Capítulo único



Improvável Acaso | Tudo pode acontecer...


 


Meu casaco de marca... (lamento por ele num suspiro agoniado)


Minhas botas novinhas... (fios de cabelo se arrancam)


Meu cabelo!


Todos esses itens foram destruídos em gradações desde que acordei naquela manhã. O dia estava preguiçoso, cinzento, bom de ficar dormindo, de preferência enrodilhada nas cobertas, junto ao seu marido moreno e sedutor. E por mais “encantadora” que aquela idéia poderia ser, eu tinha que trabalhar. A vida profissional de uma mulher é uma constante escalada, e tenho que ser pontual. Ter um bom aspecto. E acima de tudo ser competente.


Afinal, toda aquela empresa passava por minhas mãos.


Ao começar meu maravilhoso dia, meu querido chefe (e meio idiota, diga-se de passagem, fase que espero não ser permanente) resolveu mexer no computador em minha ausência... Dez pontos pra quem adivinhar o que aconteceu.


Se você respondeu que ele conseguiu perder metade dos meus arquivos...


Você pensou errado!
ELE PERDEU TODOS. TODOS. TODOS E TODOS.


Todo o conteúdo digitado faça chuva ou faça sol, com empenho ou tédio estavam ali, e foram perdidos num espaço cósmico digital.


Eu podia ver sangue em meus olhos, as mãos doidas pra avançar para cima dele aos berros e dizer: "- Olha aqui seu filhinho de papai engravatado, não tente mexer no meu computador outra vez, ou eu te esgano."


Mas aí eu pensei no meu marido e na coisinha gostosa parecida com ele que eu mesma gerei por nove meses, e procuro educar, e desisti da idéia; afinal educar uma filha da cadeia não deve ser lá muito fácil. Então com um sorriso fingido, pior que o das garotas dos filmes de carros e lutas bregas que o Harry e os amigos dele curtem ver, eu simplesmente disse: - Claro chefinho, eu vou tentar recuperar os arquivos.



Além de tudo isso, fiquei presa no elevador quando enfim fui dispensada e culpada de um erro que não fora meu.  (Malditos chefes...) O cubículo de metal me causa fobia. Então imaginem o quanto gritei lá dentro por socorro, além de apertar o botão de emergência até ter certeza de que alguém me ajudasse, e até o tal botãozinho afundar-se em seu lugar.


Tudo que eu queria era voltar pra casa, ilesa. E justamente naquele dia tudo estava dando errado.  Depois de muito, mas muito, desespero... Fui salva. E espero não virar a chacota do andar.


Na rua, ainda tive a infelicidade de pegar uma chuva, e como se não estivesse já muito molhada, um engraçadinho manobrou perto de mim, e adivinhe onde a água fora parar?


Exatamente.


No meu casaco novo de marca, o qual gastei uma bela soma e muita argumentação. Vale ressaltar que Harry ficou uma fera quando cheguei em casa com o mimo novo.


Gritei ao barbeiro sacana uma boa porção de chingamentos, mas como boa filha de advogados, eu nunca tive direito a um vocabulário chulo, então eu disse palavras como: escornado social, energúmeno e psicopata do volante.


Respirei fundo, contei um, dois, três. “Isso vai passar Hermione”, disse levantando os braços no maior estilo de aula de ioga ao ar livre e então aconteceu outra coisa magnífica...


Eu fui assaltada!


Assaltada não do tipo, o carinha levou o meu dinheiro. Mas assaltada ao estilo de: o carinha levou meu dinheiro, cartões, documentos, fotos 3x4 da minha fofucha e do meu marido e meu palmtop com o pouco que restou dos arquivos do escritório...


Olhei pra cima, dessa vez segurando minha blusa por medo de levarem-na também e disse: Qual é Jesus? Eu preguei chiclete na cruz? Cuspi em você? Você está aí todo feliz beijando a Madona e eu to aqui me ferrando, dá pra prestar atenção ao seu trabalho e acabar com o Like A Virgin?


Não resisti à piada e ao sarcasmo...
E o que sobrou para mim naquele fim de tarde?


Não muita coisa. Apenas... Um casaco estragado, o cabelo também. Não tinha dinheiro, nem minha bolsa Louis Viutton (não era falsificada, e o filho da mãe a levou!).  Muito menos eu tinha o bilhetinho que Harry me deixou na incumbência de levar algo pra ele quando eu voltasse do trabalho... O que seria?


Céus, o que mais me aconteceria naquele dia?


O “silêncio” fora rompido pelo Crack!
Oh, não...  Aquilo não poderia ser a minha resposta... Não!


Maldita boca! Maldito dia... E Maldito chefe [2].


Aos tropeços me apoiei no poste telefônico, o salto agulha virou salto de cristal e partiu-se me deixando na mão. Ainda bem que sou super organizada e guardo todas as notas fiscais (todas mesmo); assim posso recuperar meu dinheiro por ter sido idiota e comprado aquela bota fajuta. Só espero que Harry não tenha jogado tudo fora, naquela mania de “Querida, isso é acúmulo de lixo”.


Dei o meu melhor sorriso e atravessei devagar e cambaleante a rua, fiz também minha boa ação do dia, e ajudei uma senhorinha a atravessar. Talvez assim eu consiga proteção divina. Ajudando o próximo é um bom começo... E tudo melhoraria não é? Engano... Ledo engano. O chiuaua da vovó fez xixi na minha bota, acabando com qualquer chance de troca!


Hoje não é era meu dia, ou talvez seja o dia da santa Hermione, ou ainda uma imitação do dia de malhar o Judas. Quando o Jesus sai das cobertas da Madona, dessa vez nada virgem e decide que hoje é o dia de atazanar a Hermione...


“Quer saber? Vá à merda!” - gritei na rua sendo olhada pela multidão que na certa preparavam os celulares para ligarem pro hospital de malucos. "- Que é?” - gritei as pessoas. “- Estão olhando o que? É eu sou doida mesmo... Continuem olhando e eu tiro o salto e uso como faça pra estilhaçar vocês.” - e fiz uma careta assustando não só a velhinha, mas também seu cachorro.


Bem feito, quem mandou fazer xixi em mim!


Faltava pouco agora... O trajeto que eu demoraria menos de vinte minutos se prolongou em exatos trinta. Eu parecia uma manca neurótica, uma louca saída do hospício. Só espero que ao me ver Harry não peça o divórcio, porque se tem uma coisa que não tive azar, foi ao me casar com ele. Se bem que a maneira como nos conhecemos foi bem por culpa de um contratempo.


Estávamos na faculdade, ambos no último ano, ele freqüentava as aulas de artes e eu não sei bem o que estava fazendo ali, naquele prédio. O motivo fora relevante, ignorado pela minha memória. Mas o acaso o fizera derramar tinta no meu vestido novinho. O tecido delicado ficou com uma mancha violeta horrível, mas eu consegui um ano mais tarde um marido.


O que eu pensei ser azar se transformou em sorte... Quem sabe meu dia de hoje não me surpreende, uma surpresa boa, por favor. Aos pedaços, fedida de xixi de cachorro, parecendo com tanta lama pelo corpo a Beyoncé depois do atropelamento, numa versão tão freek que eu creio estar mais feia do que a visão da Beyoncé realmente atropelada.


Não que eu queira tal coisa... Longe disso. Abençoada Beyoncé, continua nessa vibe que tu ganha uma grana.


Olhei minha casa, minha querida casa, meu lar, onde meu marido e filha me esperavam felizes, então os regadores automáticos da grama, sentiram minha maré de sorte e decidiram "me fazer esfriar".


Parada no meio do jardim, não conseguia me mover. Estava tão cansada, e estressada que meus músculos se congelaram. Bufei. Meu Deus! Como eu odeio essas coisinhas no jardim. (Isso me lembrava de fazer uma lista das coisas que me fazem odiar e ser uma pessoa desprezível, e claro, colocar isso na tal lista e fazer meu marido consertar).


Respirando fundo, subi as escadinhas do alpendre. Retirei as botas, não queria sujar meu tapete marroquino. (Isso é falsificado, mas ninguém percebe...), então entrei em casa. Estava tudo silenciosamente estranho. Meu coração por um momento se congelou também, mas vi sinais de vida na mesa de trabalho de Harry. Cheia de papeis enormes das plantas de casas que ele estava projetando.


Vi também os brinquedos de Beca espalhados pelo chão. Então segui a trilha dos “brinquedinhos amarelos”, e eles me levaram escada acima.


Entrei no quarto rosa e cheio de bichinhos de pelúcia de minha filha, e vi uma coisa, que começou a fazer valer o dia. Meu marido, de olhos fechados, dançando ao som de uma melodia que ele mesmo cantava; com a cabecinha em seu ombro Beca quase adormecida sorriu pra mim, e pude ver a palavra mamãe se formar em seus lábios.


O pequeno alvoroço dela, fez com que Harry erguesse os olhos para mim. Aqueles olhos maravilhosamente verdes, que me fazem perder o controle sempre! Suspirei. Como era bom estar de volta em casa. Assim era o sentimento que tinha dentro de mim, que se espalhara por todo o meu ser, quando ele sorriu para mim.


Num gesto silencioso, eu me aproximei deles. Não me importava mais com meu estado caótico. (Realmente, eu estava péssima). Mas Harry parecia não se importar. Abraçou-me, e meu beijou... Continuaria beijando se Beca não reclamasse de deixarmos ela sem atenção.


Sorri para a coisa mais perfeita feita por mim (com um pouco da ajuda do Harry, é claro. Ela herdara o gene dos olhos verdes e cabelos negros, que eu agradeço todos os dias, por terem sido predominantes em seu DNA). Beijei as bochechas coradas de Beca e a segurei no colo com um sentimento tão grande de posse e amor que ela reclamou da força em meu abraço.


- Oi, minha boneca... Espero que seu dia tenha sido melhor que o meu. – disse, afagando seus pequenos cachinhos soltos.


Ela balbuciou algumas coisas, e falou “papai”. Certamente queria dizer que foi ótimo, pois Harry é bem como sinônimo disso. Ele é divertido, romântico e lindo... Meu sonho consumado num homem.


- Creio que ela me fez ver que estou ficando velho. – ele riu. - Minhas costas doem... Mas como foi seu dia, meu amor?
- Atribulado, em outras palavras foi “dark”, das trevas mesmo. E o seu?
- Brinquei com nossa filha, iniciei um projeto pra sala de estar da vizinha... - disse fazendo uma deliciosa massagem em minhas costas. - Acho que você precisa tomar um banho... - comentou olhando a blusa suja.
- Você acha? – perguntei, emendando uma risada. Não esperei mesmo uma resposta sincera. – Acho que tem razão. Preciso de um banho relaxante... E aposto que vai querer saber o que me aconteceu.
- Exatamente. - disse ele retirando Beca, já adormecida, de meu colo. - Me espere no banho...
- Eu vou esperar...


Segui para nosso quarto. Retirei meu casaco, teria que jogá-lo fora, pois sua lavagem era a seco, não a lama. Então, me despi, e fui para o banheiro. Abri a torneira a fim de encher a banheira, sorrindo por aquele momento maravilhoso do meu dia. Creio que meus olhos brilhavam por expectativa, tanto pela água relaxante quanto pela companhia. No entanto, passei na ducha antes de Harry aparecer, afinal eu tinha que tirar a camada sólida de terra de mim. Aproveitando o momento em que a banheira enchia.


Um bom banho, uma banheira e óleos relaxantes, um moreno forte e lindo pra me acompanhar...


Naquele momento eu esqueci de todo o dia horrível que tive. Patrão chato? Jesus? Madona? Cachorrinho feioso? Assaltante? Nem lembro mais deles, a perspectiva de ter de renovar meus documentos nem me assusta mais, afinal eu já tinha ligado ao banco, antes de ir ao banheiro e bloqueado o uso dos cartões e cheques. O Palmtop eu compro outro, a bolsa cara e a bota idem...


O que nada no mundo pode comprar é o que vi a minha frente. Meu marido, sorrindo pra mim e retirando a cueca boxer, me fazendo rir ao segurar a última peça que jazia em seu corpo com as mãos e rodar acima de sua cabeça, numa imitação de striper barato.


Entramos na banheira juntos. Claro, que a parte antecedente a isso, agente pode pular... Harry simplesmente não me fazia pensar em nada que não fossem os seus beijos. Cada dia, ele me surpreendia com um deles, cada um com um gosto especial, diferente em cada momento, mas em todo, único.


Ele me beijava agora “daquele jeito”. Estávamos de frente um para o outro na banheira. Nossos corpos juntos se encaixavam com precisão, e mesmo ele estando um pouco incomodo por seu tamanho, não demonstrava, nem apagava sua paixão.


- Hei... Desse jeito não vamos conversar. – disse, mordiscando o lábio dele.
- Deixe as conversas pra depois... Fazemos isso em seguida. - ele disse e continuou. - Por enquanto há algo muito mais importante a ser feito...
- É mesmo, é?


Ele assentiu, inclinando-se mais para perto de mim. Afagou meu rosto, e desceu com suas mãos grandes e másculas, para meus ombros molhados de essência de rosas. Beijou-me ali, sem tirar os olhos das minhas reações.


- É... - ele disse beijando-me ainda. - Temos que nos amar...
- Depois meu amor, em nossa cama macia, e quando você não estiver embolado.
- Fico feliz que você minha querida esposa, percebeu meu desconforto. - disse me levando em seu colo da banheira a cama, me jogando molhada e tudo e me cobrindo com seu corpo. - Isso melhora o seu dia, meu amor? - questionou ele.
- Ainda falta uma coisa, querido.
- O que meu amor?


Maliciosa, eu sorri antes de beijá-lo com ardor.  Afundei meus dedos em seus cabelos úmidos, e o ouvi gemer. Satisfeita com minha “resposta”, mudei as posições ficando por cima dele.  As mãos de Harry passeavam livres, sem reservas sobre meu corpo. Ergui-me e mordi meu lábio rubro, ele rugiu impaciente.


- Querida - Harry iniciou apertando mais a minha cintura. -, esse é um final feliz para um dia nada bom...


Sorri satisfeita.


Não importa o quão ruim o dia pode ter sido, ou que eu posso contar e achar números estrondosos de vezes em que eu me ferrei hoje... Aqui, agora, com Harry me abraçando, minha filha no quarto ao lado dormindo como um anjo e meus batimentos cardíacos subindo assim como as mãos de meu marido, e isto é só o inicio... Eu posso enfim sorrir.


Esse é o final feliz de todos os dias, que eu pretendo cultivar por muito e muito tempo, e quando bem velhinha vou contar aos meus netos e mencionar aquela frase clichê, mas que toda a garota no mundo quer ver se realizar: "E eles viveram felizes para sempre", só que eu terei o prazer de modificá-la para: “E Harry e eu vivemos felizes pra sempre”.


FIM.

***



N/A Olivia: Perdão Papai do céu, por vincular o nome do seu filho ao do namorado da Madonna :-O... kkkkkkkkkkkk Primeira fic fofuxinha que eu e a Lenora escrevemos, afinal a outra é bem Dark, mas é isso aí.. gostie dessa (Y)

N/A Lenora: Fic novinha, espero que vocês tenham gostado, e nao é que saiu em apenas um capt! se nossa criatividade colaborar quem sabe tem mais dela, hum? Mas isso vai depender de vocês leitores! Realmente ficou bem cutee, e engraçada, e eu nao tenho que pedir perdão por nada, pq essa parte nao fui eu quem escrevi KKKK. Enfim, comentemmmm!


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Comentários (2)

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