Sob a Luz das Estrelas
N/A: Sarah e Antonio não são criação minha, mas sim de Regina McGonagall, que escreveu a belíssima fanfiction "Uma Prece Por Snape", onde Sarah é a protagonista.
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Mary se levantou e abriu a janela do quarto de par em par. A noite estava belíssima: as estrelas estavam tão brilhantes como na noite em que Tonks resolvera falar dela para Lupin... invulgarmente brilhantes, tendo em conta que conseguiam iluminar um pouco daquela noite escura de lua-nova.
Mary adorava noites de lua-nova. Eram as únicas em que se sentia segura e podia olhar o céu... e como ela gostava de olhar o céu e as constelações: a Ursa Maior, a Ursa Menor, a Cassiopeia... Lá estava elas, lindas, brilhando para ela.
Pensou na janela da sala. De lá, certamente, veria melhor o céu e as estrelas. Sim, seria melhor do que a janela do seu quarto, que tinha um prédio Trouxa bem na frente.
Resolveu descer. Empunhando a varinha, disse:
- Lumus! - Imediatamente, na ponta da varinha surgiu uma luz, forte o suficiente para iluminar o seu caminho, mas não para que ela visse as horríveis cabeças de elfos que ladeavam a escadaria desde os tempos em que a mãe de Sirius ainda era viva e que jamais haviam consehuido retirar dali.
Ao chegar a meio da escadaria, teve uma panorâmica da sala e o seu coração disparou: o lugar junto da janela já estava ocupado. Outra pessoa se lembrara de contemplar as estrelas: sentado no sofá junto da janela estava Remo Lupin.
A sua primeira reação foi voltar para trás, mas, de repente, parou, respirando fundo e falando para si mesma:
- Não. Não vou fugir.
Desceu as escadas, sentindo o rosto queimar de tão corado e se encontrou na sala. Lupin sentiu um barulho atrás de si e se voltou, sobressaltado. O susto, contudo, foi substituído por um certo constrangimento, ao deparar com Mary, iluminada só pela tênue luz da sua varinha e vestida apenas com uma camisola de dormir azul-escura, salpicada de estrelas brilhantes, o retrato fiel do céu naquela noite... uma camisola de tecido fino, que deixava antever os contornos do seu corpo curvilíneo.
Engoliu em seco, mas se controlou. Toda a vida fora mestre em esconder cada um de seus sentimentos e dessa vez não seria diferente. Com um sorriço forçado, cumprimentou:
- Boa noite. - Ela lhe devolveu o sorriso e o cumprimento e ele resolveu continuar a falar, para evitar um silêncio constrangedor. - De pé, tão tarde?
Mary se aproximou um pouco, suspirando:
- É noite de lua-nova... - Baixou os olhos, para esconder o seu rubor, o que ele agradeceu interiormente, porque, assim, não teria que encará-la. - É a única noite do mês em que eu posso andar por aí, em segurança. Estava olhando as estrelas da janela do meu quarto. Elas estão tão lindas... resolvi descer, para olhá-las daqui. Dá para ver muito melhor... Pelo visto, mais alguém teve a mesma ideia.
Ela olhou para ele, sorrindo, e Remo não pode deixar de reparar no quanto o sorriso dela o enternecia. Se pudesse responder à pergunta que Tonks lhe fizera dias antes ("Está achando ela tão feia assim?"), certamente responderia: "De forma alguma. Ela tem o sorriso mais lindo que eu já vi na minha vida!"
Mas não podia responder tal coisa. Tampouco poderia pensar no efeito que Mary, com o seu ar tímido e frágil, a camisola reveladora e o sorriso que ele achava lindo exerciam sobre si mesmo. Disse apenas, cordialmente:
- Não seja por isso. Pode ocupar o meu lugar. Eu já ia dormir, mesmo.
Mary se aproximou mais, de varinha em punho, para iluminar o caminho que a separava dele. Como sempre, quando estava nervosa, começou a falar, com uma vivacidade que em muito lembrava Tonks; não podia deixar que ele se retirasse sem, ao menos, tentar conversar um pouco com ele e quebrar o gelo:
- Não vá embora por minha causa, Sr. Lupin! - Pediu. Ele não pode deixar de sorrir. Era tão estranho ouvir alguém o chamando de "senhor". Ele nem lembrava da última vez que alguém o chamara daquele jeito. Ela continuou, com um suspiro. - Para o senhor também deve ser muito bom se sentir seguro, ao olhar para o céu, embora o seu problema seja só com a lua-cheia... Já eu... para mim basta um único raio de luar, não importa a fase da lua... e, apesar de não me transformar obrigatoriamente, quando isso acontece, não tenho sequer uma poção como a sua para me tornar inofensiva...
Lupin sentiu uma onda de piedade invadi-lo, misturada com uma enorme simpatia. Sim, ele a entendia. Sentiu uma vontade quase incontrolável de tomá-la nos braços, de pegá-la no colo, de protegê-la, de lhe dar carinho... mas é claro que não o fez. Preferiu aligeirar a conversa, sorrindo e replicando:
- Se a Srta Hollow soubesse como é horrível o sabor da poção mata-cão, não lamentaria tanto... e depois, é extremamente aborrecido ter que tomar aquela coisa durante toda a semana que antecede a lua-cheia.
Mary soltou uma pequena gargalhada. Era tão bom ouvir Lupin brincando com a sua situação que ela resolveu entrar no espírito da brincadeira. Se aproximou mais ainda e conseguiu olhá-lo nos olhos, apesar de estar em pé e ele sentado, já que ele era muito mais alto do que ela:
- Ah, mas a sua sorte é que isso é só na semana que antecede a lua-cheia. Já eu, tenho que tomar umas ampolas horrorosas todos os dias, senão o sol acaba me esturricando!
Lupin riu, mais descontraído:
- Bom, desse jeito, eu vou acabar me sentindo aliviado por ser apenas um lobisomem!
Ela também riu... e o silêncio reinou. Mary buscava desesperadamente alguma coisa inteligente para falar, mas sentia que a sua língua estava colada e o cérebro vazio. Sem dar por isso, baixou a mão e, com ela, a varinha, que se apagou, os deixando naquilo que seria a mais completa escuridão, se não fosse a luz de dois candeeiros lá fora, ao longe, e também do brilho feérico das estrelas... as do céu e as que enfeitavam a sua camisola cor-de-noite... a mesma camisola de onde Remo não conseguira desviar os olhos acinzentados até poucos momentos antes.
Estavam perto um do outro... muito perto... demasiado perto, no entender de Lupin, que imediatamente buscou um assunto qualquer que impedisse que alguma coisa acontecesse... algo que ele sabia que iria se arrepender, caso acontecesse.
Afastando-se, começou a falar:
- A Tonks me disse que a srta vai lecionar em Hogwarts esse ano...
Mary sorriu, dividida entre a decepção por não ter acontecido um beijo entre eles e o alívio por ter, finalmente, um assunto para conversar.
- É verdade. - Respondeu. - Vou dar aulas de Adivinhação ao sétimo ano.
Ele sorriu de volta:
- É uma classe fantástica! - Assegurou. - Dela fazem parte o nosso protegido Harry Potter, que é filho de um grande amigo meu e eu me sinto responsável por ele, o seu primo Ron Weasley, que é o maior amigo deles, e a maior amiga de ambos, Hermione Granger, a bruxinha mais inteligente que eu já conheci. É quase incrível que ela não tenha ido parar na Corvinal!
Mary se mostrou entusiasmada com a conversa:
- A Tonks me contou! - Disse, enrolando com o dedo uma mecha de cabelo, para tentar espantar o nervosismo. - Estou louca para conhecer o Harry Potter pessoalmente! E nem sei como vai ser dar aulas para o meu primo Ron.
- É mesmo, deve ser estranho dar aula para um parente. - Concordou Lupin. - Eu lhe aconselharia a pedir umas dicas para a Professora McGonagall de como agir numa situação dessas. Ela já deu aulas para uma sobrinha, anos atrás.
O rosto de Mary se iluminou, perante a referência àquele assunto:
- Eu sei! - Exclamou, com tom de entusiasmo crescente. - O senhor está falando da Sarah! Ela é uma grande amiga minha dos tempos da escola. Vivia para cima e para baixo com a Tonks e comigo. Eu sempre a admirei muito.
Lupin a olhou, interessado:
- É mesmo? Não sabia disso. Eu conhecia a Sarah quando ela era ainda uma criança e nos reencontramos no ano passado. Ela é uma mulher fantástica!
Sem saber porquê, Mary sentiu uma onda de mal-estar invadi-la. Levou alguns segundos para perceber que estava com ciúmes. Nunca dera conta de que era ciumenta... até então. Não tinha qualquer motivo para tal. Sarah era sua amiga e, ainda por cima, tinha uma eterna paixão escondida, desde os tempos da escola... algo tão forte quanto impossível.
Mesmo assim, o mal-estar não pareceu, por mais que fizesse uma força sobre-humana para combatê-lo.
- É. - Concordou, com um tom de voz subitamente frio. - Fantástica, mesmo.
Quase falou de Antonio, o irmão de Sarah, sua paixão secreta adolescente, como uma espécie de vingança... mas se deteve a tempo... e o silêncio constrangedor reinou de novo entre eles.
Mary lutava furiosamente para afastar os ciúmes, que sabia que não tinham o menor cabimento, mas não conseguia deixar de senti-los... E se Lupin nutrisse algum tipo de paixão secreta por Sarah? Ao mesmo tempo, tentava encontrar palavras para desviar o assunto mas, mais uma vez, o seu cérebro parecia vazio.
Foi Lupin quem quebrou o silêncio, mas apenas para dizer, com um sorriso simpático, porém formal:
- Bom, já é tarde. Vou dormir. Boa noite, Srta Hollow, até amanhã. Lumus! - Empunhando a varinha, fez com que a sua ponta se acendesse, para iluminar o seu caminho e saiu da sala, sem olhar para trás.
Sozinha, Mary se recriminou pelo seu nervosismo e ciúmes, que haviam deitado tudo a perder, tinham impossibilitado a continuação da conversa (ou até algo mais) entre ela e o homem do seu destino .
Tentou se convencer de que teria outras oportunidades, de que nada estava realmente perdido. Contudo, parte dela dizia que não; que ela não nascera para ser feliz; que não nascera para o amor; que jamais teria jeito com os homens; que jamais seria amada de verdade...
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