A "Casamenteira"
Era noite de lua nova e um homem de rosto jovem contrastando com o ar cansado e os fios cinzentos misturados entre os seus cabelos castanhos contemplava as estrelas pela janela aberta da sala sinistra do Largo Grimmauld.
As estrelas… sim, as estrelas… pareciam mais brilhantes naquela noite tão invulgarmente calma e bonita. Só não brilhavam mais do que os seus olhos acinzentados.
Acabara de ter lugar ali a primeira reunião da Ordem de Fénix depois da morte de Sírius, seu maior amigo e dono da casa, a qual havia destinado como quartel-general da Ordem.
A casa estava tão fria sem ele…
-Remo… - Chamou uma voz muito viva atrás dele. Remo se voltou, ligeiramente grato por ter sido forçado a abandonar os pensamentos tristes em que estava embrenhado.
Uma jovem muito branca, de olhos negros e cabelo curto, cor-de-rosa, sorria de forma ligeiramente maliciosa para ele, que lhe devolveu o sorriso:
-Fala, Tonks, o que você quer? Pelo seu jeito, já deu para perceber que você está tramando alguma coisa.
Ela deixou escapar uma pequena gargalhada, enquanto se sentava junto dele, no sofá, e comentava:
-É isso que eu chamo de perspicácia!
Ele riu, também, com ar condescendente. Ninfadora Tonks era uma jovem feiticeira meia maluquinha e desastrada, apesar de muito bem intencionada.
-Lá vem bomba… - Suspirou ele, em tom levemente divertido. – Atira!
Tonks torceu o nariz, com ar trocista:
- Bom… o que eu ia lhe dizer era uma coisa maravilhosa, para o seu próprio bem… mas já que você não está interessado em saber… - Olhou para ele, esperando ser interrompida, o que não aconteceu. Remo Lupin a olhava, divertido, sabendo perfeitamente que ela não iria desistir de lhe contar o que tanto queria. De fato, ela suspirou e resolveu continuar. - Bom… mas como eu sou muito generosa, eu vou lhe contar assim mesmo. Só não sei muito bem por onde começar…
-Mmm… Que tal começar pelo começo?
-O começo? – Ela franziu as sobrancelhas, se sentindo alvo de troça da parte dele, mas não deu parte de fraca. – Bom… o começo é que… bom… você é um homem muito solitário. – Disparou, enquanto ele a olhava, com ar surpreso. – Desculpe me intrometer na sua vida, Remo, mas é que você é uma pessoa tão maravilhosa, mas tão solitária, tão triste…
Lupin sorriu:
-Você acha que eu estou triste, agora?
Ela o olhou com ar grave e replicou:
-Não. Agora, não… mas você estava, quando eu entrei aqui. Qualquer cego notaria…
Remo suspirou:
-Eu estava pensando no Sírius e em como essa casa fica vazia sem ele… - Tornou a sorrir. – Mas o fato de eu ter os meus momentos tristes e até atormentados não significa que eu seja uma pessoa triste.
Tonks o olhou, confusa:
- Você está querendo me convencer de que você é feliz, mesmo com todos os seus problemas?
Ele sorriu, calmamente:
- Digamos apenas que eu me acostumei às minhas condições e estou totalmente conformado com a minha vida.
O rosto dela se iluminou, como se tivesse achado nas palavras dele a deixa certa para dizer tudo o que percorria a sua mente:
- “Conformado”! É isso! Você está conformado, Remo, você falou tudo! Você não deve ficar conformado, é injusto demais! Você tem que ser feliz, como merece!
Ele continuava sorrindo, com um brilho indulgente no olhar:
- Ah, é? E o que é que essa cabecinha maluquinha acha que eu preciso para ser feliz?
Ela abriu um enorme sorriso, de orelha a orelha, e cuspiu as palavras:
- Uma mulher, Remo! É disso que você precisa, de um amor para alegrar a sua vida solitária.
Lupin olhou para ela, por um instante, deveras surpreendido e depois soltou uma gargalhada:
- Um amor?! Não me diga que você está querendo me arrumar uma namorada!
- Eu digo! – Respondeu ela, em tom de triunfo. – Não só quero como vou te arrumar uma namorada!
O sorriso desapareceu dos lábios de Remo e o brilho divertido no olhar deu lugar a uma névoa de preocupação:
- Tonks, por favor, nem passe pela sua cabeça uma coisa dessas! Eu não posso ter uma namorada, eu sou um lobisomem, esqueceu? Que tipo de mulher aceitaria um homem assim? E se eu a atacasse?!
Tonks agitou a mão na frente dele e respondeu:
- Tolice! Você tem a poção mata-cão. Com ela, você não passa de um lobo inofensivo… e o homem ideal para a Mary. Vocês dois são tão diferentes, mas com tanto em comum… estão destinados!
Lupin abanou a cabeça, inquirindo:
- E o que posso eu ter em comum com essa tal de Mary?
- Bom… - Tonks parecia ter ganho, de repente, uma enorme preocupação com a escolha das palavras. – Bom, para começo de conversa, ela também é uma solitária como você. Ela foi minha colega em Hogwarts e, enquanto eu vivia trocando de namorado, ela ficava sempre quieta, no seu canto…
Remo a olhou, com o sorriso de volta aos lábios:
- Ah, então se trata de uma garota da sua idade! Você não acha que eu sou um pouquinho velho demais para ela, não?
- Não. – Foi a resposta pronta. – Você não é velho demais e tem um enorme instinto protetor, que é o que ela mais precisa.
- Estou vendo… e posso saber porque é que ela nunca namorou? É tão horrorosa assim? – Ele parecia, de novo, divertido, mas Tonks ficou ligeiramente atrapalhada quando respondeu:
- Não… ela não é nada feia, mas… bom, ela é muito tímida… e… bom… - Baixou os olhos e continuou, com um suspiro. – Ela vai me matar quando souber que eu contei isso para você, mas é por uma boa causa. Bom… é que… ela tem a mesma mania que você de que ninguém a aceitaria com o problema dela…
Uma ruga surgiu entre os olhos de Remo, que imediatamente inquiriu:
-Que problema?
Continuando de olhos baixos, ela respondeu:
- É que… ela é uma… uma vampira…
Uma nova sombra percorreu o olhar de Remo, que estava, agora, extremamente sério:
-Você é louca?? – Exclamou, quase gritando. – A minha sorte é que em nenhum momento eu levei a sério essa conversa sem sentido! Será que você tem um pingo de noção do que você está dizendo?! Você está querendo juntar uma vampira com um lobisomem?! Que tipo de vida você acha que duas pessoas assim teriam?
- Uma vida plena de felicidade e compreensão. – Ela replicou, imediatamente. – Você não entende? Só vocês dois podem se entender direitinho e aceitar um ao outro… e os dois precisam tanto de uma paixão para levantar o astral…
- Esqueça, ok? – Ele a interrompeu, com voz firme. – Eu sempre vivi muito bem sem namoradas e, francamente, nesse momento, a última coisa que eu preciso é de um romance na minha vida… ainda por cima com uma… uma vampira!
- Que é a mulher perfeita para você! – Insistiu Tonks, que começava a ficar seriamente entediada.
Lupin suspirou:
-Bom, eu só espero que você não tenha falado desse seu plano maluco para essa sua amiga.
-Por acaso, falei, sim! – Exclamou ela, em tom de desafio.
Remo rolou os olhos, com ar tenso:
-Eu não posso acreditar que você fez uma loucura dessas! E ela? O que foi que ela respondeu?
Tonks encolheu os ombros, resmungando:
- Ela… me enviou um Gritador…
Imediatamente a tensão desapareceu do rosto de Lupin, que esboçou um sorriso aliviado:
- Só mostra que ela é uma garota sensata. Bom, nesse caso, assunto encerrado. De qualquer forma, muito obrigada por ter tentado me ajudar.
Ele se levantou e saiu da sala, deixando Tonks sozinha no sofá. Ela franziu as sobrancelhas e murmurou para si mesma:
- “Assunto encerrado”, é? Isso é o que nós vamos ver, senhor Remo Lupin.
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