Capítulo I.



Sirius Black olhou mais uma vez para a lápide de mármore branco, espremendo os olhos para o sol que refletia na pedra. A olhava curiosamente, como se quisesse guardar os detalhes. Como se já não tivesse a olhado durante toda a noite, e todo o dia. Como se já não soubesse cada traço das letras douradas caprichosamente escritas, como não sentisse o revirar do punhal imaginário enterrado em seu peito, cada vez que se lembrava dos números ali escritos, da data ali marcada para sempre, assim como estava entalhada em seu coração. Segurou desolado o último copo de firewhisky, chacoalhando a bebida vermelho-fogo e a oferecendo em um brinde a alguém que não mais estava ali. Lembrou do tom que os lábios de Marlene adquiriam quando ela os molhava no uísque. Exatamente a mesma cor da bebida. Lembrou-se de prová-los com aquele gosto forte, pungente, para depois assumir o gosto doce e leve dela. Novas lágrimas encheram seus olhos. Ele perguntou-se, infantilmente, quanto tempo o estoque de lágrimas em seu corpo duraria.
Observou por um momento à sua volta, os olhos cansados e úmidos como os de um bêbado típico. Havia um violão surrado a seu lado. Ele lembrava Marlene. Havia guimbas de cigarro em todo o contorno de mármore do túmulo. Havia cheiro de cigarro e das flores que ele trouxera para ela. O cheiro lembrava Marlene. O céu estava nas cores que ela gostava. O contorno rosa e lilás do céu misturavam-se ao azul intenso, denunciando o começo do crepúsculo.  Sua foto no túmulo era a que Sirius havia escolhido. Escolhera porque era a sua preferida, e porque mostrava a sua Marlene exatamente como ela era, algo difícil quando se tratava de fotos: sorrindo, um sorriso calmo, sereno, tímido. Sorria para o fotógrafo – ele -, e logo depois mostrava a língua, mordendo-a. Ela, ali, tão dele. Tão viva na fotografia. O punho cerrado de Sirius encontrou a pedra lisa e fria. Ele suspirou enquanto a dor se espalhava em seu punho e ele dava a última tragada no cigarro. Jogou a guimba fora. Espremeu-se contra o lado do túmulo e agarrou o violão, deixando que os cabelos negros caíssem sobre o instrumento, arriscando poucas notas. As notas eram dela. A música era de Marlene, mas a dor era toda dele. Uma sombra se alargou sobre ele e o fez olhar para cima. Um sorriso morto povoou seu rosto. E um sorriso de amizade se fazia presente no rosto pertencente à pessoa cuja sombra ainda encobria Sirius e seu violão. O sorriso continha pena e culpa. Mas, ainda assim, era um sorriso amigo. Tiago Potter sentou-se ao lado do amigo, deu um longo suspiro e começou a falar.
- Sirius, eu posso entender o que você... – o amigo cortou-lhe as palavras velozmente.
- Não, Pontas, você não pode me entender. Não é Lílian quem morreu. Foi ela, foi Lene... a minha Lene quem está aqui. – cuspiu as palavras no amigo, com amargura.
Tiago o mirava, incrédulo. Como não percebera?
- Você e Lene...?
Sirius assentiu com violência, parecendo ameaçador com os olhos brilhando loucamente e o cabelo rebelde lhe cobrindo a face.
- Íamos nos casar em dezembro. – afirmou, um sorriso bobo cobrindo a face antes de ser arrastado por uma sombra.
Em dezembro, dissera ela, quando as luzes natalinas estiverem brilhando, quando canções bonitas explodem das lojas, quando todos tentam suportarem-se uns aos outros, a época mágica do ano. Aquelas palavras simples e tão dela, que antes o tinham feito a apertar num abraço e cobrir-lhe o rosto de beijos agora doíam demais para que ele pudesse repetir para o amigo.
- Sirius, por que não me disse?
O moreno deu um curto riso sarcástico antes de responder.
- O que queria que eu lhe dissesse? Marlene morreu e ah, esqueci de dizer-lhe, estávamos noivos!
James agora o encarava com determinação, segurou o braço do amigo com força.
- Entendo que você não queira ser razoável comigo. Entendo que não queira ninguém por perto. Mas me recuso a entender porque quer se matar também – e fez um gesto largo, encobrindo todo o lixo à sua volta.
Sirius deu uma risada longa, seca, sem humor.
- Não é óbvio o suficiente pra você, Tiago?
- Ela não ia querer isso. – Ele sabia que as palavras fariam efeito, por isso continuou, a dor de ser ele quem as diria para o amigo explodindo em sua garganta – Pense nisso, Almofadinhas. Temos uma guerra ali. Marlene lutava por algo mais que a própria sobrevivência. Lutava por todas as vidas inocentes que estão em ameaça. Por ela, viva. Se não por si mesmo, tente viver por ela.
Tiago Potter apertou o ombro do amigo, fazendo o caminho de volta logo depois. Sirius esperou que as palavras saíssem de seu cérebro, mas elas continuaram lá, sinceras e perturbadoras.
- Tiago! – chamou, ao que o outro se voltou. – Obrigado.
Ambos correram o espaço que faltava e um longo abraço se seguiu. O ombro de Potter estava molhado quando ele ofereceu sua casa ao amigo.
- Não, – recusou, um pouco incerto – acho que vai ser bom ter um tempo para mim. Além do mais, tenho minha própria casa. Eu estarei lá, caso precisarem de mim.
Era a única coisa que podia fazer. Retornar. Porém, a casa sempre estaria lá para ele. Ele precisava, antes e acima de muitas coisas, lembrar-se de certas coisas. E certos lugares, especiais, sagrados. Estes também lhe esperavam. Mas sua espera era, de certa forma, mais urgente.

Nota da autora: Geeente, é a primeiríssima vez que eu escrevo Sirius/Marlene! Então, por favor, se alguém leu até aqui, comenta que tem muuito mais, ok? Aliás, cada capítulo vai ter, mais ou menos, um flashback. Exceto esse e o último, creio. ENTÃÃO, meus amores (?), me deixem qualquer comentário, mesmo que seja só pra dizer que tá uma merda, que eu sou muito grata meeesmo! *-* Beijos! (:

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Comentários (1)

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