Lufa-Lufa: Verdade ou Desafio



Capítulo XVIII
Lufa-Lufa: Verdade ou Desafio



-Então ela realmente não se lembra de nada outra vez? – perguntou Harry baixinho à Rony.

-Não. – respondeu Rony no mesmo tom baixo. – Ela simplesmente acordou e disse que sua cabeça estava doendo e então Madame Pomfrey lhe deu uma poção dizendo que não era nada de mais, apenas um mal estar passageiro.

-Ela estava em transe. Exatamente como da outra vez...

-O que Dumbledore acha de tudo isso?

-Ele pareceu realmente preocupado. As profecias da Trelawney não costumam falhar quando ela as faz nesse estado, não é mesmo?

-M-mas...
– gaguejou Rony – Ela disse que alguém iria...

-Morrer.
– completou Harry num sussurro. – Sim, ela disse.

-Você não acha que... que... é alguém... de nós, eu quero dizer... do nosso lado?

-Vida inocente.
– disse Harry balançando a cabeça. – Essas foram as palavras dela: Vida inocente. Não pode ser alguém do lado das Trevas, pode?

O ruivo engoliu em seco e esfregou com força uma mão sobre a outra, olhando para baixo.

-Dumbledore não fará algo a respeito? – ele murmurou.

-Disse que irá investigar. – bufou Harry meio exasperado. - Que o melhor que eu tenho a fazer por enquanto é não pensar nessa história e me manter dentro das normas de segurança.

-Bem, - falou o ruivo encolhendo os ombros – se é o que Dumbledore diz...

-Você não pode estar falando sério.
– Harry olhou incrédulo para o amigo. – Você não pode realmente pensar que nós devemos esquecer essa história.

-Eu não disse isso.
– defendeu-se Rony. – Só estou dizendo que por enquanto não há exatamente nada que possamos fazer, há?

Harry pareceu irritado, mas grunhiu de volta: -Suponho que não.

Os meninos permaneceram em silêncio durante algum tempo, apenas fitando o fogo da lareira da sala comunal e pensando nas arrepiantes palavras da professora.

-Mas ONDE está a Hermione, afinal? – Rony falou de repente, sobressaltando Harry.

-Eu já disse pelo menos umas três vezes que não sei. – o menino retrucou. – Provavelmente na biblioteca...

-Mas o que ela iria fazer na biblioteca todo esse tempo? Já fazem quase cinqüenta minutos que as aulas terminaram...

-Pouco tempo para os padrões da Hermione.

-É, mas-
– começou o ruivo, mas Harry o interrompeu:

-Tem um jeito de confirmarmos. – disse o garoto enquanto colocava sua mochila sobre o colo e procurava por algo em seu interior. – Aqui, o C.L.I.... – completou puxando o cartão prateado e lançando isso para Rony.

Rony pegou o cartão e analisou cuidadosamente.

-Vamos ver... no bonequinho azul de Hermione Granger... “Outro lugar em Hogwarts”! Ela não está na biblioteca, então! – exclamou.

Harry apenas ergueu as sobrancelhas.

-E no bonequinho vermelho... – Rony continuou falando, virando o cartão – “Triste” e “Preocupada”. – murmurou, surpreso.

-Triste e Preocupada?

-É!
– falou o ruivo se levantando da poltrona em que estava sentado. – Será que ela sabe o que aconteceu?

-Como poderia? Nós dois éramos os únicos na sala além da Trelawney. E se ela soubesse ela teria vindo correndo a nossa procura, não?

-Teria.
– disse Rony lentamente. – Bom, ela não pode estar no Salão Principal, nem na biblioteca... ela colocou “dormitório” aqui?

-Não me lembro...
– falou Harry pensativo – Ei! Mas tem um jeito de saber exatamente onde ela está!

-É claro!
– exclamou Rony, entendendo. - Com uma ajudinha dos Marotos!

-Está no meu malão, vamos!


Os garotos correram os degraus acima para o dormitório e poucos instantes depois Harry já puxava um pergaminho aparentemente em branco do meio de suas coisas.

-Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom. – disse ele, dando um toquinho com a varinha sobre o pergaminho. Instantaneamente um mapa de toda a escola começou a se formar e centenas de pontinhos pretos se movimentavam sobre ele. - Me ajude a procurá-la.

Rony se ajoelhou no chão ao lado de Harry e ambos esquadrinhavam o mapa com os olhos atrás de um pontinho intitulado “Hermione Granger”.

-Aqui! – disse Rony apontando um determinado lugar no pergaminho. – Ela está numa sala no segundo andar e está com-

-Rebecca Brinks.
– suspirou Harry, cortando o amigo. – Na sala dela, por sinal.

*****



Hermione mal esperou o final da aula de Aritmancia para se apressar fora daquela sala. Desde que tinha acordado de mais outro daqueles pesadelos, a garota não conseguira mais dedicar nem o mínimo de concentração ou atenção às palavras da professora Vector. Ela já não chorava, mas estava desestabilizada e ainda ligeiramente ofegante. Então, assim que o sinal anunciou o fim das aulas do dia, Hermione guardou suas coisas de qualquer jeito em sua mochila e saiu desabalada pelos corredores. Seu primeiro impulso foi o de voltar à Torre da Grifinória, subir para seu dormitório e se esconder no fundo de sua cama de dossel. Mas sua mente estava bastante hiperativa e trabalhando muito furiosamente para que ela conseguisse dormir. E apenas o mero pensamento de adormecer e se deparar com outro pesadelo a fazia se sentir doente. Sem perceber onde seus pés estavam a guiando, Hermione continuou caminhando e só se deu conta de onde estava quando já se encontrava parada em frente à porta simples da sala da Professora de Defesa Contra as Artes das Trevas. Ela e Rebecca Brinks vinham se pondo cada dia mais próximas e a garota se sentia extremamente bem na companhia da mulher. A professora Brinks estranhamente possuía um certo dom para acalmá-la. Assim, suspirando fundo, Hermione bateu à porta.

-Hermione! – exclamou Rebecca com um grande sorriso ao vê-la. – Eu não esperava por você hoje... Entre, querida.

A menina aceitou o convite e em silêncio entrou e sentou-se na cadeira de sempre.

-Algum problema, Hermione? – perguntou a professora observando atentamente a expressão da garota e sentando-se de frente a ela do outro lado da escrivaninha. – Você parece... preocupada.

-Eu... Professora Brinks, existe uma razão lógica que explique uma pessoa ter pesadelos freqüentemente?
– indagou Hermione erguendo os olhos aflitos para a mulher.

Rebecca pareceu ligeiramente surpresa e estudou a garota por um momento antes de voltar a falar.

-Existem várias razões, na verdade. – começou ela. – Traumas, preocupação excessiva a respeito de algum fato, ansiedade...

Hermione balançou a cabeça, inconformada.

-Eu não entendo... – murmurou ela.

-Você anda tendo problema com pesadelos, Hermione?

-Sim...
– falou a garota mordendo o lábio.

-Você gostaria de falar sobre isso?

-Não sei...
– Hermione disse, confusa. – Professora Brinks, o que ocorre é que eles não parecem simples pesadelos... parecem mais do que isso... parecem, de fato... reais.

-Você sempre teve esse tipo de problema?

-Não... começou no último verão.

-E esses pesadelos normalmente giram em torno do mesmo assunto?

-Quase sempre.
– falou a garota. – No início eu sonhava com fatos normais, cotidianos e com as pessoas do meu convívio, o único fator ruim e estranho era que eu me sentia... meio que observada... como se uma presença maligna estivesse comigo... era horrível. – ela colocou as mãos no rosto, aflita. – Mas agora esses pesadelos se foram, ou pelo menos tornaram-se mais raros... Com o fim do verão e o regresso à Hogwarts eu comecei a sonhar coisas diferentes.

-E do que se trata os pesadelos atuais, querida?
– sussurrou Rebecca.

-Bem... De fato são ainda mais estranhos e assustadores. – respondeu Hermione. – Agora em meus sonhos... eu não me vejo como eu mesma. É confuso...

Rebecca pareceu muito interessada.

-Explique melhor, Hermione.

A menina tomou uma respiração profunda antes de continuar:

-Nesses sonhos eu me vejo como outra pessoa. São os MEUS sentimentos e sou EU quem vive as situações... Mas não é a MINHA vida, não é o MEU corpo...

-Continue.
– disse a professora num tom quase temeroso. – Você se vê... como alguém CONHECIDO?

-Não.
– falou ela com simplicidade. – Eu me vejo como uma garotinha.

A professora Brinks arregalou seus olhos profundos e sua face tornou-se ligeiramente mais pálida.

-U-uma... garotinha? – disse a mulher com a voz gaguejante.

-Sim... E apenas o fato de me ver como outra pessoa já é bastante assustador, mas as situações em que eu me encontro durante esses sonhos só faz as coisas ainda piores...

-E que situações são essas, Hermione?

-Bem, todas elas giram em torno da morte de meu pai. Já cheguei a ver seu funeral, seu corpo sem vida... Mas não era o MEU pai, era o pai da garotinha que eu era no momento... ah, desculpe professora, não estou conseguindo fazer sentido, mas isso é tão confuso!


Hermione ergueu um pouco a cabeça e arriscou um relance à professora, mas se assustou com o que viu: Rebecca estava extremamente trêmula e seus lábios tornaram-se uma sombra funda de roxo.

-Professora Brinks? – disse a garota se levantando e caminhando até estar ao lado da mulher. – A Sra. está bem? Eu disse algo errado?

-Não, querida... apenas um mal-estar repentino...
– murmurou ela em resposta, agarrando as duas mãos de Hermione nas suas. – Me conte mais, vamos.

-Hum...
– fez a menina meio desconcertada, sem saber o que dizer.

-Quando foi o último pesadelo? – sussurrou Rebecca, ainda segurando as mãos da garota.

Hermione hesitou por um instante. Seria prudente contar à uma professora que ela tinha dormido no meio de uma aula a ponto de chegar a sonhar? Olhando nos olhos brilhantes e misteriosos da mulher, ela sentiu-se confiante e acabou se decidindo por um sim.

-Hoje. Agora a pouco, na verdade. – ela disse um tanto encabulada.

-Durante uma aula? – perguntou Rebecca.

Hermione sentiu suas bochechas esquentarem antes de afirmar com a cabeça.

-Sim. – disse ela. - Eu... bem... acho que me distraí durante a aula de Aritmancia e acabei... adormecendo. – completou num fio de voz. - Eu sei que foi uma grande falha da minha parte, professora, eu sinto-

-Aritmancia?
– perguntou Rebecca a interrompendo, sua face voltando a empalidecer.

-Sim, mas eu estava prestando atenção, eu juro, não sei o que me levou a-

-Está tudo bem, Hermione.
– cortou Rebecca uma vez mais. – Apenas me conte sobre esse último pesadelo.

-Hum... Certo.
– concordou Hermione, levemente surpresa pelo interesse da Professora Brinks no assunto. – Bem, novamente eu era a garotinha. Mas agora eu estava aqui em Hogwarts, na biblioteca. Então um garoto me encontrou e disse que o diretor queria me ver. Assim eu fiz e segui para o escritório de Dumbledore, que não se parecia como agora, também. Ele estava anos mais jovem... – ela parou e observou: Rebecca parecia se pendurar em cada palavra que Hermione dizia, totalmente concentrada. – Foi aí que tudo ficou horrível outra vez... – continuou a garota após um suspiro. – Dumbledore me disse que... que meu pai estava morto.

-E então?
– Rebecca indagou, seus olhos brilhando.

-Foi só. – respondeu Hermione. – Quer dizer, eu me senti horrível e chorei... Então acordei e estava na sala de Aritmancia e era eu mesma de novo.

-Certo...
– a mulher falou lentamente, apertando de leve as mãos de Hermione.

-Ah sim, - lembrou a garota – e Dumbledore me chamou de Srta. Taylor. Esse era o nome da garotinha. Esse era o MEU nome.

A professora Brinks soltou as mãos de Hermione bruscamente e arregalou ainda mais os olhos. Ela pareceu sem expressão durante alguns segundos fendidos e só então deixou suas costas baterem com força no encosto de sua cadeira. Hermione achou que a mulher iria desmaiar e relutantemente tocou-lhe no ombro.

-Professora? – perguntou ela tentativamente.

Rebecca estava mais pálida e mais assustada do que a garota poderia se lembrar de ter visto alguma vez. Seus lábios estavam roxos como se ela estivesse com muito frio e apertados numa linha fina que lembrava irresistivelmente a Professora McGonagall. Ela ergueu-se da cadeira num salto e se virou de costas para Hermione.

-Professora? – repetiu a menina debilmente. – O que houve?

A mestra continuava de costas, mas Hermione não poderia ver sua expressão nem mesmo se ela se virasse, pois a mulher tinha ambas as mãos sobre a face. Assustada e sem saber como agir, a garota apenas se manteve de pé no mesmo lugar, encarando a figura alta e magra de Rebecca.

-Venha até aqui! – a professora falou repentinamente numa voz aguda, sobressaltando Hermione. A menina fez menção de se mover na direção de Rebecca, mas antes que pudesse sair do lugar, a mulher já estava em sua frente e tinha agarrado sua mão esquerda com as duas dela. Ela acariciou a palma e o pulso de Hermione, fitando abaixo com os olhos tão abertos quanto humanamente possível, e então, bruscamente, a soltou e se virou de costas uma vez mais.

-Professora Rebecca, o que está havendo? – indagou Hermione, sua expressão num misto de receio e confusão.

-Hermione, eu... – começou ela – É apenas essa história de pesadelos. Eu também já tive esse tipo de problema, isso é tudo. – completou, insegura.

-Me perdoe por importuná-la com isso, então, professora.
– disse Hermione olhando estranhamente à mulher.

-Não, não... Está tudo bem. – Rebecca falou numa miserável tentativa de um sorriso.

-Você está certa quanto a isso, professora? – perguntou a garota timidamente. – Não tem nada... a mais?

-Apenas entenda... Não há nada estranho. Não há nada errado. Você há de compreender minhas razões: eu perdi toda minha família. Fatos relacionados à morte me perturbam. Eu sofri por um longo tempo com pesadelos...

-A Sra. conheceu alguém com o nome “Taylor”, professora?
– disse Hermione ainda encarando a mulher com toda sua parcela de atenção.

-Não. – Rebecca falou depois de longos instantes. – Não conheci.

-Então por que-?

-Hermione.
– cortou a professora. – Já é o bastante.

-Me desculpe.
– murmurou a garota abaixando a cabeça.

-Ouça. – disse Rebecca notando a expressão da garota. - Eu já lhe disse o quanto você me lembra minha filha Kim. Ela também sofreu com a morte do pai. Ela também teve pesadelos com isso... Você não acha que é o suficiente para essa história me fazer recordar a minha própria e desestabilizar minhas emoções?

Hermione acenou com a cabeça sentindo-se desconfortável e ligeiramente culpada e envergonhada. Eram os problemas DELA. Os pesadelos DELA. Ela não tinha que ficar levando-os a ninguém, de qualquer maneira. Muito menos à professora Rebecca. A mulher já teve uma carga de problemas que bastasse por toda uma vida e não precisava de mais alguns. E pesadelos não eram algo lógico ou real, de fato. A menina poderia muito bem lidar com isso sozinha, sem ter necessidade de compartilhar. E é exatamente o que ela faria dali para frente. Lidaria com isso. Sozinha.

*****



Foi com um forte pesar em seu peito que Hermione puxou a porta atrás de si e deixou a sala da Professora Brinks. Mas o sentimento logo foi substituído por uma grande surpresa, pois a garota encontrou Rony e Harry parados no corredor um pouco adiante à sala, ambos com expressões preocupadas.

-O que vocês estão fazendo aqui? – perguntou ela olhando de um garoto para o outro.

-Hermione! – exclamou Rony, parecendo aliviado em vê-la. – Até que enfim!

-Está tudo bem?
– indagou Harry a encarando.

-Claro que está... por que não deveria?

-Você estava triste e preocupada.
– disse Rony.

-E o pior: estava com a Brinks. – completou Harry.

-O quê? – falou Hermione, confusa. – Do que é que vocês estão falando?

-O C.L.I. nos informou que você estava triste e preocupada. E o Mapa do Maroto nos mostrou que você estava aqui.
– disse Harry. – O que a Brinks fez para lhe deixar triste e preocupada?

-Não, não Harry.
– suspirou a garota. – Não com isso, de novo. Ela não fez NADA.

-O que aconteceu, então?
– perguntou Rony.

-Nada.

Os dois meninos olharam para ela com expressões céticas e desconfiadas.

-Certo. – disse Hermione. – Apenas tive alguns problemas com a Aritmancia, nada mais.

-Aritmancia?
– falou o ruivo erguendo uma sobrancelha. - Não sabia que a Professora Brinks tinha trocado de posto agora.

Hermione bufou, exasperada.

-Não comece com seus sarcasmos, Rony.

-Mas ele tem razão.
– disse Harry. – Se seus problemas foram com Aritmancia por que não resolvê-los com a professora Vector?

-Ah, deixem de interrogatório!
– Hermione falou, irritada. – Não eram dúvidas sobre a matéria, eu apenas queria alguém para conversar um pouco.

-Eu acho que antigamente NÓS fazíamos esse papel, não, Harry?
– disse Rony ao amigo, também começando a se irritar.

-Por favor, Rony. Eu já lhe disse que não começasse...

-Certo, Hermione.
– falou Harry. - A vida é sua e você conversa com quem quiser. Mas depois não diga que eu não avisei. Você está se metendo com quem não deveria...

-Nós temos opiniões distintas do que é certo e errado.
– disse a menina encarando os olhos verdes do amigo. – Mas eu não quero brigar com você.

-Nem eu.
– respondeu Harry firmemente. – Mas quem sabe eu consiga abrir seus olhos depois do que nós temos para lhe contar.

Rony acenou com a cabeça em concordância e Hermione arregalou os olhos para os amigos. Assim, juntos, o trio seguiu de volta à Torre da Grifinória, enquanto ambos os garotos detalhavam à Hermione o episódio ocorrido com a professora de Adivinhação.

*****



Hermione puxou fechadas as cortinas de sua cama com uma força desnecessária. Há semanas sua cabeça latejava, parecendo demasiada pequena para tantos pensamentos. E as risadinhas fúteis de suas companheiras de quarto não ajudavam em nada no fato. Ela não entendia o que estava acontecendo no mundo. Não entendia o por que de tanta confusão, mistério, maldade... Mas ela principalmente não entendia o que estava acontecendo com ela própria. Todos esses pesadelos, sentimentos, dúvidas... Aquela garotinha... a reação estranha da Professora Brinks... a nova profecia da Trelawney... a mão do Rony segurando a sua... a implicância do Harry com a Rebecca... os dedos de Rony acariciando sua mão... as palavras do Dumbledore... os olhos do Rony misturados com os dela... o nome “Taylor”... Rony a abraçando para protegê-la do frio...

Um calor úmido subiu aos olhos da garota e poucos instantes depois ele foi convertido em lágrimas. Lágrimas grossas e peroladas que acariciavam o rosto da garota e morriam nos cantos de sua boca. Por que tudo tinha que ser tão difícil? Por que tão confuso? Hermione gostava das coisas lógicas, exatas. Palavras essas que pareciam estar muito longe do rumo que sua vida estava tomando. Antigamente as coisas eram mais fáceis, mais simples, mais lógicas. Mas agora... tudo parecia ter sido embaralhado. Como se uma grande mão tivesse vindo e desordenado de propósito todas as peças do perfeitamente montado quebra-cabeça de sua vida. E algumas dessas peças fundamentais tinham se perdido. E Hermione sabia que tinha que procurar por elas, colocá-las de volta no lugar, montar de novo seu quebra-cabeça... Tudo se é perfeito quando se é uma criança. Todas as peças estão no lugar. Mas a mão da adolescência inevitavelmente vem para desordenar as coisas. E a tarefa de montar tudo novamente começa agora. Afinal, os bruxos também crescem. E chegara a hora de Hermione crescer.

Parvati e Lilá ainda falavam animadamente. Algo sobre cabelos, a festa de hoje a noite, garotos e vestidos... A mão da adolescência também tinha bagunçado os quebra-cabeças das meninas, isso era óbvio. Mas era óbvio também que elas não se preocupavam nem um pouco em juntar suas peças. Talvez elas demorassem um pouco mais para decidirem a crescer...

Aos poucos as conversas altas e as risadinhas das garotas foram sumindo, ficando distantes... Hermione se sentiu cansada. Dormir talvez fosse o melhor agora. Ela poderia tentar crescer mais tarde.

*****



-O que vocês acham que vai ser o jogo da Lufa-Lufa? – perguntou Neville aos outros meninos, enquanto todos estavam mais uma vez no dormitório masculino se arrumando para a festa.

-Ana Abbott disse à Hermione que é um jogo trouxa. – esclareceu Rony, tentando a todo custo desamassar suas vestes a rigor que jaziam sobre a cama.

-Vai ser mais fácil para os filhos de trouxas então... – disse Simas, já arrumado e usando uma espécie de creme para aplainar os cabelos.

-Pelo menos eles não devem trapacear. – opinou Dino, terminando de ajeitar sua gravata borboleta.

-Ainda assim. – suspirou Harry analisando tristemente um buraco na manga de suas vestes a rigor. – Essas festas não me agradam em nada.

-Eu já apresentei meu ponto de vista à vocês.
– riu Simas.

-Mas parece que sua teoria não tem lá muito sentido pelo que vi na última festa... – espetou Rony.

-O que você quer dizer?

-Ora, não é obvio?
– disse o ruivo encolhendo os ombros. – A coisa MENOS INOCENTE que vi você conseguir foi um belo machucado no nariz e decididamente isso não teve nada a ver com garotas...

Os garotos deram risadas, fazendo Simas fechar a cara.

-Você não é um que possa falar muito, Rony. – retrucou ele.

-Será que não? – disse Dino com um sorriso maroto. – Eu bem vi ele descendo do palco segurando a Hermione.

As orelhas do ruivo tornaram-se imediatamente vermelhas e ele parou de se movimentar, suas vestes a meio caminho de sua cabeça.

-Isso não teve graça. – murmurou ele. – Hermione é minha AMIGA. Eu nunca teria esse... esse TIPO de pensamento sobre ela... Eu estava apenas a ajudando.

-Pois eu continuo com minha teoria.
– falou Simas voltando a sorrir de modo malicioso. – Coisas inocentes levando a outras MENOS inocentes. Eu decididamente teria aproveitado, Rony. Hermione está bastante jeitosinha esse ano...

Tudo aconteceu muito rápido. Harry apenas teve tempo de pensar em se virar para olhar a expressão do amigo quando o que viu foi Simas ser erguido do chão pelo colarinho de suas vestes.

-NUNCA. MAIS. FALE. DE. HERMIONE. ASSIM. – Rony falou pausadamente com os dentes cerrados, suas mãos sardentas trêmulas de fúria.

-EI! – gritou um Simas assustado, tentando se desvencilhar. – Você está maluco, Rony?

-Você me entendeu?
– Rony continuou falando, ainda segurando o menino pelo colarinho.

-Larga ele, Rony. – falou Dino enquanto puxava o ruivo.

-Assim que ele me responder. – disse ele a Dino mas sem soltar Simas. – Você me ENTENDEU?

-Entendi!
– berrou Simas, exasperado. – Dá para me largar agora?

Rony soltou o garoto com rispidez, respirando pesadamente.

-Nunca mais desrespeite Hermione na minha frente, Simas. – falou ele com a voz falha de raiva.

-Você só pode estar louco, Rony! – gritou Simas, endireitando suas vestes. – Eu não desrespeitei ninguém. Só falei a verdade.

-Cale a boca!
– berrou o ruivo agarrando sua varinha. – Você não ouse tentar testar essa sua teoria idiota com ela, Simas!

-Ela é uma garota, Rony.
– disse Simas também pegando sua varinha. – E eu testo minha teoria com quem eu bem entender.

-Muito bem, CHEGA!
– intrometeu-se Harry empurrando o braço do amigo para baixo. Dino fez o mesmo com o braço de Simas.

-Devagar, caras! – falou Dino. – Os ânimos estão quentes por aqui...

-Eu não tenho culpa se o Rony não aproveita as oportunidades...
– murmurou Simas ainda encarando o ruivo de um modo irritado.

Rony apertou os punhos tão forte que as juntas de seus dedos ficaram brancas.

-E eu não tenho culpa se o Simas é um FRUSTRADO com suas teorias sobre as garotas. – devolveu o ruivo.

-Parem com isso, vocês dois. – disse Dino. – Vamos indo, Simas.

Simas deu uma última olhada no espelho, ajeitou novamente as vestes e acompanhou Dino para fora do dormitório.

-O que foi isso, Rony? – perguntou Harry virando-se para o amigo assim que os outros dois deixaram o quarto.

-Como assim o que foi isso? Você viu muito bem, Harry! – retrucou Rony bastante irritado.

-A única coisa que eu vi foi você saindo do sério porque Simas fez um simples comentário sobre a Hermione.

-Ele DESRESPEITOU a Hermione, você quer dizer.


Harry percebeu que no estado em que o amigo se encontrava não adiantaria retrucar, então não disse nada. Rony, por sua vez, terminou de se vestir em silêncio e começou a pentear os cabelos.

-Você não vai se vestir, Harry? – perguntou Neville algum tempo depois, observando que o garoto ainda se encontrava só com a calça de seu traje a rigor.

-Vocês sabem algum feitiço de costura? – indagou Harry.

Os outros dois fizeram um sinal negativo e Harry suspirou.

-Problemas com as vestes, cara? – perguntou Rony ao amigo.

-Uma pequena herança do duelo sonserino. – respondeu Harry amargamente, apontando um buraco enorme na manga de suas vestes.

-Se eu soubesse disso teria lhe comprado uma nova de presente de natal. – riu o ruivo, aos poucos recuperando seu humor.

-Mas o natal é só amanhã, então não iria resolver nada. – disse Neville.

-Eu faria o favorzinho de adiantar um pouco o presente. – retrucou Rony em tom divertido.

-Muito engraçado. – resmungou Harry. – Mas e agora?

-Vista qualquer outra coisa.
– opinou Neville.

-Eu não posso ir a uma festa vestindo o uniforme escolar, posso?

-Ei, não vai ter um jogo trouxa na festa? Vá com roupas trouxas, então!
– disse Rony.

Harry pensou por um momento.

-Bem... – suspirou ele. – Suponho que eu não tenha outra opção.

-Não pode ser tão ruim assim, Harry.
– disse Neville. – As roupas trouxas, eu quero dizer.

-Não são.
– concordou Harry remexendo seu malão. – Desde que elas não sejam as roupas mais velhas e gastas de um primo que tenha o dobro da sua largura...

-Ali!
– disse Rony se abaixando ao lado de Harry e apontando uma roupa de um pano estranho e esverdeado no meio dos pertences do amigo. – É isso, Harry! O presente de Fred e Jorge!

Harry puxou a roupa de dentro do malão: uma jaqueta muito bonita e fina, esverdeada, feita de couro de dragão. O presente dado a ele pelos gêmeos em seu último aniversário.

-Uau, Harry! – exclamou Neville, admirado. – Isso é feito de... couro de dragão?

-É...

-Aqueles sonsos nunca me deram algo assim...
– resmungou Rony em tom de lamento, enquanto olhava Harry vestir a jaqueta por cima de uma camisa branca.

Assim, os garotos terminaram de se arrumar depressa e já atrasados desceram para a sala comunal.

*****



-Eu acho que ela já foi. – falou Neville olhando seu relógio de pulso mais uma vez.

-Nahh, ela não iria sozinha. – respondeu Rony enquanto fitava ansiosamente a escada do dormitório feminino.

-Mas Hermione nunca se atrasa. – disse Harry. – Talvez ela tenha pensado que nós já tivéssemos ido...

Mas nesse momento ouviram-se passos da escada e Parvati e Lilá surgiram, ambas muito arrumadas e penteadas.

-Ei, vocês duas! – chamou Harry. – Vocês viram a Hermione?

As meninas olharam uma para a outra e se desmancharam em risadinhas, irritando o garoto profundamente.

-Você está elegante nessa jaqueta, Harry. – falou Lilá o esquadrinhando com os olhos. Harry corou fracamente e murmurou um “Obrigado” totalmente sem jeito.

-Mas então, viram ou não viram a Hermione? – perguntou um Rony impaciente.

-Ela está no quarto. – respondeu Parvati já caminhando para a saída. – Mas vocês se cansarão de esperar... pelo que parece ela está dormindo.

-Dormindo?
– exclamou o ruivo, incrédulo. - O que foi que deu nela?

As meninas apenas encolheram os ombros, indiferentes, e deixaram a sala comunal.

-E agora? – perguntou Neville. – Vamos deixá-la?

-Claro que não!
– disse Rony.

-Mas o que vamos fazer? – indagou Harry. – Não podemos subir até o dormitório feminino.

-Onde é que está a Gina quando a gente mais precisa dela...?
– resmungou Rony.

-Já deve estar na festa. Ela foi com o Dino, afinal de contas. – disse Harry com um tom de desgosto mal oculto por trás de sua última frase.

-Acho melhor irmos, também. Não vai adiantar em nada ficarmos aqui se não podemos subir para chamá-la. – falou Neville.

-Vamos buscar a Gina. – disse Rony.

Os três garotos saíram pelo buraco do retrato e caminharam pelos corredores rumo a uma escadaria próxima à cozinha, perto de onde eles tinham a vaga idéia que se localizava a sala comunal da Lufa-Lufa. Não precisaram esperar muito e já viram uma pequena aglomeração de alunos com vestes de festa também caminhando por um corredor lateral. À frente dos estudantes flutuava um simpático fantasma gordo e sorridente, o Frei Gorducho, fantasma da casa da Lufa-Lufa.

-Por aqui, por aqui, garotos! – chamava ele, guiando-os até a entrada secreta de sua casa. Eles seguiram pelo corredor e dobraram à esquerda, onde avistaram uma grande e enferrujada armadura de bronze encostada à parede de pedra. Ao lado dessa armadura havia uma porta encravada na própria parede da qual os garotos nunca se lembravam de ter visto antes em qualquer ocasião. Assim que se aproximaram da porta puderam ver que um pomposo Ernesto Macmillan em vestes a rigor amarelas com detalhes pretos os aguardava para dar as boas vindas.

-Boa noite. – falou ele educadamente assim que o pequeno grupo se aproximou. – Sejam muito bem vindos à casa da Lufa-Lufa, a casa onde habitam os leais e os justos. É um prazer recebê-los. Aproveitem a festa...

Rony fez uma careta e sussurrou aos amigos:

-Quanto tempo vocês acham que ele ficou na frente do espelho decorando isso?

Os garotos sorriram com a gracinha, mas logo que entraram seus sorrisos foram se atenuando gradualmente, dando lugar a uma expressão de estupor e fazendo suas bocas ficarem ligeiramente entreabertas. A decoração da sala comunal da Lufa-Lufa estava magnífica: pequenas luzes cintilantes e multicores flutuavam próximas ao teto, por todo o aposento. Grandes faixas vermelhas e verdes cobriam as paredes, visgos estavam postados aqui e ali, e querubins feitos de gesso com roupas natalinas estavam postados em cada canto da grande sala quadrada, enfeitiçados para tocarem sinos e harpas, produzindo uma agradável canção de natal no ambiente. Mesinhas redondas também enfeitadas enchiam o aposento e ao centro da sala havia uma árvore de natal enorme, até maior do que as que Hagrid costumava carregar para enfeitar o Salão Principal. A árvore estava toda enfeitada com bolas coloridas, anjos, sinos e estrelas, que não paravam de piscar. Logo abaixo da árvore havia um grande tapete felpudo amarelo e preto, com um grande texugo estampado no centro, obviamente representando a casa da Lufa-Lufa. Sobre o tapete estavam postadas em círculo grandes almofadas vermelhas e verdes, muito parecidas com as usadas na AD e contrastando violentamente com o amarelo do tapete. Estava realmente uma visão bonita de se ver.

-Brilhante! – murmurou Rony encarando o lugar ainda ligeiramente boquiaberto.

-Sim. – concordou Harry também olhando ao redor. – Mas como é suposto que iremos encontrar a Gina no meio de toda essa multidão?

-A única maneira é procurando.
– disse Neville.

-Mesmo, Neville? – falou Rony fingindo incredulidade. – Nossa, eu nunca teria chegado a essa conclusão sozinho... – completou divertido, balançando a cabeça.

Os garotos moveram-se com dificuldade por entre a multidão procurando pela ruiva, que infelizmente não parecia estar em nenhum lugar visível. A sala parecia cada vez mais cheia e logo os garotos já estavam ligeiramente ofegantes do esforço de tentarem caminhar entre tanta gente.

-Eu acho que eles se esqueceram de aumentar essa sala por magia. – disse Harry, suando e puxando um pouco aberta sua jaqueta de couro de dragão.

-Está muito quente aqui. – concordou Neville se abanando com a mão. – Eu estou derretendo...

-E cadê a Gina?
– falou Harry olhando para os lados.

-Esquece ela. – disse Rony enquanto puxava incomodamente sua gravata a fim de afrouxar o nó. – Vamos laçar qualquer outra garota da Grifinória para fazer o serviço.

-Hmm... Meu irmãozinho selvagem está querendo LAÇAR garotas, é isso mesmo que ouvi?
– falou uma voz divertida às costas do ruivo.

-Gina! – exclamou Rony, sorrindo ao se virar. – Até que enfim você apareceu!

A garota ergueu uma sobrancelha e fitou o irmão suspeitosamente.

-A última vez que você ficou feliz em me ver, Rony, eu tinha quatro anos de idade e você estava procurando alguém menor para colocar a culpa por ter quebrado o vaso preferido da mamãe. – disse ela. - Não pode ser boa coisa dessa vez...

-Não é nada disso, Gina.
– falou Rony girando os olhos. – É a Hermione, ela-

-Ué...
– interrompeu a ruiva. - Agora que percebi que ela não está aqui. Onde é que ela está?

-Você quer conferir nos meus bolsos?
– retrucou o garoto, impaciente.

-Sempre engraçadinho.

-Sempre faladeira.

-Certo, Rony, se você vai continuar bancando o insuportável eu estou saindo e-

-Não!
– falou Rony. – Espera, Gina. Você precisa voltar à Torre da Grifinória e subir ao dormitório feminino para chamar a Hermione.

-Mas o que ela está fazendo lá?
– perguntou a menina.

-Parvati e Lilá disseram que ela estava dormindo.

-Então por que eu deveria ir chamá-la? Talvez seja melhor deixá-la dormir.

-Hermione não deixaria de vir.
– disse Harry. – Ela é monitora e já nos reprimiu milhares de vezes quando nós demos a entender que não gostaríamos de participar dessas festas...

A ruiva voltou os olhos para Harry como se o notasse ali pela primeira vez. Seu olhar se demorou sobre a jaqueta de couro de dragão que ele vestia e ela pareceu perdida em pensamentos.

-Então? – falou Rony fazendo-a desviar os olhos do garoto.

-Então o que? – disse ela meio confusa.

-Você vai ou não chamar a Hermione? – Rony esbravejou.

-Mas o jogo já deve começar... – respondeu a ruiva observando a movimentação dos monitores da Lufa-Lufa mais adiante. Rony fechou a cara para a irmã e a encarou furiosamente.

-Ah, está bem, você venceu. – suspirou ela. – Deixe-me só chamar o Dino para me acompanhar até lá.

-E por que o Dino precisa ir?
– perguntou Rony.

-Eu não vou até lá sozinha! – resmungou Gina.

-Não seja por isso. – disse o garoto. – Eu te acompanho, então. Afinal, não gosto nada da idéia de vocês dois sozinhos perambulando pelos corredores.

Harry não pôde se impedir de concordar silenciosamente com o amigo. A menina, por sua vez, bufou feito um gato raivoso, mas acenou com a cabeça antes de se virar e começar a caminhar.

-Vejo vocês daqui a pouco. – falou Rony à Harry e Neville, seguindo apressado para acompanhar a irmã.

*****



Gina bateu levemente à porta do dormitório feminino do sexto ano, mas como não obteve nenhuma resposta abriu-a tão lenta e silenciosamente quanto pôde e entrou. Aparentemente ninguém estava visível no quarto e as cortinas da cama de Hermione estavam cerradas. A ruiva afastou-as com cuidado e espiou: a amiga estava deitada sob seus lençóis, o travesseiro sobre o rosto e a julgar por sua respiração macia e igualada, estava dormindo profundamente.

-Mione? – chamou Gina em tom baixo, se sentando na beirada da cama da garota. Hermione meramente mexeu-se e resmungou em seu sono.

-Hermione, acorde! – tentou a ruiva um pouco mais forte, fazendo a menina finalmente abrir os olhos. Ela encarou Gina por um instante, parecendo confusa e sonolenta e só depois falou, sua voz pouco reconhecível entrecortada por um grande bocejo:

-Gina...? Huhh, o que... houve??

-Você quer dizer além de você ter dormido um pouco além da conta?
– riu Gina, mas vendo a expressão da amiga ainda retratando confusão, continuou: - Mione, são quase nove horas da noite, você sabe o que isso significa?

-Oito horas da- GINA!
– berrou ela se erguendo num salto. – Me fale que eu estou errada e que eu não perdi a festa da Lufa-Lufa!

A ruiva não conseguiu evitar de rir um pouco do desespero de Hermione.

-Acalme-se. – falou ela entre risinhos. – Você ainda não perdeu a festa, mas está meio... atrasada, digamos assim.

-Ah, meu Deus, Gina!
– exclamou Hermione desesperada. – O que eu vou fazer agora?

-Vista-se e vamos para a festa.
– disse Gina com simplicidade.

-Mas eu não poderia me atrasar, eu sou uma MONITORA! Que vergonha... Oh não, oh não, oh não... – falou Hermione freneticamente enquanto dava tapinhas em sua testa e fazia Gina rir ainda mais.

-Quanto mais você ficar aí se desesperando mais atrasada você irá ficar, Hermione.

-Eu não vou, eu não POSSO ir... Eu não POSSO chegar atrasada.

-Vergonha maior seria você não comparecer, não?


Hermione pareceu considerar o pensamento por um minuto e só depois suspirou e respondeu:

-É. Suponho que de todas as vergonhas a de me atrasar um pouco seria a menos pior...

-Se arrume então, vamos.
– apressou Gina. – Eu espero.

-Não precisa me esperar, Gina, obrigada.
– disse a garota enquanto se ajoelhava ao lado de seu malão e procurava desesperadamente por seu vestido de festa. – Você já fez muito em vir me acordar, não quero que se atrase mais por minha causa.

-Eu não me atrasei.
– respondeu ela encolhendo os ombros. – Na verdade cheguei bem cedo na festa, mas só agora os meninos me encontraram e me pediram para vir lhe chamar. Aquilo lá está um inferno de cheio e quente...

-Os meninos?
– indagou Hermione, parando seus movimentos com sua varinha para desamassar um vestido azul e olhando para Gina.

-Harry e Rony. – esclareceu a ruiva. – Mais Rony, por sinal. Ele parecia querer me matar se eu dissesse que não viria...

Hermione voltou sua atenção depressa para o vestido, mas Gina notou um sorriso tímido espreitar fora dos lábios da amiga. Um brilho de entendimento cruzou os olhos da ruiva e assumindo uma expressão presumida, ela se levantou da cama.

-Mas suponho que seja melhor mesmo eu ir, Mione. – disse ela enquanto caminhava para a porta. – Não quero perder o começo do jogo.

-Tudo bem, obrigada, Gina.


A ruiva continuou andando lentamente para a saída, mas um passo antes de cruzar o portal, ela olhou por cima do ombro para Hermione e disse, uma expressão inocente e um tom casual pouco convincentes:

-Mas não se preocupe, Mione, você não irá sozinha. Meu irmão estará lhe aguardando lá em baixo... Te vejo mais tarde, então. – disse ela com um sorriso e deixando o quarto. – Ou não. – completou, sua cabeça ruiva aparecendo novamente à porta por alguns segundos.

Hermione ficou parada no mesmo lugar, encarando boquiaberta a porta onde um instante antes estava a cabeça de Gina.

“Garota esperta, essa Weasley.” – pensou Hermione, desejando ardentemente que isso fosse uma característica de família e que o irmão da menina fosse também tão esperto...

*****



A ruiva desceu as escadas do dormitório feminino rindo sozinha da “travessura” que tinha acabado de fazer. Ela encontrou o irmão sentado numa das poltronas com uma expressão impaciente.

-Finalmente. – exclamou ele assim que a viu. – Onde está a Hermione?

-Se arrumando.
– respondeu ela. – E eu estou voltando para a festa.

-Você não vai esperar?
– estranhou Rony.

-Não. Mas VOCÊ vai, Rony. Hermione não sabe onde fica a entrada para a sala comunal da Lufa-Lufa e nem adianta você reclamar e dizer que-

-Ei!
– chamou o ruivo. – Quem foi que disse que eu iria reclamar?

-Você não iria?
– indagou Gina erguendo uma sobrancelha ao irmão.

-Não. – Rony encolheu os ombros.

Aos poucos um sorriso maroto foi se formando no rosto da menina.

-O quê? – disse Rony observando-a.

-Nada. – riu ela. – Só que isso é pior do que eu pensava.

-Anh?
– fez Rony com uma de suas típicas caretas.

Mas Gina não se deu ao trabalho de responder. Com um aceno ela caminhou para o buraco do retrato, deixando seu irmão fitando suas costas em total confusão.

*****



Gina caminhou apressada pelos corredores vazios de volta para a festa. Assim que chegou ao corredor que levava à parede com a porta de entrada da sala comunal da Lufa-Lufa, ela já pôde ouvir um alto som de pessoas conversando e uma suave música natalina tocando. Encontrou um garotinho primeiranista postado próximo à armadura de bronze, certamente guardando para que a porta de sua casa permanecesse aberta.

-Boa noite. – falou ele com um sorriso. – Bem vinda à Lufa-Lufa.

Gina lhe sorriu gentilmente e voltou a entrar, mais uma vez se permitindo a ficar um pouco impressionada com a beleza da decoração do lugar. A sala estava menos quente agora e estava mais fácil conseguir caminhar, já que a maioria das pessoas estava aglomerada próximas à árvore de natal e ao círculo de almofadas. Gina rapidamente conseguiu alcançar a multidão e pôde ouvir o que Ana Abbott e Ernesto Macmillan falavam.

-Nesse jogo trouxa o divertido é ver todos tendo que falar a verdade. – dizia uma alegre Ana Abbott, do centro do tapete amarelo. – Se a pessoa por um acaso não quiser contar seus segredos ou tiver algum motivo para ocultar alguma coisa, ela meio que terá que pagar por isso. Ou seja, ela terá que pedir um desafio. Daí vem o nome do jogo, “Verdade ou Desafio”.

-Nós obviamente escolhemos esse jogo porque ele representa fielmente as características dos membros da Lufa-Lufa: lealdade, sinceridade e honestidade.
– completou Ernesto, que estava de pé ao lado da garota. Alguns sonserinos vaiaram as palavras do menino, que não pareceu se importar e continuou: - O jogo funciona da seguinte maneira: nós iremos girar essa garrafa vazia de cerveja amanteigada, - disse ele levantando uma garrafa para que todos pudessem ver – e das duas pessoas nas quais ela apontar quando parar, uma perguntará e a outra responderá. Responderá aquela que terá apontada para si a parte superior da garrafa. Essa pessoa terá o direito de decidir entre verdade ou desafio. É um jogo bem simples, na verdade...

-E apesar de ser um jogo trouxa,
- disse Ana – o nosso terá um diferencial, já que somos todos bruxos, por aqui. Aqueles que se decidirem por “verdade” não poderão em hipótese alguma mentir, nem se quiserem. Eles serão submetidos à uma dose fraca, porém eficiente, da poção Veritaserum, a poção da verdade.

-Os professores estão cientes disso, não é mesmo?
– perguntou Carole Rumbold, a monitora chefe.

-Perfeitamente, Srta. Rumbold. – respondeu a Professora Sprout de um canto, parecendo muito bem vestida e arrumada num par de vestes amarelas ouro combinadas com um chapéu preto.

-E como será a distribuição de pontos? – perguntou um garoto mal encarado da Sonserina.

-Isso é justamente o que eu iria falar agora. – disse Ernesto. – Bem, a distribuição de pontos será feita de forma muito simples e direta: todos a quem a garrafa apontar, seja para perguntar ou responder, ganharão dez pontos para sua casa. É uma questão de sorte e não terá nenhuma abertura para possíveis trapaças. – acrescentou o garoto olhando enviesado para alguns sonserinos.

-Bom, se não houver nenhuma pergunta então, suponho que devêssemos começar... – falou Ana. – Por favor, quem for participar queiram sentar-se aqui no círculo de almofadas.

Houve uma grande movimentação onde os estudantes começaram a se mover na direção das almofadas e se acomodarem sobre elas. Gina logo localizou Dino e sentou-se ao seu lado.

-Onde você esteve? – perguntou ele fechando a cara para a garota.

-Resolvendo umas coisas. – murmurou ela.

-Que tipo de coisas?

-Nada que importe.
– respondeu a menina enquanto observava distraidamente Harry e Neville se sentando em um lugar não muito distante.

-Se eu estou perguntando é porque quero saber. – se impacientou Dino. Gina virou sua cabeça para ele, lentamente, sua expressão muito parecida com a da Sra. Weasley quando esta está prestes a dar bronca em algum dos filhos.

-Ouça, Dino. – começou ela calmamente. – Eu tenho seis irmãos mais velhos. Seis irmãos mais velhos que sempre TENTARAM controlar minha vida. Ouça bem, eu disse TENTARAM. Nunca conseguiram. E eu não tentaria se fosse você...

O menino não pareceu nada satisfeito, mas se calou e encarou Ana Abbott, que se preparava para rodar a garrafa pela primeira vez.

*****



Rony estava sentado na sala comunal da Grifinória, ligeiramente impaciente. Ainda estava confuso com as palavras da irmã, mas resolveu afastar esses pensamentos e deitou sua cabeça no encosto da poltrona, encarando o teto. Um pequeno barulho veio da direção da escada do dormitório feminino e ele ergueu um pouco o rosto para olhar. Hermione vinha descendo os degraus, apressada, e apenas pelo jeito dela caminhar, Rony poderia dizer que ela estava nervosa. A garota estava usando seu vestido azul pervinca, exatamente o mesmo que usara há dois anos atrás no fatídico Baile de Inverno. Seu cabelo estava preso num rabo de cavalo que claramente aparentava ter sido feito às pressas, pois haviam alguns fios rebeldes perdidos fora do elástico e que insistiam em cair de modo desgovernado dos lados do seu rosto. Rony sorriu com a visão e imaginou o que garotas normais diriam dessa situação. Provavelmente ele nunca poderia sequer imaginar meninas como Parvati, Lilá ou a confusa da Cho Chang realizando ações como repetir um vestido ou ir à uma festa com os cabelos descuidados e presos num descontraído elástico. Mas isso com garotas normais. E Hermione decididamente não se encaixava nessa descrição. Garotas normais se preocupavam demais com a aparência, eram fúteis e cheias de risadinhas e cochichos. Elas eram misteriosas, vaidosas, estranhas e faziam de tudo para fazerem os garotos de bobo. Às vezes elas poderiam ser criaturas até mesmo imprevisíveis e perigosas. Mas Hermione não era nada disso. Hermione era doce, simples, valente. Ela não se importava com aparência e mesmo assim conseguia ser encantadora apenas com seu jeito natural. Ela não perdia tempo com vestes, cabelos e todo esse tipo de coisa. Em resumo, Hermione era completamente diferente da concepção que Rony tinha de uma garota. Ela não era uma garota. Ela era muito mais do que isso. E o motivo de ela não ter levado como um elogio quando ele estranhou que ela agisse como “uma garota” há dois anos atrás, ele ainda não conseguia compreender. Mas ele explicaria isso a ela. Em algum momento, quando o assunto surgisse. Não agora. Haveria o resto da vida deles para isso. Afinal, ele não pretendia se separar dela. Nunca.

-Oi Rony.
– falou a garota assim que chegou à sala comunal.

-Oi dorminhoca... – respondeu ele sorrindo.

-Foi uma pequena falha, Rony. – disse ela abaixando a cabeça e fazendo o garoto achar brilhante o jeito com que as bochechas dela coraram e o seu já desordenado cabelo se desordenou ainda mais.

-Eu ouvi isso direito? – falou ele fingindo espanto e apertando uma mão sobre o peito. – Hermione Granger disse que obteve uma falha?

-Não seja bobo!
– repreendeu ela tentando não sorrir. – E vamos logo antes que eu me atrase ainda mais.

Os dois atravessaram o buraco do retrato e calados começaram a seguir pelos corredores vazios. Hermione quebrou o silêncio.

-Obrigada, Rony. – murmurou ela sem encará-lo.

-Pelo que, exatamente? – disse o garoto a fitando com o canto do olho.

-Por pedir que a Gina me acordasse. – falou ela, também em tom baixo. – Teria sido horrível perder essa festa... Não que eu goste de festas, você sabe, mas é que como monitora...

-Eu sei. Nós devemos dar exemplo, não é isso?

-Bem, é.

-Não que seja um bom exemplo os monitores da Grifinória chegando atrasados para uma festa.
– riu ele. – E os dois juntos.

Rony se ruborizou de imediato e Hermione sentiu seu coração martelar com mais força ao som dessas palavras. Os dois juntos.

-Er... – fez Rony completamente encabulado. – Eu não... não quis dizer... você sabe, JUNTOS, mas só... juntos. Eu quero dizer...

-Eu entendi.
– disse Hermione, também envergonhada e encarando tudo ao seu redor, exceto os olhos azuis do menino.

“Não que eu não quisesse que fosse mesmo “JUNTOS”...” – a mente do ruivo gritou.

-Hum... – falou Rony timidamente, se sentindo desconfortável e procurando desesperadamente algo para dizer. – Esse seu vestido é o mesmo do... Baile de Inverno, não?

A garota finalmente o encarou, sua expressão estranha e indecifrável. Rony viu o olhar de Hermione e imediatamente se amaldiçoou por ter falado aquilo. “Estúpido.” – sua mente gritou outra vez.

-Sim. – ela falou quietamente olhando abaixo para o tecido azul. – Um vestido comprado há dois anos atrás. Parece tão ruim?

-Não.
– resmungou ele. – Na verdade... er...

-Na verdade?
– apertou a menina.

-Parece... da mesma forma que no dia do baile. – Rony falou enquanto a encarava. – Ou seja... brilhante. – sussurrou ele desviando o olhar.

Hermione tragou uma respiração funda e pensou que fosse desmaiar. Suas pernas pareceram moles e ela desejou saber se alguém não tinha lhe lançado a azaração das pernas de geléia pelas costas. Ela ainda estava dormindo, não estava? Na vida REAL o RONY nunca diria aquilo para ELA.

-Obrigada.
– ela encontrou sua voz, que infelizmente ainda saiu estranha e aguda.

Rony encarou novamente a menina. Ela agora parecia ainda mais graciosa e indefesa, com grandes manchas rosas em suas bochechas e pescoço. Hermione Granger. Sua melhor amiga. A perfeita e inteligente Hermione Granger. O garoto parou para pensar o que no mundo o fazia ter ao seu lado alguém como Hermione. Uma garota tão certinha e perfeita, que sempre dava o melhor de si e nunca errava... Ele já não tinha perto de si pessoas boas o bastante para ter que lidar? Cinco irmãos mais velhos fabulosos, uma irmã mais nova de personalidade única, um melhor amigo que era um apanhador incrível além de ter derrubado o Lorde das Trevas e ser o mundialmente famoso “menino que sobreviveu”... Já não tinha então, pessoas boas o bastante ao seu lado? Uma grande quantidade de pessoas boas o bastante para o fazer se sentir apagado?? Por que em Terra ele tinha arranjado para sua vida mais uma pessoa para o fazer se sentir pequeno? Talvez... porque ela não fazia. Pelo contrário. Hermione o fazia se sentir bem. Ela poderia gritar, praguejar e arrancar os cabelos por causa de uma lição não feita. Poderia acusá-lo de não ser ligado o bastante nos estudos, de ser desleixado e poderia dizer coisas bastante hostis em momentos de raiva. Mas nunca, em hipótese alguma, Hermione o depreciara. Ele se sentia forte e valente ao lado dela. Mesmo sabendo que a menina tinha uma força tremenda dentro de si e era perfeitamente capaz de se cuidar por ela própria, Hermione parecia se sentir mais segura ao lado de Rony. Parecia pensar que com ele do lado nada de mal poderia atingi-la. E como Hermione Granger nunca errava, o ruivo decidiu aceitar isso como verdadeiro. A perfeita Hermione Granger. Sua melhor amiga. Sua garota.

*****



Foi com um assomo de horror que Harry viu a garrafa ir terminando seu giro suavemente, ficando com sua ponta superior apontada à ele. Relutantemente, o garoto ergueu os olhos para encarar quem seria a pessoa apontada pelo outro extremo da garrafa. Seus interiores se reviraram ainda mais e ele sentiu ânsia de vômito quando viu que era uma das pessoas que ele mais odiava e que por sinal estava sorrindo maliciosamente a ele: Draco Malfoy.

Aquele jogo tinha começado bastante calmo, com perguntas inocentes e desafios tolos como dizer poemas, imitar animais e outras besteiras do mesmo tipo. Mas há alguns minutos as coisas realmente tinham começado a mudar. Tudo começou quando Parvati Patil tinha confessado em frente a todos ser totalmente atraída pelo garoto corvinal Dannil Junk, um dos participantes da AD, amigo de Carole Rumbold. Quando a garrafa tornou a girar e apontou para Dannil, este pediu desafio. O resultado foi que a história terminou com uma Parvati firmemente pendurada nos lábios do bonito menino da corvinal. Desde então, o jogo tinha tomado direções digamos que, perigosas. Perguntas maliciosas e desafios como beijos tornaram-se freqüentes, fazendo Harry desejar sumir daquele círculo antes que o pior acontecesse. Mas agora estava tarde demais para isso: o pior acabara de acontecer.

-Verdade ou desafio, Potter? – falou Malfoy com sua voz arrastada, seus olhos brilhando de maldosa expectativa.

Harry considerou por um momento: o que poderia ser menos pior? Analisando a situação, ele pensou que mais do que apenas ruim, pedir “verdade” para Malfoy poderia também ser perigoso. E se ele perguntasse algo realmente sério? Alguma informação para passar à sua querida mãe que posteriormente poderia repassar ao seu pai em Azkaban? Assim, com um suspiro como o de um condenado que segue para sua execução, Harry murmurou: - Desafio.

Malfoy surpreendentemente pareceu um pouco desapontado, fazendo Harry ter certeza que tinha feito a escolha certa. Certeza essa que se dissipou um instante depois, quando ele viu os olhos cinzentos de Draco brilharem outra vez com malícia.

-Onde é que está a Granger? – perguntou ele, seus olhos percorrendo todo o círculo. As outras pessoas também olharam ao redor.

-Ela ainda não chegou, Malfoy. – disse Harry friamente.

-É... – riu o loiro de uma forma presumida. – E pelo que vejo nem o Weasley. Patéticos.

Nesse momento Rony e Hermione se aproximaram do círculo, ambos muito vermelhos, o que fazia Harry claramente supor que os amigos tinham ouvido as palavras de Malfoy. O loiro, por sua vez, estava de costas para a entrada, não vendo a aproximação dos recém-chegados.

-Acabe logo com isso, Malfoy. – disse Harry encarando o garoto furiosamente.

-Apressado, Potter? Eu não estaria se fosse você...

-Vamos logo com isso, Malfoy.
– repreendeu Ernesto. – Não está entre as regras do jogo ficar dialogando com o desafiado.

Draco encarou o monitor da Lufa-Lufa com desdém, mas não replicou. Seus olhos cinzas esquadrinharam o círculo uma vez mais e com um sorriso ele falou:

-Encontrei uma garota para você, Potter. – disse ele. – Você irá beijar a Di-Lua Lovegood.

Os olhos verdes de Harry se arregalaram e instantaneamente pousaram na garota loira sentada a alguns lugares de distância. Luna não parecia tão tranqüila ou aérea como o habitual. Ela tinha seus grandes olhos ainda mais arregalados e mirava um lugar no círculo de um modo apologético, quase apreensivo, como se pedisse desculpas silenciosamente. Harry seguiu o olhar da loira e viu quem era o alvo de seus olhos: Gina.

-Pode começar. – apressou Malfoy. – Vamos ver se o santo Potter sabe como se beija uma garota.

Harry sentiu seu rosto queimar de raiva e embaraço. Lançou um olhar ao redor e viu que as pessoas pareciam experimentar uma ansiedade divertida. Rony, ainda de pé ao lado de Hermione, tinha os olhos tão arregalados quanto os de Luna e parecia entre penalizado pelo amigo e surpreso. Hermione estava impassível, mas não parecia aprovar. Gina, por sua vez, tinha o rosto tão vermelho quanto Harry pensou que o seu próprio estaria. Os olhos da garota continham uma chama que o menino não soube decifrar o significado e seus lábios estavam apertados numa linha fina. O coração dele saltou um pouco mais forte com a visão.

Devagar, o garoto se levantou e caminhou ainda mais lentamente na direção de Luna, que também tinha ficado de pé. Eles se aproximaram relutantemente e quando bem próximos, a loira sussurrou:

-Me desculpe por isso.

-Te digo o mesmo.
– murmurou Harry de volta, seu rosto todo ardendo com vergonha.

Ele hesitou antes de colocar uma das mãos sobre o rosto de Luna e a outra na cintura da menina. Ambos fecharam os olhos. E a distância. Os lábios se tocaram de forma simples e doce, mas o contato não chegou a se aprofundar. Meros segundos depois eles se afastaram sem se olhar e sob vaias e aplausos se dirigiram de volta aos seus devidos lugares.

Rony e Hermione se sentaram um de cada lado do amigo, nenhum deles sabendo exatamente o que falar.

-Hum... é... – disse Rony em falso tom casual. – Como foi?

Harry lançou ao amigo um olhar tão amedrontador que o ruivo meramente se encolheu e murmurou:

-Me desculpe.

Algumas rodadas se passaram com mais perguntas indiscretas e desafios embaraçantes. O trio grifinório torcia intimamente para que aquele jogo estivesse chegando ao fim. Aquilo era segundo cada um: humilhante na visão de Harry, fútil no ponto de vista de Hermione e na visão de Rony, era uma palavra que fez Harry gargalhar e Hermione o repreender durante vários minutos.

-Verdade ou desafio? – perguntava Susana Bones para um aturdido Terêncio Boot.

-Verdade. – respondeu o garoto.

Ernesto lhe serviu a poção da verdade e Susana continuou, sorrindo.

-Há alguém nessa sala que você se sinta atraído ou tenha vontade de sair?

Terêncio também sorriu de modo presunçoso e deliberadamente encarou Hermione antes de responder.

-Sim, há.

A menina sentiu suas bochechas esquentarem mais uma vez assim que notou todos os presentes voltarem sua atenção à ela. Com o canto dos olhos, Hermione pôde ver que Rony também enrubescera violentamente. Ele apertava os dois punhos e encarava Terêncio com um olhar tão furioso que seria capaz de fazer murchar um jardim inteiro. Ela ignorou tudo e todos e apenas encarou os próprios joelhos.

Agora mais uma vez a garrafa estava parando. Sua ponta se dirigiu diretamente a uma ruiva que vinha se mantendo estranhamente quieta durante as últimas rodadas. Gina ergueu os olhos e viu que quem lhe perguntaria seria a própria organizadora do jogo estúpido: Ana Abbott.

-Verdade ou desafio? – indagou a sorridente Ana.

A ruiva bufou, mas com uma expressão decidida encarou a garota de volta.

-Verdade.

Dino suspirou aliviado, assim como Rony.

-Certo, então. – disse Ana enquanto servia uma dose da poção Veritaserum à Gina. A garota tomou o líquido transparente num gole e esperou.

-Bem... – começou a monitora Lufa-Lufa. – Qual é a sensação de namorar alguém que se ama?

-Eu não sei.
– disse Gina simplesmente. Todos murmuraram e pareceram amplamente insatisfeitos com a resposta da ruiva, mas ela não parecia ter terminado.

-Eu REALMENTE não sei. – continuou Gina. – Eu nunca poderia lhe responder isso. Eu não amo meu namorado e eu nunca namorei quem eu amo.

Um silêncio súbito se abateu sobre a sala. As pessoas pareciam sem graça enquanto observavam Gina, sentada ao lado do namorado. Dino, por outro lado, parecia totalmente devastado. Irritado, agora. Não. Furioso.

-VOCÊ É UMA FALSA, GINEVRA WEASLEY!
– berrou ele ficando de pé.

Hermione arriscou um relance a Rony e viu que o ruivo já parecia querer partir para cima do garoto. Ela se virou rapidamente a Harry para pedir ajuda para controlar Rony, mas viu a mesma expressão no rosto do amigo.

-EU NÃO TENHO CULPA DE NÃO TE AMAR, DINO! – gritou a ruiva de volta. – E ESSE JOGO É A COISA MAIS ESTÚPIDA QUE EU JÁ VI EM TODA A MINHA VIDA! – acrescentou ela, virando-se para encarar os monitores da Lufa-Lufa.

Ernesto e Ana pareceram ofendidos e pesarosos, mas a loira falou, fitando as faces aturdidas das pessoas:

-Muito bem, o jogo terminou. Vamos continuar a festa, ainda temos o jantar...

A essa altura Dino já estava deixando o lugar e os cabelos flamejantes de Gina já tinham sumido pela porta atrás dele.

-Ela está certa, sabe. – disse Rony encarando o ponto onde o casal tinha acabado de desaparecer. – Esse jogo realmente É a coisa mais estúpida que eu já vi em toda a minha vida.

Hermione e Harry apenas acenaram com a cabeça em concordância e, juntamente com Neville, o trio seguiu para buscar uma mesinha e apreciar o jantar, única coisa que poderiam realmente esperar a mais daquela festa.

*****



N/A: Ufa... Até que enfim vocês conseguiram chegar até aqui, não?? Capítulo grande demais... hhehehehehe...

Sobre o capítulo:
Foi um capítulo difícil mas no final foi gostoso de escrever. Adorei escrever mais da Gina nesse capítulo e a briguinha de Rony e Simas no dormitório. Nos capítulos passados tinha muito de Hermione pensando sobre Rony, então resolvi compensar um pouco nesse 18, como vocês podem ver têm muitas partes do Rony pensando sobre a Hermione. Só espero que tenham gostado. O jogo também foi divertido escrever...

Agradecimentos:


Brenda: Ohh, sério que você nem sentiu seu celular vibrar???hahhahahaha... Que legal..rs... Fico muito feliz que você esteja gostando e sorrio de uma orelha a outra com seus elogios... Espero que goste do 18 também. Continue lendo e comentando, certo? Isso me deixa realmente contente! Beijinhos!!

Bella Rosa: Estou simplesmente sem palavras para dizer o quão feliz seu comentário me deixou... Até o li para minha mãe, acredita?? Rs..rs...
Olha, eu prometo que vou fazer de tudo para não decepcionar você e todos que estão lendo. Pode deixar que não irei abandonar a fic e vou tentar continuar atualizando bem rápido. Muito obrigada mesmo por suas palavras... Você não tem idéia do quanto isso me incentiva... Espero estar vendo sempre seus comentários por aqui, continue acompanhando e um grande abraço e agradecimentos de coração.

Alulip: Que bom que você gostou do capítulo passado! Foi muito bom de escrever os pensamentos da Hermione sobre o Rony e no 18 agora fiz o inverso... Espero que tenha gostado dele filosofando sobre ela também... E sim, eu percebi que seu personagem favorito é o nosso ruivinho, aliás, acho que da maioria das pessoas aqui...rs...
Sobre a Hermione dos filmes eu acho que estão forçando sim, ela só vive de rosa e com o cabelo arrumado... A mais original foi a do primeiro filme...
E pelas palavras da Trelawney vai ter morte sim, resta saber se ela está certa...
Depois do capítulo 18 você ainda confia na Brinks?? Você é uma das poucas que está acreditando nela...
Bom, mais uma vez milhões de agradecimentos, eu gosto muito dos seus comentários e de você, que é um doce, viu menina? Beijinhos!

Letícia: Ah, Lê, saiba que mesmo seus comentários não sendo gigantes eu os adoro, você é muito verdadeira!! Brigou, é?? Mas ainda bem que já está tudo bem... rs... Bom, você deve ter ficado com mais peninha da “Mi” nesse capítulo, não? Me deu o maior aperto no coração em escrever a cena dela toda confusa e chorando no dormitório. Obrigada mais uma vez e espero sua opinião sobre o 18. Beijão!

Brine: Essa é minha futura bixete!!! Rs..rs... Em primeiro lugar quero dizer que adorei falar contigo no MSN e que você é muitooooooooo legal! Estou na maior torcida para quem você passe aqui e venha parar em Uberlândia!!
Você deve ter gostado das ceninhas H/G do capítulo, não?? Tomara que sim, como já disse tenho muito medo de decepcionar meus leitores... Espero que continue lendo e que o capítulo 18 tenha agradado. Eu AMO seus comentários, você é sempre muito simpática, Brine! Beijinhos!!

Humildemente Ju: Ah, esse capítulo ainda maior eu devo ter te matado de descrença e preguiça de ler, não?? Heheheheee... Me desculpe, Ju!! E sim, você é a comédia em pessoa, me divirto pacas com seus comentários. Espero aqui a sua opinião sobre o 18, viu? Nossa, vou ter que esperar o último capítulo para ganhar um comentário gigante seu??? Bom, tudo bem, tudo bem, eu espero... Obrigada mais uma vez, Ju!! Beijos!

Angel Weasley: Muito obrigada pelo comentário!! Se você gosta de capítulo grande então esse não desagradou, não é?? Espero que não e espero ver sempre suas opiniões por aqui! Mais uma vez obrigadão!! Beijinho!

Val: Eu acho que continuar dizendo o quanto AMO esses seus comentários gigantes, suas opiniões e sua amizade, é bater na mesma tecla, não?? Mas eu repito tudo isso mesmo!!!! Você é uma autora MAGNÍFICA e me deixa super honrada o fato que você sempre esteja acompanhando a história, interessada, opinando, ajudando, criando teorias... E não, eu não sou malvada, viu?? Você é que encasqueta com as coisas e fala que estou te deixando com o coração apertado...rs... Espera para chorar mais para frente, se é que você vai chorar...rs... E só uma coisa: eu escrevi todo o enredo da fic antes da tal novela Alma Gêmea, viu? Então sem comparações...rs..rs...
Grande beijo amiga, e mais uma vez sem palavras para agradecer sua amizade e todo o apoio que você me dá.

Pequena Pri: Ahh, estou rindo aqui... você não imagina o quanto seus comentários me divertem, sabia? Você quer matar o pobre do Flitwick??? Hahhahhhaa... É verdade, ele interrompeu numa hora mesmo boa... E pelas palavras da Trelawney alguém vai morrer, agora veremos se ela está certa, não?
MUITO OBRIGADA PELOS COMENTÁRIOS!! Grande beijo, Pequena Pri!

Pablo: Morri de rir com seu comentário, Pablo! Vadiando durante as aulas de feitiço... hahhahahhahha, hilário isso. Espero que você tenha se divertido com o 18 e continue acompanhando. Obrigada e beijão!

É isso então... Beijos, espero que continuem acompanhando e quem nunca comentou mas lê, obrigada também, mas peço que se tiverem um tempinho me dê o gostinho de saber as opiniões de vocês, ok? Até a próxima!

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Comentários (2)

  • Andréa Martins da Silva

    Começo a achar que Mione está certa em relação à professora. E esse joguinho trouxa é bem perigoso. rsrsrsrs

    2013-11-07
  • Lana Silva

    Capitulo perfeiiito kkk Ameiiiii *-------*  

    2012-01-04
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