Prólogo



França, 1991. Uma manhã gélida e nevoenta.


    Elizabeth havia acordado muito cedo aquele dia e caminhava ainda de roupão e camisola pela cozinha do castelo, servindo-se de um copo d’água. Olhou no relógio: 06h00. Ela gostava daquela tranqüilidade que só a manhã oferecia – nenhum barulho, nenhuma movimentação: paz. O silêncio de repente foi interrompido por um barulho distante que ela não conseguia distinguir. Curiosa, foi caminhando até a direção do barulho, e logo estava na porta de entrada do castelo. Ao abri-la, deparou-se com a fonte do barulho, e um choque de surpresa a invadiu. Por um momento não conseguiu se mexer, apenas observava o pequeno embrulho numa cesta, ali no chão. Um pequeno bebê agitava os braços e chorava cada vez mais alto. Era uma menina, Elizabeth logo constatou, que tinha os finos fios do pouco cabelo espantosamente vermelhos para um recém-nascido.


    Conseguindo finalmente se mexer, a mulher se abaixou e tomou o bebê cuidadosamente nos braços, notando também o quão verdes e brilhantes eram os seus olhos. A criança não chorava mais agora, e sim a emocionada bruxa que a segurava nos braços. Apressando-se para fugir do frio e da névoa, Elizabeth correu para dentro do castelo e, sem querer sequer desgrudar os olhos do bebê, a segurou em apenas um dos braços, enquanto tirava a varinha do bolso do roupão com a outra mão. Apontou a varinha para trás e a agitou displicentemente, fazendo a cesta que abrigara o bebê flutuar para dentro do castelo. Dentro da cesta havia um envelope cuidadosamente lacrado: uma carta. A bruxa parecia não ter notado isto. Não prestava atenção em nada no momento, a não ser na linda menina que carregava. Aquela que era agora a mais nova integrante da família Delacour, a sua filha.


 


 


 


Inglaterra, 1991. Uma manhã milagrosamente ensolarada de inverno.


    Lançando um último olhar desconfiado pela rua em frente à sua casa, o Sr. Granger fechou a porta, acompanhando a sua mulher que já se encontrava sentada no sofá da sala. Ela aninhava carinhosamente nos braços uma menina recém-nascida, cujos olhos azuis agora se fechavam lentamente – estava sonolenta. O homem que estava parado observando-as com uma expressão de cautela, sentou-se ao lado da esposa.


    – Querida? – chamou, já que a mulher não tirava os olhos do bebê que agora dormia tranquilamente – O que vamos fazer com ela?


    – Como assim, o que vamos fazer com ela? Vamos ficar com ela, é claro! – sussurrou, não querendo fazer barulho. Ela olhava estupefata para o homem, como se não pudesse acreditar na pergunta que ele fizera.


    – Mas... mas... – ficou espantado com o tom decidido da mulher. – Não é assim tão simples, não sabemos de onde ela veio! Olhe os cabelos dela! – exaltou-se, apontando para os pequenos fios de cabelo da criança que eram de um tom de cor vivamente roxo. – Estou lhe dizendo, mulher, ela não é uma criança normal.


    – Shiu! Fale baixo! – exclamou a mulher num sussurro, que já voltara seus olhos para o bebê e parecia não ter se abalado com o discurso do marido. – Ela só é... diferente.


    O homem deu um muxoxo, mas a determinação de sua mulher mostrava-se inabalável.


    Sem dizer uma palavra, a Sra. Granger passou, com muito cuidado, o bebê que estava em seus braços, para os braços do marido.


    – O que...? – começou ele, que segurou a criança um tanto desajeitado e surpreso com a atitude repentina de sua esposa.


    – Shiu! – ela se afastou do marido com um pequeno sorriso nos lábios.


    Apenas alguns segundos depois, o Sr. Granger já estava encantado com a pequenina criança que dormia tranquilamente em seus braços.


    – Ela é tão linda! – sussurrou, admirado.


    Sua esposa, porém, não estava prestando atenção. Olhava intrigada para a cesta em que a criança estava há minutos atrás. Andou até a mesa de centro, onde estava a cesta e retirou de seu interior uma carta, cuidadosamente lacrada em um envelope. Depois de lê-la, a Sra. Granger virou e observou o seu marido que segurava a menina, agora com um sorriso estampado no rosto. Sorrindo, ela largou o envelope e o papel em cima da mesa de centro, sentindo que seguiria à risca aquela recomendação da carta que não tinha remetente, tinha apenas uma frase:


Cuide bem dela.

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