momento.
– continuou Nick ignorando o ruivo. – Eu vi quando ele saiu esta manhã.

-Saiu?
– indagou Harry, perplexo.

-Ah, não... – choramingou Gina, baixinho.

-Inferno sangrento! – xingou Rony chutando a parede, mas logo depois encostando-se sobre ela e lentamente ir deslizando para o chão, onde sentou-se, suas mãos correndo por seus cabelos vermelhos antes de cobrirem seu rosto novamente.

-Tem algo que eu possa fazer por vocês? – perguntou o fantasma notando o desespero dos meninos.

-Não, Sr. Nicholas, obrigada. – falou Gina balançando a cabeça melancolicamente e fitando Nick acenar e flutuar para longe deles.

-O que nós faremos agora? – indagou Rony, seu rosto ainda oculto pelos dedos.

-Vamos até a sala da Brinks. – disse Harry repentinamente. – Quem sabe não encontramos uma pista ou algo que nos leve à Mione...

Dessa forma, uma vez mais os três adolescentes saíram em disparada, agora na direção do segundo andar, que era onde se localizava a sala da professora de Defesa Contra as Artes das Trevas.

-Está aberta. – ofegou Gina assim que eles chegaram. – Vocês acham que nós devemos...?

Mas Harry e Rony não esperaram a ruiva concluir a frase. Eles empurraram a porta e entraram cautelosamente, ambos de varinhas em punho. A sala estava completamente silenciosa e deserta, suas várias mesinhas nos mesmos lugares, os mesmos livros, a mesmíssima escrivaninha...

-Não há nada aqui. – murmurou Rony espiando ao redor. – Aquela coruja seca dissimulada da Brinks deve estar bem longe com a Mione... – completou ansioso.

-Como nós iremos encontrá-las agora? – indagou Gina preocupada.

-Vamos sair daqui, nós ainda podemos avisar a McGonagall. – disse Harry se apressando para a saída, a ruiva ao seu encalço.

-Harry, espere! – chamou Rony fazendo os outros dois se virarem. – O que é isso?

Ele apontou para algo sobre a escrivaninha de Rebecca e Harry retornou alguns passos para olhar melhor: um pequeno embrulho decorado em papel de presente verde jazia lá em cima. E com uma etiqueta onde se lia: “Para Harry Potter.”

-Isso não está me cheirando nada bem.
– murmurou Gina se aproximando. – É melhor você não abrir, Harry.

O menino encarou o pacotinho por alguns segundos, sua expressão em branco.

-A Gina tem razão, Harry. – disse Rony fitando o objeto também. – Está mais que óbvio que isso é uma armadilha... Em todo o caso, é a única pista que nós temos e é da vida da Mione que estamos falando... Eu abro. – completou decidido, espichando a mão para o pacote.

-Não, Rony. – falou Harry alcançando para o embrulho também. – Eu não vou deixar outro amigo entrar em perigo por minha causa. EU abro!

Gina ainda tentou dissuadi-los da idéia, mas no segundo em que as mãos dos dois garotos tocaram a superfície do objeto, Harry e Rony sentiram um forte puxão e tudo girou. E a última coisa que eles ouviram antes de entrarem num mundaréu de vento e cores, foi o grito abafado e surpreso de Gina.

*****



Terror. Medo. Desespero. Aflição.

Nenhum desses sentimentos e nem mesmo a combinação de todos eles seria suficiente para conseguir expressar exatamente o que Hermione sentiu quando viu a face pálida e esquelética de Voldemort se virar e aqueles olhos vermelhos escarlates se fixarem sobre ela. Não era apenas aquela aparência horrível que congelava toda gota de sangue do seu corpo com terror, mas a presença daquele ser. A face viperina, os olhos vermelhos com pupilas verticais, a boca sem lábios, apenas um buraco talhado na face... Tudo aquilo amedrontava e dava náuseas, mas o que fazia o corpo da garota todo tremer e dava à ela um medo que ela nunca imaginou sequer possível de existir, era a áurea de crueldade e ódio que desprendia de Voldemort e cercava todo o ambiente próximo a ele.

-Ótimo! – exclamou ele numa voz aguda e sem vida, fazendo cada pêlo do corpo da garota se eriçar. – Chegou quem faltava para o espetáculo!

Todos os comensais se viraram também para encará-la e um grito alto, triste e fino cortou o ar gélido da noite:

-NÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOOOOO!!! A HERMIONE NÃO, A HERMIONE NÃO, POR FAVOR, NÃO A MACHUQUEM, NÃOOOO!!

Hermione ouviu os gritos de Rebecca Brinks e pareceu senti-los em seu coração. Eles estavam carregados de dor. Mas Voldemort meramente soltou uma risada fria e prosseguiu com sua voz cruel:

-Agora só falta nosso espectador de honra... Já já nosso querido Harry Potter estará chegando...!

Ele voltou a gargalhar e os comensais acompanharam, grunhindo idiotamente com risadas. A respiração de Hermione parou em sua garganta e cada osso de seu corpo tremeu ao ouvir aquela voz gélida acompanhada das risadas cruéis. A presença maligna de Voldemort seria capaz de fazer murchar um jardim em flor ou fazer tempestade em um dia ensolarado.

Desde seus onze anos, quando recebeu a carta de Hogwarts e descobriu que era uma bruxa, a garota vivera inúmeros desafios e enfrentara incontáveis perigos, mas nunca sentira tanto medo. Medo por ela, por Rebecca, por Harry, pelo mundo bruxo. Medo de nunca poder ouvir os conselhos da professora outra vez ou poder ver o rosto sorridente do amigo depois de uma partida de Quadribol. Medo de não mais poder desfrutar de uma aula ou mergulhar num bom livro. Medo de não ter outra chance de se divertir com Gina numa conversa de garotas ou admirar a lua incidindo sobre o lago de Hogwarts. Mas principalmente, medo de não poder mais ver os olhos azuis de Rony. Medo de nunca poder sentir os lábios dele completamente sobre os dela para dizer exatamente o gosto que eles possuem. Medo de jamais ter a chance de, de fato, viver o sentimento que ela levava em seu peito desde seu primeiro ano. Medo de não desfrutar seu intenso e irremediável amor com o único que sempre o possuiu. Enfim, medo de nunca ficar junto de Ronald Weasley.

Outra lágrima solitária desceu pela bochecha de Hermione e ela rezou silenciosamente para que alguma coisa acontecesse. E foi nesse momento que um barulho amortecido fez-se ouvir próximo dali. Um barulho como o de algo sólido se encontrando com o chão de terra...

*****



N/A: Bem pessoal, esse capítulo foi só mesmo para dar um gostinho para o próximo, mas espero que tenham gostado.

Muitíssimo obrigada de coração a todos que leram e comentaram (eu li cada comentário com muito amor e satisfação) e também àqueles que sempre comentam e deixaram de comentar nesse capítulo por algum motivo. E agradeço também aos leitores silenciosos que nunca comentam, mas se quiserem opinar estejam à vontade e me farão muito feliz, ok?

Beijos nos corações de todos!

Malfeito feito!


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Comentários (2)

  • Andréa Martins da Silva

    Realmente cheguei a desconfiar que a professora Brinks era do mal, mas que bom saber que Mione sempre tem razão. Capítulo sinistro.

    2013-11-09
  • Lana Silva

    Nossa O.O eu sabia que a Rebeca nem era tão ruim assim tadinhaAgora tive a impressão de que Adam pode ser mal - só que como eu sou lenta pode ser que não seja.Ameiiiiiii o capitulo! 

    2012-03-08
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