Na mente de Voldemort



Voldemort estava furioso. Seu olhar negro como um abismo exalava parte da fúria que insidia dentro de seu ser. Os comensais da morte a sua frente tentavam contê-lo por meio de palavras de adoração, mas nada parecia surtir efeito.
- O Lorde das Trevas pode perder uma mísera batalha, - começou a dizer Yaxley – mas jamais uma guerra.
- O seu poder supremo é incontestável Mi lorde. – completou Lúcio Malfoy fazendo uma ligeira reverência. Muitos outros bruxos e bruxas se curvaram diante do Lorde das Trevas, vangloriando-o, e apesar desses atos aparentarem respeito verdadeiro a Você-Sabe-Quem, a crua verdade era de que tudo não passava de uma mera encenação, pois a única coisa que todos realmente queriam era só continuarem vivos.
Voldemort segurou firme sua varinha em um impulso de conter seus instintos, já que a sua maior vontade naquele momento era silenciar todo aquele bando de bajuladores repulsivos com um único e sutil movimento com a varinha. Ele podia até sentir a satisfação de raios verdes e mortais emergindo e pondo um fim na vida daqueles miseráveis. No entanto Voldemort não poderia fazer isso, pois por mais que não quisesse admitir, precisava daqueles comensais para atuar diretamente no mundo bruxo.
Enquanto controlava sua ira, o Lorde notou sua cobra Nagini rastejando em um canto mais escuro do cômodo e logo notou também a figura sombria de Severo Snape aparecer acompanhado dela. Ele seguiu Severo com o olhar enquanto Nagini se enroscava em seu pescoço. Era uma sensação agradável ter sua pele em contato com o corpo escamoso da cobra.
- Encontrou Rabicho? – A voz de Voldemort nunca demonstrava sentimento, por isso seus seguidores nunca sabiam qual seria a real intenção por de trás de suas perguntas e muito menos conseguiam analisar sua expressão. Mas ele por sua vez, conseguia obter mais do que uma simples leitura da feição de cada um deles. Ele conseguia qualquer coisa que quisesse, desde a lembrança de infância mais remota até o último pensamento impertinente de sua vítima e esse era só mais um dos motivos pelas quais seus comensais da morte o temiam tanto.
- Receio que não Mi Lorde. – respondeu Severo mostrando um certo cansaço na voz, certamente devido a sua busca por Rabicho, o qual desde que falhara em sua missão, desaparecera por completo. – Ele desaparatou sem deixar nenhum rastro.
- E Potter? – voltou a perguntar Voldemort com seu interessado tom de voz, o qual era especialmente destinado a Harry. O Lorde das Trevas possuía uma porção da mente que era reservada só para refletir sobre o menino, e isso se mostrava presente nos momentos em que  falava sobre ele.
- Desaparatou com Remo Lupin para um vilarejo chamado Ottery St. Catchpole. – respondeu Severo muito bem informado. – Mais especificamente para a residência dos Weasley.
- Weasley? – repetiu Voldemort introspectivo.
- Sim, Mi Lorde. – respondeu Snape desprendendo-se dos devaneios de Voldemort – Uma família de sangue-puro, porém traidores, conhecidos por seus cabelos ruivos e sardas no rosto. São um tanto numerosos se me permite dizer...
- Sempre muito bem informado, não é Severo?
Snape assentiu e logo se postou junto aos outros comensais insignificantes, mesmo ele não sendo de fato um deles. Voldemort sempre tivera uma grande consideração pelo professor das vestes negras. Era como se o Lorde conseguisse enxergar mais além da expressão fria de Snape, ele conseguia sentir o talento para as trevas pulsando nas veias de seu seguidor, porém também conseguia sentir um sentimento diferente dos quais normalmente estava acostumado, algo como compaixão talvez. No entanto achava que essa mesma compaixão não haveria de dar problemas, afinal, Snape é um mero humano, o que significa que não poderia ser inteiramente maléfico o tempo todo, e, além disso, o talento que aquele bruxo carregava consigo era de extrema utilidade.
- Tenho a impressão de que esses Weasley estão interferindo demais em meus planos... – refletiu Voldemort acariciando Nagini, a qual urrava de satisfação pelos carinhos do Lorde – Será que devo dar um jeito neles, Nagini? – perguntou, voltando sua atenção unicamente para a cobra, a qual mostrou sua língua bífida e começou a se enroscar mais profundamente em seu pescoço - Muito bem Nagini. – concluiu – Vamos dar um jeito neles então.


 


Harry acordou com a cicatriz latejando e o corpo suado, aspecto no qual o menino sempre era encontrado após ter usufruído de alguns minutos na mente de Voldemort. Ele abriu os olhos atonitamente e se levantou cambaleando. Embora Harry estivesse um tanto acostumado com as visões, penetrar na mente do Lorde era algo muito nebuloso e indistinto, de modo que o menino muitas vezes se confundia e até mesmo duvidava de sua própria realidade.
- Harry! – gritou a senhora Weasley abrindo escandalosamente a porta e indo ao seu encontro – O que está fazendo fora da cama? – O garoto não encontrou uma boa resposta, de modo que só permitiu que ela o guiasse de volta para onde estava deitado. – Você está bem?
- Acho que sim. – murmurou - O que aconteceu?
- Não se preocupe com nada, agora você só precisa descansar. – respondeu ela maternalmente.
- Eu estou bem, sério. Não preciso dormir, só quero saber o que aconteceu. – retrucou Harry impacientemente. A senhora Weasley lançou um último olhar suplicante para o menino, porém ele manteve a sua decisão, pois a única coisa que queria era só ter tudo muito bem esclarecido em sua cabeça.
- Se é assim, acho que não vejo problema em chamar Remo para vir conversar com você agora. – respondeu ela em tom de derrota.
- Obrigada. – agradeceu Harry enquanto recebia um abraço carinhoso da senhora Weasley, a qual logo desaparecera inconformada.


 


Enquanto esperava pelo professor Lupin, Harry começou a observar mais atentamente o local em que se encontrava, mesmo ele próprio já sabendo que estava na casa da senhora Weasley. O aspecto mais marcante de todo o cômodo, decididamente era a imensa e lustrosa mesa de carvalho que se postava entre o sofá-cama listrado em que ele estava deitado e uma bela estante de louças de porcelana muito bem conservadas. Aquela era a maior mesa que Harry já vira em toda a sua vida, coisa que também não o surpreendia muito, já que a família Weasley sempre fora bem numerosa, sem mencionar os vários visitantes que recebiam, e isso incluía praticamente toda a Ordem da Fênix e seus muitos outros parentes espalhados pelo mundo.
O odor de frango assado que provinha de uma minúscula janelinha ao lado de um nicho, entupia deliciosamente as narinas de Harry, que sentia sua barriga roncar e a fome se pronunciar. A senhora Weasley sempre fora uma ótima cozinheira, dando aos filhos tudo do bom e do melhor no que dizia respeito à alimentação, e esse seria um problema da qual Rony teria de enfrentar na viagem de busca às Horcruxes. Harry até já conseguia imaginar Hermione dizendo: “Não se pode conjurar comida Rony” e o amigo reclamando que não estava satisfeito com os poucos suprimentos que eles levariam para a caça. Mas a comida escassa era só um dos poucos fatores que eles haveriam de enfrentar, até porque na verdade, esse problema era pequeno se comparado ao perigo real em que os três amigos estariam se expondo.
Harry já estava absolutamente entretido em suas reflexões quando Remo Lupin entrou na sala acompanhado de Molly.
- A senhora poderia nos dar um minuto? – pediu o professor educadamente.
- Cuidado com o que vai dizer a ele. – advertiu a senhora Weasley rudemente enquanto saía da sala. Era evidente que ela não estava satisfeita com a situação que estava sendo-lhe imposta, porém ela teria de se acostumar com a realidade de que as coisas estavam mudando e de que tanto Harry quanto seus filhos já não eram mais crianças.
- Você está bem? – perguntou Lupin trancando a porta e indo se sentar na beirada da cama de Harry.
- Estou ótimo, obrigada. – respondeu o menino enquanto analisava os cabelos desgrenhados e o rosto maltratado de seu ex-professor de Defesa contras as Artes das Trevas – Professor, eu realmente sinto muito. Eu não devia ter tentado encarar Rabicho sozinho, eu deveria ter fugido, mas eu simplesmente não consegui.
- Concordo que tentar duelar com Rabicho foi uma imprudência sua Harry. – concordou ele – Mas não posso culpá-lo, pois sei que tanto eu quanto seu pai teríamos feito o mesmo.
Harry tentou esconder o meio sorriso que queria nascer entre seus lábios, porém não obteve muito sucesso, de modo que logo se viu rindo consigo mesmo, pois uma das coisas que ele mais adorava era receber comentários das pessoas dizendo o quão parecido com seu pai ele era.
- Você tem muito mais em comum com Thiago do que imagina Harry. – disse Lupin, percebendo o motivo das risadas sem sentido do menino – Mas agora me escute porque preciso ser breve, tenho uma reunião com a Ordem para daqui duas horas. – O professor fixou seu olhar triste nos indecifráveis olhos verdes de Harry, continuando a falar logo e seguida. – Você tem alguma ideia de quem possa ter me mandado isso? – Lupin retirou do bolso um pedaço de pergaminho amassado e o entregou a Harry, fazendo menção para que o menino lesse o que ali jazia.
“Harry Potter não está a salvo na Rua dos Alfeneiros, os Dursley não estão lá e Arabella Figg já está morta há essa hora.”
- Não. – respondeu Harry após ler a breve frase que estava escrita no papel – Mas quem escreveu isso certamente quis nos ajudar não é?
- Creio que sim, mas nós não podemos ter certeza de nada. – disse Lupin pegando o pergaminho das mãos de Harry e o guardando novamente no bolso – Você não reconhece a caligrafia?
- Não tenho certeza... – respondeu Harry confuso. A caligrafia do texto não era muito caprichada. Na verdade, ela parecia ter sido composta as pressas, pois as letras eram grossas, redondas e mal feitas, sem contar que eram vagamente semelhantes à de algum conhecido do menino, porém ele não tinha ideia de quem poderia ser. – Mas o que o senhor fez depois de ler o aviso?
- O que mais eu poderia fazer? – retrucou Lupin – Fui checar as informações para saber se eram verdadeiras. Então resolvi passar no Ministério e conversar com alguém do Departamento de Feitiços de Proteção e como o feitiço de sua mãe está cadastrado, consegui ter conhecimento se ele protegia alguém ou não naquele momento. Para a minha surpresa, os Dursley não estavam sob a proteção dele, de modo que fiquei desesperado já que você estava se encaminhando para lá naquele momento.
- Onde estão os Dursley agora? – perguntou Harry tentando aliviar a tensão em sua voz, afinal, as últimas pessoas com o mesmo sangue que ele podiam estar em grande perigo naquela hora.
Lupin por sua vez, não respondeu a pergunta, ele só desviou o olhar de Harry e se levantou debilmente da cama.
- Responda! – gritou Harry enfurecido, pois por mais que a família Dursley nunca tivesse dado valor a ele, aqueles trouxas eram a única coisa que lhe sobrara.
- Não sei onde eles estão. – admitiu Lupin irritado – Pensei que você talvez soubesse, quero dizer, a ligação entre você e Voldemort poderia ter confidenciado alguma coisa.
- Então você acha que meus tios estão com Voldemort? – perguntou Harry decepcionado consigo mesmo, pois mesmo ele não gostando de suas visões, elas bem que poderiam servir para alguma coisa de vez em quando.
- Sinceramente, eu acho que sim. – respondeu Lupin enfim.
Essa era a resposta que Harry temia ouvir, se bem que saber que mais pessoas próximas a ele estavam em perigo já não era algo tão surpreendente, mas ainda assim era mais que lamentável, pois Harry se sentia muitas vezes culpado.
- Eu e os membros da Ordem da Fênix faremos o impossível para encontrar seus tios. – disse Lupin esperançoso – Na verdade, essa reunião para qual eu estou indo agora é justamente para tratar sobre esse assunto.
- Eu vou junto. – decidiu Harry convicto de era ele quem deveria estar tomando todas as atitudes para encontrar os Dursley, afinal, eles eram a sua família, por mais que fosse difícil de admitir.
- Não, você não vai. – respondeu Lupin seriamente – Você acha mesmo que a senhora Weasley iria deixá-lo ir? E além do mais, é muito perigoso.
- Perigoso? – zombou Harry perplexo – Desde quando estar com você e a Ordem da Fênix pode ser uma coisa perigosa?
- Não é essa a questão. – retrucou o professor – O que quero dizer é que sair daqui é muito perigoso, pois você é facilmente reconhecido e Voldemort está por toda parte.
- Mas eu não estou seguro em nenhum lugar. – alegou Harry petulante – Tanto faz eu ficar aqui ou ir com você.
- Errado Harry. – interrompeu Lupin – Aqui você está sob a proteção de um feitiço que eu e Arthur conjuramos. Ninguém poderá chegar a você enquanto estiver na casa de Molly. No entanto, se for comigo, estará se arriscando.
- Eu não me importo! – urrou ele se levantando da cama e encarando Lupin – Não quero ficar aqui parado enquanto as pessoas morrem por mim!
- Deixe que eu e os membros da Ordem cuidemos disso! – rebateu Lupin com um uma expressão preocupada e com um leve tremor entre a negritude de seus olhos – Não podemos ter a possibilidade de falhar com você.
- Professor – murmurou Harry vidrado no olhar frágil e hostil de Lupin, que não conseguiu sustentar seus olhos, de modo que ele logo tentou se esconder da expectativa fulminante que exalava do menino -, no momento em que sei que algo de errado está acontecendo e não faço nada para ajudar a resolver, eu estou falhando comigo mesmo.
Lupin não esperava por essa atitude da parte de Harry, pois sempre o imaginara como um menino, nunca como um homem maduro o bastante para entender sua realidade e muito mais do que isso, aceitá-la.
- Vou ver o que posso fazer. – disse ele por fim, ainda amedrontado com o fato de que o filho de Thiago estava cada vez mais parecido com o seu velho melhor amigo. Em todos os aspectos possíveis.
- Obrigada, é bom saber que o senhor me entende. - agradeceu Harry aliviado - Mas o que aconteceu com Rabicho no final das contas?
- Não sei. - admitiu o professor dando de ombros - Duelei com ele e facilmente o venci, mas inexplicavelmente ele desapareceu e não sei mais nada dele.
- Fracote. - murmurou Harry rancoroso.
- Foi melhor assim, talvez se não tivesse fugido, estaria morto a essa hora, e eu não gostaria de ter sido o causador de sua morte. - comentou Lupin reflexivo - Vou chamar Molly e os outros para avaliarmos a situação de você ir comigo a renião. Ficará bem sozinho por alguns segundos?
Harry assentiu, dando a Lupin o consentimento para sair do quarto e deixá-lo a sós alguns instantes com as suas inquietudes.

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