A carta, a carta e a carta!



Acabei meu café, já nutrido sai pra ver que desfecho teve aquela confusão de mais cedo e qual não foi a minha surpresa ao ver que todos permaneciam praticamente do jeito que eu tinha deixado, a exceção era minha mãe que estava sentada na escada em frente a nossa casa. Inocentemente e, devo ressaltar, bem devagar me sentei ao lado dela e perguntei:


- Mãe, ta tudo bem?- Ela virou pra mim num movimento muito brusco pro meu gosto e fez com que eu tomasse um susto.


- É uma brincadeira de mal gosto...- Ela disse num sussurro.


-Péssimo gosto você quer dizer!- Meu pai irritado disse, hum... A coisa deve ter sido feia!- Isso deve ser coisa daquelas pestes dos Fernandez, onde já se viu “Escola de magia e bruxaria”!- Magia e bruxaria? Olhei pra minha irmã em busca de respostas, mas ela estava com uma cara de mais perdida do eu, se é que isso é possível!


Tentei obter minhas respostas a minha maneira e graças a Deus minha cara de pau é grande!


- Se esta escrito, com certeza não foi um dos burros dos Fernandez- Falei com uma certeza que não tinha, sabe se lá se aquele povo sabe ler!- De mais a mais, não vejo o que eles poderiam ganhar com essa idéia absurda!- Finalizei com ar de quem encerrava a questão e a minha impulsividade me fez tomar as cartas da mão do meu avô e do meu pai. Olhei pra aquela que tinha meu nome escrito e comecei a ler enquanto ia em direção ao lixo da cozinha.


- Hogu, Hoguvartes!?!- Minha nossa que porcaria de nome é esse? Dei mais uma olhada no envelope, parecia muito oficial, sem sombra de dúvidas não foi algo feito pelos quadrúpedes dos meus vizinhos! Resolvi não perder mais tempo com aquilo, nada de bom pode vir de uma carta trazida por um bicho! Joguei as duas cartas no lixo da cozinha, com uma sensação estranha de que aquilo não tinha sido o fim da história.


Voltei à sala a tempo de ver minha irmã pulando feliz da vida com a coleção de livros de Crepúsculo. Se são bons ou não, eu não sei e nem quero saber, mas que foi caro foi e eu to doido pra ver o MEU presente! Como eu já disse antes, eu sou impulsivo e cara de pau...


- Cadê o meu?- Minha mãe me deu um olhar reprovador, o qual eu fiz questão de ignorar.


- Como você é ansioso, criança!- Meu avô ta tentando fazer suspense? Por que comigo isso não cola!


- Cadê vô?- Fiz cara de criança pidona, minha mãe revirou os olhos e meu pai, assim como meus avós deram risada.


- Está aqui, espero que goste!- acredite vô, não espera mais que eu não! Era um embrulho grande até e qual não foi minha surpresa ao ver que era meu tão esperado notebook. Pura emoção!


- ISSO! Aha! Não vou ter que esperar até meu aniversário pra ficar vendo vídeos engraçados no youtube, baixando filmes e...- Eu já ia enumerar as milhões de possibilidades que o meu novo presente me dava quando minha mãe me trouxe de volta a realidade.


-Não vai agradecer não, mocinho?- Nem o mau humor da minha mãe iria me abalar!


- OBRIGADO! Podem se gabar pra todo mundo, porque vocês têm o neto mais fel...- Meu discurso de agradecimento foi interrompido por uma coruja que entrou pela janela da sala de estar. Quase tive um enfarto, mas o meu notebook estava bem seguro nos meus braços!


- Mas que merd...


- Hum hum!- Minha vó apontou pra mim com a cabeça discretamente, ou foi isso que ela pensou, na certa não queria que o seu doce neto ouvisse um “palavrão”!  Pergunto-me, desde quando merda é palavrão? Merda, merda, merda! Não. Com certeza é uma palavra pequena.


Ainda bem que cheguei a uma conclusão rapidamente, por que a coruja marrom vinha em minha direção com uma carta na perna. Abaixei-me para pegar a carta e a maldita coruja me mordeu! Essa foi a gota d’água! Meu pai saiu de uma postura defensiva para uma totalmente transtornada em um milésimo de segundo!


- SAI DAQUI!- Meu pai gritava com o bicho como se ele pudesse entender. Coisa que eu duvidava muito que estivesse acontecendo porque ao invés de cair fora como gentilmente meu pai sugeriu, o troço veio mais determinado do que nunca em minha direção! Não deu outra, pelo pouco que me conhecem já devem até ter adivinhado qual foi a minha reação.


- AAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHH!!!!- Corri com o meu notebook bem junto a mim. Agora ele era tão precioso pra mim quanto a minha própria vida! Dei uma volta no sofá, que nossa, devia ter parado no Guiness Book. Mas para o meu azar, não parei pra pensar que o sofá NÃO era um obstáculo pro troço voador. Ele veio pra cima de mim, me assustei (mais ainda) e tropecei.

Resultado: Cai! Não foi de quatro, nem de bunda, algo que depois de um tempo me fizesse rir... Não. Cai pra traz com um baque surdo, meu notebook, graças a Deus, em cima do sofá e eu... Como podem imaginar, cai na escada batendo a cabeça no quarto degrau... Foi dramático! Eu sabia que aquela história de carta não tinha acabado! Bem, eu desmaiei...


 


Aos poucos fui sentindo as coisas voltarem, mas não me atrevi a abrir os olhos. Podia ouvir alguns ruídos ao longe, preferi focar neles e saber o que estava acontecendo.


- Eu não quero saber! Meus filhos não vão!- Meu pai parecia nervoso no andar de baixo.


- Senhor acalme-se, foi só um pequeno acident...


- Acidente? Acidente é quando alguém tropeça, quando alguém derruba algo! Agora uma coruja raivosa perseguindo meu filho, é algo muito bizarro pra eu aceitar!- Nisso meu pai tinha razão, tentei ouvir melhor o que se passava lá, mas o homem de sotaque estranho falava num tom que não passava de um murmúrio. Resolvi que já era hora de abrir os olhos.


- Quem inventou a maldita claridade!- Minha nossa, não foi uma boa idéia levantar! Nada parecia querer ficar parado e a luz que entrava pela janela, que eu identifiquei como sendo a minha, incomodava mais que tudo.


- Não se levante agora, querido!- Reconheci a voz doce da minha mãe. Apesar disso me surpreender bastante, até que foi uma surpresa legal. Não tenho por que desobedecê-la hoje. Fechei os olhos esperando que tudo estivesse resolvido no dia seguinte.


 


Acordei e como num banho frio resolvi que o melhor era enfrentar tudo de vez. Abri os olhos, mas a claridade não me incomodou tanto quanto antes. Com certeza isso se deve ao fato de nem dia mais ser. Droga! Não acordei no dia seguinte como eu tinha planejado! Seria o melhor afinal, haveria tempo suficiente pras as coisas se acertarem e eu ainda aproveitaria meu amado café da manhã, sendo paparicado pela família. Devo salientar que ficar sem ver a cara da insuportável da minha irmã por um dia é um bônus super legal também! Mas a vida não é perfeita e a minha é a prova mais fiel dessa máxima. Levantei da cama e fui para o banheiro lavar o rosto, olhei no meu relógio.


- 19:37h, bem, acho que ainda da tempo de jantar ao menos.- Fui pulando de dois em dois degraus, no último dei de cara com o olhar reprovador da minha mãe.


- Não devia estar fazendo isso, Cesc!- Me fiz de desentendido.


- Boa noite, mãe!- Olharzinho de anjo mais beijinho na bochecha... Voalá! Temos um sorriso materno!- Onde ta todo mundo?


- Seu pai e seus avós estão no escritório conversando e sua irmã está lá em cima lendo os livros que ela ganhou...- Quando disse todo mundo, eu me referia aos humanos, e não aos animais da casa, como é o caso da minha irmã, mas é claro que isso eu não falei em voz alta!


- Não faço questão de saber onde a Louise está...- Cara de nojo- Mas ela me deu uma boa idéia. Onde esta meu notebook?- Vou aproveitar meu presente também.


- Em cima do sofá...- Nem quis saber o resto da frase, pra mim ela está completa. Ainda pude ouvir um suspiro cansado da minha mãe as minhas costas. Ela sabe o filho que tem! Peguei meu note e fui direto para o meu quarto. Você deve estar se perguntando “E a carta?”, “E o homem do sotaque estranho?”. Me desculpe, mas eu tenho quase certeza de que já tinha comentado a respeito do que faço quando algo não me interessa. Se não se lembra, eu repito: EU IGNORO! Hoguvartes, ou seja lá como se chama a coisa, não é interessante pra mim. Por enquanto pelo menos...


 


 


 


 


 


 


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.