Impossível? Nem tanto
- Então... - começou Lílian, um pouco hesitante. Ela, Tiago, Marlene, Pedro e Maggie estavam na Sala Precisa, todos a pedido
do maroto de olhos castanhos-esverdeados. - não vai nos contar porque nos trouxe aqui?
- Como vocês sabem, o Almofadas e a Mel não estão mais juntos. - ele disse.
- E qual é a novidade? - perguntou a ruiva, com desprezo.
- Mas eu tenho certeza, e acho que todos aqui concordam comigo, que eles tem, hm, um sentimento um pelo outro.
- Desde quando o Sirius tem sentimentos? - perguntou Rabicho, fazendo as meninas rirem. Tiago, no entanto, continuou.
- E eu também acho que eles não deviam ficar separados. - ele afirmou, esperando a resposta das pessoas. As menina se
entreolharam. As duas já haviam contado a Maggie(com a permissão de Melissa, claro) tudo o que sabiam a respeito dos dois.
Será que juntar os dois faria Melissa feliz de verdade?
- Eu não sei. - Lílian traduziu os pensamentos das amigas. - Você tem certeza de que eles iriam querer isso? - Tiago ficou
sem palavras. Esperava que todos apoiassem a sua ideia, e que iriam começar a pensar em um plano para que os dois ficassem
juntos. Porém, a pergunta inesperada de Lílian o desestabilizou. Ele abriu a boca duas vezes, mas a fechava em seguida.
- A gente... A gente podia tentar.
- Tá, aí a gente tente e depois a Mel fica com raiva da gente. Claro, que ideia ótima. - Lílian ironizou, deixando o maroto
mais uma vez sem palavras. Ele ficou contemplando o chão, notoriamente triste.
- A Lil quer dizer - Marlene tentou ajudar - que a Mel não iria querer isso.
- Mas por quê? - Potter perguntou. - Ela gosta dele, não gosta?
- A questão não é só isso, Tiago. Ela realmente gosta dele, mas é praticamente impossível que os dois fiquem juntos de vez.
- Mas eles ficavam diret...- Tiago protestou, mas foi interrompido por Maggie.
- É, eles ficavam direto, Tiago, mas nunca vão passar disso. No máximo, eles vão ficar sério. O Sirius é o tipo de pessoa que
tem fobia de compromisso.
- Mas ele nunca gostou de alguém antes. - Tiago estava indignado. Todos haviam odiado a sua ideia, ou pior, tinham até
desprezado-a. - O Almofadinhas é meu melhor amigo há mais de cinco anos, e ele NUNCA ficou com a mesma menina tantas vezes,
nem falou de nenhuma por tanto tempo.
- E mesmo assim, fica com tudo que usa saia nessa escola. - disse Lílian.
- Mas esse é o Almofadas. Ele não é um príncipe encantado, nem nada do tipo, m...
- Não é mesmo. - cortou-o a ruiva.
- É o Almofadas, gente. Ele gosta dela, do jeito dele, eu sei, mas gosta.
- Você não está prestando atenção na gente, ou é burro assim mesmo? - Tiago ignorou o comentário de Lil. - Ele gosta dela,
ela gosta dele, eles casam. É nesse mundo que você vive? Não é tão simples assim, mas eu já deveria esperar isso de você, uma
vez que não tem... Deixa pra lá. - Inexplicavel e raramente, Tiago obedeceu a menina. Mas persistiu no tema principal da
conversa.
- Eles tem que ficar juntos, porra, é tão difícil entender isso? - ele tentava aliviar sua frustração em palavras.
- Eu entendi. - disse Rabicho, sendo óbvio.
- Se até ele entendeu, então porque dificultar tant...
- Presta atenção, Potter. - disse Lílian, interrompendo-o mais uma vez. - Ele gosta dela, mas ele vai continuar ficando com
outras garotas. Pensa no que é gostar de alguém e ver a pessoa beijando outra na sua frente!
- Eu sei o que é isso, - respondeu ele, sorrindo de leve - ou você esqueceu de que eu vi quando você ficou com o babaca do
Pollard pela primeira vez, e com o John em Hogsmeade? - Ela ficou rubra instantaneamente. Pela primeira vez naquele dia, não
parecia encontrar nada para falar.
- Isso tudo vai acabar machucando alguém de verdade. - interveio Lene, para tentar ajudar a amiga a se livrar da situação - E
não importa quem seja, ninguém quer isso.
- Então vocês não vão me ajudar, é isso?
- É. - respondeu Lílian.
- Então acabou o assunto. Podem ir. - Lene e Lílian se levantaram para sair da Sala, Maggie as acompanhou, de mãos dadas com
Pedro.
- Lene, - chamou Tiago - onde tá o Aluado?
- Ele tá descansando, porque hoje é...
- O dia que ele não tem a ronda. - completou Lílian de supetão, inventando uma desculpa qualquer, pois o olhar de Maggie
recaíra em Marlene, que por um triz quase deixara escapar o segredo de Remo.
***
- Remo, acorda. - chamou Marlene, mais tarde naquele dia. Eram perto das sete, e ela estava indo jantar. - Você tem que comer
antes de... - Ela não conseguiu terminar sua frase. Com um só braço, Remo a envolveu e a puxou, a mão em sua cintura.Ela
ficou estática quando o menino levantou-se rapidamente, e a beijou. De forma desesperada e rápida, como se necessitasse
daquilo para viver. Lene obviamente aproveitou o beijo, mas ele foi interrompido de maneira tão brusca quanto começou. Remo a
puxou novamente, porém desta vez, ele levou-a junto com ele quando se deitou na cama, passando o braço por cima do corpo da
menina. Arrepios percorreram o corpo dos dois, e ela o beijou, sem parar pra pensar no que estava fazendo.
- REMO! - ela exclamou, chocada. - O que você pensa que está fazendo?
- Eu estava te beijando há uns sete segundos atrás. - ele respondeu de forma simples.
- Sim, mas por quê? - ela o mirava estupefata.
- Porque eu sou seu namorado, ué.
- Tá, mas... - ela levou alguns segundos para analisar a situação. - Porque nos próximos dias você vai estar muito cansado e
não vai ficar comigo. - ela concluiu, e voltou a beijar o namorado. Só parou quando a porta do dormitório se abriu, e Tiago e
Sirius entraram por ela. Os dois olharam a cena e começaram a rir escandalosamente.
- Boooa Aluado. - gritou Tiago, dobrando-se de rir, enquanto Marlene se levantava da cama, muito corada.
- Então é por isso que você de repente aparece cansado. - riu Sirius.
- Realmente muito engraçados vocês. - Remo bufou. - Então, além de me encher o saco, o que vocês querem?
- Você respondeu a própria pergunta, Aluado. - respondeu Tiago, ainda rindo. - Espera só pra ver o que meu lírio vai falar.
Aposto que ela vai ficar chocada, Lene.
- Você não vai fazer isso. - ela ordenou para Tiago, que já saía do quarto.
- Eu tenho que fazer isso, Lene. Eu sou praticamente o informante oficial da vida das amigas dela. E eu vou contar tudo o que
vi. Hahaha. - riu ele. Marlene saiu correndo, procurando Lílian. Ela viu a garota saindo do Salão Comunal quando estava
descendo as escadas, e foi em disparada atrás dela, Tiago em seu encalço.
- LÍLIAN! - Berrou ela, a plenos pulmões, quando já estava alcançando a amiga. Lílian já estava no fim do corredor, e se
virou pra olhar a amiga, que chegou instantaneamente.
- Eu... Remo... Tiago... Não... - ela arfava, incapaz de conseguir formar uma frase. Tiago havia chegado também, porém nem
tão cansado quanto a menina.
- Oi lírio, sabe onde a sua amiga tava uns minutos atrás? - ele começou. - Na c...
- Lil, não ouve ele. - ela pediu, respirando quase normalmente.
- Onde? - perguntou a ruiva, impaciente. Tiago abriu a boca pra falar, mas Marlene bateu nele antes que tivesse a
oportunidade.
- Tudo isso só por que não quer que eu conte que você tava... - Ela deu outro soco no menino, que ria.
- Você. Não. Vai. Contar. Nada. Tiago. Potter.
- O que está escondendo de mim, Marlene McKinnon? - a ruiva arqueou as sobrancelhas.
- Nada. - apressou-se ela a responder.
- Se nada for o fato de que você estava se agarrando com o Aluado na cama dele. - Tiago disse de maneira rápida, de modo que
a menina não conseguiu impedi-lo de falar. A reação de Lílian foi, entretanto, o oposto do que ele previu. Ela deu um
sorriso, e virou-se para Tiago:
- Não preciso que você me conte da vida das minhas amigas.
- Ah, precisa sim, - retrucou ele. - lembra que a primeira vez que você foi pra Hogsmeade comigo foi por causa da Melissa?
- Por causa da sua chantagem. - ela corrigiu, sorrindo. Muitos alunos agora estavam observando os três, um pouco porque
estavam no pé de uma escada, impedindo a descida e subida dos alunos, e outra parte porque simplesmente gostavam de ver os
dois discutindo.
- E sabe do que mais eu me lembro naquele passeio? - ele sorriu, ciente de que muitos estudantes estavam observando. Ele
sorriu de orelha a orelha quando a viu a cor do rosto de Lílian se esvair. - Foi lá que demos o nosso primeiro beijo. - A
menina estava muito corada, porém não deixou que as emoções transparecessem o quanto a fala dele a afetara.
- "Foi lá que demos o nosso primeiro beijo". - ela replicou, a voz carregada de sarcasmo. - Poético, não? - Ela falsamente
deu um suspiro apaixonado. - Que conto mais lindo. - ela terminou, puxando Marlene para sair de lá. Tiago sorriu e comentou
com a pequena multidão que se dissipava agora que podia passar (e também pois a discussão acabara).
- Ela pode zoar o quanto quiser, mas sabe que correspondeu.
***
O último dia do ciclo, pensou Lupin, aliviado. Estava deitado em sua cama no dormitório, Lene na cama de Tiago, que era
imediatamente à sua direita. Sua pele exibia alguns hematomas, porém o pesadelo estava no fim. Lene podia sentir a apreensão
do namorado por causa de sua respiração, que se mostrava irregular. Ela se sentou na beirada da cama que ele ocupava, e
entrelaçou seus dedos. O menino pareceu gostar do toque, e sentou-se na cama, ficando de frente para a garota. Ela desviou
seu olhar para baixo, incapaz de encarar todos aqueles machucados que ele possuía sempre que haviam noites de lua cheia. Ele
ergueu o queixo da menina para cima, obrigando-a fitá-lo. Por fim, ele a beijou. De maneira doce e suave, como ele sempre
fazia, e ela sempre estremecia por dentro. Os dois continuaram beijando-se ternamente por minutos a fio. Passaram-se mais de
trinta minutos, quando Lene interrompeu o beijo.
- Não... c-consigo... Respirar. D-direito. - ela arfou, porém conservava um sorriso no rosto. Jamais se acostumaria com a
sensação de beijar o namorado, que conseguia beijá-la de forma tão calma mas ao mesmo tempo tão avassaladora. Ele sorria
também.
- Você é linda. - a menina corou de leve. Remo sempre a elogiava, mas ela ainda também não se acostumara com isso. Ela o
beijou, de forma descontrolada. Logo logo chegaria a hora de mais uma transformação. Para ela, era tão doloroso quanto para
ele, vê-lo naquele estado, ver o quanto ele se machucava, era como se estivessem a machucando, de maneira que iria além do
físico. Os dois mais uma vez continuaram naquele transe por muito tempo, porém nada os impedia de continuar ali. Remo estava
abraçando a namorada pela cintura, e ela mantinha suas mãos em torno do pescoço do garoto. E, sem mais nem menos, ele se
separou dela com uma velocidade impressionante, praticamente empurrando a menina.
- Remo, o que...? - ela tentou perguntar, mas ele apontou para o relógio que tinha no dormitório. Então, fazendo um esforço
impressionante, olhou pela janela do dormitório e viu a lua no céu. Ela ficou estática, não sabia o que fazer em uma situação como aquela. Jamais chegara perto do menino durante a sua transformação. E ela boquiabriu-se mais ainda quando viu o rosto dele se contrair em uma feia careta, e as roupas dele já jaziam no chão. O lobisomem avançou para a garota, e uivou alto. Ela viu seus dentes trincarem e ele ia avançando cada vez mais em sua direção. Ela se forçava a respirar, e ia tentando fugir ainda mais do lobisomem, que avançava com passos lentos. Foi então que lhe ocorreu uma ideia. Correu para o banheiro, e se trancou lá. Podia ouvir os passos dele se aproximando, cada vez mais perto, quando ouviu um estrondo e viu a porta no chão. Ele pulou na direção da garota, que conseguiu se desviar rapidamente, mas não foi suficiente. Ele arranhou o braço da garota, deixando um corte profundo. Marlene caíra no chão, e não conseguia se levantar. Chorava compulsivamente, por medo, nervosismo e também pensando no estado em que seu namorado ficaria quando soubesse o que havia acontecido. Anotou mentalmente para lembrar de não contar ao namorado o que tinha se passado, e fechou os olhos, começando a rezar. Ouviu um estampido e o som de um corpo sendo arremessado. Abriu os olhos e se deparou com a cena mais estranha que já vira na vida. Rabicho estava em pé, de posse de sua varinha, e ela concluiu que tinha sido ele quem tinha enfeitiçado Lupin. Reconheceu também as formas animagas de Tiago e Sirius, um cervo e um cachorro, respectivamente. Quando passou pelo cervo, ele se transformou, e pediu a ela que não contasse para ninguém, e fazendo um aceno de varinha, limpou seu braço cortado, e depois retornou a forma animaga. O lobisomem agora se levantava, e Pedro ordenou que ela saísse dali. Ela não hesitou nem por um segundo. Corria e chorava ao mesmo tempo, um turbilhão de pensamentos e imagens se formavam em sua mente. Seus pés a guiaram, ao invés da mente, e quando se deu conta estava nos jardins da escola. Apoiou-se em uma árvore, tentando recuperar a sanidade. Ela ainda tremia, porém parecia que todas as suas lágrimas já tinham se esvaído. Sentada, recostou-se na árvore e mais uma vez seu cérebro estava lotado de imagens. Ela foi ficando tonta, a visão turva, e aí não viu mais nada.
***
(N/A: Narração de Marlene McKinnon)
-... Deixa que quando a McKinnon acordar eles se resolve. - reclamou uma voz que parecia ser de Sirius. Minhas pálpebras pesam e minha cabeça dói.
- Sirius? - chamei. Todos meus me rodeavam, cada um com uma expressão mais atormentada que o outro. Mas Remo não estava ali. Um flash de tudo o que acontecera na noite anterior se passou pela minha cabeça, e pela expressão deles, minha cara devia estar esquisita.
- Você tá bem, Lene? - perguntou Lil.
- Tô. - respondo. Mas ainda não consigo entender porque estou na enfermaria e tem um monte de gente me rodeando. - O que aconteceu ontem?
- Você desmaiou. - respondeu Mel, passando a mão em meu braço em forma de consolo.
- AI! - berrei, e todos se viraram de novo. - A Mel esbarrou no meu... - Olhei meu braço, e meu estômago revirou instantaneamente. Eu tinha uma cicatriz gigante, que ia de um pouco debaixo do meu cotovelo até perto do meu pulso. E doía. - machucado. - completei.
- Oh, querida, vejo que já acordou. - Madame Pomfrey disse, e manda todos se afastarem da minha cama. - Tome esta poção, querida, vai aliviar sua dor. - Ela completou, sorrindo. - Como foi um corte bem profundo e não teve um tratamento adequadona hora, receio que terá que conviver com essa marca por mais algumas semanas.
- Obrigada, madame Pomfrey. - agradeci, sorrindo também. A Poção teve efeito na hora. Minha dor sumiu, porém aquela cicatriz continuava lá. E nada do meu namorado.
- Onde está Remo? - perguntei, receosa.
- Dormindo. Ele precisa descansar. - respondeu Tiago, se aproximando de minha cama.
- Ele já sabe...? - Deixei a pergunta morrer no ar, esperando uma reação dele.
- Sabe. - interveio Sirius. - Por isso achamos melhor deixá-lo sozinho. - Não concordei com Sirius, mas me mantive quieta. A primeira coisa que faria após sair daqui seria procurá-lo.
- Madame Pomfrey, quando terei alta? - perguntei.
- Ah, querida, você precisa ficar aqui pelo menos por mais uns dois dias, tendo em vista tanto o lado físico quanto emocional.
- Dois dias? - perguntei, abrindo a boca.
- Se prometer que vai ficar o dia todo aí hoje sem reclamar, amanhã estará liberada. Beba esta Poção do Sono, também. Vai te fazer bem. - Ela sorriu, e eu retribuí. Resolvi beber a Poção.
***
- Remo? - chamei, batendo na porta do dormitório que ele dividia com os amigos. Havia acordado o mais cedo possível, para garantir que Pomfrey cumprisse sua promessa e me liberasse. Ele não me respondeu. Abri a porta. - Remo? - Chamei de novo, e vi que estava dormindo. Parecia um anjinho. Ele abriu um olho devagar, depois o outro. Quando me viu, se pôs de pé rapidamente.
- Oi, meu am...
- Precisamos conversar. - ele me cortou. Pelo seu semblante, dava para ver que o assunto era sério. Ele continuou. - Não podemos ficar juntos. - ele foi direto. Minha respiração falhou.
- O quê? - perguntei.
- Eu sou um monstro, Lene. Marlene. McKi...
- Não ouse me chamar pelo sobrenome. - vociferei.
- Eu sou um monstro. - ele repetiu, como se nem tivesse me ouvido. A essa hora uma lágrima caiu de meus olhos.
- Não, você não é. - eu disse, pegando a mão dele. Ele desviou-se do toque e se levantou.
- Eu não devia nem ter começado com isso. - Eu me senti como se milhares de Crucios tivessem me atingido. Ele chamou nosso namoro de isso. - Foi loucura, eu sei, mas não consegui deixar que minha razão falasse mais alto que meu coração. - Ele parecia estar falando mais para si mesmo do que para mim. - Jamais devíamos ter ficado juntos, meu destino é ficar sozinho, ninguém pode ficar com um mostro como eu.
- Não se chame de monstro. - eu pedi, com a voz esganiçada devido ao choro. Ele não podia estar falando sério. Aqueles quase dois meses pra ele não significaram nada?
- Mas é o que sou. Estou condenado a ficar sozinho, monstros como eu não são bem aceitos na sociedade.
- DANE-SE A SOCIEDADE! - Eu gritei, inconformada. - Só o nosso amor nos sustentou nessas semanas, por quê agora você liga pra ela?
- Por isso. - ele pegou meu braço e apontou para minha cicatriz. Ele fez uma careta, e se virou de costas para mim, novamente.
- Isso não é nada. - eu rebati. - Não foi nada.
- Você tem razão. - ele concordou, e eu pude respirar normalmente de novo. - Poderia ter sido muito pior. Se eles não tivessem chegado aquela hora, eu poderia ter te matado. - A voz dele falhou de leve. Ele estava chorando, eu podia sentir isso.
- Não vai acontecer de novo, nós dois sabemos disso.
- Quem garante? - ele se virou para mim, os olhos vermelhos. - Quem garante que daqui há um mês sua mãe não estará rodeando seu leito, chorando por sua morte? Quem garante que esta foi a última vez que te atacarei? Quem garante que os meus amigos me controlarão sempre?
- NADA DISSO IMPORTA! - eu berrei novamente, não estava conseguindo enxergar mais tão bem, minha visão estava embaçada de tantas lágrimas que escorriam. Me aproximei dele. - Eu te amo, isso sempre bastou, e sempre vai bastar.
- Não, L-Lene. - o esforço que ele fez pra dizer meu nome me queimou por dentro. - Não dá mais pra continuar.
- Você... Você... - eu tentava formar as palavras, mas elas me fugiam a cabeça. - Esquece isso, realmente não signficou nada pra mim, Rem...
- Pode até não ter significado nada pra você, mas pense em mim também um pouco! - Ele se exasperou. - O que você acha que eu sinto quando eu olho pro seu braço? Eu sinto nojo, asco de mim, por ter feito isso com você!
- Não sint... - eu tentei de novo.
- Não consigo nem pensar na dor que lhe causei quando fiz isso.
- Mas está me machucando muito mais agora! - bufei.
- Será que você não entende? Eu te feri, M-Marlene. - falar meu nome lhe pareceu arranhar a garganta. Senti que meu café da manhã estava prestes a voltar. - Eu fiz o que mais temia que fizesse. O mais prudente agora é nos separarmos. Eu não posso nem pensar na hipótese de te machucar de novo.
- A dor física não é nada, de que me adianta ter um corpo inteiro se meu coração está com você? - eu me exasperei também. Tudo aquilo não podia ser verdade. Eu me recusava a acreditar.
- Foi um erro, desde o início. Tenho que corrigi-lo agora, sei que é tarde demais, mas é o que me resta fazer.
- N-não, p-por f-favor. - eu implorei, meu queixo tremia e eu não não respirava direito, meu coração batia freneticamente, eu não saberia dizer se estava viva de fato. Parecia que estavam arrancando cada pedaço do meu corpo. Fiz a única coisa que me restava. Saí correndo para o meu dormitório, chorando compulsivamente. Ele não me seguiu. O que era de se esperar. Quando entrei, Mel estava lá pintando as unhas, e Maria dormia.
(N/A: Fim da narração de Marlene McKinnon)
- Lene! - exclamou Melissa, indo abraçar a amiga. - O que houve? - ela perguntou, boquiaberta, porém Marlene não tinha forças para falar. Mel se virou para a outra menina. - Não quer nos dar licença? - e a menina saiu.
- D-ep-pois a g-gente conv-versa. - Lene gaguejou, entre lágrimas. Decidiu ir dormir, pois conservava a infantil esperança de que quando acordasse, veria que tudo havia sido um pesadelo. Que ela gostaria de esquecer.
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