~*Prefácio:*~
(...)
Era um dia típico de inverno, uma nevasca se destacava pela janela, ao lado de uma lareira que crepitava, dando a única fonte de luz presente no ambiente. A luz fraca da lareira delineava apenas as curvas do que parecia ser uma poltrona e as mãos muito alvas de seu ocupante, escoradas no console da poltrona. O estranho brincava com um inusitado objeto em suas mãos. Já não haviam sobrado outros iguais àquele depois da última grande guerra. Era como um colar dourado com uma ampola no centro do pingente e vários anéis dourados que a circundavam. O estranho deu um suspiro pesado, fazendo com o que o gato que estava em seu colo descesse para o chão e passasse a encará-lo.
-Já é hora! Não há porque me demorar mais. É nossa última chance. Não temos nada a perder. Deseje-me sorte. – ouvia-se a voz rouca do estranho. O gato apenas deu um fraco miado em resposta e sumiu para a penumbra do resto do cômodo. O estranho levantou-se pacientemente, tirando uma varinha do bolso e apontando-a para o fogo. Imediatamente, as labaredas foram diminuindo, até trazer a completa escuridão ao resto do cômodo. Antes que tudo sumisse completamente na penumbra, destacou-se o brilho do pingente, que agora rodava freneticamente nas mãos muito alvas de seu dono. Alguns segundos depois, tudo ao redor se transformou num borrão, era como um filme, visto de trás pra frente, em que não se distinguia nada do que estava acontecendo. Quando tudo tornou a se focar, a visão era outra. Era um dia quente e ensolarado, em um lugar muito aberto, como um campo. Destacava-se ao fundo a pequena figura de um garoto, escondido atrás de um arbusto, a observar duas meninas que brincavam no parque. Os cabelos da criança iam pela altura dos ombros, pretos e muito lisos, revelando uma oleosidade excessiva. Suas roupas pareciam inapropriadas para quem quer que fosse; muito largas e desbotadas. O estranho caminhou na direção do menino, colocando a mão em seu ombro. O menino virou-se em um salto, provavelmente apavorado, a julgar pela sua expressão quando virou de frente para o que o chamara.
-Severo Snape?
-C-como sabe o meu nome? – o garoto dizia, o encarando com os olhos muito negros, parte dos cabelos no rosto.
-Não se preocupe, seu segredo está guardado comigo. Eu também sou bruxo.
O garoto dera um breve muxoxo, sem saber se podia confiar no estranho à sua frente.
-Venha comigo. Tenho uma proposta para lhe fazer, garoto.
Severo não sabia exatamente o que foi que o movera dali, ou porque confiar em um estranho, mas receava que as garotas no parque pudessem notá-lo ali e perceber que as estava espionando.
Os dois seguiram para uma ruela entre as construções da pequena localidade, pararam em um beco deserto e o mais velho conjurou dois banquinhos de madeira e uma jarra com suco e copos.
-Suco? – o mais velho ofereceu.
-O que você quer? – o garoto respondeu rispidamente, um olhar nada amistoso.
-Bem, nem sei por onde começar...
-Tente pelo começo – o garoto dizia entre os dentes. Era nítida a sua irritação por estar ali. - Quem é você?
-Isso não importa. A pergunta que você deveria me fazer é de onde eu vim.
O mais velho fazia uma pausa, para ver a reação do garoto, que nada respondeu, então, continuou.
-Você deve saber o que é isso, não é? – o mais velho tirava do bolso o colar dourado de antes.
-Isso é um vira-tempo! Eu nunca vi um. Só em livros. Muito raros. – o garoto se exaltara.
-Então, devo crer que saiba pra que serve?
O garoto consentiu com a cabeça, sem tirar os olhos do objeto, seus olhinhos muito negros, refletindo o brilho dourado do vira-tempo.
-Espere ai... – o garoto interrompeu – De onde eu vim? Claro... Por Merlin, você veio do... futuro!?
-Exatamente.
-E-e pra que exatamente?
-Bem, esta é uma longa história, que você sabe que não tenho permissão para contar...
-Não teria permissão nem mesmo pra estar aqui... – o garoto retorquiu.
-Contente-se com o que estou disposto a lhe dizer. Eu tenho pressa. – ele pigarreou e tornou a falar, mais calmo. – De onde eu vim, nós estamos passando por uma longa e terrível guerra. Não há mais esperanças, nem mesmo os trouxas sobreviveram.
O garoto escutava atento, com os olhos arregalados.
-Bem, isso não importa. Eu não tenho tempo. Vamos ao que interessa. Estou tentando salvar o meu mundo. Eu sei que é uma medida extrema, mas é a nossa última saída.
-Eu não sei onde eu entro nisso. – o garoto dizia impaciente.
-Snape, eu conheço você... no futuro. Sei de tudo o que aconteceria na sua vida.
-Aconteceria? – o garoto não sabia o que era maior, sua curiosidade de saber mais sobre seu futuro, ou a necessidade de entender o que aquela estranha criatura queria.
-O fato é que, nós calculamos precisamente onde a história poderia ser alterada sem grandes danos, para tentar fazer com que as guerras futuras não aconteçam.
-Nós?
-Não vem ao caso. – o mais velho disse ríspido. – Escute garoto, não responda agora. Espere eu lhe dizer exatamente o que tem que fazer.
O garoto consentiu, meio a contragosto.
-Isso está muito confuso!
O mais velho o ignorou e continuou falando.
-Você vai seguir exatamente as minhas ordens, ok?
-E o que eu ganho com isso?
-Bem, a salvação do futuro bruxo, uma morte muito menos cruel, uma vida muito menos desgraçada, triste e eu devo dizer, desprovida de qualquer coisa agradável que se conheça. Em suma, você teria uma vida terrível, remorsos infinitos e uma morte muito triste.
Os olhos do garoto foram dobrando de tamanho, a cada palavra do mais velho.
-Mas, não se preocupe. Calculamos milimétricamente para que todos saíssem ganhando. Mas é claro, como se trata do futuro, ele está à mercê das decisões de outros e com muita sorte, as coisas não fugirão muito ao que planejamos. Como eu disse, é uma tentativa. Nós já não temos nada a perder. E então, vai ajudar?
-Eu não sei. O que quer?
-Ok. Ouça atentamente tudo isso que eu vou lhe dizer. É importante que você tente fazê-lo. E não se preocupe. Viva a sua vida, e aproveite-a bem. Faça o que tem que fazer e esqueça que um dia estive aqui. – o homem suspirou, antes de tornar a falar.
-Eu quero que esqueça todos os seus conceitos sobre sangues puros, magia negra e o que mais for. – uma ruga surgiu na testa do menor. – A partir de hoje, tente exercer o lado bom que tem em você. Você será um grande bruxo. Um mestre em poções e no conhecimento ligado às artes das trevas. Use isso para o bem, me entende? Você não é uma pessoa má. O que você se tornou foi o resultado do modo como você foi criado para ver a vida, e de suas companhias. Tente exercer agora, o caráter e a integridade de seu pai, ao invés da hostilidade e o preconceito de sua mãe. Agora, isso é importante: você deve entrar para a Grifinória quando for para Hogwarts. Agora, isto – ele depositou nas mãos do garoto uma corrente prateada, com um pequeno espelho ornamentado na base do pingente. Você deve guardar com você. Coloque-o em um lugar seguro, e que ninguém possa ver. O importante é você estar usando isso quando você morrer, e que a sua familia o encontre antes de qualquer um outro, ouviu bem? Faça o que estiver ao seu alcance para que isso aconteça. É essencial. De resto, as coisas tendem a acontecer naturalmente.
-Que coisas?
-Isso, só o tempo vai mostrar. Tudo o que posso lhe dizer agora é que se você fizer o que eu disse, vai conseguir aquilo que você mais deseja. Talvez não seja o que você mais deseja hoje, mas um dia será.
-Pare de me enrolar, e me diga o que é! – o garoto bufava.
-Eu não posso! Colocaria todo o plano em risco. Eu preciso que confie em mim!
-E porque eu faria isso?
-E seu lhe dissesse que se fizer o que instrui, você vai se casar com Lílian Evans?
O garoto congelara, indo de um tom azul a um rubro fortíssimo.
-E-eu vou mesmo me casar com Lilian Evans?
-Se fizer exatamente o que eu lhe disse até agora...
Os olhinhos muito negros da criança brilhavam de alegria. De repente, ele pareceu voltar a si e sua expressão se tornou mais séria, encarava o mais velho, desafiador.
-Eu não tenho como saber que não está mentindo!
-Você já percebeu que eu sei tudo sobre você, Severo. Eu já provei de onde eu vim, o que mais você precisa para acreditar em mim?
-Prove o que diz! – ele o encarava cinicamente. Sabia que o mais velho não teria como sair daquela situação, ele ia ter que contar mais coisas para conquistar sua confiança.
O mais velho perdera a paciência. Para a surpresa do garoto, o mais velho tirou uma pequena bolsa de contas das vestes e abriu o fecho, tirando uma pesada bacia de pedra de dentro.
-Sabe o que é isso? – o mais velho apontava para o pequeno recipiente à sua frente.
-É uma penseira. Mas como você?! *oO* - o garoto olhava a grande quantidade de objetos no interior da minúscula bolsinha. Agora tudo fazia sentido.
-Isso é um feitiço de expansão. Assim posso carregar tudo de que preciso.
-Você não pode mais voltar, não é? Digo, pro seu tempo, por isso trouxe todas essas coisas. – o menino apontava para a bolsinha de contas.
-Garoto muito esperto você. Não, não posso. É por esse motivo que um vira-tempo nunca foi usado para retornar a distantes períodos de tempo. Você fica preso ao passado para que voltou, e não retorna dele, já que só é possível voltar no tempo.
-O que vai fazer então? Depois que você fizer... o que veio fazer?
-Eu ainda não pensei nisso. Provavelmente, vou alterar minha própria memória, e ir para algum lugar em que eu seja útil, tentar viver como uma pessoa comum. Seria muito perigoso se alguém descobrisse de onde vim.
-Entendo. Eu... acho que vou ajudá-lo.
-Agora que decidi mostrar algumas coisinhas pra você? – o mais velho sorria.
-Bem, eu disse que acho, mas posso mudar de idéia. – o garoto contornava, louco de curiosidade para ver o que a penseira iria revelar.
-Não é muita coisa. Como eu disse, se eu te contasse, as coisas poderiam fugir ao plano, e ai sairiam do controle. Mas você tem que prometer que vai fazer tudo o que instrui.
-Eu juro. - o garoto dissera apressado.
O mais velho suspirou, sacando a varinha das vestes e apontando para a própria cabeça, fazendo sair uma espécie se líquido luminoso-prateado, depositando-o na penseira à sua frente.
-Outra coisa, antes que me esqueça. Você deve adotar o filho de Lucius Malfoy. E criá-lo como seu filho. Ache uma forma de convencê-los. Proteja-o, está bem?
-Não estou entendendo nada, só sinto que devo confiar no que diz. – o garoto não tirava os olhos da penseira, que agora estava cheia de uma substância, nem líquida, nem gasosa, que pairava em seu interior.
(...)
<big><big>Posto mais se tiverem comentários! :* </big></big>
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