ENTRE DEMENTADORES E COMENSAIS
- DEMENTADORES! - foi o berro que fez o salão explodir em gritos, os alunos se levantando e começando a correr desordenadamente pelo espaço entre as mesas.
A Professora McGonagall tentava acalmar os estudantes, mas os vultos encapuzados deslizavam por entre as pessoas e atacavam sem dó. As velas do salão se apagaram, deixando todos no escuro absoluto, enquanto uma brisa gélida fustigava suas capas. Uma multidão se formara na porta do salão, todos tentando sair ao mesmo tempo, os professores tentando conter os dementadores.
Harry se levantou imediatamente, correndo na direção dos dementadores com a varinha erguida, tentando não esbarrar em ninguém. Rony, Hermione e Gina também deixaram a mesa da Grifinória e foram em seu encalço, as varinhas prontas para conjurar um Patrono a qualquer instante.
- EXPECTO PATRONUM! - ordenou Harry, assim que um dementador se aproximava.
O veado prateado irrompeu da ponta da varinha, galopando contra a criatura. Outros Patronos deslizavam por cima das cabeças dos alunos, iluminando o salão com a luminosidade prateada, afastando os vultos encapuzados.
Repentinamente, a aglomeração de pessoas começou a se dissipar e todos pareceram correr para o lado oposto do salão, fugindo de alguma coisa. Harry espiou pela porta e, para sua surpresa, existiam cerca de cinco figuras mascaradas paradas à porta, empunhando varinhas.
- Os Comensais da Morte! - exclamou Harry para Hermione, assim que os viu.
- Harry, você precisa se esconder - ela falou com urgência. - Fique perto da mesa dos professores, não saia de lá! Eles estão atrás de você, você sabe disso!
- Hermione, acha que eu vou ficar escondido enquanto todas essas pessoas se arriscam por minha culpa? - perguntou o garoto, ignorando o que ela falara anteriormente. - Eu não posso!
- Pode sim, e vai ficar! - Hermione insistiu, tentando levá-lo pelo braço até a Professora McGonagall.
Mas era tarde demais, os Comensais já tinham visto Harry e dois deles iam exatamente em sua direção. Hermione virou-se, fitando a máscara do Comensal mais próximo, apontando-lhe a varinha.
- Avada Kedavra! - o vulto lançou a maldição e o lampejo verde quase acertou Hermione, errando-a por milímetros.
- Expelliarmus! - Harry ordenou, mas o Comensal conseguiu se defender.
Os quatro começaram a duelar, Harry já não sabia que feitiços eram aqueles que ele próprio lançava. Hermione duelava numa velocidade impressionante, um dos Comensais só tinha tempo para se defender dos ataques dela. Mais de uma vez, eles arriscaram uma Maldição Imperdoável, mas estas colidiram com demais feitiços e acabaram acertando as paredes e o teto.
Um feitiço o acertou e ele foi atirado para trás, caindo sobre uma mesa e, consequentemente, sobre os pratos e taças de ouro. Massageando a cabeça, Harry voltou a ficar de pé, procurando algum jeito de voltar até Hermione, mas a multidão não permitia. Mas um grito o alarmou, um grito que fez seu sangue congelar.
Ele virou para o lado a tempo de ver um aluno ser atirado para o alto, colidindo com a parede do lado oposto do salão. Uma cabeleira vermelha inconfundível chamou sua atenção e ele desatou a correr, passando por cima da mesa da Grifinória, desesperado.
- GINA! GINA! - ele gritava, enquanto observava um dos Comensais da Morte colocar a garota no ombro e correr para os jardins.
Hermione o viu e tentou, sem muito sucesso, deter o Comensal. Alcançou-o quando este já estava do lado de fora do castelo, carregando a outra garota. Um lampejo vermelho indicou que Hermione fora estuporada.
Harry saiu pelas portas de carvalho, tendo um vislumbre de uma cabeleira vermelha adentrando as árvores da floresta. Hermione jazia caída em um canto, aparentemente bem, embora inconsciente.
- GINA! GINA! GINA! - ele gritava freneticamente, correndo até as árvores da floresta e embrenhando-se nelas.
Correu por entre as plantas, escorregando várias vezes em tufos de grama, seu ouvido atento a qualquer mínimo ruído. Mas não havia barulho nenhum, nenhum sinal de que Gina acabara de passar por ali. Ela se fora.
- GINA! - ele gritou uma última vez, sua voz ecoando pela floresta deserta.
Não havia nenhum som audível, a floresta estava vazia. Não, Harry não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Sempre achara que, com Voldemort derrotado, ele poderia levar uma vida normal, coisa que nunca acontecera. E, se dependesse dos Comensais da Morte, nunca ia acontecer.
Ele sentou na grama, incapaz de conter algumas lágrimas que insistiam em pingar. Colocou os braços em torno dos joelhos e abaixou a cabeça, enquanto ruídos de passos o alertavam que alguém estava se aproximando. Ergueu a cabeça rapidamente, desejando que fosse o Comensal da Morte com Gina, mas era apenas Rony.
- Harry? - ele chamou, assim que o viu. - O que aconteceu?
- A Gina - ele falou, abaixando a cabeça novamente, a voz abafada. - Um Comensal levou a Gina. Eu tentei impedir, mas não consegui. Ela pode estar sendo torturada, maltratada, e a culpa é toda minha.
- Não, Harry, não é possível - o amigo disse, abaixando-se. - Eu a vi duelando com um Comensal da Morte, pouco antes deles irem embora, ela está bem.
- Não, Rony, não está! Eu vi com os meus próprios olhos! - Harry exclamou, tapando o rosto com as mãos. - Ele conseguiu fugir, estuporou a Hermione e veio para a floresta. Por isso eu estou aqui.
- Está falando sério - Rony finalmente disse, parecendo cair na real. - Eu vi a Hermione, ela acordou e me disse para não me preocupar com ela, que era melhor vir atrás de você, mas não explicou por quê. Então, a Gina foi levada pelo Comensal. A Gina, minha irmã?
- Conhece alguma outra Gina Weasley? - Harry perguntou com ferocidade, os olhos úmidos.
O amigo não respondeu, sentando-se ao lado de Harry, os olhos arregalados e a boca entreaberta. Não falou nada, apenas observando uma árvore diante deles, como se nunca tivesse visto coisa igual em sua vida. Mas outro ruído alarmou os dois.
- Harry, Rony! - exclamou uma voz sonhadora familiar, parecendo estranhamente alterada. - Hermione me disse alguma coisa sobre Gina, ela está bem?
Harry e Rony se entreolharam e nenhum dos dois respondeu, ignorando a pergunta de Luna. A garota pareceu preocupada, as sobrancelhas arqueadas dando um ar triste aos seus olhos azuis.
- Eu sinto muito - foi o que ela disse para consolá-los. - Mas o meu pai sempre diz que se lamentar não vai mudar o que já aconteceu.
A garota foi embora, deixando os dois sozinhos novamente. A voz dela ainda ecoava em sua cabeça 'se lamentar não vai mudar o que já aconteceu', o que era a mais pura verdade. Mas o que ele poderia fazer? Armar um ataque à Mansão dos Malfoy?
- Acho que vou voltar para o castelo - Harry concluiu por fim, levantando-se.
- Eu também vou - acrescentou Rony imediatamente. - Vou ver se a Hermione está bem.
Os dois puseram-se a caminhar lentamente de volta ao castelo, o barulho de seus passos abafado pela grama macia, ambos evitando olhar diretamente para o outro. Estavam quase alcançando as portas de carvalho quando Harry falou, sua garganta ligeiramente apertada:
- Vamos trazê-la de volta. Estamos juntos nessa.
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