Minha primeira detenção.
Minha primeira detenção.
PROPRIEDADE DE ROSE WEASLEY
6ºano
*Por favor, por favor! Me devolva se um dia eu for estúpida o bastante para perdê-lo!
“Há milhões de pessoas no mundo, e todos os dias suas histórias se cruzam... Essa é apenas uma delas. Mas talvez, valha a pena contá-la...”
Muito bem... Vamos acabar logo com isso! Primeiramente, espero que você não queira que eu te chame de “querido diário”. Porque não vou. Ou melhor, não sei nem porque estou te informando isso, já que você não é uma pessoa que possa me responder. Diários são feitos para as pessoas expressarem o que sentem e seus segredos sem medo de serem julgadas. Mas... Tecnicamente, se alguém encontrar você e te ler... seria a mesma coisa, só que muito pior, porque eu teria contado a você tudo o que eu penso sem me preocupar em editar. Ok, parei... Então acho que o único jeito de começar isso aqui é:
Querido Caderno-em-que-eu-expresso-minha-opinião/sentimentos... Ok, vamos tirar esse “Querido”.
Caderno-em-que-eu-expresso-minha-opinião/sentimentos,
Talvez o melhor jeito de começar seja do começo, ou talvez esse seja o mais óbvio. Eu ainda me lembro das palavras de meu pai depois de todos esses anos... Com todos reunidos na plataforma 9¾. E se você for pensar em Weasley já pode imaginar quantas pessoas estavam lá! Eu me lembro de estar aliviada por meu primo, Albus Severus, (sim, esse é seu nome, pobre criatura!) estar ingressando em Hogwarts comigo naquele ano... Também me lembro dele se tremendo todo de medo de entrar na Sonserina! É engraçado como nossos medos mudam... E eu me lembro como se fosse hoje.
_ Então, aquele é o pequeno Escorpius. Não deixe de superá-lo em todos os exames, Rosinha. Graças a Deus você herdou a inteligência de sua mãe!
_ Rony, pelo amor de Deus. Não tente indispor os dois antes mesmo de entrarem para a escola! – minha mãe o repreendeu. Como se isso fosse realmente o motivo de nos indispormos quando chegamos à escola...
_ Você tem razão, desculpe... mas não fique muito amiga dele, Rosinha. Vovô Weasley nunca perdoaria se você se casasse com um puro-sangue.
Eu já disse que adoro meu pai? Pode parecer estranho... Mas olha para o comentário dele e me diz se você não o adoraria? Então, desde aquela época eu podia garantir que não seria amiga de Scorpius Malfoy... Mas qual foi o ponto final definitivo? Bem posso relatar o básico...
*Primeira noite em Hogwarts*
Um amontoado de crianças de 11 anos no centro do salão principal lutava para ter uma visão melhor do chapéu seletor e dos professores. Tudo era novidade, e cada uma das cabecinhas tinha os olhos voltados para cada detalhe de decoração que adornava o salão. O pensamento de todos estava a mil! Eu era uma daquelas cabecinhas, mas me lembro de estar afastada dos empurras e xingamentos.
Albus já havia sido chamado há muito tempo, enquanto eu tinha de esperar, mais vermelha do que nunca, balançando a cabeça em desaprovação. Mas eu já adiantei muito a história... Vamos voltar um pouco. Albus havia sido chamado e era realmente hilário vê-lo tentar esconder o nervosismo... Seja durante a viagem no trem ou nesse exato momento que ele deveria ser selecionado para uma das casas.
_ Vamos acabar logo com isso! Nem é necessário... Não é?
Ele tentara parecer despreocupado, mesmo assim se entregou no final. E, com tudo, nada, nada mesmo, o faria admitir que estava com medo. Eu não o culpo... Pois, provavelmente, estaria fazendo a mesma coisa se esse fosse um medo meu. Orgulho é uma merda mesmo! Desculpe o vocabulário... Ok, e aqui estou eu me desculpando com um caderno! Diários fazem as pessoas agirem insanamente... Por isso você é meu bloquinho-conta-sentimentos favorito! Acabei de chamar um monte de papel (que não é um diário) de favorito? Por que eu não calo a boca e continuo a história?
_ Sim, Albus! Vai dar tudo certo! Calma, você não vai para a Sonserina! – eu tentei acamá-lo.
Albus pareceu mais confiante enquanto subia e se sentava no banco para ser avaliado.
_ Típico...
Uma voz soou atrás de mim, fazendo com que eu, involuntariamente, me virasse para ela. Não que fosse deslumbrante ou algo do tipo, na verdade, era aquela voz meio esganiçada de um menino de 11 anos. Mas o tom... Aquele tom debochado me chamou a atenção naquela hora, e me perseguiria por mais alguns anos.
_ Desculpe, mas... – eu não tive a oportunidade de terminar a minha pergunta.
_ Desculpas aceitas... Sabe, não é muito sua culpa. Você e seu amigo foram criados para achar a Sonserina ou qualquer coisa ligada a ela algo ruim. É coisa da sua família.
Eu estreitei os olhos para aquela criatura loira ao meu lado. E ela me olhava de volta como se não tivesse dito nada demais.
_ Qual é o seu problema? Você não me conhece nem conhece a minha família! E que tipo de pessoa começa uma conversa com alguém dizendo que sua família é preconceituosa?
Ele me olhou como se eu tivesse problemas. Eu admito que naquela época eu talvez fosse... Um pouco sem paciência.
_ Ok, nervosinha... Não está mais aqui quem falou. – ele disse, esboçando um sorrisinho cínico.
_ Tá rindo de quê? – eu perguntei indignada com aquele ser que chegava falando mal da minha família e depois ficava rindo da minha cara.
_ Não posso nem mais rir? Merlin! – ele continuava com o rosto risonho. Devia estar adorando me fazer de idiota.
_ Você está rindo de mim. – eu afirmei, estava cada vez mais vermelha.
_ Se você sabia, por que perguntou? – eu acho que agora ele havia segurado uma gargalhada!
_ Olha aqui criaturinha irritante... – eu comecei.
_ Scorpius Malfoy. – chamaram na frente do salão.
_ Você podia tentar esse nome da próxima vez.
Ele, quem eu acabara de notar ser Scorpius Malfoy, me disse antes de seguir seu caminho para o chapéu seletor.
_ Claro... Porque haverá próxima vez! – eu debochei.
Ele parou confuso, no meio do caminho.
_ O quê?
Eu revirei os olhos. Podia ser mais burro?
_ Eu nunca mais falo com você! – fui curta e direta. A gente fala umas coisas aos 11 anos...
Ele bufou e revirou os olhos. Eu permaneci em meu lugar de braços cruzados, longe dos empurras e dos xingamentos. Foi exatamente onde comecei a história. Naquele momento percebi duas coisas: havia perdido a seleção de Albus e um precioso tempo da minha vida em uma discussão sem sentido que durara mais tempo que o desejado. E esse acontecimento nos leva a percepção número 2: eu realmente não gostava daquele Malfoy.
Com o tempo viria a percepção número 3, esta é: haveria, sim, muitas “próximas vezes” para mim e a criaturinha irritante.
*Terceiro ano em Hogwarts. Último jogo de Quadribol da temporada*
SONSERINA X GRIFINÓRIA
Faltavam poucos minutos para o último jogo da temporada terminar. Estávamos disputando a Taça pela qual todo esse jogo valia a pena... Eu sei que há pessoas que digam: “O importante é competir!” Mas quando perdemos um jogo ficamos tristes, assim como todos de nossa casa que depositaram sua esperança de glória em nós. Agora, quando ganhamos... Ah! Um sorriso mais que cínico cresce de um lado de nossos lábios ao outro, e então, esfregamos a vitória na cara dos adversários (às vezes sutilmente, às vezes... nossos adversários são Sonserinos).
Analise tudo o que eu disse. Agora compare as duas situações. Pronto! Pode me dizer o que é mais legal, competir ou ganhar. Além de que, competitividade excessiva não é algo muito bom para a mente. Será que isso tudo são apenas um monte de desculpas para um pensamento egocêntrico? Provavelmente... Mas já que mesmo pegando o pomo só conseguiríamos empatar o placar, eu tinha mais para me preocupar, como a artilheira que sou. Cuidava de meus problemas psicológicos depois! Até porque isso me tomaria muito tempo...
_ James! – eu gritei para meu primo, que parecia estar fazendo qualquer outra coisa que não era pegar o pomo. – Se você dormir de novo, os balaços terão novo destino!
Ele não estava dormindo, mas nós sempre nos estressávamos um com o outro durante os jogos... E nos treinos, mas é apenas uma boa competição em família.
_ Ah, priminha! Você não acertaria nossa última chance de vencer, não é? – disse ele, se afastando com um sorriso maroto.
Eu revirei os olhos, mas também sorria. Já estava mais que na hora de ganhar esse jogo! Eu mergulhei por entre os jogadores, sabia que era agora... Eu precisava desse ponto! Quer dizer... O time! O time precisava desse ponto! Se eu conseguisse fazer um ponto antes de James pegar o pomo a vitória seria nossa! E sim, eu tinha certeza de que James pegaria o pomo. Afinal, o apanhador da Sonserina parece ter comido algo estranho no café da manhã... Ok, tenho que admitir que James é um excelente apanhador, deve ter herdado isso do pai. Pode chamar de clichê, mas para mim, quer dizer, para o time, foi sorte.
Enquanto eu procurava um jeito de me esquivar dos balaços atirados em minha direção pelos batedores da Sonserina, tentava pensar em alguma maneira de fazer aquele ponto... O goleiro da Sonserina era o babaca, quer dizer, o Malfoy. Ele deve ter escolhido essa posição de propósito, somente porque eu sou artilheira! Nossa! Isso pareceu bem egoísta... De novo. Na verdade, o maior problema era que ele podia ser goleiro pelo motivo que quisesse, mas a questão era: ele me atrapalhava porque, infelizmente, era, realmente, um bom goleiro.
_ Hey! Weasley!
Ouvi chamarem por Weasley e, instantaneamente, virei minha cabeça em direção a voz. Dito e feito. Um balaço passou raspando pela minha orelha. Olhei, ameaçadoramente, para a voz que chamara meu nome, claramente de propósito para me distrair! Scorpius Malfoy estava, não sorrindo, mas gargalhando, e para variar, era da minha desgraça.
Quando coisas assim acontecem e eu não posso ir até ele para socá-lo até a morte, o mais inteligente a fazer é olhar para qualquer outra coisa que não seja a Barbie paraguaia. No momento em que me virei quase tive um ataque do coração. James tinha provocado um dos jogadores da Sonserina e o batedor mandara um balaço a mil por hora nele.
Foram segundos que pareciam ter passado em câmera lenta. O balaço vinha na direção de James, a platéia prendeu a respiração. Quando aquele balaço o atingisse ele sofreria uma queda muito feia. O balaço foi chegando mais perto, mais perto, mais perto e... James estava pendurado na vassoura, mas não porque fora atingido e sim porque desviara do balaço. Em um movimento rápido James deslizara para baixo, desviando-se do balaço. Segurava-se com uma mão na vassoura e a outra usava para acenar para a platéia enlouquecida que gritava seu nome. James balançou-se de volta para cima da vassoura e em um segundo já estava voando pelo campo, fazendo acrobacias... Ele nem gostava da atenção...
Eu não estava mais me preocupando com o James, ele, claramente, estava mais que bem. Em vez disso estava maquinando em minha cabeça um plano maléfico! Ok, talvez não “maléfico”... Mas teríamos chance de ganhar aquele jogo. Sorri triunfante e desci a toda velocidade por entre os jogadores.
_ Harley! – gritei para Harley Quinn, outra artilheira do time, que estava com a Goles a minha direita.
Sinalizei para que ela me passasse a goles. Ela me olhou hesitante, mas meu rosto estava decidido. Por fim, ela fez o passe. Eu não esperei um segundo para fazer minha jogada, nem podia... Dois balaços passaram voando pelas minhas orelhas e eu parecia estar sendo marcada por, pelo menos, um milhão de adversários. Minha adrenalina estava à mil, eu sabia que não podia parar. Borrões verdes e vermelhos iam ficando cada vez mais distantes, enquanto eu passava por cada um dos jogadores.
Estava chegando perto dos aros e, portanto, do meu objetivo. Teria que aproveitar aquele momento... Só tinha uma chance... Eu fui com toda a velocidade para o aro direito, e em uma questão de segundos lá estava Malfoy à minha espera. Ele ficou esperando que eu mudasse meu movimento, mas não mexia um centímetro do lugar onde estava. Quando já era impossível que eu tentasse mudar de aro, ele me olhou com a cara feliz que ele sempre fazia quando me vencia em algo... Pena que não seria desta vez.
“Vamos lá, Rose!” disse para mim mesma. Naquela hora eu prendi minha respiração, como toda a multidão presente, provavelmente, também fez. Desde as pessoas que estava nas arquibancadas até os jogadores no campo. Todos olhavam perplexos. Eu esperei até o último segundo, e então pulei o mais alto que consegui e joguei a bola no aro mais alto dos três. Malfoy ainda tentou chegar antes que a bola, mas era impossível até para ele. Quando minha adrenalina foi abaixando consegui enxergar o que estava acontecendo, mas a essa altura já estava de volta em minha vassoura comemorando com o time aos gritos da multidão vermelho-dourado.
_ ISSO NEM DEVE SER LEGAL! ISSO... – gritava um possesso Malfoy do outro lado do campo.
Mas não havia o que contestar! Meu plano foi perfeito! Após ver James, eu tive esse lapso salvador de vidas. Como eu faria um goleiro ágil não perceber em que direção eu ia? Não seria possível... Portanto, ele não errou a direção. Eu realmente estava indo para o aro à direita. Mas, um pulinho para cima talvez tenha me posto em um ângulo melhor da história! Trocadilho infame! Mas eu estava tão feliz naquele momento que me lembrar dele me deixa feliz. Então, eu nem me importo em estar falando algo idiota sem antes pensar! Mesmo porque eu sempre faço isso e também porque você é uma pilha de papel! Não pode me julgar mesmo que quisesse! Há!
Eventualmente, James pegou o pomo. Nós, claramente, ganhamos. O jogo terminou maravilhosamente e eu fui celebrar alegremente sem nenhum obstáculo em meu caminho que me deixasse nervosa! E, obviamente, a última parte é uma grande mentira. Eu fui a última a sair do vestiário. Todos já haviam ido celebrar a vitória da Grifinória. E eu queria ficar um pouco sozinha para aproveitar esse momento antes de subir para a loucura que devia estar a festa. Fechei os olhos e comecei a ouvir outra vez aqueles gritos, os sorrisos e toda comemoração. Quando abri os olhos novamente, estava sorrindo. Olhei para o relógio e já havia passado algum tempo... Era melhor eu ir andando se não quisesse que Albus ou James aparecessem com uma equipe de busca procurando por mim. Enquanto atravessava o campo a caminho da minha sala comunal, me permiti sorrir outra vez.
_ Eu não sorriria se você...
Eu ouvi a voz, que agora já era muito diferente desde o 1° ano, era uma voz rouca e arrastada... “Eu estou devendo a Merlin! Só pode!” pensei comigo mesma. Mas eu não podia deixar aquele troço estragar minha noite... Não, isso não.
_ Eu agradeço todos os dias que eu não sou algo como você... – comecei, olhando calmamente para o escorpião peçonhento – E será um prazer nunca mais vê-lo esboçar seu sorriso cínico e ridículo.
_ O quanto você me despreza é algo que já sei desde os onze anos, Weasley! Realmente... Muda o disco! Tenta ser um pouco mais inovadora...
Eu abri a boca para responder, mas ele foi mais rápido.
_ Se você for me chamar de verme eu vou sentir muita pena de você pelo quão previsível que você é! – ele disse, esboçando o que? O sorriso!
Eu fiquei sem dizer nada por um minuto. Eu odeio MUITO ter que admitir que ele estava certo sobre o que eu ia dizer.
_ Eu acertei. – ele não estava perguntando.
Eu respirei fundo.
_ Quer saber, Malfoy?
_ Na verdade, não... – ele me interrompeu.
_ Certo, e eu me importo com o que você quer por acaso? – não julgue minha resposta! Eu estava meio demente aquele dia por causa de toda a adrenalina.
_ Não... Mas eu não preciso ficar aqui. – ele rebateu.
_ Então, vai! – eu disse cheia daquela Barbie – Você ainda não percebeu que eu sempre estou MUITO melhor antes que você me encontre? Cada encontro nosso é uma tortura, criatura!
Ele me olhou desanimado e quase triste. Eu me assustei com isso! Por um milésimo de segundo...
_ Ótimo! – ele disse contrariado – Agora tenho que ficar aqui...
Eu arregalei meus olhos, ou seja, é um milagre que meus olhos ainda estejam bonitinhos em minhas orbitas.
_ Mas... mas... – eu comecei em tom de “por quê?”
_ Agora que você me disse para ir, - ele começou já me respondendo antes que eu fizesse a pergunta – tenho que ficar.
Eu olhei para Malfoy esperando que ele dissesse algo como: “Mentira! Não vou ficar aqui! É nojento estar em sua presença!”. Acredite, seria muito melhor se isso tivesse acontecido.
_ Você está...
_ Não. – ele respondeu, prontamente. – Eu não estou brincando. Mas veja, minha tarefa hoje é te deixar o mais nervosa possível. Pelo tom roxo das suas bochechas percebo que estava conseguindo... Mas quando você gritou para que eu saísse, pareceu ter ficado mais aliviada. Hum, agora acho que ficarei aqui até as bochechinhas roxas voltarem. E como estão vermelhas não vai demorar muito tempo...
_ Você...
_ Sim! Adoro te irritar!
_ Pára de completar minhas frases antes que eu as diga! – gritei indignada.
_ Isso te irrita?
Minhas bochechas deviam ter se tornado roxas, porque ele me olhou e me disse, sorrindo, é claro, cinicamente.
_ Meu trabalho está acabado por hoje... Até amanhã, então!
E assim ele foi se afastando. Eu realmente, realmente odiava aquele projeto de pessoa.
_ Não tenha tanta certeza que você vai acordar! – eu gritei para ele.
Ainda que ele estivesse longe pude ouvir risadinhas. E era eu que devia estar sorrindo...
*Quinto ano: Aposta para diversão (às minhas custas, é claro)*
Era engraçado pensar no meu quinto ano que o antigo professor de Defesa contra as artes das trevas de meu pai era tão severo assim... O nome dele era Severo Snape. Olha só! Acabei de entender o porquê nome! Há, há, há, há! Será que a mãe dele já sabia dessa sua característica? Ok, parei. Voltando ao assunto de antes... Mesmo meu pai tendo dito que o professor Snape só ensinara Artes das Trevas em seu último ano na escola, minha nova professora de DCAT (Defesa contra as artes das trevas) era uma pessoa tão legal que eu nunca poderia imaginar que esse colégio já teve um professor tão “severo” (há, não me canso disso).
Ela se chamava Morgana Le Fay, ou como diríamos em inglês, Morgana das Fadas. Ela era a minha professora favorita. Sempre que entrávamos na sala para sua aula podíamos sentir o cheiro da água do mar. Deve ser uma brincadeira com a origem celta de seu nome, Morgana, que significa “mulher que veio do mar”. Por essas e outras que eu adorava aquela professora. Havia algo muito místico e ao mesmo tempo bonito nela. Nunca parecia se importar com o que as pessoas diziam dela e sempre tentava ajudar aos alunos. Mesmo os que não queriam ajuda, e isso me leva a cena que se vai seguir.
Era um belo dia com aula da minha professora favorita. Vamos destacar o ERA para indicar que em um remoto passado o dia estava belo. Nossa! Até parece que eu não tenho nenhum dia bom! Quero deixar claro que eu sou uma pessoa muito feliz nas vezes que algo como isto:
PAC – traduzindo – Fui atingida por uma bolinha de papel.
Não acontece... Eu olhei para trás, bufando, e me deparei com o conhecido sorriso cínico e ridículo! O sorriso se transformou em palavras que foram: ABRE! Eu olhei para o papel amassado em cima da minha carteira, estava relutante em abri-lo, mas minha curiosidade sempre fala mais alto. E o que descobri? Bem, foi isto que o sombra-que-sorri... É, esse é o apelido dele, somente em minha cabeça, e também quando não estou pensando em idiota, inútil, Barbie... Ou coisa do gênero. O caso é que ele é uma sombra, porque não larga do meu pé, já que seu maior divertimento é a minha desgraça! E... Ele está sempre sorrindo. Agora eu teria que perguntar mais uma vez: Qual era o problema dele?!
Não me culpe por estar repetindo isso constantemente! É ele que tem milhões de problemas! Tudo o que ele faz sempre me deixa meio confusa... Talvez pelo fato das atitudes dele mudarem a toda hora, mas, ainda sim, o imbecil sorri! Sempre sorri... Ok! Ahn... Vamos esquecer do sorriso, porque... Eu, eu... ODEIO! Olha o que ele me escreveu! Tão idiota! E... só leia!
“Hey! CDF! Relaxa! Isso é uma aula, não um interrogatório!”
Logo abaixo estava um desenho de mim, como se eu estivesse sentada extremamente ereta, com uma cara de maníaca, anotando tudo o que a professora dizia.
Eu me virei para ele irritada e disse:
_ Você consegue ser mais ridículo?!
_ Quer que eu tente? – ele debochou.
_ Olha, Malfoy, eu tenho consciência do quanto temos sorte de ter essa aula... – eu comecei.
Malfoy revirou os olhos.
_ Merlin! Com quem eu tento discutir! – eu me perguntei, balançando a cabeça. – Logo quem? Um garotinho mimado que não dá a mínima para nada! Além de só se sentir bem com a infelicidade dos outros! Mas que horrível ser você...
_ Você é a pessoa mais egocêntrica que eu conheço! – ele disse já um pouco alterado, mas não o suficiente para sermos ouvidos... ainda.
_ Eu?! – perguntei, olhando-o, debochadamente.
_ Sim! – ele respondeu, prontamente – Presumo que “os outros” aos quais eu faço infeliz se resumam a você e seu egocentrismo que te faz epnsar que as coisas que eu faço estão relacionadas, especificamente, a você!
_ O que eu posso fazer se toda a vez que você chega perto de mim é para me irritar? – eu perguntei... Bem... Irritada.
_ Ou é o que você acredita... – ele rebateu.
_ Você mesmo já disse inúmeras vezes o quanto é divertido me deixar louca! – eu disse sem acreditar na maneira com a qual ele queria reverter a situação.
Era tão injusto ele querer jogar a culpa para cima de mim... Que raiva!
_ Primeiramente, você não é a única garota que eu deixo louca... – ele disse, já com seu sorriso cínico de volta e um ar um tanto malicioso – E segundo, por mais que você reclame, não viveria sem mim.
_ Você se acha muito! – eu disse indignada pelo comentário TOTALMENTE sem fundamento da Barbie – Qual é a importância que você acha que tem na minha vida? Eu seria mil vezes mais feliz se você não existisse!
_ Mentirosa. – ele disse, calmamente, como se jogasse um jogo de xadrez bruxo – O que seria da sua vida sem graça sem o pouco de emoção que eu trago? Admita que nossa evidente repulsa um pelo outro é o que torna seu mundinho certinho interessante.
Mais uma vez ele tentava dizer o que se passava comigo e o que eu sentia! E outra vez estava errado... Mas isso não diminuiu a força do tapa que ele deu em meu orgulho.
_ Meu “mundinho” de amigos que gostam de mim e não do meu dinheiro, de pessoas que são honestas e de risos por sorrir não é nada com o que você esteja familiarizado. Aliás, não é como se família fosse o seu forte, não é? – eu pude ver que essas palavras foram tão ofensivas para ele do que as dele para mim, a diferença era que eu sou estourada e me ofendo com tudo, mas o que eu disse sobre ele era a verdade.
Ao invés de ficar emburrado e sair andando ele sorriu... Como se já tivesse algo para dizer. Droga!
_ Nossas famílias tem crenças diferentes e vidas diferentes. – ele disse, ainda sorrindo por entre as palavras – Sua frustração seria, na verdade, porque você não vive sem mim e isso seria inaceitável para eles...
Eu comei a rir descontroladamente. Ele também ria, mas por acreditar na idiotice que havia acabado de dizer.
_ Há! – eu o olhei, ironicamente – Claro! Isso antes ou depois do James virar seu melhor amigo e todos nós irmos tomar chá?
Ele fechou a cara. A competição entre ele e James era maior até que a de James e Albus, sendo esta, ao menos, saudável. Mas James e Scorpius... Quadribol pode levar esses garotos à loucura... Eu também não sou exemplo para estar falando, acho que deixei isso bem claro com a disputa entre Sonserina e Grifinória no terceiro ano.
_ O que tem o Potter a ver com essa conversa? – ele perguntou.
_ Chama-se ironia, querido. – eu repondi.
_ Engraçado... Eu o chamo de ridículo, babaca e por aí vai! – ele sorriu e depois completou – Querida.
_ Sr. Malfoy, tem algo que queira compartilhar com a classe? – perguntou a professora.
Clichê, eu sei. Mas o que ela iria falar? “PORRA GOROTO CALA ESSA BOCA!” Acho que não funcionaria muito bem...
_ Na verdade, só quero falar com a Weasley, professora. – ele respondeu, calmamente – A turma, provavelmente, não se interessaria pelo assunto. Quando for algo que valha a pena pode deixar que eu compartilho com todos os meus coleguinhas!
Eu o olhei de olhos arregalados. Por que ele fez isso? Geralmente, você responde “Não professora, desculpe!” Mas nãããão! Ele tinha que dar showzinho e ainda por cima me meter no meio! Eu estava preste a ter um troço. Ele percebeu.
_ Diga o que tem para dizer após a aula, sim, Sr. Malfoy? – a professora sugeriu. Ela realmente tinha paciência com os alunos, preferindo tentar ajudá-los ao invés de dar-lhes detenções. Eu admirava isso nela. Mesmo que preferisse ver Malfoy lavando uma pilha bem grandes de pratos sujos do que sendo perdoado.
_ Com tanta gentileza... Claro. – ele respondeu, sorrindo galanteador. Não que EU tenha achado isso.
O quê?! Scorpius Malfoy estava aceitando o pedido de um professor? Cadê o sarcasmo? Não? Nada mesmo? Isso foi mas que estranho, ainda assim, pelo menos eu estava mais aliviada. Malfoy ainda ficou me olhando para ter certeza de que eu não explodiria, ou algo do tipo. Quando viu que isso não aconteceria, me olhou risonho (sendo este um sorriso TOTALMENTE cínico) e me disse:
_ Mais dez minutos para o final da aula...
FATO: Merlin me odeia!
*Dez minutos depois*
_ Muito bem... – disse a professora – Isso é tudo por hoje.
Todos começaram a guardar as varinhas e, vagarosamente, rumavam para o Grande Salão, aproveitando que não precisariam correr para uma próxima aula qualquer. Alguns, ainda assim corriam por fome ou não sei o que. Mas eu... Eu precisava correr, precisava correr de uma promessa infame para que ela não me alcançasse a tempo de concretizar sua profecia. Quando estava pertíssimo da porta, não pude evitar dar um sorriso. Era aquele tipo de êxtase momentâneo que sentimos quando achamos que conseguimos nos livras de alguma coisa ruim.
Senti um movimento brusco atrás de mim, então, me virei involuntariamente. Ainda tinha meu sorriso no rosto pela rapidez com a qual realizei meu movimento. E lá estavam os olhos cinzas, por um minuto divertidos, mas logo depois confusos. Talvez, ou melhor, com certeza, porque eu estava sorrindo. Mesmo que Malfoy sempre esteja armado com seus sorrisos cínicos, eu estava armada com meu olhar gélido, isto inclui, é claro, não sorrir. Não sorrir mesmo. Acho que eu nunca sorri perto dele... Rir dele, gargalhar sarcasticamente, mas nunca sorrir. Meu “lema” em nossa eterna batalha de ódio mútuo e insaciável! Ou talvez somente mais uma de minhas viagens que só atrasam a história... Você decide. Pelo o que escrevi aqui, acho que já deu para perceber que não sou muito boa em tomar decisões, já que sempre estou criando novas opções para escolher.
_ Oi? – Malfoy me chamou, balançando as mãos na frente do meu rosto.
Meu sorriso já havia desaparecido há um tempo e, pelo jeito com o qual Malfoy me olhava, eu também parecia ter ficado ausente do que acontecia, durante os minutos que divaguei sobre batalha, ódio, sorrisos e indecisão. Malfoy também parecia ter tido tempo para se recuperar do choque que foi me ver sorrir para ele e não dele, porque já esboçava seu sorriso cínico usual.
_ Além de correr para não me enfrentar você ainda fica sem palavras ao me ver? – perguntou ele, debochando do meu momento autista.
Eu franzi as sobrancelhas e o olhei por alguns segundos, e depois respirei fundo.
_ Você e seu egocentrismo que te faz pensar que as coisas que eu faço estão, especificamente, relacionadas a você! – eu respondi com as exatas palavras dele, porque sabia que isso o irritaria muito.
_ Muito engraçado... – ele disse de cara feia, provavelmente, tentando pensar em uma resposta melhor que essa. É claro, que eu não esperaria.
_ Obrigada! – eu disse, e logo saí sem nem olhá-lo outra vez.
Pude ver a professora nos observando. Ela devia estar vigiando para nos separar caso nosso discussão passasse do limite verbal para o físico.
Já no corredor, eu pensava que finalmente poderia aproveitar meu horário de almoço em paz. Eu estava errada, como na maioria das vezes que penso ter me livrado da sombra-que-sorri.
_ Olha aqui... – Malfoy começou, me puxando pelo braço.
Porém, nenhum dos dois teve a chance de dizer algo a mais, já que estávamos ocupados fazendo cara de nojo. Ele com repulsa do meu braço em sua mão e eu da sua mão no meu braço. Eu me soltei do aperto com certa brutalidade e me virei para seguir meu caminho, mas ele se prostrou na minha frente, impedindo minha passagem.
_ Você se importa? – eu perguntei, apontando para a passagem que ele bloqueava.
_ Você não vai se livrar de mim tão fácil. – ele disse como se fosse a última palavra na discussão.
Obviamente, se tratando de nós a discussão na terminaria tão cedo.
_ O que há de errado com fácil? – eu perguntei, sem nenhuma vontade de divertir Malfoy com um de meus ataques de histeria – É tudo que as pessoas buscam... Facilidade. Então, vamos ser felizes e seguir para o almoço!
Eu fiz menção de continuar a andar, mas ele não se moveu.
_ Ok... Eu vou precisar de uma ajudinha! Vamos lá, você precisar sair da minha frente antes. – eu disse como se estivesse falando com uma criança de dois anos de idade não que isso não fosse verdade.
Nada. Nenhum deslize para o lado ou passo para trás. Nada.
_ Anda! Eu quero ir comer, falar com meus amigos e, principalmente, parar de olhar na sua cara! – eu disse perdendo a paciência.
Ele começou a dar risadinhas leves e, como sempre, cínicas. Não sei exatamente o que me deu, mas sei que senti meu rosto queimar sob meus cabelos.
_ PORRA, GAROTO! SAI DA MINHA FRENTE! – eu gritei, empurrando-o para fora do meu caminho.
_ Quanta violência! – ele debochou, impedindo minha passagem mais uma vez. – Exercitando o que aprendeu com sua família de delinqüentes?
Se ódio mata, Scorpius Malfoy tem um trilhão de vidas! Ninguém o estaria odiando mais que eu naquele momento! E isso era o mais frustrante, porque eu não queria nada por aquele troço! Muito menos algo forte como o ódio!
_ Por que você está aqui? Por que perde seu tempo tornando minha vida um inferno? – eu perguntei em meio a tapas raivosos.
_ Diversão. Ai! – ele reclamou de um tapa que, talvez, tenha sido forte demais – Pára de me bater sua maluca!
Eu sorri, desdenhosamente, e continuei “atacando-o”.
_ E só você merece diversão? – eu perguntei, enquanto descontava minha raiva nos braços dele, erguidos em defesa.
Ele bufou e em um movimento rápido, com a maior facilidade do mundo ele segurou meus braços e me prendeu, para isso teve de diminuir drasticamente, a distância entre nós.
Mesmo que a proximidade entre nós fosse mais que insuportável, eu sabia que ele não me soltaria para que eu o espancasse outra vez. É claro que isso não me impede de lutar até a morte para ele me soltar. Pouco dramático...
Enquanto ele segurava minhas mãos atrás das minhas costas eu me debatia que nem uma maluca. Ele parecia se divertir bastante com a cena, acho que as minhas investidas para machucá-lo não estavam funcionando. Chegou uma hora que do nada eu parei de me mexer, ofegante. Sabe aquele momento em que você percebe o quão ridícula uma cena está sendo? Então, foi mais ou menos isso.
Foi neste momento que eu percebi a real proximidade. Na verdade, foi a última coisa que eu percebi! Primeiramente, fiquei confusa ao olhar diretamente em seus olhos. Eles eram de um azul cinza... Nunca havia notado. E por que notaria? Essa era a menor distância que já havia ficado de seu rosto... E nem estávamos tão próximos assim...
Eu devo ter divagado por mais que o normal para variar, porque olhos cinza, de repente, se tornaram confusos.
_ Por quê? – eu perguntei em voz alta, inclinando um pouco a cabeça. Claramente, eu também estava confusa.
_ Ah... “Por quê” o quê? – ele perguntou em olhando como se eu fosse uma maluca – Você finalmente endoidou foi?
Balancei minha cabeça para sair de qualquer transe no qual estivesse.
_ Por que você está fazendo isso? – eu perguntei outra vez, ignorando-o – Não que você nunca tenha pegado no meu pé, mas... Sinceramente, você... – eu parei por um momento – Está parecendo chiclete!
Ele riu disso. Ok, nenhuma novidade aí. A novidade foi que eu ri também. Não para ele que fique bem claro! Mas da cara dele! Era estranho ver um sorriso normal em seu rosto.
_ A partir de agora não te perseguirei, Weasley. – foi o que ele disse, vagarosamente, soltando minhas mãos.
Por mais incrível que pareça eu não comecei a socá-lo desesperadamente (como normalmente aconteceria).
_ Como assim? Você... – eu parei de falar no meio da frase quando vi o grupo de amigos dele olhando em nossa direção.
Malfoy posicionou-se ao meu lado.
_ Sabe aquele cara aí? – ele perguntou, rindo debochadamente.
É claro que eu sabia! Fazemos poções juntos! Será que os sonserinos simplesmente te ignoram por natureza?!
_ O nome dele é Logan. – ele apontou para o garoto e depois sorriu – Ele apostou comigo que eu não era bom o bastante para fazer qualquer garota desse colégio sorrir abobadamente... – nessa hora ele se virou para meu rosto outra vez – Adivinha quem ele escolheu de desafio para mim? – ele perguntou sorrindo estupidamente.
Comecei a cerrar os dentes, enquanto uma grande raiva sucumbia em meu peito, alastrando-se até minha garganta. Sinceramente, eu sabia que ele era um babaca, mimado e retardado mental, mas não pensava que fosse tão baixo a brincar com sentimentos assim, ao acaso.
Quando finalmente olhei para o lado ele já não se encontrava mais lá. Virei-me, devagar, para frente. E lá estava ele com seus amigos. Ele pegou a carteira de Logan e retirou alguns galeões de lá. Os dois estavam rindo. Era isso! Eu juro que ele vai me pagar por isso! Eu simplesmente odiava Scorpius Malfoy.
*Entre Malfoy e seu grupo*
Malfoy caminhava, desleixadamente, parecendo despreocupado. Porém, suas mãos estavam apertadas em punhos. Quando chegou até Logan abriu seu costumeiro sorriso e pegou a carteira da garoto, dela retirou alguns galeões. Enquanto o grupo de afastava de Rose, Logan chamou Scorpius:
_ Hey! Seu ladrão! – ele reclamou, dando soquinhos amigáveis no ombro do amigo.
_ Eu preciso comprar uma coisa, cara... Depois te pago. – Scorpius garantiu.
_ Eu não duvido da sua ridiculamente grande fortuna, meu amigo – disse Logan, levantando as mãos em posição de defesa. – Sua integridade por outro lado...
Scorpius sorriu de volta para o amigo e logo depois voltou a observar o corredor por onde passavam. Observou um menino, provavelmente do terceiro ano, olhar fixamente com um jeito triste para um objeto qualquer que estava espatifado no chão. Scorpius pegou o dinheiro do bolso e, sem pensar, praticamente jogou os galeões em cima do menino, que levou um susto.Ele poderia comprar o que quer que fosse aquilo espatifado no chão quando houvesse algum passeio à Hogsmead.
Não, Scorpius não estava sendo solidário. Provavelmente, ele faria a mesma coisa se fosse Filch (que realmente assustava os alunos pelo fato de nunca morrer... Já que ele esteve na época dos marotos, na de Harry Potter e, agora, na de seus filhos. Vai descansar Filch!) no lugar do garoto! Ele simplesmente não precisava do dinheiro, isso não lhe faltava. Mas o que lhe remoia a cabeça era o que a Weasley havia dito. Ela apontou um fato verdadeiro, mas ele logo depois se esqueceu da descoberta. Não era um fato relevante, afinal, só tinha ocupado dez segundos do seu dia.
Não podemos esquecer-nos de ler esta frase com uma entonação um pouco diferente: “Tinha ocupado dez segundos do seu dia.” Rose Weasley havia ocupado dez segundos inteiros do seu dia...
*Diário de Rose Weasley*
Quando, finalmente, cheguei ao salão principal estava com tanta raiva que podia perceber minhas bochechas queimando. O que era horrível, pois como tenho pele branca, minhas bochechas devem ter assumido um tom rosa. Sentei-me a mesa, bufando.
_ Realmente, priminha... O que eu mais gosto em você é seu bom humor! – comentou James com seu sorriso maroto.
_ E sarcasmo é uma segunda língua para mim, James. Então, se eu fosse você não a usaria contra mim. – eu respondi, descontando a raiva em meu primo.
_ Nossaaaa! Por que tanta hostilidade? – James perguntou, estendendo as mãos em sua defesa.
Eu respirei fundo. Além de nada daquilo ser culpa de James, eu sabia que mencionar o nome de Malfoy já era motivo para meu primo pular no pescoço do loiro. Então, o silêncio era o que devia prevalecer.
_ Nada demais. – eu disse, era nisso que eu acreditava: ele não era nada.
_ Ok... – James sabia que eu estava mentindo, mas também sabia que agora eu não falaria nada, mesmo que ele insistisse, então nem se deu ao trabalho de perguntar. – Bem, nós estávamos falando do Albus entrar para o time de Quadribol! – disse James para mudar de assunto.
_ Isso é ótimo! – eu disse, começando a esquecer brigas inúteis.
Albus revirou os olhos. Todos sempre o estavam pressionando para ser o pai dele, porque ambos eram muito parecidos. Mas Albus não queria entrar no time porque seu pai entrou. Quando era pequeno quase surtou para entrar na mesma casa que a do pai e durante seus anos em Hogwarts começou a pensar que ele queria uma vida dele, não traçar a história de seu pai, pois esta já havia sido traçada e, temos de concordar, de modo espetacular.
_ Gente, eu entro no time se eu quiser... – Albus disse cansado dessa discussão.
Nós três falávamos muito sobre isso, já que eu e James éramos viciados em ganhar no Quadribol e achávamos o fato de Albus guardar sua habilidade para jogos entre família durante as férias um desperdício. Além de acharmos injusto com o time.
_ E se vocês quiserem eu até ajudo vocês a consertarem os erros que o time está cometendo só para não dizer que eu não ajudo! – Albus disse para amenizar o clima – E olha que são muitos!
_ Abaixa a bola, moleque! – eu disse, rindo, enquanto James lhe dava um cascudo.
Os dois tiveram uma pequena disputa física, já que disputavam por tudo! Depois ficamos somente nós três conversando, como fazíamos desde pequenos. Nesse momento, não havia mais nada estressante passando pela minha cabeça. Eu só pensava em como tinha sorte de ter esses dois na minha vida! Tão diferentes e tão essenciais!
*Sexto ano. Goles na minha cabeça (Ai!)*
Hoje acordei com a sensação que seria um ótimo dia! E até agora está indo muito bem... As aulas foram incrivelmente fáceis, não que isso seja grande novidade para mim, devo esse meu lado CFD à minha mãe, Hermione Granger, que deve estar morrendo de rir neste exato momento. Pais... Juramos que são as piores criaturas na face da terra e, ainda assim, nos pegamos fazendo as mesmas coisas que eles um dia fizeram ou fazem. Também foi bom ter conseguido um pouco de paz para pensar, sozinha, perto do lago com esse clima pós-chuva que eu adoro! Geralmente, eu sou seguida por meu primo Albus Potter, não é que eu não goste dele, mas às vezes eu quero ficar sozinha, ele não entende muito isso... O que eu podia esperar? Crescemos juntos. Apesar desses meus momentos somos mesmo inseparáveis, o que me faz lembrar que preciso arranjar mais amigas meninas...
Agora o Sol já lutava para passar por entre as nuvens, deixando seu vestígio em alguns raios laranja que pintavam o céu. Por isso eu adoro o momento pós-chuva... Me faz sentir distante de tudo. Eu sei que parece estranho querer me sentir distante de um lugar mágico como este, mas quando eu preciso pensar, preciso estar longe e deixar minha cabeça flutuar pelos lugares mais vagos, talvez até vazios de minha imaginação. E assim vou preenchendo cada espaço com o que eu preciso, parece fácil, mas é um processo longo e doloroso. Talvez como deva ser... Tudo que valha a pena na vida.
_ OLHA A BOLA!
Eu sei que você provavelmente esperava mais alguma dissertação sobre o tema acima, ou talvez uma conclusão do meu pensamente filosófico... Queira me perdoar... Mas nesse exato momento uma goles GIGANTE me atingiu na cabeça. É um ótimo dia...
_ Hey! Hey!
O que, a meu ver, foram alguns minutos depois eu estava sendo acordada, à espancamento... Ok, talvez não espancamento, mas com certeza me estavam dando tapinhas mais fortes que necessário no rosto.
_ Ah, finalmente!
Ops... Senti minha cabeça girar outra vez.
_ Não! Nem vem! Eu não vou ficar em detenção por sua causa... de novo.
Scorpius... Malfoy. Personificação de tudo mais arrogante e inútil que você possa imaginar e... Além disso... Você prestou atenção no nome da criatura? Não me assusta que ele seja problemático.
_ Por que você está aqui?! – eu perguntei indignada.
Mesmo que eu estivesse um pouco tonta por causa da bolada tinha um pouco de sentido no que eu estava falando. Afinal, eu estava muito bem até ele e sua goles idiota cruzarem meu caminho! Se bem que nós devíamos ter pensado nisso cinco anos atrás quando nossos pais se avistaram ao longe na plataforma 9¾. Em todos os dias da minha estada em Hogwarts eu penso em como tudo teria se sido diferente se apenas...
*Uma voltinha no passado*
_ Então esse é o pequeno Scorpius...
_ Estupore! Morraaaa!
E assim Scorpius Malfoy não estaria aqui, eu seria uma criança prodígio em feitiços e minha cabeça não estaria doendo tanto. Simples assim!
*De volta ao presente*
_ Eu estudo aqui... Você ficou retardada? Poxa, ser inteligente era a única coisa que você tinha para oferecer. – disse Malfoy, sorrindo debochadamente.
_ Você não tem nenhuma compaixão pelas pessoas, não é? Aqui estou eu, machucada, e você só consegue tentar, forçadamente, ser sarcástico... Pobre criatura. – eu devolvi. Nossas conversas são sempre sarcásticas.
_ Eu sou um poço de compaixão! – ele fingiu indignação – Mas não é como se eu te visse na categoria de pessoa...
_ Pelo menos eu estou em uma categoria, já você não consegue ser nada na vida além dessa grande massa loira de Barbie paraguaia que se empenha ao máximo em ser inútil. Tá aí! Você está na categoria dos inúteis, não se sinta tão mal...
No momento em que eu acabei de falar ele se converteu em uma grande massa de Barbie paraguaia vermelha ao extremo! Isso era sinal que ele tinha ficado nervoso, mas não me mostraria isso. Porém, só a certeza que eu tinha já era suficiente para meu ego.
_ Hey! Scorpius! – gritou Logan Hammond, que gesticulava freneticamente com os braços. Quando ele estava perto o bastante completou – Vai ficar o dia inteiro discutindo com essa aí ou vai querer jogar?
_ Essa aí? – eu perguntei, chamando a atenção dos dois – Logan, eu faço poções com você! Você é minha dupla e eu faço todo o trabalho enquanto você baba nos livros!
_ Ah... – ele parecia ter se lembrado de quem eu era – E aí, ruiva?
_ Nem ruiva eu sou... – no meio da frase eu desisti de falar qualquer coisa com aqueles dois.
_ Você espera ser uma Weasley e não ter nenhum traço ruivo? – debochou Malfoy – E você ainda se julga tããão perspicaz...
Eu detesto a maneira com a qual ele age! Como se me conhecesse ou conhecesse a minha família!
_ Já que você solucionou o graaande mistério do cabelo dos Weasley eu vou te dar uma ajuda e nem vou mencionar seu nome. Chega de te sacanear por hoje...
_ Eu me orgulho de ser um Malfoy! – ele replicou.
_ E é por isso que eu questiono sua capacidade mental... Bem, sempre. – eu sei que eu pareço meio má, mas ele merece!
_ Eu não vou ficar aqui ouvindo você... Um “Malfoy” não teria nem vindo aqui, certo? Vamos fingir que eu te deixei aqui caída e você pode voltar para sua perspectiva preconceituosa de vida! – ele praticamente cuspiu essas palavras em cima de mim.
Logan o seguiu, eu pude ver um pequeno sorrisinho se abrindo no canto de sua boca. Sonserinos! Eu queria gritar e fazer aquele loiro aguado engolir suas palavras... Só me faltava um: ânimo e dois: ânimo. Eu realmente estava esgotada e só queria passar o resto da minha tarde imóvel na minha amada cama. Como eu odiava o efeito que ele tinha sobre mim!
Quando cheguei à sala comunal da Grifinória Albus me fez a pergunta mais irônica do mundo.
_ Rose? O que aconteceu? Você parece meio mal... É porque hoje choveu? O céu cinza realmente estraga o humor de qualquer um...
Eu adoro quando chove. Adoro cada gotícula de orvalho que cai das folhas das árvores. Mas exausta como eu estava, só havia uma coisa para responder:
_ É Albus... Podia ter sido um ótimo dia, mas... Hoje choveu.
*E agora, ainda no sexto ano, sentada na minha cama. Sem fazer nada. Quer dizer, além de escrever em você*
Nossa! Ficou muito grande esse título! Espera...
*Ainda no sexto ano, no meu quarto*
Agora está brega, mas pelo menos não está grande! Não viu a breguice? É só ler o título com a voz de um dublador de novela mexicana... Viu? É, isso aí.
Eu poderia muito bem ainda estar na beira do lago, pensando em nuvens e no Sol... Mas como acabei de descrever, fui BOMBARDEADA por uma GOLES ASSASSINA! Então, ainda me culpa por eu o achá-lo um completo idiota? Bem, chega de Malfoy... O que eu preciso é de uma boa noite de sono... E de algo para comer! Somente agora, meu estômago traiçoeiro começava a reclamar o fato de eu ter pulado o jantar e ficado aqui no quarto durante o banquete. Hum... Aposto que na cozinha havia várias delícias deixadas de lado. Chegava a ficar com água na boca só de pensar!
“Mas os alunos não podem sair depois da hora Rose, esperta” minha voz da consciência bem sarcástica devo dizer repetia em minha cabeça. “Ah! Não é como se você fosse fazer nada de mal! Só não quer morrer de inanição!” disse uma outra voz na minha cabeça, aquela que eu costumava ouvir na maioria das vezes... E essa não era exceção.
Então, lá fui eu pelos corredores do colégio, nas pontas dos pés. Não sei se isso realmente ajudava a fazer menos barulho, mas pelo menos eu pensava que estava fazendo meu máximo. Tudo estava escuro, tão escuro que eu não fazia idéia de onde eu estava.
_ Mais que burrice! – eu gritei para mim mesma.
Foi realmente uma grande burrice, já que, há muito tempo, eu poderia ter iluminado para não ficar batendo de cara na parede o tempo todo! Eu era a única ali, afinal... Ou era o que eu pensava.
No mesmo momento em que eu estiquei minha mão na direção de minha varinha ouvi um ruído, como passos cautelosos. A minha primeira reação foi virar minha cabeça na direção do som, porém, deveria ter dado prioridade a alcançar minha varinha, já que, no escuro, de nada adiantou ir atrás do som. Não podia ver o que o havia causado.
Eu pensei em perguntas óbvias como “Quem está aí?”, “Tem alguém aí?”, mas não podia falar nenhuma delas, na verdade, não podia dizer nada, pois se fosse Filch a perambular pela escola eu estaria perdida. Eu parei, e outros passos também pararam o que indicava que a outra pessoa também havia percebido a presença de alguém: a minha.
Eu podia sentir a presença da outra pessoa perto, até mesmo sua respiração leve e controlada. Isso definitivamente indicava que estávamos perto, se não, eu nunca teria percebido sua respiração, e eu sabia que essa era a idéia. Vagarosamente, eu fui dando passos para trás como em defesa, embora não soubesse se estava saindo do caminho de meu estranho ou se estava indo em sua exata direção.
Um passo, dois passos, três passos e nenhuma chance de um quarto. Eu havia esbarrado em algo com as minhas costas. Quando senti dedos deslizarem, rapidamente, sobre a palma da minha mão, soube que estava completamente ferrada. Meu estranho também havia dado passos para trás e agora estava de costas para mim, a apenas alguns centímetros.
Bem, acho que agora não tinha mais por que não saciar minha vontade humana de fazer a pergunta sem sentido que, quase nunca tem uma boa resposta, mas todo mundo faz ao ouvir um barulho no escuro.
_ Quem está aí? – eu perguntei sem obter uma resposta (que surpresa!)
A pessoa endireitou-se atrás de mim.
_ Weasley?
Ótimo! Fui pega... Agora é começar a pensar em alguma desculpa decente.
_Esse não é o banheiro? Há, há, há! Que estupidez a minha!
Sim, eu realmente disse isso! Estupidez foi essa frase, Rose Weasley! Merlin, eu estou burra!
Foi então que a pessoa começou a rir, e esse riso eu reconheceria em qualquer lugar.
_ Malfoy! – eu gritei, virando-me de frente para ele.
_ Não, o “Banheiro”. – respondeu o traste, como sempre, sarcástico. E ainda rindo. ¬¬
Fechei minha cara. Ele agora estava com a varinha iluminando o corredor.
_ Muito engraçado. Realmente o seu senso de humor nunca falha. Já viu o quanto eu estou rindo aqui? Oh, Merlin! Por favor, não me faça rir tanto, Malfoy! – disse, agora eu brincando com o sarcástico.
Foi aí que fiz a grande burrice de levantar os braços, como se estivesse me rendendo. Malfoy aproveitou essa oportunidade para me cutucar a minha barriga. Eu tenho HORROR que me cutuquem na barriga.
_AH! PÁRA! PÁRA COM ISSO! – comecei a gritar sem nem perceber. E Malfoy continuava rindo.
_ O que foi Weasley? – perguntou Malfoy. – Está com medo que eu ache algumas gordurinhas?
Pronto. Acho que todo o menino deve saber que a última coisa na face da Terra que você deve falar para uma garota é que ela talvez esteja “meio gordinha”. Eu tinha certeza de que Malfoy sabia disso, e também tinha certeza de que ele falara aquilo só para me chatear. Eu sabia também que brigar por aquilo que ele havia dito era fútil, e talvez se eu fosse qualquer outra pessoa eu realmente não me colocaria do jeito que estou prestes a me colocar. Mas... Eu não era outra pessoa, eu era Rose Weasley.
_ GORDURINHAS TEM A SUA AVÓ! – eu explodi, chegando um passo para frente e dando um tapa no braço dele.
Eu pensei que com isso ele fosse parar de rir da minha cara, ofendido, como sempre faz. Porém, impressionantemente, ele somente começou a rir ainda mais.
_ Você tem problemas? – perguntei a Malfoy, talvez pela milésima vez somente este ano.
_ Se eu disser que não, você acreditaria? – perguntou Malfoy, parando de rir lentamente.
_ Não. - respondi dura e firme.
_ Então, isso faria dessa sua pergunta algo retórico, certo? – Malfoy abriu os lábios em um sorriso desdenhoso enquanto perguntava isso. A pergunta dele também era retórica.
Eu tinha que me acalmar de algum jeito, não podia deixar que aquele ser tivesse tanta influência no que eu sentia. Eu bufei e cruzei os braços em minha posição de “eu sou tão superior a você”.
_ O que você estava fazendo nos corredores a essa hora, afinal? – eu perguntei, relembrando-o que ele estava quebrando as regras da escola naquele exato momento.
_ O que você estava fazendo? – ele respondeu com outra pergunta, relembrando-me que eu estava quebrando as regras da escola naquele exato momento.
_ Não, não! Eu perguntei primeiro! – eu protestei, agora com minhas mãos na cintura.
_ E eu perguntei depois. – ele respondeu como se isso tivesse sido a maior descoberta de todas.
Eu o olhei esperando que ele justificasse por que diabos aquela resposta foi tão brilhante. Realmente, ele tinha uma justificativa.
_ Veja bem, não importa realmente quem perguntou primeiro se nós dois queremos uma resposta para mesma ação. – ele disse orgulhoso de sua descoberta.
_ Claro que não! Todos sabem que a resposta tem de ser dada primeiro a quem perguntou primeiro. – eu contrapus como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. E era. Não era?
_ Quem disse isso? – ele perguntou, procurando por fundamento no que eu disse. Como se a resposta dele tivesse muito fundamento.
Ele me olhou divertido.
_ Minha grifinória histérica... – ele começou. Seu olhar divertido agora combinava com o tom de sua voz. – Nós estarmos aqui não é exatamente a propósito de “quebrar regras”? – perguntou o idiota, rindo na minha contradição com um sorriso mais idiota ainda.
Eu abri a boca com a intenção de responder, mas não sabia o que dizer. O que eu diria?! Que tipo de coisa se pode dizer depois que alguém te joga uma bomba dessas? Então, essa se tornou uma das horas que eu mais odiava Scorpius Malfoy. Era uma daquelas horas em que ele me deixava sem fala.
Eu devo ter ficado um tempo razoável abrindo e fechando a boca, porque ele começou a abrir aquele sorriso debochado dele. Senti minhas sobrancelhas franzirem em raiva. Ele deve ter achado isso muito engraçado, porque nessa hora ele jogou a cabeça para trás e soltou uma alta gargalhada. Eu respirei fundo e disse:
_ Quer saber? Eu nem sei por que estou perdendo meu tempo aqui com você!
Eu estava cansada de brigar com ele. Realmente, não queria mais estar ali. Ai... Esses verbos no passado.
_ Acho que tudo começou quando você achou que eu era o banheiro. – Malfoy respondeu, ainda rindo da minha cara.
Eu queria gritar algo como: “EU NÃO ACHEI QUE VOCÊ ERA O BANHEIRO! SERÁ QUE VOCÊ É TÃO BURRO QUE NEM ISSO ENTENDEU?
Mas eu respirei fundo e me virei para sair do lado dessa coisa. Ele simplesmente me esgotava. Às vezes eu me perguntava se algum dia nós pararíamos de brigar, como meu pai e Draco Malfoy. Quer dizer, eles não eram amigos, mas pelo menos não agiam nós toda vez que se viam. Pena que, a partir do que acontecerá a seguir, esse momento pareceu ficar cada vez mais distante.
_ Típico de um Weasley... – disse Malfoy, debochado. – Sempre fugindo de uma briga.
Eu parei de andar no mesmo momento e me virei, lentamente. O sorriso dele se iluminou.
_ Cala... essa... boca, Malfoy. – disse com minha raiva já voltando. – Você não sabe do que está falando.
_ Ah! – ele exclamou, entusiasmado. – Eu sei exatamente do que estou falando! Sempre fugindo, não é?
_ Fala sério, garoto! Se não fosse pela minha família seu pai nem estava mais aqui! – eu explodi, chegando perto o bastante para simplesmente focar seus olhos cinza acima dos meus.
Podia sentir sua respiração colidir com a minha, que estava ofegante. Tinha quase certeza de que nossas expressões eram um total paradoxo. Seus olhos expressavam o seu sorriso, com um ar brincalhão. Os meus, ah... Esses eu tinha certeza que estavam expressando uma enorme raiva.
_ E você acha que sua família teve algo a ver com isso? – ele perguntou tão perto que nossos rostos quase se tocavam. – Qual é aquele nome que sempre será lembrado? Weasley ou Potter?
Tudo aconteceu muito rápido e eu só pude ver a expressão em seus olhos. Eu fiquei tão nervosa quando ele disse isso. Voltando ao passado com uma briga estúpida entre quem era o mais famoso, o que já tinha gerado tantos problemas entre meu pai e o tio Harry. Tudo bem... Na verdade, não era bem isso o que havia me incomodado e eu não sabia bem o que era, mas havia me deixado com muita raiva. Talvez ele tenha visto nos meus olhos que eu faria alguma das coisas loucas que geralmente faço. Bem, ele acertou.
Antes que eu pudesse me deter pulei em cima de Scorpius Malfoy, derrubando-o no chão. Comecei a dar tapas e socos, enquanto estava em cima dele. Ele por sua fez ria muito e defendia minhas investidas inúteis com os braços.
_ Sua barata, nojenta, abominável e asquerosa! – eu gritava enquanto tentava ao máximo deixá-lo com pelo menos alguns arranhões.
_ Sua... Doida... Pára com... ISSO! – Malfoy tentava falar em meio as minhas investidas, que agora já estava ficando melhores.
Eu podia ver que ele já não ria mais. Talvez agora ele realmente tivesse percebido que eu estava mais maluca do que nunca e por nenhuma razão iria parar de bater nele.
_ Paro nada! – eu dizia ofegante, acho que já devia estar toda descabelada e vermelha.
Malfoy bufou e segurou minhas mãos com força, me obrigando a parar de bater nele.
_ Pára de me bater sua maluca! – ele gritou aquilo na minha cara. Na MINHA CARA!
_ Maluca é sua mãe! – respondi, enquanto tentava voltar a bater nele.
De repente, senti suas mãos segurarem meus pulsos com mais força, e em seus olhos não restavam mais nenhum ar brincalhão.
_ Nunca mais fale assim da minha mãe. – ele disse, pausadamente e com um olhar assassino no rosto.
Tenho que admitir que, no início, eu fiquei meio assustada com a sua reação. Nunca o havia visto tão furioso. Mas isso não durou muito, meu ar de mandona rapidamente voltou a reinar em meu rosto.
_ O que foi? – eu perguntei rindo sarcasticamente. – Vai me bater, vai? Vamos lá... Bate! Eu quero ver você fazer isso!
Ele me olhou fixamente, não entendi muito bem o que isso queria dizer, mas não me importei continuei atiçando-o.
_ Vamos lá, Malfoy! Não estava tão machão antes? Quero ver você conseguir bater em mim! – eu falei isso em um tom muito implicante, até mesmo para mim.
Ainda estava posicionada em cima dele, e sabia que ele podia sim me bater, mas isso não fazia diferença. Ele me olhou por alguns segundos e... Bem, ele fez algo que ainda não entendi. Ele me puxou para frente, para mais perto de seu rosto. Estávamos quase nos tocando, quando eu perguntei:
_ O que... - eu comecei, mas não tive a oportunidade de terminar minha pergunta.
_ Ora, ora... – eu ouvi uma voz familiar dizer. – O que vocês estão fazendo aqui a essa hora da noite?
Congelei no lugar onde estava. Era Filch. Ai, Merlin... Estávamos em com grandes problemas! Grandes! E mesmo assim, quando eu tentei me soltar de Malfoy, ele ainda me segurou por mais alguns segundos, antes de eu olhá-lo desesperada. Então ele sorriu novamente, e me soltou.
Essa seria, realmente, uma longa noite.
*Na sala da diretora Minerva Mcgonagall, junto com professor Arthur Anthony e professora Morgana Le Fay*
Filch nos seguiu (sim, porque ele mais nos seguiu do que nos acompanhou) até a sala da professora Minerva com um sorriso incomum em seu rosto amargurado. Ele não deve ter pegado alunos foragidos durante algum tempo. Também, nenhum dos outros alunos ficava se espancando aos gritos no meio do corredor quando saíam à noite, isso se saíssem à noite.
Eu devo ter pensado em mil coisas enquanto andávamos, e minha expressão provavelmente estava desesperada. Malfoy, ao contrário, parecia super tranqüilo. Aposto que essa não era sua primeira vez. Aliás, eu mesma sabia que essa não era sua primeira vez. Já havia, eu mesma, mandado ele para uma detenção várias vezes. Não que eu tivesse autoridade para mandá-lo para detenção, mas tenho a maldade para ser a razão desse castigo.
Paramos à frente da porta da sala da professora. Quando entramos, Malfoy foi logo sentando em uma das cadeiras à frente de Mcgonagall. Eu fiquei em pé, olhando para professora, silenciosamente, pedindo permissão para sentar.
_ Sente-se, Srta. Weasley. – disse Mcgonagall, apontando com a mão a cadeira ao lado de Malfoy.
Sentei ereta, como sempre fazia quando estava prestando muito atenção no que estava acontecendo. Malfoy, para variar, estava quase afundando na cadeira de tão desleixado que estava. Minerva observou atentamente cada um de nós, arregalando um pouquinho os olhos. Ela deve ter visto algo que a impressionou.
Olhei pelo canto do olho para Malfoy. Foi a minha vez de arregalar os olhos. Sua camisa estava aberta na parte de cima, faltando alguns botões, ele também estava com um arranhão que vinha do seu maxilar, descendo para o pescoço até o início de seu peito. Que estava à mostra, ali em sua camisa rasgada. Simplesmente assim.
Ele, então olhou para mim e me pegou olhando para o lugar que eu mencionei acima. Ele franziu as sobrancelhas. Eu desviei meu olhar rapidamente. Mesmo não olhando eu tinha certeza de que ele estava sorrindo. Porém, eu tinha coisas maiores para me preocupar como: achar algo em que eu pudesse ver meu reflexo. Não, não sou tão vaidosa. O problema é que olhando para a aparência de Malfoy, eu sabia que eu não devia estar muito melhor do que ele.
Finalmente, observei um pequeno armário com vidro transparente um pouco atrás da professora Morgana, em que eu podia me ver. O que eu vi foi uma menina com o rabo-de-cavalo quase inexistente, toda vermelha, com a blusa amarrotada e com os olhos arregalados pelo o que estava vendo.
_ Muito bem, Srta. Weasley, o Sr. Filch disse que encontrou você e o Sr. Malfoy... Bem, em uma situação comprometedora. – Minerva olhou em meus olhos. – Francamente, eu esperava esse comportamento do Sr.Malfoy, mas você Srta. Weasley? – perguntou Minerva.
Malfoy levantou as mãos e bufou no estilo “Claro, coloquem a culpa no Malfoy!”
_ Professora, eles são jovens... Experimentando. – disse a professora Morgana tentando amenizar o rosto vermelho de uma nervosa Mcgonagall.
Eu franzi as sobrancelhas. “Experimentando” o que? Malfoy apertou os olhos e depois soltou um risinho desdenhoso curto. Olhei para ele, e para Minerva, depois para professora Morgana e então para o professor Arthur que estava apoiado na estante de livros um pouco distante de nós, seus braços cruzados como os quem estava sendo forçado a ficar lidando com alunos fujões, mas tinha coisa melhor para fazer. Todos eles, embora em posições diferentes e expressões diferentes, esboçavam uma coisa no rosto que eu não tinha: entendimento. O que todos estavam pensando, afinal?
A professora Mcgonagall falava algo sobre ser “inaceitável” o que estávamos fazendo, mas eu não estava ouvindo muito. Não entendia porque todo aquele drama... Saímos depois da hora, mas não íamos fazer nada de mal! Bem, pelo menos EU não ia fazer nada de mal. Por algum impulso me virei para Malfoy. Olhei seu rosto baixo, como se ele estivesse tentando não rir, depois desviei meus olhos para sua camisa amassada, o arranhão que eu havia feito em seu pescoço... E o quanto nós estávamos desarrumados, e também que estava meio escuro quando Filch nos encontrou... NÃO! AI MERLIN!
_ NÃO! – eu gritei desesperada.
Todos os professores me olharam de olhos arregalados. Nem eu sei por que havia gritado, mas, na hora, não me pareceu tão estranho. Malfoy levantou a cabeça, com certeza queria ver qual seria minha reação depois que eu descobri o que todos realmente estavam pensando. Há! Como minha histeria é hilária...
_ Professora, todos vocês! Está tudo errado, vocês entenderam errado! – eu comecei, tentando me explicar.
_ Não creio que haja muito para entender, senhorita. – respondeu Mcgonagall.
_ Sim! Há muito! Primeiramente, estava escuro para que Filch tenha visto tudo corretamente e interpretado o que estava acontecendo. – eu disse, com minha voz explicativa (aquela que James e Albus odiavam porque me fazia parecer certa) – Nós não estávamos fazendo nada do que os senhores estão pensando, não é Malfoy? – eu chamei o loiro para que ele se dignasse a fazer algo quanto a situação.
Malfoy suspirou preguiçosamente.
_ Eu ainda não sei se você vai melhorar ou piorar nossa situação, então prefiro não dizer nada. – ele respondeu calmamente.
Como eu queria bater no imprestável naquele momento. Não que eu já não tivesse feito isso há alguns minutos antes, mas essa é uma vontade insaciável que eu tenho.
_ Tudo bem, vocês não precisam escutar Malfoy, mesmo porque ele não teria muito crédito.
_ Senhorita! – Mcgonagall me repreendeu.
_ Teria? – eu perguntei, já sabendo a resposta.
Mcgonagall limpou a garganta e mudou de assunto.
_ Bem, prossiga. – ela me disse.
Malfoy soltou outro risinho desdenhoso.
_ Professora, pode dizer que estávamos nos corredores fora da hora...
_ O quê?! – Malfoy interrompeu, endireitando-se na cadeira, mas eu prossegui sem ouvi-lo.
_ Pode dizer que começamos a gritar nos corredores, onde, lembrando a todos, não deveríamos estar e também que estávamos nos esmurrando até a morte, mas nada de indecente que qualquer um aqui estivesse pensando. – eu terminei triunfante.
Quando finalmente saí de meu transe, porém, vi que os rostos não esboçavam a compreensão que eu esperava... Mcgonagall estava com os lábios apertados em uma linha fina, professor Arthur parecia rir de algo super engraçado, Malfoy tinha o rosto baixo e as mão massageando as têmporas, e professora Morgana... Bem, eu não faço a menor idéia de porque ela estava com aquela cara de “eu descobri seu maior segredo”.
_ Você tem algum entendimento da gravidade de todas essas coisas que a senhorita acabou de citar, senhorita Weasley? – perguntou Mcgonagall, seriamente.
ME SALVEM ACHO QUE ELA VAI ME DEVORAR!
_ Quero deixar bem claro que eu não disse nada e que essa menina tem problemas mentais. – disse Malfoy, interrompendo Mcgonagall – Também quero dizer que só estava fora porque ouvi algo estranho e como monitor tenho que prezar a segurança dos alunos de Hogwarts.
_ Mas quanta idiotice! – eu respondi, incrédula com a hipocrisia daquela coisa loira. – Como você mente assim na cara dos outros?
_ E como você sabe que é mentira se não estava comigo até começar a me espancar? – Malfoy devolveu.
_ Porque, gênio, você nunca conseguiria ouvir algo que acontecesse no corredor do seu dormitório que ninguém mais ouvisse. – eu respondi.
_ Ahá! Vejam que ela não nega que começou a me agredir sem razão! – Malfoy disse, virando-se para os professores. – Quem merece mais castigo, afinal?
_ SEM RAZÃO? – eu explodi.
_ Sim, sem razão. – ele afirmou – Acho que a senhorita Weasley podia ser designada para algum tratamento psiquiátrico.
_ A senhorita Weasley vai é quebrar a sua cara!
_ Chega! – Mcgonagall ordenou de onde se encontrava.
Nós dois obedecemos, pelo tom da professora ela não estava muito feliz.
_Sei que um pouco de rivalidade entre casas sempre existirá, mas tudo tem seu limite! Não vou permitir que comecem a se matar dentro dessa escola por coisas tão mesquinhas!
Mcgonagall iria começar mais um de seus sermões, eu sabia. Assim como todos presentes na sala, que procuraram se ajeitar na cadeira em uma posição que fosse mais confortável pelos próximos mil minutos de sermão.
_ Diretora, se a senhora me dá licença. – começou a professora Morgana, interrompendo Mcgonagall.
SALVOS PELO GONGO!
Mcgonagall fez um gesto com as mãos para que a professora continuasse.
_ Bem, eu posso ver o problema aqui e vai além de “rivalidade entre casas”. – Morgana disse.
Claro! Malfoy é um garotinho estúpido e mimado que nunca conseguiria demonstrar sentimentos verdadeiros por nada nem ninguém! E, é claro, eu o desprezo imensamente.
_ Ou o senhor Malfoy e a senhorita Weasley tem uma queda um pelo outro. – a professora começou.
_ O QUÊ?! – eu e Malfoy gritamos, praticamente juntos.
_ Quem poderia gostar dessa maluca?! – perguntou Malfoy, virando-se para mim com o rosto enojado.
_ Nem uma maluca como eu gosta de um filhinho de papai mimado e ridículo! – eu respondi, também com o rosto enojado e ofendida com o que ele havia dito sobre mim.
Malfoy respirou fundo de raiva. Eu achei que ele ia pular em cima de mim e começar a me enforcar, mas a professora parou nossa discussão antes que algo assim acontecesse.
_ Tudo bem, não é preciso começarem a insultar um ao outro. – disse a professora, seriamente. – A outra opção é que vocês não se conhecem bem e simplesmente se levam pelas aparências! E o ser humano tende a temer o desconhecido. Aposto que não passam tempo suficiente juntos para que se conheçam realmente.
Mais tempo do que eu aguento essa criatura? Não, obrigada.
_ E qual é a sua sugestão, professora? – perguntou Mcgonagall.
_ Eu sugiro que haja maior integração!
MAIOR O QUÊ?!
_ Sim, eu digo para que ambos se conheçam melhor! E imaginem como a atmosfera na escola melhoraria se vissem que grifinórios e sonserinos podem andar juntos! – a professora Morgana disse, animadamente.
_ E como os alunos passariam mais tempo juntos? – perguntou Mcgonagall – Não podemos forçá-los.
É! NÃO PODEM NOS FORÇAAAAAR!
_ Na verdade, podemos. – interrompeu o professor Arthur que eu não sei por que não continuou com a boca fechada!.
_ Podemos? – perguntou a professora Morgana esperançosa.
_ Sim. – respondeu o professor. – Houve uma época em que faziam com que os alunos convivessem mais. Colocando-os para alternar o lugar onde dormiam, por exemplo. Dois dias na casa de um e dois na casa de outro, também os obrigavam a fazer alguma tarefa juntos.
COMO OBRIGAVAM OS ALUNOS A ESSA TORTURA?!
_ Você mais do que ninguém pensei que se lembraria, Morgana. – completou o professor.
O ambiente ficou tenso depois disso. Todos nós olhávamos para os lados, enquanto Morgana e o professor se olhavam sem dizer nada. O que aconteceu entre aqueles dois? A professora Morgana colocou seus cabelos loiros cacheados para trás da orelha. A professora possuía uma aparência muito jovem para a idade que achava que ela deveria ter, assim como o professor. Morgana tem olhos verdes claros por dentro mas circundados de verde escuro por fora, ela era incrivelmente bonita. Lembro-me de quando os meninos a viram pela primeira vez e tentaram dar em cima dela... Pobres coitados. Ok, nós também babávamos pelo professor Arthur, com seus longos cabelos castanhos e olhos negros como ébano. Ai...
Depois de alguns segundos Mcgonagall limpou a garganta para que a atenção se voltasse aos alunos fujões.
_ Professor, naquele tempo os jovens eram mais... Respeitosos. – Mcgonagall alegou preocupada.
_ Ou deveriam ser... – a professora Morgana disse em voz alta sem querer.
_ Com todo respeito diretora, mas acho que esses dois não tentariam algo. Não vê que não gostam nem de estar perto um do outro? – perguntou o professor.
Por que eu tinha a impressão que ele estava conseguindo fazer com que esse absurdo se realizasse? E por que ele não parecia acreditar em nenhuma palavra do que dizia?
_ E não é como se os alunos precisassem estar no mesmo quarto para fazer qualquer coisa que... – a professora Morgana parou no meio de sua frase quando viu os olhos arregalados de Mcgonagall. – Quer dizer... Ahn... Podemos tomar cuidados para que nada aconteça.
_ E como você sugere isso? – perguntou Mcgonagall.
_ Eu sugiro que durante esses dois dias o diretor da respectiva casa em que eles estiverem tome conta dos dois. Estará por perto na casa sempre que precisarem, e para evitar que algo... – a professora Morgana parou mais uma vez e olhou os arranhões em Malfoy – indesejável aconteça.
Ok. Isso não ia acontecer. Eu não teria que viver dois dias... Ou melhor, quatro dias completos com aquele... Monstro! Olhei para Mcgonagall esperando que ela dissesse ou expressasse em seu rosto o quão louca e inútil aquela idéia havia sido. Mas para a minha grande (e decepcionante) surpresa, sua expressão mostrava interesse. Um interesse que eu já vira muitas vezes ao longo dos meus seis anos em Hogwarts. Ela concordaria com tamanho absurdo.
_ Muito bem... – começou Mcgonagall, balançando a cabeça em afirmação.
_ NÃO! – eu gritei.
Todos olharam para mim. Não havia sido minha intenção gritar daquele jeito outra vez... Mas... Eu NÃO podia deixar que aquilo acontecesse.
_ Professora... – eu comecei em quase uma súplica. – Por favor, não pode fazer isso! Por favor... Eu...
_ É exatamente por esse tipo de comportamento que acho que talvez a professora Le Fay esteja certa... – cortou-me professora Minerva. Um brilho diferente cintilava em seus olhos.
Eu não pude respondê-la de imediato ao ver esse brilho, mas me concentrei em achar uma solução para aquela situação terrível.
_ Mas... Eu... – EU não acreditava no que estava prestes a dizer – Gosto do Malfoy. – acho que a palavra “gosto” saiu mais com uma entonação de “vômito”.
Malfoy olhou para mim, ainda sentado desleixadamente em sua cadeira, com as sobrancelhas juntas como quem pergunta: “...Quê?!”. Eu, por outro lado, estava forçando um sorriso, que, ao me olhar no reflexo do vidro do armário, pude ver ser o mais falso de toda minha vida.
Acho que o loiro aguado deve ter percebido (para variar), porque começou a abrir aquele sorriso debochado dele.
_ Ah, é mesmo? – perguntou professora Morgana, sorrindo levemente. Ela tinha algo na cabeça. Isso me assustou. – Então porque você não vai e pede desculpas por ter batido nele?
Nessa hora pude sentir as maçãs do meu rosto, aos poucos, se tornarem cor púrpura. Olhei de Malfoy que estava com seu sorriso debochado costumeiro para a professora. E depois da professora para ele outra vez. Com todas as forças que eu tinha dentro do meu ser e incentivada pelo desejo enorme de mantê-lo longe de mim, me forcei a dizer:
_ Per... Perdoe-me Malfoy. – disse entre dentes.
Ele olhou para mim e balançou a cabeça assentindo. Parecia estar sendo cumprimentada por algum garoto de século XVII. A diferença é que esse garoto me olhava com um sorriso maroto que era um tanto único. Como isso me deixava... deixava... ansiosa furiosa!
_ Agora dêem um abraço para selar essas desculpas... – comentou a professora Morgana, perecendo convencida de que ia me vencer.
Sem pensar antes de falar o que estava prestes a dizer, eu senti certa repulsa e... Na verdade, não sei o que me deu forças para reagir da primeira maneira burra sensata. Eu não consigo fingir que gosto daquela coisa! Simplesmente não posso.
_ Abraçar essa coisa?! – perguntei me afastando de Malfoy, rapidamente.
Depois que Malfoy, mais uma vez, bateu com sua mão em sua testa foi que eu percebi a besteira que havia feito.
_ Muito bem... – professora Minerva finalmente se pronunciou. – Chega de tanta baderna. Dois dias em cada uma das casas, e terão que cumprir uma detenção juntos. Nesses dois dias a entrada de ambas as casas não poderá ser revelada. A primeira noite será na... – a professora pareceu pensar. – Sonserina. – e depois olhou para o professor Arthur – O senhor será o primeiro que vigiará os dois, Arthur. Confio em você para esta tarefa.
O professor acenou que “sim” com a cabeça. Depois Minerva se voltou para mim e Malfoy.
_ Vocês ainda são crianças... Mas precisam entender que a rivalidade entre vocês não é nada mais que preconceitos e orgulho implantado em suas cabeças. Vocês nasceram predestinados a se odiar pela casa em que foram selecionados. Mas quem traça o nosso destino somos nós mesmos. Pode parecer que há alguma força exterior que nos levou até onde estamos, mas fomos nós mesmos.
A professora parou por um segundo. Eu não sabia muito bem o que pensar, não havia conseguido assimilar todos os pensamentos que estavam dentro de minha cabeça de uma vez. As palavras de Minerva ecoavam, em silêncio, e meu coração batia em desespero. Eu não conseguiria ficar no mesmo cômodo que ele. Não poderia.
_ Por agora... – eu finalmente voltei à tona para conseguir ouvir as últimas palavras da diretora. – Boa noite.
*Corredor+Rose+Malfoy = ∉*
Eu saí da sala meio que estupefata. Parecia que um torpor havia tomado conta do meu corpo, como normalmente acontecia quando alguma coisa me batia de frente. Um fato me acertava como uma fecha precisamente atirada em meus pensamentos. Depois... Bem, depois o torpor se foi.
_ Ah, Merlin! Eu? Em detenção? – eu disse totalmente desesperada. Eu não podia acreditar naquilo!
Não era como se eu fosse uma santa, mas possuía uma carta nas mangas, algo que sempre me livrava quando entrava em problemas: persuasão. Eu era uma pessoa um tanto persuasiva... Às vezes, porque tem algumas coisas que eu faço que são extremamente estúpidas. Eu sou um paradoxo ambulante!
_ Ah, a menina perfeitinha finalmente ficou em detenção! – disse o idiota com um sorriso estupidamente e perfeitamente irônico. – E fui eu o culpado e... – ele parou de falar de repente e olhou para mim sorrindo abertamente.
Devo admitir que fiquei meio assustada com o sorriso absurdamente grande que ele havia me dado, mas o pior ainda estava por vir:
_ Seus últimos neurônios finalmente pararam de funcionar? – perguntei sarcástica, mas meu desespero ainda era evidente em meu tom de voz.
_ Sabe o que acabei de descobrir? – perguntou ele com uma cara de quem está morrendo de rir de uma piada interna.
Eu não o respondi verbalmente, simplesmente sacudi a cabeça, fazendo sinal para ele contar logo sua “grande” descoberta. Não que eu me importasse, mas eu sou curiosa ao extremo.
_ Eu acabei de tirar sua virgindade de detenção! – disse o babaca gargalhando sem parar.
Eu revirei os olhos e bufei.
_ Não, cara! Fala sério! Eu, Scorpius Malfoy, tirei a virgindade de Rose Weasley! – a criatura simplesmente GRITOU essa calamidade pelos corredores de Hogwarts!
Meu grau de menina desesperada aumentou 200%.
- Cala a BOCA! – eu gritei, arregalando os olhos.
_ Por quê? – ele perguntou, claramente adorando a idéia de me torturar. – Eu não falei nenhuma mentira! Eu realmente tirei sua virgindade! Só não mencionei de que enquanto gritava.
Creio que devo ter virado cor púrpura mais uma vez nessa hora, pois suas gargalhadas aumentaram a freqüência e ele agora jogava a cabeça para trás de tanto rir.
_ Rose Weasley desvirginada! – ele recomeçou a gritar.
Saí rapidamente do lugar onde estava, devo admitir que totalmente um pouco com cara de maluca, e pulei em cima do traste. Sim, eu pulei em cima dele de novo, e daí? Eu tinha que fazer alguma coisa para que ele parasse de falar. No instante que coloquei minha mão sobre sua boca ele franziu a testa descontente. De duas uma: ou ele queria continuar a gritar porque sentia uma alegria inexplicável em me ver desesperada (provável) ou ele estava com nojo de minhas mãos nas quais corria descendência de uma sangue-ruim (mais provável ainda). Acho que eram as duas.
_ Fica quieto! – disse, pausadamente, para ver se os dois neurônios ainda restantes na cabeça da polly pocket me compreendiam. – Eu sei que você não liga a mínima para mim, mas eu não vou deixar que você espalhe esse boato! Você é um babaca mesmo, não é? E se tivessem te ouvido?
Ele retirou minha mão de sua boca com facilidade e me afastou o suficiente de perto da sua “preciosa pele de sangue-puro”.
_ Você realmente acha que algum aluno está rondando os corredores da escola há essa hora? – ele perguntou como se eu fosse uma paranóica obsessiva.
_ Acho. Aliás, por causa de um desses alunos é que eu estou em detenção! – eu resmunguei. E então o desespero voltou outra vez – Eu estou em detenção! Por quatro dias! A minha vida acabou!
Malfoy revirou os olhos e depois se encostou à parede e se sentou. Acho que ele sabia que aquilo podia demorar um tempo.
_ Eu sou a pessoa mais desgraçada do mundo! – eu continuei com os meus lamentos andando de um lado para outro. – Não, espera! Eu não sou! Quer dizer, sou. Mas não era! Eu era feliz e não sabia! Por que as pessoas não podem aproveitar a felicidade quando elas a tem? Porque eu era feliz e algumas vezes achava que era infeliz, mas não era! E agora sou infeliz! Ou será que ainda não percebo minha felicidade? Aaaaah! – comecei a choramingar. – Agora estou em detenção, infeliz/feliz e confusa!
Malfoy pareceu realmente se divertir com o meu colapso.
_ Que isso...! – foi o que ele disse, enquanto batia com a mão na testa e se levantava do chão. – Tudo isso porque eu tirei sua virgindade de detenção? – perguntou, agora abrindo o sorriso.
_ Dá para parar de falar isso?! – eu mais mandei do que perguntei, mas ok. – Seu pervertido! – Isso era verdade, pergunte a qualquer uma.
_ Melhor ser pervertido do que uma garota em detenção – Ele obviamente falou isso para me provocar. Ele claramente não se importava com detenções.
_ Mas você já ficou em mil detenções! - eu apontei confusa.
_ Sim, mas não sou uma menina. – ele respondeu, rindo de sua própria piadinha (convenhamos, nada engraçada).
Revirei meus olhos. Nossa, fazemos isso bastante quando estamos perto um do outro.
_ Nem um pervertido legal você é! – eu disse para ele e recomecei a andar.
Ele chegou ao meu lado sem esforço.
_ Calma aí, irritadinha! Você não sabe como chegar a minha casa, lembra? E nem pode saber! Já estamos a uma distância razoável, então é melhor você colocar isso. – ele conjurou uma venda preta.
Eu não estava a fim de colocar aquela venda, mas já que também não o deixaria ver a entrada da grifinória acabei pegando a tal venda e colocando-a de mal humor.
Depois de ter colocado a venda eu ergui meu braço. E nada aconteceu. Será que era tão retardado que não sabia que deveria me guiar?
_ Hey, Barbie! – eu chamei, mas ninguém me respondeu. Respirei fundo – Malfoy!
_ Sim? – pelo eco que a voz dele fez, ele já deveria estar há uma distância razoável.
Eu não podia acreditar naquilo!
_ Você tem que me guiar né, esperteza?! – eu disse já estressada com ele. Grande novidade.
_ Por quê? Eu hein! Descobre uma maneira de ir, se vira!
Apesar de ele ter sido um completo idiota falando isso (nossa, estamos cheios de “novidades”), eu não ouvi nenhum passo, então sabia que ele ainda estava pardo no mesmo lugar e só queria curtir com a minha cara.
_Pára de besteira, Malfoy! Anda logo! – eu disse com paciência estilo TPM nenhuma.
_ Qual é a palavrinha mágica? – ele perguntou ainda parado no mesmo lugar. Eu podia jurar que estava com o sorriso cínico, mesmo sem poder vê-lo.
_ Avada Kedavra? – eu perguntei, colocando minhas mãos na cintura.
Ele demorou mais alguns segundos para responder. Isso indicava que ele ficara impressionado com o fato de eu falar uma maldição imperdoável em voz alta. Ele pensava que eu não havia percebido, mas era óbvio pelo silêncio dele. E que mal havia no que eu disse? Por mais que eu quisesse naquele momento, eu não usei a maldição!
_ Chegou perto, mas não. – ele finalmente respondeu com um ar risonho. – Mas que tal você me chamar de Poderosíssimo Com Um Corpo Perfeito Malfoy?
_ E que tal você ir se fuder? – perguntei, cruzando os braços, nervosa.
Falei sim! E daí? Aquele garoto tinha que ir fazer coisa muito pior! Pude sentir que ele sorriu outra vez. EU REALMENTE NÃO ENTENDO ESSA BOSTA! ELE SEMPRE RI!
_ Isso serve. – ele respondeu, e eu pude ouvir seus passos, cada vez mais pertos.
Ele segurou meu braço como se fosse um saco de lixo e começou a me guiar pelo caminho. Uma pergunta meio inapropriada passou pela minha cabeça e me fez sorrir... “Será que ele trata todas as meninas que leva para o quarto assim?” Não pude conter uma pequena risada maliciosa. Mafoy deve ter percebido o pervertismo em meu riso porque logo me perguntou:
_ Então... – ele começou e eu já sabia iria soltar uma de sua perguntinhas – Você falaria com um pervertido se ele fosse legal?
Eu virei minha cabeça em direção a sua voz e respondi revirando os olhos:
_ Claaaro!
Tenho certeza de que ele sabia que eu havia revirado os olhos. Já disse que fazemos isso muito. Além de, é claro, eu ter sentido a vibração de risos abafados na mão que ele pousava em meu braço para me guiar. Depois disso continuamos a viagem calados. Já que eu não tinha com quem conversa comecei a pensar em coisas idiotas como: “Quando James souber que eu passei a noite na Sonserina vai ter um colapso!” Tudo por causa do imbecil ao meu lado!
Comei a perceber que sua mão estava muito quente em meu braço! Aliás, ele segurava meu braço de um jeito muito estranho... Como se eu pudesse emanar algum tipo de gás tóxico a qualquer momento! Mas que idiota! Foi aí que minha mente parou numa questão inútil, mas que me deixou curiosa. Quando coloquei minha mão sobre a boca de Malfoy... O jeito com qual ele a retirou tão facilmente quando quis... Por que ele não tirou minha mão ante? Será que não queria falar? Mas por que iria querer ficar calado? Ele fala que nem uma matraca e sempre a coisa errada! Ah! É melhor eu simplesmente perguntar e terminar logo com isso.
_ Malf...
Antes que eu pudesse terminar de chamá-lo senti minha venda afrouxar para devolver-me a visão. Mas eu ainda mantive meus olhos fechados. Pude ouvir Malfoy dizer ao meu lado:
_ Bem vinda à Sonserina!
N/A: Demorou muito mas saiu o primeiro capítulo! Com esse negócio de provas ficou muito difícil de escrever, mas pelo menos fizemos um capítulo "grande" (41 págs). Espero que gostem dele tanto quanto gostamos de escrevê-lo! Esse capítulo foi mais para aprensentar Rose e Scorpius! Comentem e muito obrigada pelos antigos comentários!Obrigada também a Moon, nossa talentosa amiga que nos fez o maravilhoso desenho da Rose feito pelo Scorpius. Beijos, Nary!
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