CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 11
Ela já estava conseguindo raciocinar novamente. Até conhecer Harry, Gina não percebera quantos benefícios o sexo era capaz de oferecer. Sentindo-se firme, confiante, focada e energizada, se acomodou no escritório.
O novo computador que Harry mandara instalar naquela manhã era um espetáculo. Gina se permitiu admirá-lo e curtir o desempenho do equipamento. Seu astral levantou ainda mais quando ela reuniu os dados com os quais alimentara o sistema e os acessou como um lobo faminto.
- Muito bem, minha beleza. - murmurou, acariciando o revestimento todo liso, preto e cheio de estilo da nova máquina. - Agora vamos ver o que você consegue fazer. Abra o programa de cálculos com os dados do arquivo A. Qual é a probabilidade das vítimas Brennen, Conroy e O’Leary terem sido mortas pelo mesmo assassino?
Processando, anunciou o computador com uma aveludada voz de barítono acentuada com uma pontada de sotaque francês. Antes mesmo de Gina terminar de esboçar um sorriso, o número já estava calculado.
Probabilidade de noventa e nove vírgula sessenta e três por cento.
- Muito bem, mantenha a pesquisa com os dados do arquivo A. Qual é a probabilidade de que o suspeito Moody tenha cometido os crimes?
Processando... Probabilidade de oitenta e sete vírgula oitenta por cento. Com base nos dados atuais, uma ordem de prisão por múltiplos assassinatos em primeiro grau é recomendada. Por favor, avise se deseja uma lista dos juízes disponíveis para este caso.
- Não, obrigada, Bruno, agradeço o conselho.
Por favor, informe se deseja entrar em contato com o promotor.
- Gina.
- Espere um instante, Bruno. - Gina olhou para trás e viu Harry na porta do escritório. Jogou os cabelos para trás e mexeu os ombros. - Eu lhe disse que ia trabalhar.
- Sim, eu sei. - Harry estava apenas de jeans. A calça estava aberta na cintura e obviamente havia sido colocada às pressas, como lembrança de última hora.
Apesar do fato de seu sangue já estar mais acelerado por causa dele, Gina o sentiu fervendo nas veias e se imaginou arrancando fora aquela calça semi-aberta para em seguida enterrar os dentes naquele traseiro despido e firme, só por diversão.
- Que foi? - conseguiu dizer ela quando sua voz atravessou o véu de fantasia.
- Eu disse que... - Parou, reconhecendo o brilho em seus olhos, o que o fez arquear uma sobrancelha. - Puxa vida, Gina, você parece uma coelha!
- Como assim? - perguntou ela se fazendo de desentendida e virando-se novamente de frente para o monitor.
- Parece uma coelha mesmo, e eu ficarei mais que feliz em recebê-la, mas só depois que me explicar por que está pesquisando probabilidades com o nome de Moody. Pensei que estivéssemos de acordo com o fato de que ele é inocente.
- Estou fazendo o meu trabalho, e antes de começar a reclamar, - continuou ela, levantando a mão - eu explico. Primeiro, solicitei a probabilidade com o arquivo A, que contém todos os dados e provas que estou em condições de apresentar oficialmente neste momento. A resposta foi que eu devo levar Moody para uma cela de segurança máxima, algemado. Não seria caso para isso, pois estamos abaixo de noventa por cento, mas ninguém iria discordar da necessidade de sua prisão.
Mexendo novamente com os ombros, ela soprou a franja que lhe caía nos olhos, continuando:
- Agora vamos pesquisar as probabilidades usando o arquivo B, que tem tudo o que eu sei e tudo o que eu tenho. Computador...
- Pensei que o nome dele fosse Bruno.
- Aquilo foi só uma piada. - murmurou Gina. - Computador, calcule a probabilidade de o assassino ser Moody, utilizando os dados do arquivo B.
Processando... Com os dados adicionais, a probabilidade cai para quarenta e sete vírgula trinta e oito por cento. Ordem de prisão não é aconselhável, com base nas informações apresentadas.
- Viu só? A probabilidade caiu para menos da metade. E com o peso dos resultados da Dra. Minerva, que serão acrescentados amanhã, vai cair ainda mais. O arquivo A vai fazê-la cair também, mas o bastante apenas para tirar o traseiro dele da reta.
- Eu sabia que você ia conseguir. - Harry veio por trás dela, inclinou-se para a frente e lhe deu um beijo no alto da cabeça.
- Mas ele não escapou ainda não. O cara que trabalha para Deus está contando com o fato de que eu não vou livrar a cara de Moody por sua causa, e ele está certo.
- Só que ele subestimou você.
- Exato... exagerou na dose, Harry, e eu vou conseguir explicar isso ao comandante Lupin. Um homem esperto o bastante para arquitetar esses assassinatos não seria burro a ponto de deixar o rabo de fora de uma forma tão óbvia. Tudo cheira a armação. E ele vai querer continuar brincando. Charadas. Jogos... - refletiu ela, recostando-se na cadeira. - Ele costuma recorrer à imagem de Deus, mas gosta mesmo é de seus joguinhos. Jogos são para crianças.
- Diga isso para qualquer zagueiro de um time grande e veja se consegue convencer alguém.
- Isso só prova que os homens são crianças. - Encolheu os ombros.
- Obrigado pela parte que me toca. - Harry suspirou de leve.
- Os homens se ligam mais em brinquedos, jogos e engenhocas como símbolos de status. Você mesmo tem uma casa cheia desses troços.
- O que quer dizer? - Ligeiramente perplexo com a opinião dela, Harry enfiou as mãos nos bolsos.
- Não estou falando apenas dos brinquedos óbvios do tipo vídeos e salas holográficas. - Suas sobrancelhas estavam franzidas agora e pareciam quase unidas. - Carros, aviões, centros de entretenimento, andróides boxeadores, equipamentos de realidade virtual, nossa, todos os seus negócios, no fundo, são brinquedos.
Equilibrando o corpo sobre os calcanhares e balançando-o para a frente e para trás, Harry reagiu:
- Querida Gina... se está insinuando que eu sou superficial, pode dizer às claras, não se preocupe em ferir meus sentimentos.
- Você não é superficial. - disse ela com um aceno indulgente com as costas da mão. - Acho apenas que se entrega em excesso a esses prazeres.
Harry abriu a boca, tentando se sentir insultado, mas acabou caindo na risada.
- Gina, eu adoro você. - Ele deslizou a mão pelos seios dela e colocou a boca em seu pescoço. - Vamos nos entregar em excesso a esses prazeres.
- Corta essa. Eu quero... - Os dedos dele apertaram com suavidade os mamilos dela, e isso fez os músculos das suas coxas fraquejarem. - Olhe, eu realmente preciso... nossa, você é muito bom nisso. - Sua cabeça tombou para trás o bastante apenas para tornar sua boca vulnerável à dele.
Antes fora suave e delicado, como uma espécie de cura da qual ambos precisavam. Agora era ardente, rápido, quente e cheio de luxúria. Ela esticou os braços, envolvendo-o pelo pescoço, e se abriu para ele.
Ele abriu o roupão dela com apenas uma das mãos, separando os dois lados de forma a deixar suas mãos passearem pela pele dela, já úmida, até descer e encontrá-la já molhada. Ela gozou com uma facilidade espantosa, estremecendo ao sentir o clímax que a envolveu, inundando a mão dele.
A essa altura ela já estava se soltando, virando-se na cadeira e levantando os joelhos para recebê-lo.
- Agora, agora, agora! - gemeu ela, pontuando cada exclamação com beliscões e mordidas enquanto se agarrava aos quadris dele, acabando de lhe arriar as calças.
Ele se lançou contra a cadeira, apertando os quadris dela com força, enquanto ela o engolia. E observou sua garganta, o lindo arco que ela formava e o movimento suave que se acelerava e fazia latejar a sua pele, enquanto a cabeça pendia para trás. Ela agarrou as bordas da cadeira com força, sentindo-se zonza no instante em que ele chupou seu seio, abocanhando-o com força enquanto a cadeira balançava e ela balançava junto, enlouquecendo ambos com a fricção provocada.
O ritmo foi determinado por ela; ele a deixou corcovear e se permitiu ser consumido. Seus dedos apertavam ainda com mais força os quadris sob ele, enquanto ela o puxava com a respiração presa na garganta. E quando parecia que o seu sangue ia explodir nas veias, ele se esvaziou dentro dela.
As mãos dela se largaram, moles, sobre os ombros suados dele. Sentiu o coração pular com força enquanto cobria de beijos a sua garganta e o seu pescoço, dizendo:
- Às vezes me dá vontade de engolir tudo, comer você vivo! Nossa, você é tão lindo, tão maravilhoso!
- Hein? - Os sentidos dele estavam voltando lentamente e o zumbido em seus ouvidos diminuía, como uma maré vazante.
Ela se segurou, espantada e envergonhada de dizer aquilo. Ela tinha realmente falado uma coisa dessas? Perguntou a si mesma. Será que enlouquecera?
- Nada não... - respondeu para ele, respirando fundo várias vezes. - Estava só dizendo que queria morder a sua bunda.
- Você queria morder a minha bunda. - Balançou a cabeça para os lados, para entender melhor. - Por quê?
- Porque ela está aí. - Aliviada, cansada e satisfeita, sorriu para ele. - Uma bunda fantástica, por sinal.
- Fico feliz por você. - Piscou duas vezes, estreitando os olhos. - Você disse que eu sou maravilhoso?
- Ah, dá um tempo. - debochou ela, rebolando com força para sair debaixo dele. - Você deve estar tendo alucinações. Olha, isso tudo é muito divertido... - pegou o roupão e tornou a vesti-lo - Mas tenho que continuar o meu trabalho.
- Hum-hum. - concordou ele. - Vou pegar um pouco de café para nós.
- Não vai adiantar nada nós dois ficarmos sem dormir.
Ele sorriu e passou um dedo sobre a aliança dela, perguntando:
- Quer uma torta, então?
- Acho que gostaria de engolir algumas fatias.
Uma hora depois, Gina já mudara de aposento e transferira as pesquisas para o escritório secreto de Harry. As listas que precisava pesquisar não podiam ser detectadas pelo olho-que-tudo-vê do CompuGuard, o sistema rastreador da polícia.
- Seis homens. - balbuciou ela. - Os seis que mataram Marlena levam a mais de cinqüenta outros, só de familiares. O que há com vocês, irlandeses? Não ouviram falar do programa “População Zero’"?
- Preferimos o programa “vão em frente e se multipliquem”. - explicou Harry, analisando a lista que enchera duas telas. - Reconheço uns dez ou doze. Talvez consiga um resultado melhor se olhar os rostos.
- Bem, vamos eliminar as mulheres, por enquanto. A atendente do Trifólio Verde disse que Shawn estava falando com um homem, e o garoto do West Side...
- O nome dele é Kevin.
- Isso. O garoto disse que era um homem. E o anormal que tem me ligado, mesmo que esteja usando um sistema para alteração de voz para parecer homem, tem um ritmo masculino, além de reações tipicamente masculinas a insultos e sarcasmo.
- Novas portas se abrem a cada dia para mim - comentou Harry, com um tom seco - ao descobrir as fascinantes avaliações que você faz das pessoas do meu sexo.
- Quando a coisa aperta, os homens reagem de forma específica, apenas isso. Computador, retire os nomes femininos da lista. - Gina começou a andar de um lado para outro diante de uma das telas, concordando com a cabeça. - Assim fica mais fácil de trabalhar. O melhor lugar para começar é o alto da lista. Família O’Malley, pai, dois irmãos.
- Tela três. - Comandando tudo pelo teclado, Harry passou os três nomes para a tela seguinte. - Dados completos, com imagens... Ah, Shamus O’Malley, o patriarca, eu me lembro dele. Ele e meu pai tinham alguns negócios juntos.
- Pelo jeito existem tendências à violência na família. - comentou Gina. - Dá para ver nos olhos. Ele tem uma cicatriz na face esquerda e o nariz foi quebrado várias vezes, como se nota com facilidade. Aqui informa que ele tem setenta e seis anos e está atualmente cumprindo pena. É hóspede do governo irlandês por agressão em primeiro grau, seguida de morte.
- Um homem muito nobre.
- Vamos eliminar todos os que estão na cadeia. - Gina enfiou os polegares nos bolsos do roupão. - É impossível afirmar que nosso homem está atuando sozinho, mas vamos nos concentrar nele.
- Certo. - Harry digitou alguns comandos e mais dez nomes desapareceram.
- Ora, os três O’Malley sumiram.
- Sempre foram um grupo barra pesada e todos eram meio burrinhos.
- Vamos para os próximos.
- Os Calhoun. Pai, um irmão, um filho. Liam Calhoun. - refletiu Harry. - Ele era dono de uma pequena mercearia. Parecia um sujeito decente. Quanto ao irmão e ao menino não me lembro deles.
- O irmão, James, não tem ficha criminal. O cara é médico, trabalha no Ministério da Saúde. Quarenta e sete anos, casado, três filhos, tipo pilar da comunidade.
- Também não me lembro dele. Obviamente, não freqüentávamos os mesmos grupos sociais.
- Obviamente. - concordou Gina, com um tom tão seco que Harry riu. - O filho, que também se chamava Liam, está na faculdade e seguiu os passos do tio, pelo visto. Eis o jovem Liam Calhoun. Boa-pinta, dezenove anos, solteiro, um dos melhores alunos da turma.
- Sim, lembro vagamente que havia um menino. Estranho, caladão... - Harry observou com atenção a imagem de um rapaz com rosto descontraído e olhos sóbrios. - Parece que ele está no bom caminho, pelos seus dados acadêmicos.
- O passado do pai nem sempre se reflete nos filhos. Temos que ter em mente que conhecimento médico vem a calhar nesses assassinatos em particular. Vamos separar esses dois e colocá-los no fim da lista. Mostre o próximo grupo.
- Os Riley. Pai, quatro irmãos.
- Quatro? Meu Deus do céu.
- E todos eles um terror para os cidadãos decentes em toda parte. Dê só uma olhada em Brian Riley. Certa vez ele me deu um chute na cabeça. É claro que dois dos irmãos dele e mais um amigo chegado estavam me segurando com a cara no chão na ocasião. Black Riley, como ele gostava de ser chamado.
Harry pegou um cigarro e sentiu a antiga amargura, por tanto tempo enterrada, se libertar.
- Nós tínhamos mais ou menos a mesma idade e podemos dizer que Riley sentia ódio por mim, abertamente.
- E por que isso acontecia?
- Porque eu era mais ágil, meus dedos eram mais leves... - e completou, sorrindo: -... e as garotas preferiam ficar comigo.
- Bem, o seu velho amigo Black Riley vivia saindo e tornando a entrar na cadeia, e isso continuou por quase toda a juventude. – Gina olhou meio de lado. Outro sujeito boa-pinta, refletiu, com cabelos louros e olhos verdes. A Irlanda parecia estar cheia de homens bonitos em busca de problemas. - Estou vendo, porém, que ele está fora da prisão há vários anos. Os registros de emprego são variados e irregulares, mas a maioria indica que ele trabalhou como leão-de-chácara em bares e clubes de strip-tease. E olhe que interessante... ele trabalhou no setor de segurança de uma firma de equipamentos eletrônicos por quase dois anos. Pode ter aprendido um bocado de coisas dessa área, se é que tinha cérebro para isso.
- Não havia nada de errado com o seu cérebro. A sua atitude é que era um problema.
- Certo. Consegue pegar os dados de seu passaporte?
- O oficial, com facilidade. Dê-me apenas um minuto.
Gina observou a foto enquanto Harry trabalhava. Olhos verdes, tornou a notar. O garoto - Kevin - dissera que o homem que vira tinha olhos verdes. Ou pelo menos era o que ele achava. Claro que a cor dos olhos podia ser trocada com tanta facilidade quanto as lembranças de uma criança perdida.
- Os registros da Imigração estão na tela quatro. - disse-lhe Harry.
- Ora, ele visitou a nossa querida cidade algumas vezes. - reparou Gina. - Vamos gravar estes dados e ver se conseguimos descobrir o que ele aprontou quando esteve aqui. Os irmãos eram muito chegados?
- Os Riley eram como cães selvagens. Capazes de rasgar a garganta um do outro, brigando pelo mesmo osso, mas se uniam quando surgia algum inimigo de fora.
- Bem, então vamos dar uma olhada mais cuidadosa, bem de perto, em todos os quatro.
Às três da manhã, ela já estava caindo de cansaço. Os dados e as imagens nas telas começaram a ficar borrados e misturados. Nomes e rostos, motivos e crimes. Quando viu que estava quase dormindo em pé, apertou os olhos, sentindo-os arder.
- Café. - balbuciou ela, mas se viu encarando o AutoChef sem ter noção de como operá-lo.
- Hora de dormir. - Harry pressionou um botão que fez uma cama surgir da parede.
- Não, já estou sentindo a mente mais alerta. Ficamos com dez nomes. E quero olhar com mais atenção para aquele cara, Francis Rowan, que virou padre. Podemos...
- Descanse por algum tempo. - Veio por trás dela, guiando-a até a cama. - Estamos os dois cansados.
- Certo. Então, vamos só dar um cochilo. Uma hora. - Cabeça e corpo pareceram se separar no momento em que ela se deitou. - Deite-se aqui também.
- Está bem. - Ele se deitou ao lado dela, abraçando-a. Sentiu quando ela pegou no sono pelo movimento preguiçoso do braço que colocara em volta dele que, de repente, ficou sem forças.
Olhando para as telas por mais um instante, ele penetrou no fundo do seu passado, agora transformado em um vazio. Ele se separara de tudo aquilo, de todos eles. O menino que viera dos becos tristes de Dublin se tornara um sujeito muito rico, bem-sucedido, respeitado, mas ele jamais se esquecera do que era ser pobre, fracassado e rejeitado.
E sentiu que, mesmo deitado sobre uma cama macia, entre lençóis de linho, em uma casa magnífica e em uma cidade que transformara em lar, ele ia ter que voltar.
O que poderia encontrar lá e nele mesmo o preocupava.
- Apagar luzes! - ordenou e forçou-se a dormir para acompanhar Gina.
Foi o bipe agudo que avisava a chegada de uma ligação que os acordou três horas depois. Harry soltou um palavrão quando Gina levantou a cabeça de repente, golpeando-lhe o queixo com força.
- Ai, desculpe. - Esfregou a cabeça com a mão. - Foi o seu comunicador ou o meu?
- O meu. - Com todo o cuidado, ele massageou o queixo, articulando-o devagar. - É um lembrete. Tenho uma videoconferência marcada para as seis e meia.
- Ronald e Hermione vão chegar aqui às sete. Nossa! - Passou as mãos pelo rosto e, quando os dedos desceram abaixo da linha de visão, olhou para ele com atenção. - Como é que pode você acordar sempre assim, sem ficar com a cara amarrotada?
- Um daqueles presentinhos de Deus. - Passou a mão pelos cabelos e conseguiu deixá-los ainda mais sexy, despenteados. - Vou tomar uma ducha aqui mesmo, para ganhar tempo. Devo ter encerrado a conferência na hora em que Ronald chegar. Quero trabalhar com ele agora de manhã.
- Harry...
- A transmissão não foi feita desta casa; portanto eu tenho uma espécie de vazamento eletrônico nos equipamentos. Conheço toda a configuração do sistema, por dentro e por fora, e ele não. - Acrescentou um pouco de charme ao sorriso e completou: - Além do mais, já trabalhei com Neville.
- Isso é diferente. - Como, porém, ela não conseguiu explicar exatamente em que um caso era diferente do outro, encolheu os ombros. - Ronald vai ter que concordar com isso. Não posso obrigá-lo a trabalhar com um civil.
- Parece justo.
Às oito horas, Gina já instalara Hermione em um escritório improvisado, em frente ao dela. O aposento, na verdade, era uma pequena e elegante sala de estar que ficava ao lado de um imenso quarto de hóspedes, mas estava equipado com um pequeno e completo centro de comunicações para o conforto de sócios de Harry que às vezes passavam a noite na casa.
Hermione abriu a boca de espanto diante dos desenhos originais em bico-de-pena que cobriam as paredes, o tapete tecido a mão e os almofadões prateados espalhados sobre o grupo estofado com a forma de “S”.
- Que lugar magnífico para se trabalhar!
- Não se acostume com a mordomia não. - aconselhou Gina. - Quero estar de volta à minha sala na central na semana que vem, com o caso encerrado.
- Tudo bem, mas me deixe curtir isto aqui enquanto posso. - Hermione já reparara no AutoChef do aposento e especulara consigo mesma a respeito das delícias que ele tinha a oferecer. - Quantos cômodos existem nesta casa?
- Não sei. Às vezes eu acho que eles se acasalam durante a noite e produzem quartinhos que se transformam em quartões, que por sua vez se acasalam e... - Gina parou de falar, balançando a cabeça. - Acho que dormi pouco, não estou falando coisa com coisa. Tenho um monte de dados aqui que precisam ser analisados por alguém organizado e com olho bom.
- Eu dormi oito horas seguidas e meus olhos são muito bons.
- Deixe de ser convencida! - Gina franziu o cenho. - Estes dados são todos extra-oficiais, Hermione, mas acho que o nosso homem está neles, em algum lugar. Colocamos um bloqueio e um desvio temporários neste computador, de forma que você vai poder trabalhar sem ser captada pelo CompuGuard. Estou tentando arrumar um modo de resolver isso, mas, até conseguir, não há jeito mais brando de lembrar-lhe que você está violando a lei ao fazer isso.
- Bem... - Hermione considerou a situação por um momento e perguntou: - Aquele AutoChef está abastecido?
- Por aqui os AutoChefs sempre estão lotados de comida. - Gina teve de sorrir. - Tenho que apresentar alguma coisa para Lupin agora de manhã. Estou juntando tudo o que posso levar para ele. Como esse cara não está nos dando muito tempo entre um crime e outro, estamos meio apertados.
- Então é melhor eu cair dentro.
Gina deixou as coisas por conta dela, mas quando entrou em sua sala encontrou Ronald e Harry encurvados, trabalhando em alguma coisa. O lindo computador novo estava no chão. Suas entranhas estavam expostas, e sua dignidade, em ruínas. O tele-link de sua mesa estava decomposto em vários pedaços não identificáveis.
- Que diabos vocês dois estão fazendo por aqui?
- Isso é trabalho de homem! - disse Harry, lançando-lhe um sorriso. Seu cabelo estava jogado para trás, as mangas da camisa arregaçadas, e ele parecia estar se divertindo como nunca.
Gina pensou em comentar sobre os homens e os seus brinquedos, mas decidiu que ia ser perda de tempo.
- Se vocês não conseguirem montar tudo isso de volta do jeito que estava, vou me apossar da sua sala, Harry.
- Fique à vontade. Está vendo aqui, Rony? Se instalarmos esta interface vamos poder abrir todo o sistema por tempo suficiente para vermos se existe algum vazamento.
- Você já não tem um aparelho que faz isso? - quis saber Gina. - Um scanner?
- Pois esta é exatamente a melhor maneira de evitar que um scanner dê bandeira para um hacker que está de fora. – Ronald lançou-lhe um olhar que a fez sentir claramente que ela estava atrapalhando. - Nós vamos poder ver, mas ninguém, especialmente o nosso homem misterioso, vai sacar que estamos espiando.
Intrigada com aquilo, Gina chegou mais perto, comentando:
- Isso é bom, porque ele vai se manter confiante. Como é que esse troço funciona?
- Não toque em nada! - ronald quase deu um tapa na mão dela, mas lembrou-se a tempo de que Gina tinha uma patente superior à dele e completou: - Senhora.
- Ei, eu não ia mexer em nada. - Com cara de chateada, Gina enfiou as mãos nos bolsos. - Por que desmontaram o meu tele-link?
- Porque... - respondeu Ronald, suspirando forte para manter a paciência -... é por ele que as ligações entram, não é?
- Sim, mas...
- Gina, querida. - Harry parou de trabalhar apenas o tempo suficiente de dar um tapinha carinhoso em seu rosto. - Cai fora!
- Tá legal! Preciso mesmo ir para a rua, fazer trabalho policial de verdade. - Manteve a dignidade até chegar ao corredor. Saiu do escritório e bateu a porta com força.
- Uau! Você vai ter que pagar caro por isso mais tarde. - avisou Ronald.
- Você não sabe da missa a metade... - murmurou Harry. - Vamos colocar esse troço logo para funcionar, Rony, e acione logo o primeiro nível. Vamos ver o que encontramos.
Enquanto isso, Gina lutava com as palavras e o tom ao redigir o relatório oficial. Se usasse a conexão Marlena, a fim de fornecer os nomes dos homens que a mataram e justificar a investigação de suas famílias, ia envolver o nome de Harry.
Todos os homens foram assassinados e seus casos continuavam em aberto. Até agora, nem mesmo o Centro de Pesquisa Internacional de Atividades Criminais havia descoberto conexões entre os assassinatos. Como é que ela poderia usar as informações que tinha para convencer Lupin, o secretário de Segurança e a mídia de que um daqueles crimes era o motivo da sua atual linha de investigação?
Talvez conseguisse, mas só se ela fosse boa o bastante e mentisse com convicção e lógica.
Passo um: construir os fatos e exibir as provas de forma a mostrar que Moody estava sendo usado. Precisava do relatório de Minerva para ajeitar toda essa história.
Passo dois: elaborar uma teoria lógica de forma a provar que a armação fora motivada por vingança, uma vingança dirigida ao homem errado. Para fazer isso, ela precisava montar uma situação em que pudesse supor, de forma razoável, que seis homens assassinados foram mortos por pessoas distintas e causas diferentes.
Harry não era nada burro, refletiu. Levara muito tempo para pegá-los e não deixara rastros. Tudo o que ela precisava fazer era cuidar para que nenhuma pista surgisse.
Se ao menos ela tivesse uma prova tangível, sólida, que indicasse uma conspiração... qualquer coisa que pudesse apresentar ao comandante Lupin, a fim de convencê-lo de todo o resto.
Ouviu gritos empolgados na sala ao lado e fez uma careta, aborrecida por ter se esquecido de acionar o sistema que tornava a sala à prova de som. Ao se levantar para fazer isso, as vozes agitadas do outro lado da porta a deixaram curiosa.
- Muito bem, qual foi o grande lance? Conseguiram algum recorde jogando Gatunos Espaciais no videogame?
- Localizei um eco! - Ronald estava quase dançando de alegria e dava tapinhas de congratulação nas costas de Harry, sem parar. - Encontrei um eco lindo e maravilhoso!
- Vá até os Alpes, colega. Lá você vai encontrar um monte de ecos.
- Um eco eletrônico! O filho-da-mãe é muito bom, mas eu sou melhor. Ele lançou o reflexo da transmissão para parecer que ela foi feita a partir desta casa aqui, mas o sinal-base não saiu deste sistema. Não mesmo, porque eu achei esse lindo eco.
- Bom trabalho, Rony... Olhe, mais um! Você viu? - perguntou Harry, apontando para uma pequena tela acoplada provisoriamente ao tele-link de Gina. Ela não percebeu nada se movendo, mas Ronald soltou um urro de vitória.
- Sim, garoto, esse é o lance! Agora continuo a partir daqui, pode apostar que eu consigo.
- Esperem um instante. - Gina se colocou entre os dois, antes que eles começassem novamente a dar tapinhas nas costas um do outro. - Expliquem isso com palavras que gente normal compreenda. Nada de baboseiras técnicas.
- Certo. Tente acompanhar o raciocínio. - Ronald encostou o quadril na mesa de Gina. Ele estava usando uns dez corações vermelhos pendurados nas orelhas, e Gina tentou não olhar fixamente para eles. - Esta aqui foi a última ligação que você recebeu do nosso rapaz misterioso. Rastreei o sinal vindo de tudo quanto é lugar, até fechar com este ponto aqui. Todos os indícios apontam para o fato de que a transmissão teve origem nesta casa.
- Isso eu já sei.
- Muito bem... só que não queremos acreditar nisso, então invadimos o sistema para fazer uma varredura de todos os elementos. É como... você sabe cozinhar, Weasley?
Harry soltou uma gargalhada.
- Vamos parar com a zoação e falar sério? - pediu Gina, fazendo cara de quem não tinha gostado.
- Tudo bem. Eu ia explicar que o processo é igual ao de uma receita, onde você primeiro separa os ovos, o açúcar e os outros ingredientes individualmente. Consegue entender?
- Não sou uma boçal, Ronald, claro que consigo entender.
- Ótimo, então. Imagine que analisamos os ingredientes usados no bolo para testar a sua qualidade, e talvez notemos que um dos elementos está diferente, mesmo que seja um pouquinho. Como o leite prestes a talhar, por exemplo. Assim, partindo do fato de que o leite está talhando, vamos querer saber por que isso aconteceu. Encontramos então um defeito no sistema de refrigeração. Um vazamento pequeno, microscópico, mas grande o bastante para afetar a temperatura e deixar alguns germes entrarem. É isso aí... o sistema eletrônico desta casa estava contaminado por um germe.
- E o que isso tem a ver com ecos?
- Ronald... - interferiu Harry, levantando a mão. - Deixe-me explicar essa parte, antes que você invente uma refeição com quatro pratos diferentes. Sinais eletrônicos deixam um padrão depois que são emitidos. - explicou a Gina com paciência. - Esse padrão pode ser traçado e simulado. Nós analisamos os padrões de todas as ligações direcionadas para este tele-link nas últimas seis semanas. Analisamos também os padrões das ligações feitas daqui para fora no mesmo período. Ao fazer isso, e considerando vários níveis e parâmetros, descobrimos uma mudança no padrão de uma das ligações recebidas. Exatamente a que nos interessava. Um eco, ou sombra de um sinal preso a um padrão básico, o que prova claramente uma fonte diferente.
- Quer dizer que dá para provar que a ligação não se originou daqui?
- Exato.
- E é um tipo de prova que eu conseguiria explicar de forma técnica, tintim por tintim, a fim de poder apresentá-la a Lupin?
- Com certeza! - Ronald sorriu, olhando para ela. - A Divisão de Detecção Eletrônica já usou este tipo de prova em centenas de casos. É comum. Esse eco aqui estava bem escondido, e o padrão era muito fraco, mas nós o achamos.
- Você o achou. - corrigiu Harry.
- Eu não teria conseguido sem o auxílio do seu equipamento maravilhoso e da sua ajuda. Deixei o eco passar duas vezes, sem perceber.
- Mas acabou chegando lá...
- Antes de eu sair de fininho, - interrompeu Gina - deixando-os entregues a esses eflúvios de admiração mútua, vocês se importariam de gravar esse resultado em disco e copiá-lo em papel para eu anexá-lo ao meu relatório, se não for muito incômodo?
- Tenente... - Harry colocou a mão sobre o ombro de Ronald. - Você está nos deixando sem graça com todas essas demonstrações de gratidão e elogios.
- Vocês querem gratidão e elogios? - Por impulso, emoldurou o rosto de Harry entre as mãos e o beijou com força na boca. Depois, por que não?, fez o mesmo com McNab. - Quero todos os dados em uma hora. - acrescentou, saindo da sala.
- Uau! - Ronald apertou os lábios como se ainda estivesse saboreando o beijo, enquanto batia com a mão no coração. - A tenente tem uma boca deliciosa.
- Não me faça quebrar a sua cara, Rony, justo no momento em que estamos dando início a uma bela amizade.
- Ela tem uma irmã? Prima? Tia solteirona?
- A tenente Weasley é a única da espécie. - assegurou Harry enquanto notava a tela piscar mais uma vez, de forma quase imperceptível. - Vamos lá, Rony... vamos filtrar esses dados para ela. Depois que fizermos isso, não seria divertido tentar ver até onde a gente consegue acompanhar esse eco?
- Você quer rastrear um eco tão fraco assim? - As sobrancelhas de Ronald se uniram. – Puxa Harry, a gente leva dias, com muitas horas de trabalho e muita gente pesquisando, além de um equipamento de ponta, e isso tudo para rastrear um eco bem maior. Nunca soube de um sinal abaixo de quinze, como esse, que tenha sido rastreado.
- Existe uma primeira vez para tudo.
- É! - Os olhos de Ronald começaram a brilhar. - Os caras da Divisão de Detecção Eletrônica vão se curvar à minha passagem se eu conseguir essa façanha.
- Mais um motivo pra gente cair dentro, então.
Agradecimentos especiais:
Bianca: a Gina andou rastreando as famílias dos caras que o Harry matou, mas ela fará uma pesquisa mais profunda quando for para a Irlanda, o único problema é que o assassino é fera em eletrônica e não está usando o nome verdadeiro, nem mesmo quem o está ajudando. Sobre sua teoria, devo ressaltar que você acertou em quase tudo, mas não vou dizer o que você acertou ou errou senão não teria mais graça. Posso dizer que o cúmplice não está contrariado com as ações do assassino, muito pelo contrário, essa pessoa criou ele e foi essa pessoa que fez a cabeça do assassino para que ele vingasse a morte do próprio pai, no caso o pai do assassino. Acho que eu acabei revelando demais, mas a partir disso acho que é possível tirar muitas conclusões,só espero não ter te confundido agora. Beijos e até o próximo capitulo.
Ana Eulina: Não, a Dra. Minerva é cheia de classe mesmo, mas a Luna não é fofa, ela é sensacional... Você achou certo, o assassino é o filho de um dos caras que o Harry matou, isso sem sombra de dúvida. Você não viajou não, o assassino cresceu ouvindo sobre os culpados da morte do pai e agora resolveu se vingar. Beijos e até o próximo.
gilmara
: Desculpas aceitas, não precisa se preocupar, entendo perfeitamente o que você quer dizer, afinal peguei férias da faculdade, mas não do serviço. Você não podia estar mais certa com relação ao Moody, ele não pensa antes de fazer as bobagens e vai ser pego na cena de um dos crimes, espere só para ver. Bem, devo confessar que suas teorias são muito boas e praticamente atingiram o alvo, quanto a frase da dor que apenas uma mulher conhece, é mais ou menos por esse caminho, a dor de uma mulher que perdeu o marido, mas o assassino é um homem, o filho de um dos que o Harry matou. Beijos e até o próximo capitulo.
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