CAPÍTULO TRÊS



CAPÍTULO TRÊS


 


As mãos transpiravam e os joelhos tremiam.


Hermione não sabia por que estava tão nervosa. Havia enfrentado situações muito mais difíceis sem se sentir tão abalada. Era geralmente equilibrada, tinha uma mente ágil e seu estômago raramente dava nós, como agora.


Enquanto caminhava em direção à secretaria, onde encontraria Harry para a primeira aula dele com Jennifer e Danny, uma vozinha sussurrou em seus ouvidos:


Você já sentiu isso uma vez, antes de seu primeiro encontro com Draco, aproximadamente três anos atrás.


Hermione ignorou a voz e enxugou o suor das mãos na saia, que era justa.


Assim como não pensara em vê-lo novamente desde o encontro no Café Luciano no dia anterior. Assim como não havia ficado deitada na cama até tarde, fantasiando com o que faria se Harry entrasse no quarto, miraculosamente, e se deitasse em sua cama. O corpo longo e rígido a seu lado, a voz baixa e gutural. E as mãos? Sim. Ela não pensara em nada daquilo. Em absoluto.


Entrando na secretaria, avistou-o conversando com a recepcionista. Harjeet estava visivelmente deslumbrada. Fitava Harry Potter com olhos sonhadores e sorria abertamente. Hermione aproximou-se.


- Hermione, bom dia. - cumprimentou ele, subjugando-a com aqueles olhos acinzentados e seu perfume embriagador.


- Prazer em vê-lo, Harry. - disse ela, embora prazer não fosse a palavra certa. Maravilhada, seria.


- O prazer é todo meu, Hermione. Onde estão os garotos? Estou ansioso para conhecê-los.


Ansioso para conhecê-los ou para começar sua campanha publicitária? Pensou ela.


- Estarão na sala de tecnologia alimentar em poucos minutos. - replicou, enquanto observava Harjeet entregar-lhe o crachá de visitante.


Observou também que ele estava usando roupas mais casuais do que nas duas últimas vezes que o vira, um impecável jeans desbotado, uma camiseta com a estampa de um time de futebol inglês, tênis e jaqueta de couro marrom. E carregava uma mochila.


- Prazer em conhecê-la, Harjeet. - disse ele, seguindo Hermione pelo corredor e perguntando casualmente:


- Como foi o seu dia? - Repleto de pensamentos em você.


- Ótimo, obrigada. Você pensou no que lhe disse sobre Jennifer e Danny?


- Muito. - Ele sorriu. - E estou empolgado com o desafio. Não tenho muitas oportunidades como esta.


Ela o fitou. Ele cativara Harjeet em segundos, e agora estava tentando enfeitiçá-la também, agindo entusiasticamente sobre o projeto. O estranho era que a expressão dele era franca e seu tom não apresentava nenhum traço de sarcasmo.


- Essas duas crianças também não têm. - Ela abriu a porta da sala vazia.


Agora era hora de estabelecer um território seguro para Jennifer, e regras definidas para Danny. Crianças e adolescentes apreciavam regras e limites bem demarcados. Hermione sabia daquilo, uma vez que fora criada com tão poucos limites.


Aquele ambiente profissional deu-lhe força para tentar aplacar seus hormônios.


Caminhando até o centro da sala e colocando uma distância segura entre os dois, foi a primeira a falar:


- Então, conforme conversamos ontem, acho que poderia ser uma boa idéia...


- Por que você está zangada comigo, Hermione?


Aquelas palavras a surpreenderam.


- Não estou zangada. - disse, mesmo sabendo que estava mentindo. Afinal, quem ele pensava que era para invadir seu mundo e fazer as coisas que queria?


- Sim, você está. Posso sentir isso. O que fiz que a incomodou? Conte-me, pois quero parar de fazê-lo.


Hermione engoliu a raiva. Harry estava certo, não havia feito nada. E não era culpa dele que ela não podia fazer o que queria. Assim era a vida. Cheia de desejos inadequados. Cabia a ela lidar com os seus.


- Não é o que você fez, Harry, é o que você é.


- E como sou, que a faz ficar tão zangada? Acabamos de nos conhecer, Hermione. Você não gosta de chefs? Ou pessoas que possuem galinhas? - Ele deu um passo à frente e gesticulou com as mãos. - Acho que deveria me contar antes de começarmos a trabalhar juntos. Talvez eu possa fazê-la mudar de idéia.


Oh, Deus, aquilo era uma idéia tola. Esperava poder ignorar o modo como seu corpo reagia ao contato com aquele homem, mostrar-se fria e distante e que ele a deixasse ser apenas uma professora na sala. Mas estava parado ali, com uma expressão amigável, querendo que ela gostasse dele.


- Não é importante. - replicou ela, dando-lhe as costas como se estivesse inspecionando a sala.


Mesmo de costas, sabia que ele havia se aproximado, porque sua pele eriçou-se.


- É importante, sim. - discordou ele, e Hermione quase tremeu com o som da voz sexy. Estava bem atrás dela. Perto o suficiente para tocá-la.


Houve uma leve batida à porta. Aliviada e ao mesmo tempo desapontada, Hermione viu Jennifer através do pequeno vidro.


- Eu a atenderei. - Mas antes que pudesse se mover, Harry alcançou a porta com passos largos.


Uma garotinha de cabelos escorridos, magrinha e com olhos baixos estava à porta.


- Você deve ser Jennifer. - disse Harry gentilmente. - Ouvi falar de você e estou muito feliz em conhecê-la. Sou Harry.


Ele estendeu a mão para a menina, mas, quando Jennifer encolheu-se, Harry abaixou a mão e deu um passo atrás para deixá-la entrar. O olhar da garota fixou-se em Hermione, mas depois voltou aos próprios sapatos.


Uma menininha assustada. O coração de Hermione apertou-se. Sabia exatamente como Jennifer se sentia.


Conversando mais com Jô, soubera que a menina tinha somente um dos pais e que este raramente estava em casa. Criava-se praticamente sozinha. Uma situação que Hermione conhecia bem.


- Olá, Jennifer. - murmurou ela suavemente, pondo-se ao lado da menina. - Estou orgulhosa por você ter sido escolhida para este concurso. Vai ser ótimo aprender com um chef de verdade, não vai?


Jennifer fez um leve aceno com a cabeça.


Danny chegou com um bafo de cigarro que Hermione sentiu de longe. Ficou no limiar da porta, mãos enfiadas nos bolsos da calça, a gravata do uniforme frouxa no pescoço.


- Quanto tempo isso vai levar? Tenho coisas para fazer. - A voz do menino parecia adulta demais para o corpo desleixado de adolescente. Encarou a professora e então fixou os olhos em Harry. O semblante poderia ser interpretado tanto como hostilidade quanto medo.


- Tudo bem, Dan? Estou feliz que você esteja aqui. - disse Harry, de maneira mais relaxada que o normal. Hermione viu Danny observando a calça jeans e o tênis de Harry, e principalmente a camiseta com estampa de futebol. Nada semelhante a professor. Perguntou-se se Harry havia escolhido aquelas roupas para deixar os garotos mais à vontade. - Ótimo, podemos começar agora. - disse Harry esfregando as mãos, entusiasmado. Pegando a mochila, tirou de dentro um rolo de feltro escuro que colocou sobre a mesa no centro da sala. - Venham, eu não mordo.


Hermione podia jurar que aquele comentário era dirigido a ela. Então notou que as duas crianças a estavam olhando, como se esperando que assumisse a liderança.


Ela se aproximou da mesa e as crianças a seguiram.


- Meu nome é Harry Potter e gosto de ser chamado de Harry. Nada de "senhor". Mas, quando estivermos nesta sala, chamem-me somente de chef, entenderam?


Jennifer assentiu. Danny deu de ombros. Harry olhou para Hermione, como se esperasse uma resposta.


- Sim, chef. - disse ela.


- Ótimo. - Ele lhe dirigiu um sorriso estonteante antes de voltar-se para as crianças: - Vocês já assistiram ao meu programa na televisão?


Outro assentimento e mais um dar de ombros.


- Por que mudos? - perguntou Harry.


- Sim, chef. - murmuraram ambos.


- Excelente. Gostaram?


- Sim, chef. - A segunda vez foi mais fácil. Seria cada vez mais fácil, Hermione sabia. Harry não era professor, mas conhecia o sutil truque de conquistar disfarçadamente.


- Genial. Obrigado aos dois. - Ele olhou para as crianças, a fim de certificar-se de que tinha total atenção delas. - Quero que entendam uma coisa. Ser chef não é como naquele programa. Não é atirar uma porção de coisas numa panela sobre o fogo e depois despejá-la numa travessa. Não é dizer coisas engraçadas e brincar diante de uma câmera. Ser chef é trabalhar duro. - Harry inclinou-se sobre a mesa, o rosto nivelado com os adolescentes, a voz tranqüila e autoritária. - Cozinho desde que tinha menos idade que vocês dois. Levei anos para chegar onde estou hoje. Trabalhei em cozinhas que eram como zonas de guerra. Suei, sangrei e investi muito dinheiro para construir meu nome. E o trabalho não terminou somente porque consegui fama.


Ele os olhou e percebeu que estavam atentos.


- Vocês querem ser um chef?


- S-sim, chef. - gaguejou Danny.


- Sim, chef. - murmurou Jennifer.


- Isto é um bom começo. O que quer que possa ter acontecido a vocês antes do dia de hoje, qualquer problema que possam ter tido na escola ou na vida, aqui eles desapareceram. Não vou julgá-los por fatos do passado.


Ele falava com os garotos, mas os olhos estavam em Hermione. E ela sabia o que as crianças haviam sentido quando colocadas em foco. Ela mesma sentira aquele efeito, com a exceção de que, no seu caso, o sentimento era composto de desejo sexual.


- Para mim, o que importa é como cozinham. - continuou ele. - Vou julgá-los pela sua dedicação em fazer boa comida. Olhem para isso.


Ele estendeu as mãos para os dois, palmas para cima. Por um momento, Hermione não entendeu o motivo. As mãos eram bonitas. Fortes e capazes. As mais extraordinárias que já vira, as únicas capazes de fazer seu corpo responder a um simples toque.


Então viu o que não fora capaz de ver antes, e ofegou profundamente.


As mãos másculas eram cobertas de cicatrizes das pontas dos dedos aos pulsos. Algumas brancas e manchadas, outras rosas e brilhantes. Ele virou as mãos, mostrando que as costas eram similarmente marcadas.


- Se vocês se transformarem em chef, terão mãos como estas. Facas as cortarão, panelas as queimarão. Mas ao se tornarem chefs, ficarão orgulhosos de cada cicatriz. Serão marcas da batalha do dia-a-dia.


Hermione não podia afastar os olhos daquelas cicatrizes. Imaginou a dor que cada uma causara.


Conhecia cicatrizes. Embora nenhuma das suas fosse visível.


- Eu me queimei várias vezes. - disse Danny e mostrou as mãos. - Na frigideira.


- E o que você aprendeu com isso? - perguntou Harry.


- Não fazer sanduíches de bacon quando estiver bêbado.


O sorriso de Danny era desafiador. Vá em frente, critique-me por não ter idade para beber.


Mas Harry foi brando ao dizer que era uma boa lição, então pegou o rolo de feltro que pusera na mesa e começou a desenrolá-lo.


- Aprendi cedo que, se quisesse evitar machucados, precisaria ter cuidado, como isso aqui. - Ele acabou de desenrolar o feltro e Hermione viu que era uma capa para um reluzente jogo de facas. - Jennifer, poderia me arranjar uma cebola e uma tábua de madeira, por favor?


A tímida criança obedeceu, colocando os itens na frente de Harry.


Ele sorriu em agradecimento, puxou uma faca da coleção e, com um movimento rápido, cortou a cebola ao meio. Continuou falando enquanto descascava a cebola e a fatiava fina como folha de papel.


- Uma faca afiada corta coisas por si só. Isso requer muito pouca pressão. A faca praticamente desliza. Uma faca afiada impede muito mais acidentes do que causa.


As mãos de Harry moviam-se como as de um mágico, pegando uma cebola inteira e transformando-a em fatias sem nenhum esforço.


- Você não está chorando. - comentou Hermione enfeitiçada.


- Por duas razões. Uma, porque esta é uma faca muito afiada. Duas, porque não sou chorão.


Bem, aquilo era algo que eles tinham em comum, pensou ela. Há muito tempo não chorava mais.


Ele acabou de fatiar a cebola e entregou a faca a Danny, apresentando-a pelo cabo. Escolhendo outra faca, deu a Jennifer, que a segurou com receio.


- Srta. Granger, parece que você precisa de uma. - Ele pegou uma faca imensa e ofereceu-lhe.


Hermione olhou para a faca. Parecia a da cena do chuveiro do filme Psicose.


- Não preciso aprender. - protestou.


- Estou surpreso. Pensei que uma boa professora jamais deixasse passar uma oportunidade de aprender algo novo.


Depois daquilo, ela não tinha escolha. Além de chef, o homem era um mestre manipulador de pessoas. Hermione pegou a faca. Harry tirou um saco de legumes de uma das geladeiras e, antes que percebesse, Hermione viu-se picando uma cenoura e admirando o estilo dele de ensinar.


Era bom vê-lo instruindo as crianças. A concentração delas era total. E Harry as elogiava e lhes dava sugestões. Era gentil com Jennifer e brincalhão com Danny.


As pessoas não gostavam de Harry apenas porque ele era fascinante, para não dizer feiticeiro. O homem imaginava o que os atrairia e tinha o dom de ser transparente e sincero.


Devia ser uma habilidade útil quando estava fazendo sexo. E também junto a todas as mulheres com as quais era visto.


Pelo menos, Hermione podia relaxar sobre algo. Harry Potter não estava flertando com ela por estar interessado em sua pessoa. Fazia isso porque agia daquele jeito com todo mundo. Era sua segunda natureza.


Ela voltou à cenoura. Podia parar de se preocupar com os garotos, por enquanto, independentemente dos motivos de Harry para o futuro daquele projeto.


- Será mais fácil se você deixar a faca fazer o trabalho, em vez de usar seu braço.


- Você não devia criticar pessoas que estão segurando uma faca.


- Estava apenas tentando ajudar. Deixe-me mostrar a você. - Ele aproximou-se por trás, passou os braços ao redor de seu corpo e pousou as mãos sobre as dela. A respiração no ouvido causou arrepios em Hermione. - Apenas levante o pulso. Deixe a ponta da faca ficar na tábua. Assim.


Ele guiou-lhe a mão, segurando-a firmemente.


- Isso, balançando a faca. - O corpo de Harry era quente. Hermione podia sentir o aroma da loção cítrica misturar-se com o cheiro da cebola das mãos, sensualmente. - Não conseguimos concluir nossa conversa de hoje. - murmurou ele. - Que tal outro café depois daqui?


Ela não podia ver-lhe o rosto, somente as mãos competentes que cobriam as suas, controlando seus movimentos.


Ao olhar as crianças, viu David procurando algo na geladeira, e Jennifer trabalhando a casca de uma maçã numa longa espiral. Graças a Deus.


- Não, obrigada. - respondeu.


- Veja, isto é exatamente o que precisamos conversar. Você continua agindo como uma professora digna em relação a mim. Sei que há mais sob essa superfície.


- O que o faz pensar assim?


Ele respirou no pescoço dela antes de responder, fazendo seus mamilos enrijecerem sob a blusa fina.


- Por causa da maneira que você me faz sentir. - sussurrou ele.


Hermione sabia que Harry estava flertando. Sabia também que aquilo não significava nada.


Mas o coração disparou e sentiu-se fundir por dentro. Porque ele parecia estar dizendo a verdade.


- Pare com isso. - protestou. - Você não sabe nada de mim.


- Mas quero saber. Vamos tomar um café, jantar, o que quiser. Permita-me conhecê-la.


Hermione olhou as mãos unidas sobre a faca, que fatiavam a cenoura com incrível sensualidade.


- Sr. Potter, há crianças na sala e não acho que seja apropriado. - Ela torceu os ombros como se quisesse livrar-se dele.


Harry recolheu as mãos e deu um passo atrás.


- Concordo. Então vamos para algum lugar depois que terminarmos aqui. Se você disser não, continuarei insistindo até que diga sim, portanto não percamos tempo.


Hermione olhou em volta da sala para ver as crianças absortas no trabalho com a faca. Baixando os olhos, corou ao perceber seus mamilos visíveis através do sutiã e da blusa. Por que não pusera um suéter de manhã?


- Você não quer? - perguntou Harry. Ela cruzou os braços sobre o peito.


- Querer não tem nada a ver com isso. Eu não vou. Obrigada pelo convite.


O sorriso dele era de pura segurança.


- Querer tem tudo a ver com isso, Hermione. - Além de tudo, era convencido. Ela pegou outra cenoura e o encarou.


- Não, chef. - E levou a imensa faca sobre a cenoura, cortando-a pela metade.


Harry pestanejou.


- Entendo. Mas sei que você dirá sim uma hora dessas. - Então, depois de citar o trecho de Um sonho de uma noite de verão, de Shakespeare, sorriu-lhe e voltou a atenção aos garotos.


 


 


Agradecimento especial:


 


Mah.Potter: Pelo menos a Mione não pretende se render ao charme e os galanteios do Harry, mas até quando ela vai conseguir? Acho que você tem razão, vai ser muito difícil para a Mione resistir ao Harry, embora no fundo ela nem mesmo queria resistir, não é mesmo? Fico feliz por você ter gostado da adaptação. Beijos.


 


 


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (1)

  • Swiftie

    Sua fic me lembra a musica "Begin Again" da Taylor Swift.Principalmente quando Harry joga sua cabeca para tras e ri."But you trow your head back laughting like a little kid"E as partes do Draco me fazem lembrar tb.  

    2013-01-13
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.