Capítulo I
Capítulo único
Flashback
Era simplesmente mais um dia comum na minha vida não tão comum assim, mas como se pode ter uma vida comum quando você é uma bruxa?
Quando eu acordei, me deparei com a cama vazia ao meu lado. Um sinal evidente de que meu marido já havia ido trabalhar. Olhei no relógio que ganhei da Mione no último natal localizado na cômoda e vi que já eram mais de meio-dia. Tinha dormido demais! Levantei-me com disposição e fui direto para o chuveiro, depois da última noite era uma coisa da qual eu precisava com urgência. Ao entrar no box do banheiro, comecei a repassar os últimos acontecimentos na minha cabeça, de como Harry e eu organizamos uma festa surpresa para o nosso filho mais velho que iria completar todos os seus 5 aninhos…
Um barulho vindo do andar de baixo me assustou fazendo-me sair de meus devaneios e voltar para a realidade. Tão logo o susto passou o medo se apoderou de mim, e se tivesse acontecido alguma coisa com os meninos? Ou com o meu bebê que mau tinha completado 2 anos de vida?
Me enrolei na toalha e botei a cabeça pra fora do banheiro.
-- Monstro! – gritei – O que aconteceu?
-- O pequeno senhor Tiago caiu de sua vassoura de brinquedo e se machucou quando eu saí para preparar a comida da pequena Lílian. – disse o elfo assim que apareceu na minha frente.
-- E onde ele está? – disse já me desesperando.
-- Monstro colocou um curativo nele e o deixou na sala.
-- Foi muito grave? – a essa hora eu já estava correndo pelas escadas abaixo até a sala de estar.
Quando vi os meus três filhos no tapete da sala brincando, logo o meu coração se acalmou e fui para perto de Tiago ver como estava o machucado dele. Assim que vi o tamanho do curativo necessário fiquei inquieta novamente.
-- Ti, deixa a mamãe ver o seu dodói. – disse chegando perto dele ao que ele fez uma careta pra mim.
-- Mamãe, já sou grande pra você falar “dodói”! – disse meu filho com sua voz infantil. Eu ri.
-- É claro! Como pude esquecer que estou na frente de um rapazinho?
-- AAI! – exclamou com voz de choro assim que toquei a sua testa, onde estava o machucado.
-- Hey, você não já é grande demais pra chorar não?
-- Eu não ia chorar! – reclamou fazendo bico e olhando pro outro lado.
Assim que o ataque dele passou tirei cuidadosamente a gaze de sua testa, onde tinha um enorme e profundo corte. Pedi que me contasse como havia se machucado e ele começou a contar uma história sobre dragões e uma pedra que acertou ele na testa. Revirei os olhos. Gostaria de saber da onde é que ele tira essas fantasias. Virei pro Al e pedi que me contasse o que realmente aconteceu e ele disse que, pelo o que pude entender, seu irmão mais velho estava voando quando se animou demais com sua fantasia e bateu com a testa bem na ponta da mesa. Assim que acabou sua narração coloquei um novo curativo na testa de Tiago e fui para a lareira pegando um pouco de pó de flu no caminho, joguei nela falando a frase que me levaria até a sala que o Harry dividia com meu irmão e enfiando a cabeça nas chamas.Tive que esperar por alguns segundos até alguém vir me atender.
-- Oi, Gina. – disse Mcqueen, um dos homens que trabalhavam junto com o Harry. – Quer falar com o seu irmão ou com o Harry? Eles deram uma saidinha pra ir checar uma coisa com os novatos.
-- Com o Harry. E rápido, por favor.
Observei ele ir para fora da sala pra ir chamá-lo. Uns dois minutos se passaram e eu estava começando a ficar impaciente com a demora deles para voltar. Até que os vi passando pela porta vindo em minha direção.
-- O que houve, Gi?
-- O Ti bateu com a testa na mesa e está com um corte horroroso. Acho que vai ter que levar uns pontos.
-- Já estou indo pra casa. Assim que você desocupar a lareira.
-- Claro, claro. – disse, saindo da lareira e voltando ao Largo.
Droga! Só agora reparei que ainda estava de toalha e com o cabelo pingando. Disse ao nosso elfo para cuidar do meu pequeno acidentado e corri escada acima a fim de colocar uma roupa descente e irmos ao hospital bruxo. Peguei as primeiras roupas que vi e coloquei. Fiz um feitiço para secar meu cabelo, peguei minha bolsa corri para o andar de baixo.
-- Amor, aonde você foi? – perguntou Harry que estava com o nosso filho mais velho no colo esperando pra sair.
-- Fui trocar de roupa para nós sairmos. – respondi dando um selinho nele que naquela situação não pude aprofundar.
Logo depois nós saímos para o St. Mungus. Assim que chegamos, dois curandeiros vieram nos atender. É claro! Todos querem puxar o saco da família Potter!
-- O que posso fazer pelos senhores? – perguntou um dos homens. – Meu nome é Matt – completou erguendo a mão. Dispensei a mão e fui logo ao assunto antes mesmo que meu marido abrisse a boca para falar algo.
-- Você poderia ir até a cafeteria para termos uma conversa bem agradável. – disse sarcasticamente. – Enquanto meu filho fica com muita dor de cabeça por causa do corte dele. – acrescentei elevando a voz algumas oitavas. Acho que deixei ele sem graça, maldita TPM! O Harry estava começando a ficar vermelho de tanto segurar o riso e eu estava pronta para brigar, ou melhor, gritar com ele quando o outro homem falou.
-- Venham por aqui, por favor. – Ele deve ter percebido que seu colega perdeu a fala.
“ Calma Gina, gritar com as pessoas não vai melhorar seu estress. Talvez seja melhor pedir desculpas ao Matt, afinal ele não fez nada demais.” – pensei, mas aí completei: --
“Não, ele também estava só tentando fazer com que nós nos déssemos bem para ficar se gabando depois”
Fomos levados por alguns corredores até que chegamos a uma porta na qual estava escrito “Acidentes Domésticos”. Ao entrarmos encontramos duas macas encostadas na parede oposta e o segundo homem, que havia se identificado como Willian, esperando que atravessássemos a porta. Logo em seguida pediu para colocarmos o Ti na maca mais perto de nós e saiu para chamar o curandeiro responsável por aquela área.
-- Então, o que houve com esse pequeno acidentado? – perguntou a mulher assim que chegou.
Eu expliquei a ela tudo o que aconteceu e ela me pediu para distrair ele enquanto aplicava uma leve anestesia no local do ferimento. Foi realmente um ganho quando os curandeiros começaram a estudar os métodos trouxas do que eles chamavam de medicina.
Uma coisa boa no Tiago é que ele nunca teve problemas com esse tipo de situação, nunca chorou por nada. Não foi diferente dessa vez, ele ficou quieto olhando para mim e para o pai dele que estava sorrindo para ele enquanto a curandeira dava os pontos necessários em sua testa.
-- Agora ele vai ficar bem, pode até sentir um pouco de dor de cabeça, mas é só. -- disse ela ao terminar – Ah! Não vai ficar com nenhuma marca do machucado. – completou.
-- OK, então. Gina, eu tenho que ir. O Rony está me substituindo em um trabalho que eu estava fazendo antes de você me chamar. – falou Harry já se levantando de onde esteve sentado. – Desculpe não poder ficar mais tempo.
-- Que isso, Harry? É o seu trabalho, não precisa se preocupar. – eu disse já pegando o Ti no colo.
-- Então tchau. – ele me deu um selinho, um beijo leve no corte de nosso filho e depois saiu.
-- Obrigado por cuidar do Ti. – disse para a curandeira.
-- Não precisa agradecer, é o meu trabalho. – respondeu ela recolhendo todo o material de que necessitou. – Por falar nisso, você tem que trazer ele aqui para retirar os pontos.
--Tudo bem.
Joguei um sorriso para ela e sai da sala com o Tiago me contando mais uma de suas fantasias. Atravessamos o hospital em direção da saída sob vários olhares curiosos.”Será que eles não se cansam de fazer isso não?” -- pensei.
Quando chegamos em casa, Monstro logo veio me contar que Al e Lily já haviam almoçado e estavam brincando no quintal. Nós definitivamente havíamos demorado no hospital, já estava na hora do almoço e eu não tinha visto o tempo passar. Deve ter sido por isso que o Harry teve que sair correndo. Eu estava ficando cada vez mais distraída.
Pedi ao elfo que fizesse o prato do meu filho mais velho e fui colocar uma roupa mais confortável para ficar em casa. Logo depois eu desci e segui em direção ao quintal para brincar com os meus outros filhos um pouco.
Quando cheguei lá vi Alvo brincando de montar em seu brinquedo favorito: um dragão que flutuava a cerca de 10cm do chão. Comecei a lembrar, então, como aquilo deu um enorme problema entre ele e o Tiago quando Hermione o trouxe em seu aniversário.
Enquanto eu estava devaneando, nem vi a minha pequena princesinha vindo em minha direção.
-- Mamãe, eu quero um dragão também! – disse ela naquela sua voz fina de dois anos de idade.
--Lily, eu já disse a você que aquele brinquedo é para pessoas mais velhas.
--Mas porque, mamãe? – ela começou a fazer bico e já estava quase chorando. Abaixei-me até estar quase do mesmo tamanho dela e disse:
-- Olha, quando você for mais velha eu compro um para te dar, ta bem assim?
-- Você promete?
-- Claro.
Depois disso, o resto da tarde correu tranqüilamente, claro que com algumas implicâncias entre os três nas quais eu já estava pronta para separá-los. Passei a maior parte do tempo com eles, na sala principalmente, pois estava perto do inverno e começava a ficar muito frio no quintal para eles. Quando já estava próximo ao horário do jantar, o Tiago iniciou uma briga com o irmão dele falando que iria pegar o seu dragão “voador” se ele não achasse mais o seu carrinho.
-- Mas eu não peguei o seu carrinho! – disse Al pela, o que parecia ser, a décima vez.
-- Só que ele sumiu e eu sei que foi você. – contrariou Tiago. Isso sempre acontecia pelo menos uma vez por semana: um pegava o brinquedo do outro e logo depois vinha essa mesma discussão.
-- Devolve o carrinho dele Al.
-- Mas mamãe, não fui eu. – disse ele com uma cara que aparentava confusão.
-- Então quem foi?
-- Não sei… -- ele olhou na direção da Lílian evidentemente desconfiado. Levei um susto ao seguir seu olhar e constatar a cara de culpada que ela fazia. Essa era uma coisa totalmente inédita.
-- Lily, você pegou o carrinho do Ti?
-- Peguei… -- admitiu – Mas eu só queria ver como funcionava.
-- Tudo bem, mas não faça mais isso tá bom? Se quiser, peça emprestado. – ela acenou – Ótimo. Onde está ele?
-- No meu quarto.
Assim que ouviu isso, Tiago até o quarto dela todo emburrado e voltou trazendo o seu carrinho vermelho favorito. Quando vi que o brinque do estava realmente no quarto da minha filha, logo fui falando a ele a injustiça cometida por ele ao acusar Alvo sem alguma prova e ainda por cima pelo fato do irmão ser inocente nessa história toda.
Depois de toda essa confusão, fui arrumar as coisas para o jantar e voltei para a sala chamar eles. Os dois mais velhos já sabiam comer sozinhos, então eu só tive que dar comida para a mais nova da família que por mais tentativas de comer sozinha, se lambuzava toda. Depois do jantar eu coloquei as crianças para dormir e desci para esperar o Harry.
-- Gina… Gina… GINA! – gritou uma voz, que reconheci ser a do meu marido, que vinha da lareira.
-- Desculpe, Harry. Eu estava lá em cima colocando as crianças na cama.
-- Não tem problema. – disse a cabeça flutuante dele no fogo. – Só queria avisar que me chamaram para verificar uma denúncia e provavelmente vou chegar bem tarde.
-- Então vou tentar te esperar – disse mostrando a ele uma livro que eu estava lendo. – To querendo acabar mesmo. – ele riu.
-- Você é quem sabe. Te amo.
-- Eu também. Muito. – ele sorriu mais uma vez e foi embora.
Sentei-me em uma poltrona que havia ali na sala e comecei a ler silenciosamente. Fiquei lendo até altas horas quando peguei no sono e depois fui acordada por um choro vindo do andar de cima e fui ver o que era. Ao chegar lá, o som me levou até o quarto da Lílian que estava sentada no berço e com as mãos nos olhos e o rostinho lavado pelas lágrimas. Ela estava soluçando tanto que chegava a quase pular no lugar onde estava.
-- O que foi que houve, filha? – perguntei puxando-a para o meu colo.
-- E-eu sonhei que o p-papai t-tinha ficado m-muito machucado. – disse ela gaguejando.
-- Filha, nada de ruim vai acontecer com o papai.
-- Eu sei… -- disse ela me abraçando forte. Fiquei mais um tempinho com ela até conseguir fazê-la dormir novamente. Resolvi descer de novo para pegar o meu livro e ir dormir no quarto. O Harry estava demorando de mais, o que é muito estranho já que ele ia apenas verificar uma denúncia e… bom, eu não queria admitir mais estava com uma forte dor no peito desde que saí do quarto da Lily.
-- Gina! – chamou uma voz forte vinda da sala.
”Nossa, hoje está todo mundo gritando por mim” -- pensei.
-- Kin, o que você está fazendo aqui? – perguntei à cabeça flutuante no fogo do ministro da magia.
-- Preciso que você venha aqui e, por favor, traga Hermione contigo.
-- Tudo bem, só vou me trocar.
-- Estou te esperando.
O estranho de tudo isso é que ele muito raramente aparecia assim e, normalmente, iria querer falar com o meu marido. Sem dizer que ele parecia estranhamente triste com algo. Resolvi esquecer isso por enquanto e fui me arrumar para ir à casa da Mione e, logo em seguida, ao ministério.
Assim que acabei, chamei o Monstro e pedi para ele cuidar das crianças enquanto estava fora. Desci correndo as escadas não sabendo o porquê de aquela dor no peito começar a aumentar consideravelmente. Peguei a minha varinha no caminho e o saquinho com pó de flu e fui direto para a lareira. Joguei nela um punhado do pó e entrei exclamando:
-- Casa do Rony! – no momento seguinte, me senti rodopiando enquanto várias lareiras passavam por mim e, logo depois, caindo no chão de uma sala extremamente familiar.
-- Gina? O que você está fazendo aqui? – consegui discernir a voz de Mione.
-- O que VOCÊ está fazendo acordada?
-- Respondendo uma pergunta com outra pergunta? – ela riu nervosamente – Estou esperando o Rony. Até agora ele não chegou.
-- Que estranho, o Harry também não. – eu estava começando a desconfiar de alguma coisa. – Mas nós vamos descobrir agora. O Kingsley acabou de aparecer lá em casa e me pediu para vir te chamar e irmos até o ministério.
-- Só vou me trocar, um instante. – e saiu correndo escada acima até o quarto. Assim que ela desceu, nós fomos em direção da lareira para irmos ao quartel dos aurores. Quando chegamos lá, me deparei com a maioria dos aurores que conhecia e com a que eu não conhecia nos encarando com a face cheia de terror.
-- O-o que foi que houve? – perguntou Hermione com os olhos cheios de água. O que ela estava pensando?
-- Vocês se lembram da denúncia que o Harry e o Ronald foram verificar? – sim, eu me lembrava. Agora era EU que estava quase chorando.
-- O que foi que aconteceu com eles? – perguntei.
-- Aquela investigação foi uma armadilha para eles e…
-- O QUE? – quem gritou foi Hermione, o que me assustou.
-- Eles… – suspiro – eles morreram.
-- NÃO! – gritei sendo acompanhada por Hermione e desabei no choro para logo depois cair de joelhos no chão com a vista totalmente embaçada pelas lágrimas.
Fim do flashback
-- Mãe, mãe…
-- Humm?
-- Já está na hora de irmos.
-- Já estou indo Ti.
Não acredito que estava novamente perdida em lembranças daquele dia, mas é uma coisa inevitável já que isso sempre me pega de surpresa assim que me distraio. Eu odeio quando isso acontece: só serve para trazer os piores momentos que eu tive na minha vida. Embora eu nunca tenha sentido que ele morreu, é impossível já que eu vi seu corpo imóvel e pálido em uma maca naquele mesmo dia.
Ontem foi o aniversário do Hugo, meu afilhado filho do Rony e da Mione. Foi ótimo como sempre, mas os garotos e as meninas sempre sentiam falta deles, principalmente o Tiago que conviveu mais tempo com eles do que os outros.
Hermione havia convidado os meninos para voltarem lá hoje, a fim de eles não ficarem sem o que fazer. Agora lá estava eu indo levá-los para a casa dela. A Lily, é óbvio, teve que ir junto porque se não iria ficar em casa sozinha e eu não queria que isso tivesse que acontecer, para mim ela ainda era muito nova, sem contar que ela gostava de ir lá.
Hoje em dia parece que o mundo idolatra o Harry mais do que antes. A história dele e de seus amigos, mas principalmente dele, foi parar em quase tantos livros quanto Hermione já leu, o que não é pouco. Eu nunca quis que meus filhos soubessem dessa história muito cedo, essa foi uma das coisas que eu discuti com o Harry antes dele morrer e nós dois concordamos nesse ponto: não seria muito bom para eles; Rony e Mione também acabaram concordando em não contar para os deles. Eu só não contei a todos de uma vez só porque Lily com certeza não iria entender, então esperei mais um pouco e contei a ela não faz nem dois anos. Ela ficou fascinada e agora pede para que nós contássemos coisas sobre a vida dele toda hora (principalmente para o Teddy que conviveu mais com o Harry e adorava ele e falar dele), lógico que o Ti, o Hugo, o Al e a Rosa também acharam muito interessante e até hoje querem saber mais e mais informação sobre os pais deles, mas ainda acho que a Lílian tem mais interesse sobre absolutamente TUDO que aconteceu na vida dele.
Agora já fazia mais de 5 anos que ele havia partido e eu ainda chorava quando lembrava disso. Lembro-me, às vezes, de como Alvo corria para chegar nele antes dos outros assim que a porta era aberta quando ele voltava do trabalho. De como depois de falar com todos eles, vinha em minha direção com um sorriso cansado, me dava um beijo e dizia que me amava só para me escutar responder “ Eu também te amo muito, Harry!”
-- Oi Mione. – disse assim que ela atendeu a porta para nós.
-- Gina! Pensei que vocês não iriam vir mais do jeito que estavam demorando.
-- Desculpe, eu me distraí.
-- E quando é que você não está distraída mãe? – perguntou Alvo. Dei um sorriso para ele dizendo:
-- É, realmente acho que a maioria das vezes estou. – aquilo não foi uma verdade nem uma mentira. Eu ainda tinha a sensação de afastamento e, muitas vezes ficava devaneando por causa disso.
-- Gente, só porque vocês não vão brincar no quintal? -- perguntou Hermione às crianças.
-- Ta bom, mãe. – respondeu Hugo e foi em direção aos fundos da casa acompanhado pelos primos e pela irmã.
-- Você pensa muito no Harry não é? – perguntou Mione assim que eles estavam longe demais para ouvir. Uma das coisas que eu gostava nela era que ela era sempre o mais reta possível.
-- Sim, e é uma coisa estranha porque eu só senti, até hoje, que ele foi afastado muito bruscamente de mim, sabe? – era a primeira vez que eu falava sobre aquilo com ela… com alguém. Não sei porque mas, embora seja um problema que bate muito na minha cabeça, sempre achei uma besteira.
-- Sabe, às vezes eu sinto isso também. É realmente estranho. – eu só senti o meu queixo caindo enquanto olhava para a cara de dúvida que ela fazia.
-- Porque você não tinha me contado isso antes?
-- Você também não me disse. – argumentou ela com a face tomada pela acusação.
-- Me pegou. – falei mostrando a ela um sorrisinho amarelo logo depois.
-- Deve ser porque temos, ou melhor, tivemos um laço muito forte com eles. – proferiu Hermione naquele tom professoral dela e depois riu de um jeito um tanto quanto nervoso. – certas coisas não mudam de jeito nenhum não é?
-- É verdade. É muito difícil nós esquecermos pessoas que foram muito importantes nas nossas vidas. Mas é ainda pior com essa sensação, ela traz todas aquelas lembranças de volta. – a essa altura algumas lágrimas já escorriam pelo meu rosto sem pedir permição.
-- Sim, eu sei. Sinto exatamente a mesma coisa que você. Mas, pelo menos, olhe pelo lado bom: eles deixaram para trás pessoas que vão sempre nos fazer lembrarmos de como eles eram.
Ela tinha razão, como sempre. Resolvi enxugar as lágrimas e levantar a cabeça, não era assim que eu era e o Harry também não gostaria de me ver nesse estado por causa dele. Bom, na verdade a culpa não era dele, mas, do mesmo jeito, eu deveria estar de outro modo.
-- Você está certa, Mione. Certas coisas nós guardamos em nossos corações, tentar entendê-las é bobagem.
-- Isso mesmo. – disse ela me dando um sorriso de alguém que há muito precisa de um descanso assim como eu. Estava tão entretida na nossa conversa que nem percebi a Lílian vindo, com o Hugo logo atrás, em nossa direção.
-- Mãe, o Ti nos pediu para vir chamar vocês. – disse ela.
-- Por quê?
-- Ele quer pedir que vocês façam algo. – dessa vez quem falou foi o Hugo.
-- Bom, então vamos ver o que eles querem. – respondeu Hermione me olhando com cara de dúvida. Acenei com a cabeça para ela de que era melhor ver agora do que depois, quando já houvesse uma enorme confusão como na última vez.
Fomos andando até os fundos da casa a fim de ver o que ele havia armado dessa vez. Ao chegar lá, achamos os outros três mexendo em uma massa disforme no chão. Quando me aproximei o bastante, percebi que era um antigo brinquedo trouxa deles, um tipo de pula-pula em forma de bola com duas elevações em sua superfície para a criança segurar enquanto ele quicava com ela montada nele.
-- O que vocês querem com isso? – indagou Mione.
-- Nós estávamos tentando descobrir como se faz para encher. – respondeu Al.
-- Para quê?
-- Para podermos usar ela.
-- Mas é um brinquedo de criança.
-- Não é essa a nossa finalidade.
-- Então o que é? – ele olhou desconfiado para nós provavelmente decidindo se deveria contar ou não. Vai ver que ele pensava que iríamos impedir de eles fazerem sei-lá-o-que.
-- Queríamos apenas dar nossos antigos brinquedos para as crianças de um orfanato aqui perto.
-- É. Eu vi uma propaganda pedindo isso e fiquei com pena deles. – disse Rosa nos mostrando uma pilha de velhos brinquedos trouxas.
-- Tudo bem, então. – eu disse.
Peguei a minha varinha e fiz um feitiço capaz de enchê-la em um segundo. As crianças agradeceram e foram fazer o que queriam enquanto eu e Hermione entramos novamente na casa para fazermos o almoço, pois já era quase uma hora da tarde. Resolvemos fazer uma macarronada, pois era fácil e eles adoravam quando fazíamos.
Depois de tudo pronto eu me encarreguei de ir chamá-los para dentro. Logo que viram o prato, já se animaram e correram para a mesa.
-- Quando é que vocês vão entregar aqueles brinquedos ao tal do orfanato? – perguntei assim que todos se ajeitaram em seus lugares.
-- Agora de tarde, por quê? – disse Ti.
-- Porque eu quero ir com vocês.
-- Eu também vou. – se pronunciou Hermione.
-- Tudo bem, então.
O resto do almoço ocorreu normalmente, ou seja, uma confusão de piadas, brincadeiras e escândalo vindo das meninas por causa das brincadeiras. Depois de todos já terem acabado de comer, as crianças voltaram para o quintal dizendo que tinham que acabar de achar os outros brinquedos e concertá-los o máximo possível.
Eu e Mione ficamos tirando os pratos, copos e talheres da mesa e deixando-os em cima da pia da cozinha.
-- Limpar! – ordenamos eu e ela ao mesmo tempo com nossas varinhas em punho apontando para as pilhas de louça suja.
Passamos o início da tarde conversando na sala e assistindo ao um antigo filme na TV enquanto esperávamos nossos filhos acabarem com o seu trabalho para podermos ir até o orfanato. Só quando o filme já havia acabado e a pipoca que fizemos estava fria é que eles vieram falar que já estavam prontos para ir. Levantamos e ajudamo-los a carregar os sacos dos brinquedos até a porta, só aí eu me lembrei de um detalhezinho:
-- Onde fica esse orfanato, Tiago? – perguntei.
-- Não é realmente longe, só a algumas ruas daqui. – disse ele sem me encarar, mau sinal.
-- Rosa, onde fica? – perguntou Mione também percebendo o gesto do meu filho.
-- Na verdade… -- disse ela olhando para os outros em busca de ajuda. – Bom, na verdade, fica no outro bairro.
-- Por que vocês não falaram antes? – perguntei a ela com a voz doce.
-- Porque achávamos que vocês não iriam nos levar e nem nos deixar ir sozinhos se soubessem o quão longe é.
-- Mas é lógico que nós não nos importamos de levar vocês até lá. – disse Hermione recebendo, em troca, a cara de alívio que eles todos fizeram.
-- Sim, é verdade. – concordei. – Mas acho melhor que nós aparatamos lá perto para não ter que andar tudo isso, OK?
-- Tá certo – disseram eles.
Continua...
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