Você tem certeza?



Marlene levava a vida normalmente, evitando o máximo possível de contato com o ex-namorado. Não compreendia ainda o motivo do

término dos dois. Após uma semana de praticamente depressão, ela voltou ao normal. Abril se passou tranquilo, e quando viram,

já estavam em maio. O fim de mais um ano letivo se aproximava, e com ele, a tensão dos exames. Lílian e Remo estudavam

juntos, embora o relacionamento dos dois mudara um pouco. Na verdade, todos mudaram um pouco entre si, já que o casal

principal do grupo que agora formavam os marotos, Lílian, Melissa, Marlene e Maggie se separa. A atmosfera tensa que antes

pairava no ar já dissipara-se, contudo a amizade total não fora restaurada. Os marotos, porém, não concordavam totalmente com

Remo. Tiago achava que ele estava sendo "um babaca total", Sirius concordara e acrescentara "sem noção" e Pedro achava que o

amigo não deveria ter agido "como um débil". Mas não ficariam contra Remo em uma situação como aquela, que estava sendo

dolorosa para ele também. Culpava-se todos os dias por ter machucado a ex-namorada, e culpava-se ainda mais por odiar ter que

perdê-la. Porém, pensava ele, era a única solução possível, ele não podia nem pensar na hipótese de machucá-la de novo. E não

aguentaria ficar longe dela na semana de lua cheia, não aguentaria saber que ela estaria ali, próxima dele, sendo sua,

sabendo que não podia chegar perto dela. Era preferível saber que ele não poderia mais sentir o cheiro inebriante do perfume

da garota, não poderia sentir o toque de sua pele macia, não poderia sentir o calor de seus lábios, do que saber que teria

tudo isso, mas teria que resistir a tentação de ficar longe dela. O melhor - ou talvez pior - de tudo, era que ela parecia

ter superado - até muito bem, diga-se de passagem - o fim do namoro dos dois. Ele até já ouvira alguém comentar que ela

estava saindo com outro garoto, mas ele se recusava a acreditar nisso. Em parte porque a maioria das histórias que circulavam

em Hogwarts não vinham de uma fonte confiável, mas a outra parte achava não podia nem sequer cogitar essa ideia. Eles

frequentemente se encontravam no Salão Comunal, quando estavam estudando para os exames finais. Cumprimentavam-se

cordialmente, mas por dentro escondiam uma ferida que demoraria a fechar. Se fechasse, pensavam. Ela não tivera mais forças

de argumentar contra ele que o motivo pelo qual ele terminara com ela era ridículo. Sabia que o garoto se chamaria de monstro

mais tantas vezes, e ouvir essa palavra pejorativa da própria boca dele machucava-a demais. A maior novidade que acontecera

nessas semanas, era que o plano de Tiago já estava pronto.
- Você vai mesmo me ajudar, né? - ele perguntou à Remo, que lia distraidamente um livro, deitado em sua cama.
- Já disse que sim, Pontas - ele respondeu, sem sequer tirar o olho do livro.
- É que você é o único que concordou comigo.
- Eu sei. E já disse que vou ajudar.
- Por quê essa irritação toda? - perguntou Tiago, na defensiva.
- Nada - Remo respondeu simplesmente. - Você já pegou a penseira, certo?
- Assim como o frasco. Só preciso que você irrite o Sirius o suficiente para que ele diga tudo o que esperamos.
- Acho que você - Tiago arqueou uma sobrancelha -, tudo bem, nós, estamos julgando o Sirius como uma criancinha inocente que

vai cair na nossa armadilha.
- De inocente o Almofadinhas não tem nada, - replicou o maroto de olhos castanhos-esverdeados - mas ele é muito previsível.
- Esperava que você fosse dizer burro - Os dois caíram na gargalhada.
- Pode ser, mas acho que nenhuma das duas palavras que usamos o descreva perfeitamente. O que acha de imbecil? - indagou

Pontas.
- Não, não combina muito bem com ele. Demente?
- Idiota?
- Retardado?
- Não, esse é o Rabicho - respondeu Tiago e os dois riram novamente.
- Tapado! - exclamou Tiago, como se tivesse descoberto a cura para o câncer.
- Tapado - o outro pareceu saborear a palavra. - Realmente, o Sirius é um tapado. - Ha ha ha - riu Sirius ironicamente,

abrindo a porta do dormitório.
- Você estava ouvindo? - perguntou Tiago, levemente preocupado.
- Todas as idiotices de vocês? Estava. Mas realmente gostei quando falou do Rabicho - completou, ainda sem sorrir.
- Esse mau-humor todo é só por causa da preciosa descrição que fizemos de você? - perguntou Tiago, olhando para Remo.
- Ou será que tem algo a mais por trás disso? - completou o loiro.
- Cujo nome começa com Melissa? - os dois riam.
- E termina com Lewis?
- Que por acaso você sabe que o ama?
- E que não faz nada a respeito disso? - Sirius irritou-se. Sempre falavam de Melissa, mas agora estava irritante.
- O quê eu poderia fazer? - perguntou ele, sentando-se em uma cama, bufando. Não percebeu o sorriso que os dois melhores

amigos deram.

***

Melissa sentia-se terrivelmente cansada no fim daquela noite fresca de maio. Deu graças a Merlin pelo dormitório estar vazio,

e ja ia se jogar em sua cama, quando viu dois objetos em cima dela. Estranho, pensou ela, pegando o primeiro objeto, que era

uma penseira. Ao seu lado, um frasco com um misto de líquido e vapor. Ela despejou o conteúdo na penseira e esperou que as

imagens se materializassem ali. Pegando sua varinha, encostou a ponta no líquido, e ele pouco a pouco formava imagens.

([b]N/A: Início do Flashback[/b])


[i]- O quê eu poderia fazer? - perguntou ele, sentando-se em uma cama, bufando. Não percebeu o sorriso que os dois melhores

amigos deram.
- Talvez devesse conversar com ela, Sirius. - sugeriu Tiago.
- É, vai ser realmente legal. Vou chegar e falar: Oi, eu realmente gosto de você, Melissa. Ah, e eu também queria dizer que

eu também te admiro, porque você é a única menina que me deu um fora, tendo consciência do que estava fazendo. E não pediu

pra voltar. E nem me ignorou. Ficou normal comigo, como se jamais tivéssemos tido algo. É, eu também fico muito satisfeito de

saber que pra você eu não sou nada. Ah, quase esqueci, eu até queria que a gente voltasse a ficar, mas não vai rolar, porque

eu sei que você não quer nada comigo. Mas se você mudar de ideia, estou à disposição. Tchau.
- Gostei realmente da parte que você disse que a admira - riu Lupin.
- Eu não deveria ter dito isso.
- Deveria sim, - retorquiu Tiago - mas não para a gente.
- É, Pontas, eu vou e falo tudo isso com ela e ela simplesmente vira e fala: não, obrigada, tenho proposta melhor. O que é

totalmente verdade a parte das propostas, mas claro que ninguém é melhor que Sirius Black - ele não esperou os amigos

reagirem e continuou falando. - Se eu soubesse que ela quer ficar comigo, beleza, eu falaria isso numa boa pra ela. Mas ela

nunca demonstrou, nem por olhar ou gesto, algo desse tipo.
- Mas e o que ela disse pras amigas um dia desses?
- Você está falando do discurso sobre "as mil coisas que odeio no Sirius", Aluado? - o garoto assentiu. - Você não se lembra

da última parte? "Odeio tudo que tenha algo a ver com Sirius Black" - ele repetiu. - Sei o que vão dizer, ela disse isso

porque me ama - e ele suspirou falsamente apaixonado. - Me ama e nem vem falar comigo direito.
- Assim como você, seu tapado - rebateu Remo.
- É, assim como eu.  Dois idiotas que se gostam e não fazem absolutamente nada em relação a isso.
- Mas ela é uma menina, tem seu orgulho. - replicou Tiago.
- E o meu orgulho?
- Você perdeu ele quando tinha onze anos, Almofadinhas. Junto com sua inocência e vergonha na cara. - Lupin riu, e Tiago o

acompanhou.
- Tá, mas mesmo assim. E se ela não quiser nada comigo?
- Você está inseguro? - Tiago perguntou, e pela primeira vez na vida, Sirius corou.
- Claro que não. - disse enquanto os amigos riam dele.[/i]

([b]:N/A: Fim do Flashback[/b])

Ela não piscava. Continuava com os olhos vidrados na penseira, mesmo que já não enxergasse mais nada. Tentava assimilar tudo

o que vira e ouvira. Sirius dissera que gostava dela. Sirius Black admitira que a admirava. Não, isso não fazia sentido. Era

surreal demais, imprevísivel demais, perfeito demais. Tinha que agir. Se dependesse de Sirius, continuariam naquele meio-

termo eternamente.

***

- Oi, Sirius, eu quero ficar com você - disse Melissa, entrando no dormitório masculino. Todos os marotos estavam lá, e ela

não pareceu se constranger por isso.
- Quê? - perguntou o garoto, perplexo. Tiago e Remo abafam risadas cúmplices e Rabicho fazia uma expressão de extrema

confusão.
- "Se eu soubesse que ela quer ficar comigo, beleza, eu falaria isso numa boa pra ela" - repetiu a garota, sorrindo. A

expressão de Sirius mudou de dúvida para entendimento.
- Ok - falou ele, pensativo. Levantou-se e parou em frente da cama de Tiago. - Levanta - ele pediu. Tiago levantou-se e

Sirius lhe deu um soco no nariz, fazendo-o sangrar.
- Que m...? - Tentou Tiago, olhando para Lupin, que mantinha a mesma expressão de perplexidade. Sirius dirigiu-se ao outro

amigo e deu-lhe também um soco, com a mesma força.
- Pode nos dizer o que foi isso? - perguntou Tiago, com raiva.
- Não era pra vocês contarem, seus idiotas.
- Você ainda vai nos agradecer por isso. - murmurou Lupin, pegando a varinha e apontando-a para o próprio nariz. - Episkey -

e o sangue secou. Tiago fez o mesmo, mas Sirius não teve tempo de ver. Melissa estava o conduzindo para fora do dormitório,

suas mãos estavam entrelaçadas. Os dois passaram pelo Salão Comunal, sem ligar para todos os olhares que se dirigiam a eles.

Nenhum dos dois disse nada. Andaram por vários minutos. Sirius pensava sobre o que estava fazendo. Passando pela escola toda

de mãos dadas com uma menina. Eram quase dez da noite, não haviam muitas pessoas no Salão Principal. Ele arriscou uma

olhadela a garota, que andava fitando os próprios pés. Ela também parecia não saber para onde exatamente estava indo. Quando

atravessaram todo o Salão e chegaram aos Jardins, ela largou sua mão. Andou em direção ao Lago, e sentou-se na borda dele.

Sirius a imitou, sentando-se ao lado da garota. Os dois sorriam, um sorriso confuso.
- Então... - começou ele, olhando nos olhos de Melissa. A intensidade daqueles olhos azuis-acinzentados pareceu perfurá-la.

Ela baixou a cabeça, mas ele levantou seu rosto pelo queixo. - Eu ouvi quando você disse pras suas amigas o que realmente

achava de mim.
- Eu deduzi, - ela replicou, ainda sorrindo - mas você ainda não me disse o que disse que diria se eu dissesse que queria

ficar com você - Ele riu. Não entendera absolutamente nada do que ela dissera. - "Se eu soubesse que ela quer ficar comigo,

beleza, eu falaria isso numa boa pra ela" - ela repetiu mais uma vez. Sirius continuou mudo, ela ainda sorria. - Tenho mesmo

que fazer isso? - ele perguntou, receoso. Foi a vez dela encarar fundo nos olhos do maroto, que retribuiu o olhar.
- Não - ela respondeu de maneira tranquila. - Eu sei que você não faz o tipo de fazer declarações melosas que terminam num

beijo apaixonado.
- Quanto as declarações melosas - ele deu um sorriso de canto de boca - você está certa, mas quanto ao beijo ap...
- Não diga isso - ela pediu. - Apaixonado é uma palavra forte. Sirius Black certamente não a usaria sendo totalmente sincero

- Ele se calou mais uma vez, arrependendo-se de ter tentado usar a palavra apaixonado. Mas Melissa certamente o conhecera

bem. Sabia que ele só diria da boca pra fora, e mesmo sendo Melissa, essas palavras poderiam marcá-la.
- Me desculpe - ele pediu, parecendo de fato arrependido. Ele foi se aproximando de maneira lenta, e ela não objetou. Ela

roçou seus lábios no dele, e um arrepio percorreu o corpo da garota. Ele beijou-a com ardor, e ela retribuiu do mesmo jeito.

Era um beijo com saudades, desesperado, mas ao mesmo tempo doce. Era diferente de todos os outros tantos beijos que já haviam

dado, havia sentimentos mútuos em jogo. A garota decidida que não queria se apaixonar e o cachorro que odiava compromisso.

Deixou que a língua do garoto explorasse todos os cantos de sua boca, enquanto tentava respirar normalmente. Nenhum dos dois

ousaria parar esse momento, quando ouviram uma risada que tentara ser abafada, e um cutucão, seguido de um "Ai!".

Interrompendo o beijo, se viraram para olhar. Maggie, Pedro, Remo, Tiago, Lílian e Lene acenavam para os dois, os seis

sorrindo. Melissa sorriu de volta, e Sirius pareceu não se importar, voltando a beijar a garota. Ela separou seus lábios

rapidamente, voltando a olhar para os seis. Foi em direção a eles, sem se importar com os protestos de Sirius.
- Ok, eu deveria agradecer vocês por tudo isso, mas não foi realmente uma boa hora pra vocês aparecerem. - A gente estava

atrás de vocês o tempo todo, só que a ruivinha resolveu rir - Tiago disse, os seis ainda rindo.
- O tempo todo? - Sirius perguntou, se aproximando.
- É. Gostamos principalmente da parte que você cortou ele impedindo-o de usar a palavra apaixonado. Porque se não, nós -

Tiago indicou ele e os amigos - teríamos que retribuir o soco que ele nos deu.
- Ok, continuem olhando, se é isso que realmente querem - Melissa disse, esperando que os amigos fossem embora. Quando os

seis concordaram assentindo que era isso o que queriam, se virou para eles - Só façam um Feitiço da Desilusão melhor.
- Nós os desfizemos quando chegamos aqui. Vocês não iriam olhar pra trás enquanto estivessem ocupados, - respondeu Lílian,

sorrindo - mas eu infelizmente tive que rir quando a Lene me pagou cinco galeões. Ela esperava que o Sirius fosse te agarrar,

literalmente.
- Eu não acredito que apostei no Sirius e perdi - resmungava a loira.
- Lamento interromper a aposta de vocês - resmungou Sirius - mas realmente temos coisa melhor pra fazer.
- Só lamento que não tenham feito antes. Perdi cinco galeões por isso - Mas os dois não conseguiram ouvir o final da

reclamação de Marlene. Sirius a puxou pelo braço, e os dois sentaram-se no mesmo lugar onde antes estavam se beijando.
- Depois a gente conversa - disse Melissa, quando Sirius fez menção de abrir a boca.
- Era exatamente o que eu ia propor - ele sorriu, radiante, mas não teve tempo de fazer mais nada. Mel o puxou pela gravata,

e selou seus lábios antes mesmo que pudesse ter a oportunidade de objetar. Ao contrário, colocou as mãos em suas costas, e

retribuiu o beijo com o máximo de entusiasmo que conseguiu.  

***

- Como a gente fica? - ela perguntou, incrédula. - Como sempre ficamos, ué. - Sirius sentou-se em uma poltrona, fitando a

lareira do Salão Comunal. Melissa estava ao seu lado, ainda de pé. - Não vai me dizer que o famoso Sirius Black quer

compromisso?
- É só que eu não queria que você ficasse com outros garotos.
- E por que eu faria isso? - ela perguntou, e Sirius virou-se de frente para ela.
- Porque... - ele parecia lutar contra as palavras - eu faria o mesmo.
- Mfff - ela tentava segurar o riso. - HAHAHAHA - começou a rir escandalosamente, desacreditando no garoto, que a olhava

surpreso.
- Isso quer dizer que você não aceita minha proposta?
- Eu nem acredito nela, pra começar - respondeu ela, tranquila. - Não me olhe assim, - acrescentou, ao ver o olhar perplexo

de Sirius recair nela - você sabe, ou melhor, nós dois sabemos que isso não vai acontecer.
- Você não acredita que posso ser fiel a você? - perguntou Sirius, notoriamente magoado.
- Não, sirius, não é isso - ela explicou, sentando-se na poltrona ao lado do maroto, e alisando sua mão. - É só que isso não

tem nada a ver com você. Não é o tipo de coisa que você faz.
- As pessoas mudam, vê o Pontas, ele era igual eu ano pass...
- Ele mudou por causa da Lílian - ela o cortou. - Você não vai mudar até que tenha um bom motivo, e eu realmente ficaria

muito feliz se eu fosse esse motivo pra você, mas nunca fui, não sou, e possivelmente, nunca serei - ela finalizou, esperando

a resposta de Sirius. Ele porém, continuou completamente mudo, fitando o chão. Ela tentou mais uma vez. - Esse não é você,

não é o Sirius pelo qual eu me apaixonei - Sirius sorriu. Melissa estava certa. Ele era Sirius Black, não mudaria por

ninguém. Aquela proposta fora a coisa mais idiota que já fizera.
- Voltamos a ser como antes?
- Era o que eu estava dizendo - e ela o beijou, talvez pela décima vez naquela noite. Os números já não importavam mais.

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