UMA VISITA ENCOMENDADA



Harry Potter chegou cedo n’A Toca naquela manhã. A Sra. Weasley sorriu satisfeita ao vê-lo e o abraçou apertado.
— Como está querido?
— Bem, Sra. Weasley. Vim assim que as aulas acabaram. Hermione virá daqui alguns dias, ela foi se encontrar com os pais.
— Claro! Ela escreveu a Rony e ele nos contou. Agora venha, vamos tomar o café.

Harry carregou sua mala até a sala de estar e voltou para a cozinha, sentando-se em um dos banquinhos. O cheiro de pão recém tirado do forno invadiu toda a casa e ele sentiu seu estômago revirar de fome.
— Como ela está, Sra. Weasley? – Harry perguntou de repente e até mesmo ele se assustou.
— Ó querido... – Ela colocou a travessa de pães na mesa e o olhou bondosamente – ela está bem. Um pouco triste, eu tenho achado. E não consigo encontrar motivos para essa tristeza aparente. Passa o dia no quarto estudando, pesquisando... Queria tanto que estivessem juntos e... – ela baixou tanto o tom de voz que Harry teve que fazer um esforço surpreendente para ouvi-la – ...quem sabe talvez fosse este o momento para vocês...

Mas ela foi interrompida por Arthur e Rony que entraram na cozinha parecendo um vendaval.
— Harry!!! – Rony gritou satisfeito assim que o viu e lhe deu um abraço seguido de fortes tapinhas nas costas – Como você está cara? Chegou a muito tempo?
— Acabei de chegar. – Harry sorriu para o amigo e devolveu os fortes tapinhas.

Arthur também o cumprimentou satisfeito e os quatro sentaram-se para comer. Conversaram sobre o trabalho dos Weasley e o curso de Harry. Pouco antes das oito os dois se levantaram e se despediram.
— Vemos vocês no almoço. Até logo! – E em seguida desapareceram.
— Vou chamar Gina para tomar café. – A Sra. Weasley falou levantando-se.
— Não precisa, mãe. Estou aqui. – A garota tinha acabado de entrar na cozinha. Estava sonolenta, usava pantufas cor de rosa e um roupão combinando. Olhou para Harry e sorriu – Olá desconhecido! Como vai? – Ela o abraçou e beijou. Sentou-se na cadeira, serviu um pouco de uma bebida esquisita esverdeada e tomou um pequeno gole.

Ele a olhou e conseguiu odiá-la por quase um segundo. Como ela conseguia fingir que nada tinha acontecido entre os dois e tratá-lo como se fossem irmãos? Mas era ela. Seu grande e único amor.
— Eu estou bem. – Ele a olhou preocupado. - E o corte?
— Continua aqui. – Ela riu nervosamente – Sabe como é, agora somos inseparáveis. - E o seu curso, como está?
— O curso é muito bom. Quero dizer, é interessante. Mas temos muitas tarefas, são várias missões de treinamento. Viajamos muito. – Ele a olhou fixamente. – Nem sempre podemos estar onde o coração deseja.
— Por falar nisso – Gina tentou mudar rapidamente de assunto – Resolvi fazer meu curso por correspondência. É óbvio que a qualidade não será a mesma nem de longe. Mas depois de tudo que aconteceu na pirâmide – Ela suspirou derrotada – acho que a minha mãe morreria se eu voltasse para a escola.
— E como funciona esse curso por correspondência? – Harry perguntou curioso.
— Eles mandam quilos de matérias e trabalhos. A medida que faço e os envio eles mandam de volta as notas com novas matérias e trabalhos. Eu dei uma olhada no cronograma ontem e, se continuar no pique que estou, formo em menos de dois meses.
— Nossa... – Harry assobiou baixinho e pensou no tempo que ainda faltava para também se formar. – Parabéns! E vocês terão férias?
— Está louco? – Ela riu – Alguns acreditam que pelo fato de não freqüentarmos a escola estamos eternamente de férias. Na verdade, acredito que alguns alunos realmente sentem-se assim. Mas eu estou correndo contra o tempo, quero logo me formar. Tenho alguns planos para o meu futuro.

Ela sorriu e Harry a olhou demoradamente.
— Isso daqui é muito ruim! – Ela exclamou empurrando o copo para a frente.
— Na verdade, eu estava me perguntando o que é isso tão... verde.
— É a criatividade da minha mãe. – Ela riu. – Todo dia de manhã ela prepara uma dessas vitaminas para mim. – Ela fez uma careta. - A de hoje tem gosto de maltês, brócolis, acelga e ovo de dragão.
— Faço isso para o seu bem, querida. – A Sra. Weasley entrou na cozinha e só então os dois se deram conta de que ela tinha saído. – São vitaminas fortificantes, você está muito magrinha. Foi a enfermeira Alice Pomfrey, irmã da enfermeira Pomfrey de Hogwarts que me passou as receitas. – Ela olhou para Harry – Harry, querido, arrumei sua cama e suas roupas no quarto do Rony.
— Obrigado Sra. Weasley. Não precisava.
— Ora querido... – ela sorriu bondosamente – É claro que precisava. – Ela olhou para Gina e seus olhos se entristeceram. – Querida, você não vai comer nada?
— Estou um pouco sem fome agora, mãe. Talvez mais tarde. – Ela bebeu o último gole da vitamina e levou o copo até a pia. – Vou tomar um banho e depois terminar um trabalho. – Ela caminhou-se para a porta e olhou para Harry, que a acompanhava com o olhar. – Harry, quer dar uma volta hoje a tarde?
— Claro! – Ele sorriu satisfeito. – Podemos atirar gnomos.
— Há séculos não fazemos isso. – Havia um pouco de saudade na voz dela.
— Não podemos deixar a tradição se perder.
— É claro que não. Senão nunca seremos perdoados. – Ela sorriu e saiu da cozinha.

Harry ouviu a escada ranger levemente quando ela subiu. Olhou para a Sra. Weasley e sorriu, mas o sorriso que ela lhe devolveu foi o mais triste que ele já tinha visto em seu rosto. Ela lhe deu as costas e caminhou até a dispensa. Voltou de lá com um embrulho de formato estranho. Ela o colocou em cima da mesa e fez sinal para que Harry se aproximasse.

Era o relógio que não marcava as horas, e sim onde todos da família Weasley estavam. Ela não precisou dizer uma palavra. Harry olhou para todos os ponteiros com os nomes até que encontrou o de Gina. Ele apontava para Perigo Mortal.
— Harry... – Ela começou e por poucos segundos ele não a reconheceu. Não era a Sra. Weasley que ele conhecia há tantos anos. – Sei que você deve estar me achando estranha. Talvez até um pouco paranóica demais. – Ela não parou para que ele a respondesse – O que estou querendo dizer é que... – Ela apontou para o objeto em cima da mesa - ... ele nunca se enganou. E eu estou absolutamente em pânico, pois como a minha filha pode estar em perigo mortal se está em casa, segura? Aconteceu alguma coisa naquela pirâmide, algo que nossos olhos não podem ver e nossas mãos não podem tocar. Mas eu sei que aconteceu alguma coisa com a minha menina. Ela não come direito. Não dorme direito. Escuto seus passos pelo quarto durante toda a madrugada. Ela anda em círculos. – Ela segurou a mão do garoto. – Harry, estou pedindo ajuda. Ela gosta de você e eu sei que você gosta dela. Talvez, quem saiba...
— Farei o possível, Sra. Weasley. – Ele sorriu determinado. – E o impossível também.



O almoço foi realmente uma zona. Fred e Jorge tiraram uma folga na loja e conseguiram aparecer para o almoço. Carlinhos e Fleur também chegaram de última hora e todos sentaram-se satisfeitos para a refeição. Conversaram sobre a loja dos gêmeos, o casamento do casal, o curso de aurores de Harry e sobre o brócolis da Sra. Weasley. Pouco depois, Harry e Gina levantaram-se e rumaram para os jardins. Ele passou o braço pelo ombro dela e caminharam até o balanço de madeira.
— Terminou seu trabalho? – Harry perguntou.
— Mais ou menos. – Ela o olhou e sorriu – Ainda falta a conclusão.
— Por que não deixa para fazê-lo depois do jantar? Assim podemos passar a tarde juntos. Só tenho uma semana de férias.
— Claro! E o que você quer fazer?
— Que tal uma partida de quadribol? Gol a gol? – Ele perguntou erguendo uma sobrancelha e sorrindo.
— Ótima idéia! – Ela se levantou do balanço e correu até o campinho, como ele em seu encalço. – Mas a Nimbus 2000 é minha!


Eles jogaram durante toda a tarde e nem ao menos viram o tempo passar. Gina voava na Nimbus 2000 e Harry numa Cleansweep-7. Ambas eram muito velhas e suficientemente boas para proporcionarem um pouco de diversão. Voltaram para casa quando o sol começou a se pôr, suados e sujos da cabeça aos pés.
—Vejo que se divertiram muito. – A Sra. Weasley sorriu satisfeita e em seguida fingiu voz de brava. – Mas estão atrasados para o jantar. Agora subam, tomem um belo banho e desçam para o jantar.


Dois dias depois Hermione Granger chegou n`A Toca. Depois de cumprimentar todos subiu para o quarto de Gina, bateu levemente na porta e entrou. A amiga estava debruçada sobre vários livros e parecia extremamente concentrada.
— Gina?...

Ela se virou e viu Mione parada junto a porta.
— Você chegou! – Ela a abraçou. – Como está?
— Eu estou bem! – Olhou Gina de cima a baixo satisfeita. – E vejo que você também está ótima! É o Harry, não é? Ele te fazer bem.

Gina sorriu encabulada, mas sabia que era verdade. Sentia que a vida voltava a correr em suas veias, embora sentisse que sua alma abandonava cada dia mais o seu corpo.
— Ora Mione... A quem o Harry não faz bem? A quem ele não ajuda? A quem ele não protege?
— Ele é um bom homem, Gina.
— Ele é um bom amigo. – Ela fez questão de frisar sutilmente a última palavra.
— O amor que sente por você é inexplicável.

Gina sentiu vontade de chorar. Era verdade. Uma vez Harry lhe dissera que a amava tanto que chegava a doer. Que, por ela, era capaz de morrer e matar. Mas parecia que isso tinha acontecido há séculos, como se pertencesse a outra pessoa.
— Mione, as vezes eu acho que o que Harry sente por mim não é amor. É obsessão. Eu não o amo. Não da forma que ele deseja e todos vocês esperam. – Ela suspirou derrotada. – Eu amo Draco Malfoy.





— Não adianta! – Ele gritou furioso – Não vou mais ceder à você, papai.
— Será que não, Draco? Você me deve lealdade. E eu devo lealdade ao novo senhor. Estamos todos entrelaçados. Você precisa cumprir sua segunda missão. Não é nada assim tão difícil.
— Como pode dizer que não é nada assim tão difícil? – Draco gritou furioso. – Está pedindo que eu leve Virgínia Weasley novamente para a pirâmide.
— Draco – Lucio o olhou cinicamente – Você não precisa levá-la. Ela irá por vontade própria. – Ele sorriu – Daqui dois dias ela apresentará o próximo estigma. E deverá voltar à pirâmide para buscar as respostas e sua salvação. E quem estará lá para apoiá-la e protegê-la? Você. E quem estará lá para entregá-la ao nosso senhor? Você.

Uma sombra passou pelos olhos de Draco. Ele tinha certeza que nunca odiaria tanto alguém como odiava seu pai. Seu próprio sangue foi capaz de entregá-lo a morte. E agora o entregava novamente.
— E o que acontecerá se eu não concordar, papai? Se eu me recusar a encontrá-la na pirâmide?
— Serei obrigado a deixar esse pingente – ele tirou o cordão prateado do bolso e o balançou – cair acidentalmente. Devo lembrar-lhe que no momento que ele estilhaçar no chão a Srta. Weasley cairá morta no chão. Instantaneamente.




Um vento gelado soprava por toda a pirâmide de Gizé. Embora não tivesse muitas aberturas, os vãos abertos proporcionavam uma grande passagem de vento. Quatro homens com longas capas pretas conversavam nervosamente. Discutiam sobre o eventual problema que tinham encontrado. Outro homem estava deitado em um catre e parecia dormir profundamente. Usava roupas ricas e de época. Sua respiração era regular e profunda e ele parecia não se importar com a discussão que acontecia ao seu redor. Todos se calaram e curvaram quando a mulher de cabelos loiros entrou na câmara.



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