O COMEÇO DE TUDO
Virgínia Weasley estava arrumando sua mala enquanto ouvia a Sra. Weasley fazer um longo discurso sobre o quanto ela era teimosa, que não precisava ir tão longe para estudar História Bruxa e que todos iam morrer de saudade. Por fim, derrotada, apenas suspirou e perguntou:
— Gina querida, você precisa mesmo ir?
— A senhora sabe que sim mamãe.
A Sra. Weasley deu um longo suspiro e saiu do quarto. Gina a observou em silêncio e sorriu. Sua mãe era a criatura mais bondosa e preocupada que existia na face da Terra e ela se orgulhava disso. Óbvio que as vezes incomodava muito, mas ela sabia que era amor demais e por isso não via motivos para se queixar.
Terminou de arrumar as malas para em seguida colocar a papelada em ordem, queria ter certeza de que não deixaria sequer uma folha ou um livro para trás. Depois de tudo pronto sorriu satisfeita, pegou sua passagem para Bruxelas e apertou-a junto ao peito.
Essa era Virgínia Weasley, uma mulher forte e determinada de 18 anos formada em Hogwarts que agora daria seqüência aos estudos em uma Universidade bruxa. Ela se orgulhava muito de ser quem era; durante anos lutou contra a imagem de ser apenas uma bela mulher para provar que era inteligente e extremamente capaz. Depois de longas jornadas de estudo ela havia sido aprovada nos exames e conseguiu, enfim, ingressar na universidade que queria.
Quando terminou de arrumar tudo ouviu seu pai gritar seu nome e desceu as escadas correndo.
— Oi papai! – Ela o beijou no rosto e sorriu – Conseguiu sair mais cedo do Ministério?
— Você acha que eu deixaria minha única garotinha viajar sem passar um tempo a mais com ela?
— Pai, eu não sou mais garotinha!
— É sim! E pode ter certeza que será sempre o meu bebê!
A Sra. Weasley olhou para Gina e sorriu satisfeita. Ela e Arthur sabiam que tinham feito um ótimo trabalho ao educarem seus filhos; todos eram íntegros, honestos e tinham caráter.
— O jantar vai ser servido daqui quinze minutos, onde estão os garotos? – Ela disse enquanto sentava no sofá ao lado do marido e abraçava Gina. – Eu pedi inúmeras vezes que eles não se atrasassem para o jantar de despedida dela.
— Daqui a pouco eles chegam mãe. – Gina falou - Rony deve estar na loja com Fred e Jorge, Carlinhos e Gui devem estar a caminho, Harry e Hermione provavelmente estão no curso de Aurores e Percy... – Ela olhou para o pai.
— Percy estava tentando trocar o plantão com alguém. – Arthur falou calmamente.
— Viu? Daqui a pouco todo mundo chega.
— Eles sabem que você não pode dormir tarde – A Sra. Weasley falou brava – Não entendo porque ninguém respeita horários.
— Mãe! Não vai ralhar com eles.
Depois de aproximadamente meia hora todos os irmãos de Gina acompanhados por Harry e Hermione entraram na sala d’A Toca com balões e faixas que diziam “sentiremos sua falta” e em seguida “boa sorte”.
O jantar correu perfeitamente bem durante toda a noite. Gina não conseguiu parar de sorrir sequer um minuto, mas nem ela sabia se era de felicidade ou nervoso. Depois que todos comeram a sobremesa e começaram a dispersar ela foi para o jardim.
— Animada para a viagem Gin? – Harry se aproximou e a beijou no rosto. – Você sabe que eu vou morrer de saudades, não sabe?
— Eu sei Harry – Ela o olhou nos olhos e sorriu enquanto acariciava seu rosto – Eu também vou sentir saudades, mas você sabe que eu preciso ir.
— Você sabe o que eu penso.
— Eu sei que você sabe que eu sei e todos sabemos. – Ela sorriu de forma marota – Vamos parar de saber tanto e me dá um beijo.
Jorge voltou para junto dos outros no centro da sala com um sorriso malicioso nos lábios. Olhou para Fred que imediatamente compreendeu o que o irmão queria dizer e sorrateiramente se espreitou junto a janela.
Os dois trocaram um rápido olhar e se ajoelharam diante da Sra. Weasley simulando uma crise histérica de choro.
— Por favor mamãe! – Jorge falou enquanto fingia chorar – Não vá até a janela!
— A cena é muito forte, o coração frágil da senhora não suportaria!
— Vocês sabem que meu coração é forte demais principalmente para agüentar suas maluquices - ela disse enquanto olhava brava para eles – Agora deixem sua irmã em paz, eles estão se despedindo.
Não era segredo para ninguém que Harry e Gina "ficavam" de vez em quando. Óbvio que isso acontecia todas as vezes que eles se encontravam e era assim desde o baile de inverno do último ano de Harry em Hogwarts.
— Gina, acorda! – Mel, a sacudia violentamente – Acorda Gina!
— O que foi Mel?! Quem morreu? – Gina sentou na cama e só então reparou que cinco pares de olhos brilhantes a observavam no escuro quarto da torre da Grifinória. Ela suspirou desanimada – São quatro da manhã, o que vocês querem?
— Você beijou Harry Potter! – Mel falou exaltada.
— E aí, como ele beija? – Outra perguntou.
— O colégio inteiro começou a comentar quando vocês se beijaram!
— Você é a menina mais popular de Hogwarts!
— Vocês estão namorando?
— Ai gente, dá pra calar a boca? Não to conseguindo pensar sozinha, muito menos com dez pessoas falando ao mesmo tempo! – Gina reclamou – O que vocês querem?
— Simples amiga – Mel falou e Gina a odiou imensamente. Então agora eram amigas? – Você ficou com o Potter e agora tem que contar pra gente como é olhar dentro daqueles olhos verdes e beijar aquela boca.
— Enquanto eu não contar vocês não vão me deixar em paz, não é? – As cinco garotas concordaram com a cabeça e chegaram para mais perto de Gina que puxou a varinha – Lumus! – Logo ela reconheceu as outras quatro que acompanhavam Mel: eram as garotas mais chatas de toda a Grifinória. Ela respirou fundo e fingiu puxar do fundo da memória tudo que tinha vivido há poucas horas. – Eu desci para o baile com a Mione, ela foi dançar com o Rony e eu fui dançar com o Harry. Depois de umas duas músicas ele me beijou e pronto. – Ela as olhou séria - Agora com licença que eu preciso dormir, estou morta de cansaço.
— Como ele beija? – Uma garota perguntou afoita.
Gina passou a língua sobre os lábios. — Normal.
— Vocês estão namorando?
— Não. Agora eu vou dormir. Nox! – disse enquanto puxava as cobertas e afastava as meninas da cama com a cortina.
As garotas foram dormir absolutamente contrariadas, mas Gina não conseguiu pregar os olhos. Ela se cobriu até o queixo, passou a língua novamente sobre os lábios e sorriu feliz. Na verdade, a história tinha sido um pouco diferente.
Quando Mione e Rony trocaram o primeiro olhar ela percebeu que um é pouco, dois é bom e três é demais. Então Harry – sempre Harry – apareceu e a convidou para dançar. A música era lenta e aos poucos ela foi se aninhando ao peito do rapaz. Ele a enlaçou e sorriu.
— Você está usando a tiara que eu lhe dei hoje a tarde.
— Claro que sim... – Ela respondeu tímida.
— Ficou linda em você, assim como imagino que tenha ficado na minha mãe. – Ele sorriu daquele jeito manso e ela o encarou nos olhos. Nesse momento conseguiu enxergar sua alma, e sorriu.
Depois de três músicas que tocaram e um piscar de olhos Harry a olhou no fundo dos olhos novamente e sem dizer uma palavra a beijou. A sensação dos lábios dele tocando os seus, sua língua, tudo era maravilhoso. Ela sentiu seu coração bater acelerado junto ao dele e soube que aquele era um dos momentos mais felizes da sua vida. Não pelo fato de estar beijando Harry Potter, mas sim por estar beijando seu primeiro e grande amor.
Gina abriu os olhos e encarou o garoto a sua frente. Agora Harry tinha dezenove anos, era um homem feito. Seus olhos ainda revelavam sua alma e ela conseguia entendê-lo. Possuíam um brilho selvagem, uma necessidade em vencer limites que era inexplicável. Além disso, existia a mágoa e a tristeza que andavam passo a passo com a alegria e a felicidade; eles eram iguais e por isso se entendiam.
— Vou sentir sua falta Pequena. – Harry a abraçou forte e ela soube que suas palavras eram verdadeiras.
— Também sentirei sua falta Harry. – Ela o beijou ternamente e sorriu - Estava pensando agora como foi que ficamos a primeira vez.
— No Baile de Inverno... – Ele falou – eu também me lembro, foi muito bacana.
— Eu pensei que fôssemos ficar juntos. – ela disse com uma voz levemente magoada.
— Mas nós estamos juntos!
— Juntos como Rony e Hermione. – ela explicou. – Um namoro sério, sabe?
— Se ficássemos juntos você desistiria de estudar em uma faculdade tão longe?
— Você sabe que chantagem emocional não funciona comigo Harry Potter. – Ela falou zangada. – Agora vamos entrar, eu viajo amanhã de manhã.
Gina entrou n'A Toca um tanto quanto melancólica e Harry apareceu poucos minutos depois bastante zangado, mas ela o ignorou.
— Gina, está na hora de abrir os presentes! – Hermione falou – Já está tarde e você acordará cedo amanhã.
— Claro Mione! – Gina andou até o centro da sala e ela foi a primeira a entregar seu presente. Pelo formato e por se tratar de Hermione Granger só podia ser um livro, mas mesmo assim Gina fingiu surpresa ao constatá-lo. "Tudo o que você sempre quis saber sobre Magia Negra e teve medo de perguntar" era um belo exemplar; a capa era preta em couro e as letras que formavam o seu nome eram douradas. – Obrigada Mione! Parece... ótimo!
— Uma leitura agradabilíssima. – disse Jorge – Não tenho dúvidas!
— Concordo com você meu querido irmão. – completou Fred – O tipo de livro que eu gostaria de ter na cabeceira da minha cama.
— Caso vocês não saibam – Hermione falou com seu usual tom de superioridade – Gina terá História da Magia Negra Geral, Específica e Avançada. Nada melhor do que um livro que possa auxiliá-la no começo do curso.
— Virginia Weasley! – A Sra. Weasley gritou furiosa, seu rosto branco como cera – Magia Negra geral, específica e avançada? Explique-se!
— Molly, querida – Arthur tentou intervir já que Gina tinha ficado sem fala, mas a Sra. Weasley estava muito brava.
— Não tem nada de Molly querida ou mamãe! Primeiro eu preciso aceitar que a minha filhinha vai morar longe, depois que ela vai ter que ir de abião, aquela geringonça que os trouxas usam para viajar longas distâncias, e agora que ela vai aprender Magia Negra?! Acho que não mereço tanto desgosto na minha vida!
— Sra. Weasley... – Hermione falou timidamente – Será que eu poderia conversar com a senhora em particular? Sobre... a faculdade onde a Gina vai estudar. – Ela percebeu que acabara de colocar a viagem de Gina em risco e precisava reverter essa situação. A única coisa que poderia fazer era conversar com a Sra. Weasley e contar tudo o que sabia sobre o curso que sua filha pretendia fazer. Depois de muito custo Molly concordou em ir para a cozinha com Mione e escutar o que ela tinha a dizer, mas não antes de dizer em tom firme que Virginia Weasley, sua filha mais nova, não iria a faculdade alguma.
— Gina querida, você vai perder o abião! – Como ninguém teve coragem de corrigi-la na noite anterior, Molly acreditava que estava se referindo de forma correta ao avião - Precisa andar rápido!
— Estou indo mamãe! – Gina respondeu gritando – O papai já chegou? Wingardium Leviosa! – E dizendo isso desceu com todas as malas e sacolas.
— Minha querida... – Molly disse com lágrimas nos olhos enquanto abraçava a filha – Vou morrer de saudades!
— Eu também vou sentir saudades mamãe... – Gina respondeu sorrindo enquanto recebia o abraço caloroso da mãe. Depois virou-se para o pai e o abraçou – Amo você papai, vou sentir saudades.
— Eu também vou sentir saudades minha querida. – Arthur a abraçou apertado e cochichou em seu ouvido. – Não se esqueça de mandar anotações sobre as aulas de Magia Negra para sua mãe, ao menos enquanto não consigo persuadi-la do contrário.
— Pode deixar papai. – Gina caminhou até a lareira segurando duas malas em uma mão e pó de flu na outra. – Amo vocês. – Aeroporto!
Labaredas verdes engoliram Gina e logo ela sumiu d'A Toca. A Sra. Weasley correu para abraçar seu marido e chorou em seu ombro.
— Ela é o nosso bebê Arthur... E está indo embora!
— Ela é o nosso bebê Molly, mas já está na hora de ser alguém longe dos nossos olhos.
Gina conseguiu chegar no aeroporto sem que nenhum trouxa a visse saindo de dentro da lareira da Sala de Controle. Ela parecia uma adolescente comum voltando à vida escolar como tantas outras que corriam contra o tempo para não perderem os vôos.
Ao consultar o relógio local constatou que o avião sairia em apenas vinte minutos e preferiu procurar o portão de embarque. Depois de entregar sua passagem para uma aeromoça que tinha o rosto carregado de maquiagem e os cabelos em um coque tão apertado que seus olhos quase ficavam puxados, encostou-se na confortável poltrona e sorriu satisfeita. Com exceção das anotações que precisaria mandar para sua mãe sobre História da Magia Negra tudo saía exatamente como o planejado; em poucos segundos ela estaria a caminho de uma excelente universidade bruxa para estudar um renomado curso.
A grade curricular de História Bruxa oferecia ao aluno morar no campus durante um ano para aprender todas as matérias-base e em seguida viajar para um país a sua escolha para as aulas práticas. Nesse instante seus olhos brilharam e um sorriso selvagem iluminou seu rosto. Ela tinha dado o primeiro passo para realizar um grande sonho: Vingar-se de Tom Riddle.
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